O Espiritismo na França e nas raças latinas concentra-se em torno de Allan Kardec, que prefere o termo Espiritismo, e sua feição predominante é a crença na reencarnação.
O Senhor Hipolyte Leon Denizard Rivail, que adotou o pseudônimo de “Allan Kardec”, nasceu em Lyon em 1804, onde seu pai era juiz. Em 1850, quando as manifestações espíritas americanas chamavam a atenção da Europa, Allan Kardec investigou o assunto através da mediunidade de duas filhas de um amigo.
Nas comunicações obtidas foi informado de que “Espíritos de uma categoria muito mais elevada do que os que habitualmente se comunicavam através dos dois jovens médiuns, tinham vindo especialmente para ele, e queriam continuar a vir, a fim de lhe permitir desempenhar uma importante missão religiosa.
Ele controlou isto escrevendo uma série de perguntas relativas aos problemas humanos e, submetendo-as às supostas inteligências operantes, por meio de batidas e da escrita com a prancheta, recebeu respostas sobre as quais baseava o seu sistema de Espiritismo.
Depois de dois anos de comunicações verificou que suas idéias e convicções tinham mudado completamente. E disse:
“As instruções assim transmitidas constituem uma teoria inteiramente nova da vida humana, do dever e do destino, que se me afigura perfeitamente racional e coerente, admiravelmente lúcida e consoladora e intensamente interessante”. Veio-lhe a idéia de publicar o que havia recebido e, submetendo-a às inteligências comunicantes, foi-lhe dito que os ensinamentos lhe haviam sido dados expressamente para os transmitir ao mundo e que ele tinha uma missão que lhe fora confiada pela Providência. E lhe disseram que denominasse a obra “O Livro dos Espíritos”.
O livro assim produzido em 1856 teve um grande sucesso. Mais de vinte edições foram publicadas e a “Edição Revista” publicada em 1857, tornou-se o livro básico da filosofia espírita na França. Em 1861 publicou, “O Livro dos Médiuns”; em 1864, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, em 1865, “O Céu e o Inferno” e em 1868, “A Gênese”. Além destes, que são as suas obras principais, publicou pequenos tratados, sob os títulos de “O Que é o Espiritismo” e “O Espiritismo reduzido à sua Expressão mais Simples”.
Miss Anna Blackwell, que traduziu as obras de Allan Kardec para o inglês, assim o descreve:
“Pessoalmente Allan Kardec era de estatura média. Compleição forte, com uma cabeça grande, redonda, maciça, feições bem marcadas, olhos pardos, claros, mais se assemelhando a um alemão do que a um francês. Enérgico e perseverante, mas de temperamento calmo, cauteloso e não imaginoso até a frieza, incrédulo por natureza e por educação, pensador seguro e lógico, e eminentemente prático no pensamento e na ação. Era igualmente emancipado do misticismo e do entusiasmo... Grave, lento no falar, modesto nas maneiras, embora não lhe faltasse uma certa calma dignidade, resultante da seriedade e da segurança mental, que eram traços distintos de seu caráter. Nem provocava nem evitava a discussão mas nunca fazia voluntariamente observações sobre o assunto a que havia devotado toda a sua vida, recebia com afabilidade os inúmeros visitantes de toda a parte do mundo que vinham conversar com ele a respeito dos pontos de vista nos quais o reconheciam um expoente, respondendo às perguntas e objeções, explanando as dificuldades, e dando informações a todos os investigadores sérios, com os quais falava com liberdade e animação, de rosto ocasionalmente iluminado por um sorriso genial e agradável, conquanto tal fosse a sua habitual seriedade de conduta que nunca se lhe ouvia uma gargalhada. Entre as milhares de pessoas por quem era visitado, estavam inúmeras pessoas de alta posição social, literária, artística e científica. O Imperador Napoleão 3º, cujo interesse pelos fenômenos espíritas não era mistério para ninguém, procurou-o várias vezes e teve longas palestras com ele nas Tuileries, sobre a doutrina de “O Livro dos Espíritos.”
Fundou a Sociedade de Estudos Psicológicos que se reunia semanalmente em sua casa, para obter comunicações através da psicografia. Também criou a Revue Spirite, jornal mensal que ainda existe e que editou até 1869. Pouco antes traçou um plano de uma organização para continuar o seu trabalho. “A Sociedade para a Continuação dos trabalhos de Allan Kardec”, com poder para compra e venda, recebimento de dádivas e legados e para continuar a publicação da Revue Spirite. Depois de sua morte os planos foram fielmente prosseguidos.
Kardec achava que os vocábulos espiritual e espiritualista, como espiritualismo já possuíam uma significação definida. Assim os substituiu por espiritismo e espírita ou espiritista.
A filosofia espírita se distingue por sua crença em nosso progresso espiritual, que é realizado através de uma série de reencarnações.
“Devendo o Espírito passar por várias encarnações, resulta que todos nós temos tido várias existências e teremos ainda outras, mais ou menos aperfeiçoadas, na Terra ou em outros mundos.
“A encarnação dos Espíritos ocorre sempre na espécie humana. Seria erro pensar que a alma ou Espírito possa reencarnar no corpo de um animal.
“As várias existências corporais do Espírito são sempre progressivas e nunca retrógradas; mas a velocidade de progresso depende dos nossos esforços por atingirmos a perfeição.
“As qualidades da alma são as do Espírito em nós encarnado; assim, o homem de bem é encarnação de um bom Espírito, como o perverso a de um impuro.
“Tinha a alma a sua individualidade antes da encarnação e a conserva depois de separar-se do corpo.
“Voltando ao mundo dos Espíritos, a alma aí reencontra aqueles que conheceu na Terra e todas as suas anteriores existências se avivam em sua memória, com a lembrança de todo o bem e de todo o mal que haja feito.
“Encarnado, o Espírito se acha sob a influência da matéria; o homem que supera essa influência pela elevação e pela depuração de sua alma aproxima-se dos bons Espíritos, com os quais estará um dia. Aquele que se deixa empolgar pelas paixões inferiores e põe todas as alegrias na satisfação dos apetites grosseiros aproxima-se dos Espíritos impuros e dá preponderância à natureza animal.
“Os Espíritos encarnados habitam os vários globos do universo.”.
Kardec conduziu as suas investigações comunicando-se com Inteligências por meio de perguntas e respostas, assim obtendo o material para os seus livros. Muitas informações foram fornecidas a respeito da reencarnação. À pergunta “Para que fim reencarnam os Espíritos?” davam a seguinte resposta:
“É uma necessidade que lhes é imposta por Deus, como meio de atingir a perfeição. Para alguns é uma expiação; para outros, uma missão. A fim de atingir a perfeição, é-lhes necessário suportar todas as vicissitudes da vida corpórea. É a experiência adquirida pela expiação que constitui a sua utilidade. A encarnação tem ainda outra finalidade, qual a de preparar o Espírito para desempenhar a sua tarefa na obra da criação. Para tanto deve ele tomar um corpo físico, em harmonia com o estado do mundo físico para onde é enviado, e por meio do qual é capaz de realizar um trabalho especial, em conexão com aquele mundo, que lhe foi designado pela sabedoria divina. Assim, é ele levado a dar a sua contribuição para o progresso geral, ao mesmo tempo em que trabalha pelo seu adiantamento”.
Os espíritas ingleses não chegaram a uma conclusão no que se refere à reencarnação.
Alguns a aceitam, outros não. A atitude geral é que, como a doutrina não pode ser provada, o melhor seria excluí-la da política ativa do Espiritismo. Explanando essa atitude, Miss Anna Blackwell sugere que, sendo a mente continental mais receptiva de teorias, aceitou Allan Kardec, enquanto a mente inglesa, geralmente declina de considerar qualquer teoria enquanto não se tiver certificado dos fatos admitidos por tal.
Mr. Thomas Brevior (Shorter) um dos redatores de The Spiritual Magazine, resume o ponto de vista prevalecente dos espíritas ingleses de hoje. Escreve ele:
“Quando a Reencarnação assumir um aspecto mais científico, quando puder oferecer um demonstrável conjunto de fatos que admitam verificação como os do Moderno Espiritismo, merecerá ampla e cuidadosa discussão. Por enquanto, que os arquitetos da especulação se divirtam como quiserem, construindo castelos no ar. A vida é muito curta e há muito que fazer neste mundo atarefado, para que deixemos os vagares e as inclinações a fim de nos ocuparmos em demolir essas estruturas aéreas ou apontar os frágeis alicerces em que se assentam. É muito melhor trabalhar naqueles pontos em que concordamos, do que nos engalfinharmos sobre aqueles em que parece que divergimos tão desesperadamente.”
William Howitt, um dos pioneiros do Espiritismo na Inglaterra, é ainda mais enfático em sua condenação à reencarnação. Depois de citar Emma Harding Britten, na sua observação de que milhares do Outro Mundo protestam, através de distintos médiuns, que não têm conhecimento nem provas da reencarnação, diz:
“A coisa abala as raízes de toda a fé nas revelações do Espiritismo. Se formos levados a duvidar das comunicações espíritas sob o mais sério aspecto, sob as mais sérias afirmações, onde está o Espiritismo?
“... Se a reencarnação for uma verdade, lamentável e repelente como é, deve ter havido milhões de Espíritos que, ao entrarem no outro mundo, em vão terão procurado os seus parentes, os filhos, os amigos... Já teria chegado a nós esse sussurro de milhares, de dezenas de milhares de Espíritos comunicantes? Nunca. Podemos, portanto, só nesse campo, considerar falso o dogma da reencarnação como o inferno do qual ele brotou”.
Mr. Howitt, entretanto, em sua veemência, esquece que deve haver um limite antes que se realize a nova reencarnação, e que, também, no ato deve haver um elemento da vontade.
O Hon. Alexander Aksakof, num artigo muito interessante dá os nomes dos médiuns do grupo de Allan Kardec, com uma descrição deles. E também indica que a idéia da reencarnação era fortemente aprovada na França naquele tempo, como se pode ver do trabalho de M. Pezzani – “A Pluralidade das Existências”, bem como de outros. Escreve Aksakof:
“É claro que a propagação desta doutrina por Kardec foi matéria de forte predileção.
“De início a reencarnação não foi apresentada como objeto de estudo, mas como um dogma. Para o sustentar, recorreu com frequência a escritos de médiuns, que, como bem sabemos, facilmente se submetem à influência de idéias preconcebidas. E o Espiritismo as produziu em profusão. Enquanto que através de médiuns de efeitos físicos não só as comunicações são mais objetivas, mas sempre contrárias à doutrina da reencarnação. Kardec seguiu o rumo de sempre desprezar esse tipo de mediunidade, tomando como pretexto a sua inferioridade moral. Assim, o método experimental é, de modo geral, desconhecido no Espiritismo.
“Durante vinte anos ele não fez o menor progresso intrínseco e ficou em completa ignorância do Espiritismo anglo-americano. Os poucos médiuns franceses de fenômenos físicos que desenvolveram seus dons a despeito de Kardec, jamais foram mencionados na “Revue”; ficaram quase que desconhecidos dos Espíritas e apenas porque os seus guias não sustentavam a doutrina da reencarnação.”
Acrescenta Aksakof que as suas observações não afetam a questão da reencarnação no abstrato, mas apenas no que respeita à sua propagação sob os auspícios do Espiritismo.
Comentando o artigo de Aksakof, D. D. Home deu um impulso a uma fase da crença na reencarnação. Diz ele.
“Encontro muita gente que é reencarnacionista e tive o prazer de encontrar pelo menos doze que tinham sido Maria Antonieta, seis ou sete que tinham sido Mary, Rainha da Escócia; um bando, de Luiz e outros reis; cerca de vinte Alexandre, o Grande. Mas ainda não encontrei ninguém que tivesse sido um simples John Smith. E vos peço que, se o encontrardes, guardai-o como uma Curiosidade”
Miss Anna Blackwell resume o conteúdo dos principais livros de Kardec do seguinte modo:
“O Livro dos Espíritos” demonstra a existência e os atributos do Poder Causal, e a natureza das relações entre aquele Poder e o Universo, pondo-nos no caminho da Operação Divina.
“O Livro dos Médiuns” descreve os vários métodos de comunicação entre este mundo e o outro.
“O Céu e o Inferno” reivindica a justiça do Governo Divino, explicando a natureza do Mal, como fruto da ignorância e mostrando o processo pelo qual os homens tornar-se-ão iluminados e purificados.
“O Evangelho Segundo o Espiritismo” é um comentário dos preceitos morais de Cristo, com um exame de sua vida e uma comparação de seus incidentes com as atuais manifestações do poder do Espírito.
“A Gênese” mostra a concordância da Filosofia Espírita com as descobertas da Ciência Moderna e com o ponto de vista geral dos escritos mosaicos, conforme a explicação dos Espíritos.
“Essas obras”, diz ela, “são consideradas pela maioria dos Espíritas do Continente como constituindo a base da filosofia religiosa do futuro – uma filosofia em harmonia com o avanço das descobertas científicas nos vários outros ramos do conhecimento humano; promulgada pela falange de Espíritos iluminados que agiam sob a direção do próprio Cristo”.
De um modo geral, ao autor se afigura que o balanço das provas mostra que a reencarnação é um fato, mas não necessariamente universal. Quanto à ignorância dos nossos amigos espíritas sobre o assunto, concerne ao seu próprio futuro; e se não somos esclarecidos quanto ao nosso, é possível que eles sofram as mesmas limitações. Quando se apresenta a questão: “Onde estávamos nós antes do nosso nascimento?” temos uma resposta definitiva no sistema do lento desenvolvimento pela reencarnação, com longos intervalos de repouso espiritual; enquanto de outra maneira não temos resposta, embora tenhamos que admitir que é inconcebível que tenhamos nascido em tempo para a eternidade. Existência posterior parece postular existência anterior. Quanto à pergunta natural: “Por que, então, não nos recordamos de tais existências?” podemos indicar que tais lembranças poderiam complicar enormemente a vida presente e que tais existências bem podem formar um ciclo que se nos torna muito claro, quando pudermos ver completo o rosário de nossas vidas enfiadas numa personalidade.
A convergência de tantas linhas do pensamento teosófico e oriental para esta conclusão e a explicação que ela oferece na doutrina suplementar do Karma, de uma aparente injustiça de uma vida única, são argumentos em seu favor, como devem sê-lo, talvez, aqueles vagos reconhecimentos e lembranças, ocasionalmente muito definidos para serem explicados como impressões atávicas. Certas experiências de hipnotismo, das quais as mais famosas foram as do investigador francês Coronel De Rochas, parece que constituíram uma evidência segura, pois quando o sensitivo em transe era levado para o passado, em supostas reencarnações, as mais remotas eram mais difíceis de descrever, enquanto as mais próximas eram suspeitas de ser influenciadas pelo conhecimento normal do médium. Pelo menos pode admitir-se que onde uma tarefa especial deve ser concluída, ou onde alguma falta deve ser remediada, a possibilidade de reencarnação pode ser uma coisa bem-vinda para o Espírito a quem isto concerne.
Antes de voltar à história do Espiritismo Francês não se pode deixar de atentar para o esplêndido grupo de escritores que o exornam. Fora de Allan Kardec e do trabalho científico de pesquisas de Geley, Maxwell, Flammarion e Richet, houve puros espíritas, tais como Gabriel Delanne, Henri Regnault e Léon Denis, que deixaram pegadas. Especialmente o último teria sido considerado como um grande prosador francês, fosse qual fosse o seu tema.
Este trabalho, que se limita às grandes correntes da história psíquica, dificilmente comportaria referências a regatos e meandros de cada região do globo. Tais manifestações seriam, invariavelmente, repetições ou variantes daquilo que já foi descrito, e pode rapidamente ser verificado que o culto é católico, numa acepção larga, pois não há país em que ele não ocorra. Desde a Argentina até a Islândia, os mesmos resultados se têm espalhado da mesma maneira e devido às mesmas causas. Essa história exigiria, ela só, um volume. Algumas páginas especiais, entretanto, devem ser dedicadas à Alemanha.
Posto que moroso até seguir um movimento organizado, pois só em 1865 é que apareceu um jornal espírita – Psyche – e se estabeleceu no país, mais do que em qualquer outra parte, teve aí o Espiritismo uma tradição de especulação mística e de experiência mágica, que deveria ser considerada uma preparação para a revelação definitiva. Paracelsus, Cornelius Agripsa, van Helmont e Jacob Boehme se acham entre os pioneiros do Espiritismo, sentindo o seu caminho fora da matéria, embora vago o objetivo, que tivessem atingido. Algo mais definitivo foi alcançado por Mesmer, que realizou seu maior trabalho em Viena, no último quartel do século dezoito. Conquanto enganado quanto a algumas de suas inferências, foi ele quem deu o primeiro impulso para a dissociação entre alma e corpo, antes do atual modo de sentir da humanidade; e um natural de Strasbourg, M. de Puységur, levou seu trabalho um passo mais adiante, abrindo as maravilhas da clarividência. Jung Stilling e o Doutor Justinus Kerner são nomes para sempre ligados ao desenvolvimento do saber humano, através desse caminho nevoento. O atual anúncio das comunicações espíritas foi recebido com um misto de interesse e de cepticismo, e custou para que vozes autorizadas se erguessem em sua defesa. Finalmente o assunto foi trazido magnificamente ao tablado quando Slade fez a sua histórica visita em 1877. Depois de assistir e verificar as suas realizações, obteve em Leipzig o endosso de seis professores, que reconheciam o seu caráter de autenticidade. Foram eles Zöllner, Fechner e Scheibner, de Leipzig; Weber, de Gõttingen; Fichte, de Stuttgard e Ulrici, de Halle. Como esses testemunhos tinham sido reforçados por um depoimento de Bellachini, o maior mágico da Alemanha, de que não havia possibilidade de fraude, produziu-se um efeito considerável sobre a opinião pública, que foi engrossada pela subsequente adesão de dois russos eminentes. Aksakof, homem de Estado e o Professor Butlerof, da Universidade de São Petersburgo. Entretanto, parece que o culto não encontrou um terreno adequado nesse país da burocracia e do militarismo. Excetuado o nome de Carl Du Prel, nenhum outro se encontra associado com as mais altas fases do movimento.
O Barão Carl Du Prel, de Munich, começou a carreira de estudioso do misticismo e, em seu primeiro trabalho, não trata do Espiritismo, mas antes das forças latentes do homem, os fenômenos do sonho, do transe e do sono hipnótico. Em outro tratado, entretanto, “Um Problema para Mágicos”, faz um relato minucioso e raciocinado das etapas que o levaram à completa crença no Espiritismo. Nesse livro, enquanto admite que os filósofos e os homens de ciência não são os mais classificados para descobrir as fraudes, lembra ao leitor que Bosco, Houdini e Bellachini e outros hábeis ilusionistas declararam que os médiuns por eles examinados estavam acima de qualquer suspeita de impostura. Du Prel não estava contente, como muitos outros, de ter provas de segunda mão. Assim, fez um certo número de sessões com Eglinton e, mais tarde, com Eusápia Palladino. Deu especial atenção ao fenômeno da psicografia – escrita nas lousas, e assim se exprime:
“Uma coisa é clara – é que a psicografia deve ser aceita como de origem transcendente. Verificaremos:
• Que é inadmissível a hipótese de lousas preparadas.
• Que o lugar onde se encontra a escrita é inacessível às mãos do médium. Nalguns casos a dupla lousa é seguramente trancada e deixa internamente um pequeno espaço para um pedacinho de lápis.
• Que a escrita é feita no momento.
• Que o médium não está escrevendo.
• Que a escrita deve ser feita no momento com um pedaço de lousa ou um lápis comum.
• A escrita é feita por um ser inteligente, de vez que as respostas são exatamente concordes com as perguntas.
• Esse ser pode ler, escrever e entender a linguagem dos seres humanos, frequentemente uma língua desconhecida do médium.
• Ele se parece muito com um ser humano, tanto no grau de inteligência quanto nos enganos que comete. Assim, esses seres são, embora invisíveis, de natureza ou espécie humana. É inútil lutar contra essa proposição.
• Se se lhes pergunta quem são, respondem que são seres que deixaram este mundo.
• Quando essas aparências se tornam visíveis parcialmente – talvez apenas as mãos – estas têm forma humana.
• Quando se tornam inteiramente visíveis mostram a forma e a atitude humanas.
... O Espiritismo deve ser investigado como uma ciência. Eu me consideraria um covarde se não exprimisse abertamente as minhas convicções.”
Du Prel chama a atenção para o fato de que as suas convicções não se baseiam em resultados conseguidos com médiuns profissionais. Declara que conhece três médiuns particulares “em cuja presença não só se verifica a escrita direta no lado interno de duas lousas, mas que é feita em lugares inacessíveis.”
“Nessas circunstâncias – diz ele duramente –, a pergunta ‘Médium ou Mágico?’ ao que me parece, levanta mais poeira do que deve”. Isto é uma observação que os pesquisadores psíquicos deviam saber de cor.
É interessante notar que Du Prel proclama a asserção que as mensagens são estúpidas e triviais apenas para serem inteiramente injustificadas pela experiência, quando ao mesmo tempo afirma que não encontrou traços de inteligência sobre-humana, mas, naturalmente, antes de se pronunciar sobre esse ponto fora preciso determinar como uma inteligência sobre-humana poderia ser distinguida e até onde seria compreendida pelo nosso cérebro. Falando das materializações, diz ele:
“Quando essas coisas se tornam inteiramente visíveis na sala escura, caso em que o médium se senta no meio do círculo formado pelos assistentes, mostram a forma e a atitude humanos. Diz-se muito facilmente que neste caso é o próprio médium que se disfarça. Mas quando o médium fala de seu lugar; quando os vizinhos que o ladeiam declaram que seguraram as suas mãos e ao mesmo tempo eu vejo a figura de pé junto a mim, quando essa figura ilumina o seu rosto na lâmpada de vácuo que se acha sobre a mesa e cuja luz não é obstáculo aos fenômenos, de modo que eu posso ver distintamente, então a prova coletiva dos fatos que descrevi me impõe a necessidade da existência de um ser transcendente, ainda quando todas as conclusões a que cheguei durante vinte anos de trabalho e estudo tenham que ser derrubadas. Mas, por outro lado, desde que meus pontos de vista, fixados na minha Filosofia do Misticismo, tomaram um outro rumo, e são justificados por estas experiências, encontro pouca base subjetiva para combater estes fatos objetivos!”
E acrescenta:
“Tenho agora a experiência empírica da existência desses seres transcendentes, da qual estou convencido pela evidência de meus sentidos da vista, do ouvido, do tato, tão bem quanto de suas próprias comunicações inteligentes. Em tais circunstâncias, levado ao mesmo desfecho por dois métodos diversos de investigação, eu devo ser abandonado pelos deuses se não reconhecer o fato da imortalidade – ou, melhor dito, desde que as provas não vão mais longe –, a continuidade da existência após a morte.”
Carl Du Prel faleceu em 1899. Sua contribuição para o assunto é, talvez, a maior oferecida na Alemanha. Por outro lado, lá surgiu um formidável adversário – Eduard Von Hartmann, autor da “Filosofia do Inconsciente, que em 1885 escreveu uma brochura chamada “Espiritismo”. Comentando-a, escreveu C. C. Massey:
“Agora, pela primeira vez, um homem de eminente posição intelectual se nos defronta como adversário. Deu-se ele ao trabalho de considerar os fatos, senão inteiramente, ao menos na medida em que inquestionavelmente ele se qualifica para um exame crítico. E se, declinando formalmente de uma aceitação sem reserva, da evidência dos fatos, chegou à conclusão que a existência no organismo humano de mais forças e capacidade do que a ciência exata investiga, é suficientemente acreditada pelos testemunhos históricos e contemporâneos. Também insiste pela pesquisa feita por comissões nomeadas e pagas pelo Estado. Repudia, com toda a autoridade de um filósofo e como homem de ciência, a suposição de que a priori os fatos são incríveis ou “contrários às leis da natureza”. Expõe a inaceitabilidade das “denúncias” e dá um golpe de misericórdia no estúpido paralelo entre médiuns e mágicos. E se sua aplicação do sonambulismo aos fenômenos, no seu ponto de vista, serve de controle dos Espíritos, por outro lado contém informações para o público que são de grande importância para a proteção dos médiuns.”
Diz ainda Massey que do ponto de vista da filosofia de Hartmann a ação dos Espíritos é inadmissível e a imortalidade pessoal é uma ilusão.
“A saída da filosofia psicológica agora se acha entre a sua escola e a de Du Prel e Hellenbach”.
Alexandre Aksakof respondeu a Von Hartmann na revista mensal Psychische Studien.
Aksakof mostra que Hartmann não tinha nenhuma experiência, que prestou insuficiente atenção aos fenômenos que não se adaptavam ao seu modo de interpretar e que havia muitos fenômenos que lhe eram quase desconhecidos.
Por exemplo, Hartmann não acreditou na objetividade dos fenômenos de materialização.
Com muita habilidade Aksakof cita com muitos detalhes bom número de casos que, decididamente, infirmam as conclusões de Hartmann.
Refere-se Aksakof ao Barão Lazar Hellenbach, que era espírita e foi o primeiro investigador filosófico dos fenômenos na Alemanha e diz: “A afirmação de Zöllner da realidade dos fenômenos mediúnicos produziu enorme sensação na Alemanha”. De vários modos parecia que Von Hartmann tivesse escrito com um imperfeito conhecimento do assunto.
A Alemanha produziu poucos grandes médiuns, a menos que Frau Anna Rothe, seja como tal classificada. É possível que ela tivesse recorrido à fraude, quando lhe faleciam as forças, mas que ela possuía tais forças em alto grau é claramente mostrado pelas provas no processo consequente à sua suposta “fraude” em 1902.
Depois de doze meses e três semanas de prisão antes de ser levada ao tribunal, a médium foi condenada a oito meses de prisão e a uma multa de quinhentos marcos. No processo muita gente de posição depôs em seu favor; entre estas pessoas se achavam Herr Stõcker, antigo Capelão da Corte, e o Juiz Sulzers, presidente da Suprema Corte de Apelação de Zürich. Sob juramento o juiz declarou que Frau Rothe o havia posto em comunicação com os Espíritos de sua esposa e de seu pai que disseram coisas que à médium era impossível ter inventado, porque diziam com assunto desconhecido de qualquer mortal. Também declarou que tinham sido trazidas flores de rara qualidade para um salão inundado de luz. Seu depoimento causou sensação.
É claro que o resultado do processo era uma conclusão prévia. Foi uma repetição da atitude do juiz Howers, no caso Slade. O procurador alemão começou assim o seu discurso:
“A Corte não se permite criticar a teoria espírita, porque deve ser reconhecido que a ciência, com a genialidade dos homens de cultura, declara que são impossíveis as manifestações sobrenaturais.”
Diante disso nenhuma prova teria valor.
Em data recente dois nomes sobressaem em conexão com a matéria em apreço. É um o Doutor Schrenck Notzing, de Munique, cujo esplêndido trabalho de laboratório já foi tratado no capítulo sobre o ectoplasma. O outro é o famoso Doutor Hans Driesch, Professor de Filosofia na Universidade de Leipzig. Recentemente ele declarou que “a atualidade dos fenômenos psíquicos só é posta em dúvida pelo incorrigível dogmatismo”. Fez essa declaração numa conferência na Universidade de Londres, em 1924, a qual foi posteriormente publicada em The Quest.
Prosseguindo disse:
“Esses fenômenos tiveram, entretanto, uma luta árdua a fim de serem reconhecidos. E a principal razão por que tiveram de lutar tão arduamente foi porque foram redondamente negados pela psicologia ortodoxa e pela ciência cultural, tais quais eram estas pelo menos até o fim do século passado.”
Diz o Professor Driesch que a ciência natural e a psicologia sofreram uma radical mudança desde o começo deste século e continua mostrando como os fenômenos psíquicos se ligam com as ciências naturais “normais”. Observa que se estas últimas se recusam a reconhecer a sua relação com aquelas, isto nada afeta os fenômenos psíquicos. Mostra, através de diversas ilustrações biológicas, como a teoria mecanicista foi derrubada. Expõe a sua teoria vitalista “para estabelecer um mais íntimo contacto entre os fenômenos da biologia normal e os fenômenos físicos no domínio da pesquisa psíquica”.
Sob determinados pontos a Itália foi superior a outros países europeus no tratamento do Espiritismo – isto a despeito da constante oposição da Igreja Católica Romana, que sem muita lógica estigmatizou como diabolismo os casos que não receberam a marca especial de santidade. Os Acta Sanctorum constituem uma longa crônica de fenômenos psíquicos com levitações, transportes, profecias, e todos os outros sinais de mediunidade. Entretanto essa Igreja sempre perseguiu o Espiritismo. Poderosa como é, verificará, a seu tempo, que enfrentou algo ainda mais forte que ela.
Dos modernos italianos o grande Mazzini foi um espírita, naqueles dias em que o Espiritismo mal se esboçava e seu companheiro Garibaldi foi presidente de uma sociedade psíquica. Em carta a um amigo em 1849, Mazzini esboça o seu sistema filosófico-religioso, que curiosamente ampara o mais recente ponto de vista espírita. Ele substitui por um purgatório temporário o inferno eterno, que passa a ser uma triagem entre este mundo e o outro, definiu uma hierarquia de seres espirituais, e anteviu um progresso contínuo para a suprema perfeição.
A Itália foi rica em médiuns, mas foi ainda mais afortunada com a posse de homens de ciência bastante sábios para acompanhar os fatos, onde quer que eles conduzissem. Entre estes numerosos investigadores – todos eles convictos da realidade dos fenômenos psíquicos, muito embora não se possa dizer que todos aceitassem o ponto de vista do Espiritismo – encontram-se nomes como Ermacora, Schiaparelli, Lombroso, Bozzano, Morselli, Chiaia, Pictet, Foa, Porro, Brofferio, Bottazzi e muitos outros. Eles tiveram a vantagem de um maravilhoso sensitivo em Eusápia Palladino, como já foi descrito, mas houve uma série de outros médiuns poderosos, entre cujos nomes se podem citar Politi, Caranci, Zuccarini, Lucia Sordi, e especialmente Linda Gazzera. Entretanto, aqui, como em outros campos, o primeiro impulso veio de países de língua inglesa. Foi a visita de D. D. Home a Florença, em 1855 e a subsequente visita de Mrs. Gupsy em 1868 que abriu caminho. O Senhor Damiani foi o primeiro grande investigador e foi ele quem, em 1872, descobriu os dons da Palladino.
O manto de Damiani caiu nos ombros do Doutor G. B. Ermacora, que foi o fundador e co-editor, com o Doutor Finzi, da Rivista di Studi Psichici. Morreu em Rovigo aos quarenta anos de idade, assassinado – uma grande perda para a causa. Sua adesão e o seu entusiasmo provocaram os de outros do mesmo porte. Assim, em seu necrológio, escreve Porro:
“Lombroso encontrou-se em Milão com três jovens físicos, inteiramente libertos de preconceitos – Ermacora, Finzi e Gerosa – com dois pensadores profundos, que havia esgotado o lado filosófico da questão – o alemão Du Prel e o russo Aksakof – e com um outro filósofo de mente penetrante e de vasto saber, Brofferio; e, finalmente, com o grande astrônomo Schiaparelli e com o fisiologista Richet.”
E acrescenta:
“Seria difícil reunir um melhor grupo de homens de ciência, que oferecesse as necessárias garantias de seriedade, de variada competência, de habilidade técnica na experimentação, de sagacidade e prudência no desfecho das conclusões.”
E continua:
“Enquanto Brofferio, com o seu livro de peso “Per lo Spiritismo”, (Milão, 1892) destrói um a um os argumentos dos opositores, coligindo, coordenando, e classificando com incomparável habilidade dialética as provas em favor de sua tese, Ermacora aplicou na sua demonstração todos os recursos de cérebro robusto e treinado no emprego do método experimental; e sentiu tanto prazer nesse estudo fértil e novo, que abandonou inteiramente as pesquisas sobre eletricidade, que já o tinham colocado entre os sucessores de Faraday e de Maxwell.”
O Doutor Ercole Chiaia, que faleceu em 1905, era também um devotado trabalhador e propagandista, a quem muitos homens notáveis da Europa devem seus primeiros conhecimentos sobre fenômenos psíquicos. Entre outros citam-se Lombroso. o Professor Bianchi, da Universidade de Nápoles, Schiaparelli, Fournoy, o Professor Porro, da Universidade de Gênova e o Coronel De Rochas. Dele escreveu Lombroso:
“Tendes razão para venerar profundamente a memória de Ercole Chiaia. Num país onde há tamanho horror ao que é novo, é necessária uma grande coragem e uma nobre alma para se tornar apóstolo de uma teoria que defronta o ridículo; e o fazer com aquela tenacidade, aquela energia que sempre caracterizaram Chiaia. É a ele que muitos devem – inclusive eu – o privilégio de ver um mundo novo, aberto à investigação psíquica – e isto pelo único meio que existe para convencer homens de cultura, isto é, pela observação direta.”
Sardou, Richet e Morselli renderam tributo ao trabalho de Chiaia.
Chiaia fez um importante trabalho orientando Lombroso, o eminente alienista, na investigação do assunto. Depois de suas primeiras experiências com Eusápia Palladino, em março de 1891, escreveu Lombroso:
“Sinto-me bastante envergonhado e pesaroso por me haver oposto com tanta tenacidade à possibilidade dos chamados fatos espíritas.”
Inicialmente apenas aceitava os fatos e se opunha à teoria a eles associada. Mas. já essa aceitação parcial causou sensação na Itália e em todo o mundo. Aksakof escreveu ao Doutor Chiaia:
“Glória a Lombroso por suas nobres palavras! Glória a você, por sua dedicação!”
Lombroso oferece um bom exemplo de conversão de um materialista decidido, depois de longo e cuidadoso exame dos fatos. Em 1900 escreveu ele ao Professor Falcomer:
“Sou como um pequeno seixo na praia. Ainda estou a descoberto; mas sinto que cada maré me arrasta para mais perto do mar.
Como se sabe, ele acabou se tornando um crente completo, um espírita convicto e publicou um livro célebre “Morte... E depois? “.
Ernesto Bozzano, nascido em Gênova em 1862, devotou trinta anos a pesquisas psíquicas, reunindo as suas conclusões em trinta extensas monografias. Será lembrado por sua crítica incisiva as referências inconscientes de Mr. Podmore a Mr. Stainton Moses. Seu título é “Uma Defesa de William Stainton Moses”. Bozzano, em companhia dos Professores Morselli e Porro, fez uma longa série de experiências com Eusápia Palladino. Depois de analisar os fenômenos objetivos e subjetivos, foi conduzido à “necessidade lógica” de aderir completamente à hipótese espírita.
Enrico Morselli, Professor de Psiquiatria em Gênova, foi durante muitos anos, como ele próprio o confessa, um duro céptico em relação à realidade objetiva dos fenômenos psíquicos. De 1901 em diante fez trinta sessões com Eusápia Palladino, e ficou inteiramente convencido dos fatos, senão da teoria espírita. Publicou as suas observações num livro que o Professor Richet descreve como um modelo de erudição” – “Psicologia e Spiritismo”, Turim, 1908. Numa análise muito generosa deste livro, Lombroso se refere ao cepticismo do autor, em relação a certos fenômenos observados.
Diz ele:
“Sim, Morselli comete o mesmo erro de Flournoy e de Miss Smith, torturando a sua própria e enorme ingenuidade para achar que não são verdades, nem críveis, coisas que ele mesmo declara ter visto. Por exemplo, durante os primeiros dias depois da aparição de sua própria mãe, admitia comigo que a tinha visto e tivera um entendimento por gestos com ela, nos quais ela apontava quase que com amargura para os seus óculos e a sua calva parcial e lhe lembrou como o havia deixado ainda um belo rapaz.”
Quando Morselli pediu à sua mãe uma prova de identidade, ela tocou com a mão em sua testa procurando um caroço; mas como tocasse primeiro no lado direito e depois no lado esquerdo, onde realmente estava o lobinho, Morselli não queria aceitar isto como prova da presença de sua mãe. Com mais experiência, Lombroso lhe mostra a dificuldade dos Espíritos em usar a instrumentalidade de um médium pela primeira vez. A verdade é que Morselli tinha, por estranho que pareça, a maior repugnância pelo aparecimento de sua mãe através de uma médium contra a sua vontade. Lombroso não pode compreender este sentimento. E diz:
“Confesso que não só não concordo, mas que, ao contrário, quando novamente vi minha mãe, senti uma das mais agradáveis sensações íntimas de minha vida, um prazer que era quase um espasmo, que despertou uma sensação, não de ressentimento, mas de gratidão à médium que novamente lançou minha mãe em meus braços depois de tantos anos. E esse acontecimento me fez esquecer não uma vez, mas muitas vezes, a humilde postura de Eusápia, que tinha feito para mim, ainda que de maneira puramente automática, aquilo que nenhum gigante em força ou em pensamento jamais teria podido fazer.”
Em muitas coisas a posição de Morselli é a mesma do Professor Richet, no que diz respeito à pesquisa psíquica, mas como este último distinto cientista, tem sido ele o instrumento de influenciação da opinião pública para um maior esclarecimento do assunto.
Morselli fala com veemência do desprezo da ciência. Em 1907 escreve o seguinte:
“A questão do Espiritismo foi discutida por mais de cinquenta anos; e, conquanto atualmente ninguém possa prever quando ela será resolvida, agora todos concordam em lhe conceder grande importância entre os problemas que ficaram como uma herança do século dezenove ao nosso século. Entretanto ninguém pode deixar de reconhecer que o Espiritismo é uma forte corrente ou tendência do pensamento contemporâneo. Se, durante muitos anos, a ciência acadêmica desprezou o conjunto dos fatos que, por bem ou por mal, certo ou errado, o Espiritismo absorveu e assimilou, considerando-os elementos formadores de seu sistema doutrinário, tanto pior para a ciência! E pior ainda para os cientistas que ficaram surdos e mudos diante de todas as afirmações, não de sectários crédulos, mas de sérios e dignos observadores como Crookes, Lodge e Richet. Não me envergonho de dizer que eu mesmo, até onde minhas modestas forças chegavam, contribui para esse obstinado cepticismo, até o dia em que fui capaz de romper as cadeias nas quais as minhas percepções absolutistas tinham acorrentado o meu raciocínio.”
É de notar-se que a maioria dos professores italianos, enquanto aderiam aos fatos psíquicos, declinavam das conclusões daqueles a quem chamavam de espíritas. Di Vesme bem o esclarece quando diz:
“É mais importante salientar que a revivescência do interesse por estas questões, que foi exibido pelo público italiano, não se teria produzido tão facilmente se os homens de ciência que proclamaram a objetividade e a autenticidade desses fenômenos mediúnicos não tivessem tido o cuidado de acrescentar que o reconhecimento dos fatos de modo algum implicava a aceitação da hipótese espírita.”
Houve, entretanto, uma forte minoria que viu o inteiro significado da revelação.
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