sábado, 1 de agosto de 2009

Cap. 15 - A Carreira de Eusápia Palladino

A mediunidade de Eusápia Palladino marca um estágio importante na história da pesquisa psíquica, porque foi ela a primeira dos médiuns de fenômenos físicos a ser examinada por um grande número de homens de ciência. As principais manifestações que ocorreram com ela consistiam no movimento de objetos sem contacto, a levitação de uma mesa e outros objetos, a levitação do médium, o aparecimento de mãos materializadas, de rostos, de luzes, além da execução de músicas em instrumentos, mas sem contacto humano.
Todos esses fenômenos ocorreram, como vimos, muito anteriormente com o médium D. D. Home, mas quando Sir William Crookes convidou seus colegas para que viessem examiná-lo, eles declinaram do convite. Agora, pela primeira vez esses fatos estranhos eram submetidos a prolongada investigação por homens de reputação na Europa. Desnecessário é dizer que esses experimentadores inicialmente eram cépticos no mais alto grau e os chamados testes – frequentemente mesquinhas precauções que comprometem o objetivo visado – estavam na ordem do dia. Nenhum médium em todo o mundo foi mais duramente examinado do que essa mulher e, desde que foi capaz de convencer a grande maioria dos assistentes, é claro que a sua mediunidade não era do tipo comum. Desnecessário dizer que nenhum pesquisador deveria ser admitido à sala das sessões sem, pelo menos, um conhecimento elementar das complexidades da mediunidade e das corretas condições para a sua manifestação ou sem, por exemplo, uma compreensão da verdade básica que não é o médium só, mas igualmente os assistentes, que são fatores no êxito da experiência. Nem um só homem de ciência em mil reconhece isto; e o fato de ter Eusápia triunfado a despeito dessa tremenda desvantagem, é um eloquente tributo à sua força.
A carreira mediúnica dessa napolitana humilde e iletrada, de tão grande interesse e de extrema importância quanto aos resultados, ainda oferece outro exemplo da humildade empregada como instrumento para esmagar os sofismas dos sábios. Eusápia nasceu a 21 de janeiro de 1854 e morreu em 1918. Sua mediunidade começou a manifestar-se quando tinha cerca de catorze anos. A mãe morrera quando ela nasceu e o pai quando ela estava com doze anos. Em casa de amigos, com quem foi morar, persuadiram-na a que se sentasse à mesa com outras pessoas. No fim de dez minutos a mesa foi levitada, as cadeiras começaram a dançar, as cortinas da sala a ser puxadas, os copos e garrafas a se moverem. Cada assistente foi examinado por sua vez, para se descobrir quem era responsável pelos movimentos; no fim constatou-se que Eusápia era o médium. Ela não tomou interesse nas experiências e só consentiu em fazer novas sessões para agradar aos hóspedes e evitar ser mandada para um convento. Só aos vinte e dois ou vinte e três anos é que começou a sua educação espírita e então, de acordo com Flammarion, foi dirigida por um ardoroso espírita, Signor Damiam.
Em conexão com esse período Eusápia relata um incidente interessante. Em Nápoles uma senhora inglesa que se havia casado com o Senhor Damiam foi aconselhada nessa sessão, por um Espírito que dava o nome de John King, a procurar uma senhora chamada Eusápia, num determinado endereço. Disse que se tratava de uma poderosa médium, através da qual ele pretendia manifestar-se. A Senhora Damiam foi ao endereço marcado e encontrou Eusápia Palladino, de quem jamais ouvira falar. As duas senhoras fizeram uma sessão e John King controlou a médium, de quem passou, daí em diante, a ser o guia.
Sua primeira apresentação ao mundo científico europeu foi através do Professor Chiaia, de Nápoles, que em 1888 publicou num jornal de Roma uma carta ao Professor Lombroso, dando detalhes de suas experiências e convidando esse célebre alienista a fazer investigações diretas com a médium. Só em 1891 Lombroso aceitou o convite e em fevereiro daquele ano fez duas sessões com Eusápia, em Nápoles. Converteu-se e escreveu:
“Estou cheio de confusão e lamento haver combatido com tanta persistência a possibilidade dos fatos chamados espíritas”. Sua conversão levou muitos cientistas importantes da Europa a investigar e daí em diante a Senhora Palladino esteve ocupada durante muitos anos em sessões experimentais.
As sessões de Lombroso em Nápoles em 1891, foram seguidas pela Comissão de Milão em 1892, que contava com o Professor Schiaparelli, Diretor do Observatório de Milão, o Professor Gerosa, Catedrático de Física, Ermacora, Doutor em Filosofia Natural, Aksakoff, Conselheiro de Estado do Czar da Rússia, Charles du Prel, Doutor em Filosofia de Munique, e o Professor Charles Richet, da Universidade de Paris. Foram realizadas dezesseis sessões.
Depois veio a investigação em Nápoles, em 1893; em Roma, entre 1893 e 1894; em Varsóvia e na França em 1894 esta última sob a direção do Professor Richet, de Sir Oliver Lodge, de Mr. F. W. H. Myers e do Doutor Ochorowicz; em 1895, em Nápoles; e no mesmo ano na Inglaterra, em Cambridge, em casa de Mr. F. W. H. Myers, em presença do Professor e de Mrs. Sidgwick, de Sir Oliver Lodge e do Doutor Richard Hodgson. Foram continuadas em 1895, na França, em casa do Coronel de Rochas; em 1896 em Tremezzo, em Auteuil e em Choisy Yvrac; em 1897 em Nápoles, Roma, Paris, Montfort e em Bordéus; em Paris, em novembro de 1898, em presença de uma comissão de cientistas, composta dos senhores Flammarion, Charles Richet, A. de Rochas, Victorien Sardou, Jules Claretie, Adolphe Bisson, G. Delanne, G. de Fontenay e outros, também em 1901 no Clube Minerva, de Genebra, em presença dos Professores Porro, Morselli, Bozzano, Venzano, Lombroso, Vassalo e outros. Houve muitas outras sessões experimentais com homens de ciência, tanto da Europa quanto da América.
Em sua carta ao Professor Lombroso, já referida, o Professor Chiaia fez uma vívida descrição dos fenômenos que ocorriam com Eusápia. Convidou-o a observar um caso especial, que considera digno de atenção da mente de Lombroso, e continua:
“Refiro-me ao caso de uma mulher inválida, da mais humilde camada social. Tem cerca de trinta anos e é muito ignorante; seu olhar nem é fascinante nem dotado daquele poder que os modernos criminalistas chamam irresistível. Mas quando ela quer, seja dia ou noite, pode divertir um grupo durante uma hora ou mais, com os mais curiosos fenômenos. Tanto amarrada a uma cadeira, quanto segura pelas mãos pelos assistentes, atrai a si móveis e objetos que a cercam, levanta-os, mantendo-os suspensos no ar, como o féretro de Maomé, e fá-los descer novamente com um movimento ondulatório, como se obedecessem à sua vontade. Aumenta ou diminui à vontade o seu peso. Ouvem-se arranhaduras e batidas nas paredes, no teto, no soalho, com muito ritmo e cadência. Em resposta a perguntas dos assistentes, algo como jatos de eletricidade emana de seu corpo e a envolve ou aos espectadores dessas cenas maravilhosas. Desenha sobre cartões que os outros seguram, aquilo que se deseja – figuras, assinaturas, números, sentenças – apenas estirando a mão na direção indicada.
Se se colocar num canto da sala uma bacia contendo uma camada fina de cal, no fim de algum tempo aí se encontra a impressão de uma pequena ou de uma grande mão, um rosto, de frente ou de perfil, do qual se poderia tirar um molde. Assim têm sido conservados retratos tirados de vários ângulos e os que desejam podem assim fazer sérios estudos.
Essa mulher ergue-se no ar, sejam quais forem as amarras que a sustenham. Parece librar-se no ar como se sobre um colchão, contrariando todas as leis da gravidade. Toca instrumentos de música – órgãos, sinos, tamborins – como se eles tivessem sido tocados por suas mãos ou movidos pelo sopro de invisíveis gnomos... Essa mulher por vezes aumenta a sua estatura de mais de dez centímetros.”
Como vimos, o Professor Lombroso interessou-se bastante por essa descrição e investigou. O resultado foi que se converteu. A Comissão de Milão, que foi a seguinte a experimentar, em 1892, assim diz em seu relatório:
“É impossível dizer o número de vezes que uma mão apareceu e foi tocada por um de nós. Basta dizer que a dúvida já não era possível. Realmente era uma mão viva que víamos e tocávamos, enquanto, ao mesmo tempo, o busto e os braços do médium estavam visíveis e suas mãos eram seguras pelos que se achavam ao seu lado.”
Muitos fenômenos ocorreram à luz de duas velas ou lâmpadas de óleo e as mesmas ocorrências foram testemunhadas em plena luz, quando o médium estava em transe. O Doutor Ochorowicz persuadiu Eusápia a visitar Varsóvia em 1894 e as experiências aí foram feitas em presença de homens e senhoras eminentes nos círculos científicos e filosóficos. O relato dessas sessões diz que levitações parciais e completas da mesa e muitos outros fenômenos físicos foram conseguidos. Essas levitações se deram quando os pés do médium eram vistos à luz ou quando eram amarrados e seguros por um assistente ajoelhado debaixo da mesa.
Depois das sessões em casa do Professor Richet, em 1894, na Ilha de Roubaud, fazendo um relatório à Sociedade de Pesquisas da Inglaterra, disse Sir Oliver Lodge:
“Conquanto os fatos devam ser explicados, sou forçado a admitir a sua possibilidade.
Em minha mente não há mais lugar para dúvidas. Qualquer pessoa sem invencível preconceito que tenha tido a mesma experiência terá chegado à mesma larga conclusão, isto é, que atualmente acontecem coisas consideradas impossíveis... O resultado de minha experiência é convencer-me de que certos fenômenos geralmente considerados anormais, pertencem à ordem natural e, como um corolário disto, que esses fenômenos devem ser investigados e verificados por pessoas e sociedades interessadas no conhecimento da natureza.
Na sessão em que Sir Oliver Lodge leu o seu relatório, Sir William Crookes chamou a atenção para a semelhança entre os fenômenos que ocorriam com Eusápia e os que se davam em presença de D. D. Home.
O relatório de Sir Oliver Lodge foi combatido pelo Doutor Richard Hodgson, então ausente nos Estados Unidos, e, como consequência, Eusápia Palladino e o Doutor Hodgson foram convidados para uma série de sessões na Inglaterra, em Cambridge, as quais se realizaram em agosto e setembro de 1895, em casa de Mr. F. W. H. Myers. Essas “Experiências de Cambridge”, como foram chamadas, na sua maioria foram mal sucedidas e alegou-se que a médium foi seguidamente pilhada em fraude. Escreveu-se muito pró e contra, na acesa controvérsia que se seguiu. Basta dizer que observadores competentes recusaram esse veredicto contra Eusápia e condenaram formalmente os métodos empregados em Cambridge pelo grupo de experimentadores.
É interessante lembrar que um repórter americano, por ocasião da visita de Eusápia aos Estados Unidos em 1910, lhe perguntou à queima-roupa se alguma vez havia sido surpreendida em fraude. Eusápia respondeu francamente: “Muitas vezes dizem-me que sim. O senhor vê, é assim. Alguns dos que estão à mesa esperam truques; na verdade os desejam.
Eu estou em transe. Nada acontece. Eles ficam impacientes; pensam em truques, e eu – Eu – automaticamente respondo. Mas não é frequente. Apenas querem que eu os pratique. Eis tudo”. Isso parece uma engenhosa adaptação de uma defesa, que Eusápia ouviu outros fazerem a favor dela. Ao mesmo tempo há nisso, inquestionavelmente, um elemento de verdade, que é o aspecto psicológico da mediunidade ainda pouco compreendido.
Em relação ao caso podem ainda fazer-se duas observações importantes. Primeiro, como bem indicou o Doutor Hereward Carington, várias experiências conduzidas com o fito de repetir os fenômenos por meios fraudulentos resultaram em completo fracasso em quase todos os casos. Em segundo lugar, ao que parece, os assistentes das sessões de Cambridge eram completamente ignorantes da existência e do modo de agir daquilo que pode ser chamado de “alavanca ectoplásmica”, fenômeno observado no caso de Slade e de outros médiuns. Diz Carington:
“Todas as objeções de Mrs. Sidgwick podem ser resolvidas se admitirmos, em certas ocasiões, um terceiro braço, que produz esses fenômenos e que se recolhe ao seu próprio corpo quando esses se realizaram”. Agora, por mais estranho que pareça, é justamente essa a conclusão a que conduzem abundantes indicações. Já em 1884 Sir Oliver Lodge viu aquilo que descreve como uma aparência de membros extra”, em continuação do corpo de Eusápia ou muito junto a este. Com essa segurança que muitas vezes a ignorância se permite, o comentário editorial no Jornal da Sociedade de Pesquisas Psíquicas, no qual foi publicado o relato de Sir Oliver, diz: “É absolutamente necessário observar que a continuidade dos membros do “Espírito” com o corpo do médium é, prima facie, uma circunstância altamente sugestiva de fraude”.
Mas, posteriores cientistas investigadores confirmam amplamente a suposição de Sir Oliver Lodge. Declara o Professor Botazzi:
“De outra feita, mais tarde, a mesma mão se colocou sobre o meu antebraço direito, sem fazer pressão. Nessa ocasião não só levei a mão esquerda para o lugar, como olhei, de modo que podia ver e sentir ao mesmo tempo: e vi uma mão humana, de cor natural, e com os meus dedos senti os dedos e as costas de uma mão tépida nervosa e áspera. A mão se dissolveu – eu vi com os próprios olhos – retraindo-se como se para dentro do corpo da senhora Palladino, descrevendo uma curva. Confesso que tive dúvidas se a mão esquerda da senhora Palladino se tinha libertado da minha direita, para alcançar o meu antebraço, mas no mesmo instante fui capaz de provar a mim mesmo que essa dúvida não tinha fundamento, porque nossas duas mãos permaneciam em contacto, como de costume. Se todos os fenômenos observados nessas sete sessões desaparecessem da minha memória, eu jamais esqueceria este.”
Em 1907 o Professor Galeotti viu aquilo a que chamou o duplo do braço esquerdo do médium. E exclamou: “Olhem! eu vejo dois braços esquerdos, de idêntica aparência! Um está sobre a mesinha e é tocado pelo senhor Bottazzi e o outro parece que sai de seu ombro – para se aproximar dela, tocá-la e voltar a fundir-se novamente em seu corpo. Isto não é uma alucinação”. Numa sessão em julho de 1905, em casa do senhor Berisso, quando as mãos de Eusápia eram inteiramente controladas e visíveis a todos, o Doutor Venzano e outros presentes “viram distintamente uma mão e um antebraço, coberto por uma manga escura que saia da frente e da parte superior do ombro direito da médium”. Um testemunho muito semelhante poderia ser dado.
Como contribuição para o estudo das complexidades da mediunidade, principalmente de Eusápia, o caso seguinte merece séria atenção. Numa sessão com o Professor Morselli, Eusápia tinha sido apanhada libertando-se da mão do professor e tentando apanhar uma caneta que se achava sobre a mesa. Foi obstada de o fazer. Então, diz o relatório:
“Neste momento, quando certamente mais rigoroso era o controle, a caneta foi erguida da mesa e desapareceu dentro da cabine, passando entre a médium e o Doutor Morselli. Evidentemente a médium tinha tentado fazer com a mão o que a seguir fez mediunicamente. Um esforço tão fútil e tão inútil para fraudar é inexplicável. Não há dúvidas a respeito; desta vez a médium não tocou, nem podia tocar na caneta; e, mesmo que a tivesse alcançado, não a teria levado para a cabine, que fica às suas costas.”
Deve ser lembrado que o canto da sala tinha uma cortina, que formava a chamada cabine, isto é, um recinto fechado para reunir força, e que Eusápia, ao contrário dos outros médiuns, sentava-se do lado de fora, a cerca de trinta centímetros, ficando a cortina às suas costas.
Em 1895, a Sociedade de Pesquisas Psíquicas tinha decidido que todos os fenômenos de Eusápia eram fraudulentos e não queria mais contacto com ela. Mas no continente europeu grupo após grupo de cientistas investigadores, tomando as mais rigorosas precauções, atestaram os dons de Eusápia. Então em 1908 a Sociedade de Pesquisas Psíquicas decidiu examinar a médium mais uma vez. Nomeou três de seus cépticos mais capacitados. Um deles, Mr. W. W. Baggally, membro do Conselho, tinha investigado os fenômenos psíquicos por mais de trinta e cinco anos e, durante esse tempo – com exceção, talvez, de uns poucos incidentes numa sessão com Eusápia, poucos anos antes – jamais havia testemunhado um único fenômeno físico legítimo. “Em todas as suas investigações sempre tinha verificado fraudes e nada mais que fraudes”. Ainda mais, era um hábil ilusionista. Mr. Everard Fielding, secretário honorário da Sociedade, tinha feito investigações por alguns anos, mas “durante todo esse tempo jamais tinha visto um fenômeno físico que lhe parecesse conclusivamente provado” a não ser, talvez, um caso em sessão com Eusápia. O Doutor Hereward Carington, o terceiro nomeado, conquanto tivesse assistido a inúmeras sessões, podia dizer que até assistir a uma sessão com Eusápia, “jamais tinha visto uma única manifestação de ordem física que pudesse considerar autêntica”.
À primeira vista esse registro dos três investigadores parece esmagador para o que pensavam os espíritas. Mas nas investigações de Eusápia Palladino esse trio de cépticos teve o seu Waterloo. A história completa de sua longa e paciente pesquisa desse médium em Nápoles encontra-se no livro do Doutor Hereward Carington “Eusápia Palladino and Her Phenomena” (1909).
Como prova da cuidadosa investigação dos cientistas do continente, devemos lembrar que o Professor Morselli observou nada menos que trinta e nove tipos diversos de fenômenos que se passavam com Eusápia Palladino.
Os incidentes que se seguem devem ser lembrados porque bem podem ser classificados sob o título de “Provas malucas”. De uma sessão em Roma, em 1894, em presença do Professor Richet, do Doutor Schrenck Notzing, do Professor Lombroso e de outros, o relatório diz o seguinte:
“Esperando obter o movimento de um objeto sem contacto, colocamos um pedacinho de papel dobrado em forma de “A” sob um copo em cima de um disco de papelão fino... Nada se tendo verificado, não quisemos fatigar a médium e deixamos as coisas em cima de uma grande mesa. Então tomamos os nossos lugares em redor da mesinha, depois de havermos fechado cuidadosamente todas as portas, cujas chaves pedimos aos convidados que guardassem nos bolsos, para que não nos acusassem de não havermos tomado todas as precauções.
A luz foi apagada. Logo ouvimos soar o copo sobre a nossa mesa e, tendo acendido uma luz, encontramo-lo em nosso meio e na mesma posição, emborcado e cobrindo o pedacinho de papel. Só que o papelão estava faltando. Em vão o procuramos. Terminada a sessão conduzi os convidados mais uma vez para a antecâmara. O Senhor Richet foi o primeiro a abrir a porta, bem aferrolhada por dentro. Qual não foi a sua surpresa quando percebeu, perto da soleira da porta e do outro lado, na caixa da escada, o disco que tanto procuráramos! Apanhou-o e todos reconheceram o papelão que fora posto debaixo do copo.”
Uma forte prova digna de registro é a de que o Senhor de Fontenay fotografou várias mãos que apareciam sobre a cabeça de Eusápia e numa das fotografias as mãos da médium aparecem bem seguras pelos investigadores. Essas fotografias são reproduzidas nos “Annais of Psychical Science”, de abril de 1908, página 181 e seguintes.
Na sexta e última sessão dessa série em Gênova, com o Professor Morselli, em 1906 e 1907, foi obtida uma prova decisiva. A médium estava amarrada no divã com uma larga faixa, como as camisas de força usadas nos asilos. Morselli, com a experiência de um alienista, realizou a operação e ainda amarrou-lhe os punhos e os tornozelos. Depois foi acesa uma lâmpada vermelha de dez velas. A mesa, que estava livre de qualquer contacto, movia-se de vez em quando; foram vistas pequenas luzes e uma mão. Num dado momento, abriu-se uma cortina em frente à cabine, deixando ver a médium estirada e bem amarrada. Diz o relatório: “Os fenômenos eram inexplicáveis, de vez que, dada a sua posição, qualquer movimento era impossível.
Em conclusão, aqui estão os relatos de dois casos, entre muitos, de materializações convincentes. O primeiro é descrito pelo Doutor Joseph Venzano, nos “Annais of Psychical Science”, volume 6º, página 164, de setembro de 1907. Havia a luz de uma vela, que permitia se visse a figura da médium:
“A despeito da pouca luz, eu podia ver distintamente a Senhora Palladino e meus companheiros. De súbito, percebi que detrás de mim havia uma forma, bastante alta, que estava inclinando a cabeça sobre o meu ombro esquerdo e soluçando violentamente, tanto que os presentes ouviam os soluços: beijava-me repetidas vezes. Percebi claramente os traços fisionômicos, que me tocavam o rosto e senti os seus cabelos finos e abundantes em contacto com a minha face esquerda, de modo que eu tinha certeza que era uma mulher.
Então a mesa começou a mover-se e pela tiptologia deu o nome de uma ligação de família, de todos desconhecida, exceto por mim. Tinha morrido algum tempo antes e, devido a uma incompatibilidade temperamental houve sérios desacordos com ela. Eu estava tão longe de esperar essa resposta tiptológica que a princípio pensei que fosse mera coincidência de nome; mas enquanto mentalmente eu fazia tal reflexão, senti uma boca, com o sopro quente, tocar-me a orelha esquerda e sussurrar, em voz baixa, em dialeto genovês, uma porção de frases que os assistentes podiam ouvir. Essas sentenças foram interrompidas por um soluço e o tema era, repetidamente, o pedido de perdão de injúrias feitas a mim, com uma riqueza de detalhes ligados a assuntos familiares que só poderiam ser conhecidos da pessoa em questão. O fenômeno parecia tão real que me vi obrigado a responder aos pedidos de desculpas com frases afetuosas e, por meu turno, pedir perdão se qualquer ressentimento pelos malentendidos tinham sido excessivos. Mal eu tinha pronunciado as primeiras sílabas e duas mãos, com excessiva delicadeza, se aplicaram sobre os meus lábios, evitando que eu continuasse. Então a forma me disse obrigado, abraçou-me, beijou-me e desapareceu.”
Com outros médiuns têm havido melhores materializações do que esta e com melhor luz; mas no caso havia uma prova interior e mental de identidade.
O último exemplo que daremos ocorreu em Paris, em 1898, numa sessão em que se achava presente Flammarion, quando o Senhor Le Bocain se dirigiu em árabe a um Espírito materializado e disse: “Rosália, se és tu que te encontras entre nós, puxa-me três vezes o cabelo na parte posterior da cabeça”. Cerca de dez minutos depois e quando o Senhor Le Bocain quase havia esquecido o pedido, sentiu que lhe puxavam o cabelo três vezes, exatamente como havia pedido. E disse: “Certifico este fato que, além disso, constituiu para mim a mais convincente prova da presença de um Espírito familiar junto a mim”. E acrescenta que é desnecessário dizer que Eusápia não sabe árabe.
Os adversários e uma parte dos pesquisadores de psiquismo acham que os fenômenos que ocorrem numa sessão têm pouco valor probante, porque os observadores comuns não conhecem os recursos dos mágicos. Em 1910, em New York, o Doutor Hereward Carington levou a uma sessão de Eusápia Mr. Howard Thurston, que descreve como o mais notável mágico da América. Mr. Thurston que, com o seu assistente, controlava as mãos e os pés da médium em boa luz, descreve:
“Fui testemunha pessoal das levitações da mesa da Senhora Paladino... e estou absolutamente convencido de que os fenômenos que vi não eram devidos à fraude e não foram executados nem por seus pés, nem por seus joelhos ou mãos.”
Ele se prontificou a dar mil dólares a uma instituição de caridade se provassem que essa médium não era capaz de levitar uma mesa sem um dispositivo para truque ou fraude.
Perguntar-se-á qual o resultado de tantos anos de investigação com essa médium. Certo número de cientistas, sustentando com Sir David Brewster que o Espírito seria a última hipótese que admitiriam, inventaram hipóteses engenhosas para explicar os fenômenos, de cuja autenticidade estavam convencidos. O Coronel de Rochas procurou explicá-los pelo que chamou “exteriorização da motricidade”. O Senhor Le Bocain falava de uma teoria dinâmica da matéria; outros pensavam numa “força endêmica” e numa “consciência coletiva” ou na ação da mente subconsciente; mas aqueles casos, bem autenticados, onde a operação de uma inteligência independente se mostrava claramente, tornou insustentáveis essas tentativas de explicação. Vários experimentadores foram forçados a aceitar a hipótese espírita como a única que explicava todos os fatos de maneira razoável. Diz o Doutor Venzano:
“No maior número das formas materializadas por nós percebidas, quer pela vista, quer pelo tato, ou pela audição, foi-nos possível reconhecer pontos de semelhança com pessoas mortas, geralmente nossos parentes, desconhecidos da médium e apenas conhecidos dos presentes relacionados com os fenômenos.”
O Doutor Hereward Carrington vacila. Considerando a opinião de Mrs. Sidgwick de que é inútil especular se os fenômenos são de caráter espírita ou se representam “alguma lei biológica desconhecida”, até que os fatos se hajam estabelecido por si mesmos, diz: “Devo dizer que, antes de eu mesmo realizar sessões, também concordava com o ponto de vista de Mr. Sidgwick”. E acrescenta: “Minhas próprias sessões me convenceram finalmente e de modo conclusivo de que os fenômenos verdadeiros devem ocorrer e que, neste caso, a questão de sua interpretação se esclarece à minha frente... Penso que não só a hipótese espírita se justifica como uma teoria aceitável, mas que é, de fato, a única capaz de uma explicação racional dos fatos.”
Como dissemos de início, a mediunidade de Eusápia Palladino era semelhante à de outros, mas tinha ela a vantagem de chamar a atenção de homens de influência, cujo relato público de seus fenômenos teve um prestígio de que não gozaram as descrições feitas por gente menos conhecida. Especialmente Lombroso registrou as suas convicções na conhecida obra “Morte – E depois?”, aparecida em 1909. Eusápia foi o instrumento de demonstração de certos fatos não aceitos pela ortodoxia científica. Para o mundo é mais fácil negar esses fatos do que os explicar – o que constitui a norma geralmente seguida.
Aqueles que procuram explicar toda a mediunidade de Eusápia por meio do hábito aparente de enganar, consciente ou inconscientemente, os assistentes, apenas procuram enganar-se a si mesmos. Que houve esses truques é fora de dúvida. E Lombroso, que endossa a legitimidade de sua mediunidade, assim descreve os truques:
“Muitos são os engenhosos truques que ela emprega, quer no estado de transe, isto é, inconscientemente, quer não. Por exemplo, libertando uma das mãos, seguras pelos controladores, com o objetivo de mover objetos próximos; fazendo toques; levantando devagarinho as pernas da mesa, quer com os joelhos, quer com um pé; fingindo arranjar os cabelos e aproveitando a circunstância para colocar uma mecha sobre o prato de uma balança pesa-cartas, a fim de o mover. Foi vista por Faifofer, antes da sessão, colhendo furtivamente flores num jardim, para fingir algum transporte, aproveitando a obscuridade da sala... E ainda a sua profunda tristeza é a de ser acusada de trapaça durante a sessão – por vezes, também, acusada injustamente, força é confessar, porque agora temos certeza de que membros fantásticos são ajustados ao seu corpo e atuam como substitutos, quando foram sempre tornados como sendo os seus próprios membros, apanhados no momento de realizar uma trapaça”.
Em sua visita à América, já no seu declínio, quando os seus dons estavam em declínio também, foi pilhada nesses truques e de tal modo ofendeu os assistentes que estes se afastaram; mas Toward Thurston, o famoso ilusionista, diz que resolveu pôr tudo isto de lado e continuar a sessão, cujo resultado foi uma autêntica materialização. Outro conhecido assistente depõe que no próprio instante em que a censurava por mover um objeto com a mão, outro objeto, bastante longe dela, moveu-se ao longo da mesa. Seu caso é na verdade peculiar, pois deve ser dito com mais verdade a seu respeito, do que em relação a qualquer outro médium, que ficou provado que possuía poderes psíquicos e também que, mais do que nenhum outro, aproveitou esses poderes para enganar. Nisto, como sempre, o que conta é o resultado positivo.
Eusápia tinha uma depressão característica do parietal, causada, ao que se diz, por um acidente na infância. Tais defeitos físicos muito comumente estão associados com poderosa mediunidade. É como se a fraqueza física causasse aquilo que pode ser descrito como um deslocamento da alma, de modo que esta fica mais destacada e capaz de ações independentes.
Assim, a mediunidade de Mrs. Piper seguiu-se a duas operações internas; a de Home acompanhou a sua diátese tuberculosa. Muitos outros casos podem ser citados. Sua natureza era histérica, impetuosa e irrequieta, mas possuía alguns traços bonitos. Dela diz Lombroso que possuía uma singular bondade de coração, que a levava a distribuir o que ganhava com os pobres e com as crianças, para aliviar os seus infortúnios, o que a impelia a sentir uma ilimitada piedade pelos velhos e pelos doentes, a ponto de passar noites em claro, pensando neles. A mesma bondade de coração a leva a proteger os animais que estão sendo maltratados, advertindo asperamente o cruel opressor”. Esta passagem deve chamar a atenção dos que pensam que as forças psíquicas cheiram a diabo

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