É impossível dedicar capítulos separados a cada forma de força psíquica, pois o resultado exorbitaria dos limites desta obra. Mas os fenômenos de produção de vozes, bem como os de moldagens, são tão claros e evidentes que não será supérfluo um relato mais desenvolvido.
Milhares de pessoas tornam-se eco daquelas palavras de Job: “eu ouvi uma voz”, significando uma voz que não vinha de alguém que vivesse na Terra. E o disse com segura convicção, depois de uma série de testes. A narrativa bíblica é farta em exemplos desse fenômeno e as constatações psíquicas dos tempos modernos mostram que aqui, como em outras manifestações supra-normais, o que aconteceu na aurora do mundo acontece ainda.
Os exemplos históricos de mensagens faladas são os de Sócrates e de Joana D’Arc, embora não seja claro que em ambos os casos as vozes tivessem sido audíveis para os outros.
É à luz do inteiro conhecimento que chegamos a concluir, com alguma probabilidade, que as vozes ouvidas eram do mesmo caráter supranormal daquelas com que hoje estamos familiarizados.
Mr. F. W. H. Myers faz-nos pensar que o Demônio de Sócrates era “um mais profundo extrato do próprio sábio”, a comunicar-se com “o extrato superficial e consciente”. E do mesmo modo explicaria as vozes que vieram a Joana. Falando assim, entretanto, ele nada explica.
Que devemos pensar da história de que as estátuas antigas falavam? O ilustre autor anônimo, – que se supõe tenha sido o Doutor Leornard Marsh, da Universidade de Vermont, – daquele curioso livro “Apocatastasis”, ou “Progresso Regressivo”, cita as seguintes palavras de Nonnus:
“No que respeita a essa estátua (de Apolo), onde se achava, e como ela falava, eu nada disse. Deve-se, entretanto, entender que havia uma estátua em Delfos, que emitia uma voz inarticulada. Porque deveis saber que os Espíritos falam, com vozes inarticuladas, de vez que não possuem órgãos pelos quais possam falar articuladamente”.
Assim o comenta o Doutor Marsh:
“Parece que o autor não estava bem informado relativamente ao poder de falar dos Espíritos, desde que toda a história antiga declara que muitas vezes a sua voz era ouvida no ar, falando articuladamente e repetindo as mesmas palavras em diversos lugares; e essa voz era chamada, e universalmente conhecida, pelo nome de “Vox Divina”.
E prossegue dizendo que com a mencionada estátua o Espírito evidentemente estaria experimentando com o grosseiro material de que era feita – provavelmente de pedra – a ver se poderia produzir sons articulados, mas não o conseguia, pois que a estátua “não possuía laringe ou outros órgãos da voz, como os modernos médiuns”. Em seu livro o Doutor Marsh procura demonstrar que então (1854) os fenômenos espíritas eram crus e imaturos, em comparação com as manifestações espíritas da antigüidade. Os antigos, diz ele, falavam disso como de uma ciência, e declaravam que os conhecimentos obtidos por seu intermédio eram exatos e controláveis “a despeito de todos os demônios fraudulentos”. Garantindo que o sacerdote era um médium de vozes, facilmente se explicam os oráculos falantes.
É digno de nota que a Voz, que foi uma das primeiras formas de mediunidade associada ao moderno Espiritismo, é ainda preeminente, ao passo que outros aspectos da mediunidade inicial se tenham tornado raros.
Mas como há um bom número de investigadores competentes que consideram o fenômeno da voz entre as mais convincentes das manifestações psíquicas, lancemos um olhar sobre o que há a respeito.
Jonathan Koons, fazendeiro em Ohio, parece ter sido o primeiro dos modernos médiuns com quem isto se verificou. Na choupana já mencionada, chamada a sua “Casa do Espírito” teve ele em 1852, e durante muitos anos, uma porção de fenômenos surpreendentes, entre os quais havia vozes de Espíritos, que falavam através de um pequeno megafone ou trombeta. Mr. Charles Partridge, conhecido homem público, que foi um dos investigadores dos primeiros dias, assim descreve como ouviu o Espírito conhecido como John King, falando numa sessão em casa de Koon, em 1855:
“Ao terminar a sessão, como de costume, o Espírito de John King tomou da trombeta e fez uma pequena palestra através dela – falando clara e distintamente – mostrando o benefício que se colheria no tempo e na eternidade, da conversa com os Espíritos, e nos exortando a sermos discretos e firmes no falar, aplicados em nossas investigações, fiéis às responsabilidades que tais privilégios impunham, caridosos para com os que estão no erro e na ignorância, temperando o nosso zelo com a sabedoria, etc.”
O Professor Mapes, conhecido químico americano, disse que em presença dos Davenport havia conversado durante meia hora com John King, cuja voz era alta e distinta. Mr. Robert Cooper, um dos biógrafos dos Irmãos Davenport, ouviu muitas vezes a voz de John King à luz do dia, e à luz da lua, quando passeando pela rua com os Davenport.
Atualmente chegamos a formar uma idéia de como tais vozes se produzem nas sessões.
Aliás esse conhecimento foi corroborado pelas comunicações recebidas dos próprios Espíritos.
Parece que o ectoplasma procedente do médium, mas também, em menor proporção, dos assistentes, é usado pelos Espíritos operadores na moldagem de uma espécie de laringe humana. E a utilizam para a produção da voz.
Na explicação dada aos Koons pelos Espíritos, estes falavam do emprego combinado de elementos do corpo espiritual, e o que corresponde ao nosso atual ectoplasma, “uma aura física que emana do médium”. Compare-se isto com a explicação dada através de Mis. Bassett, a conhecida inglesa médium de vozes, aos setenta anos: “Dizem eles que tomam as emanações do médium e de outros membros da assistência, com o que fazem um aparelho para falar e que o empregam”.
Mrs. Mary Marshall, falecida em 1875, e que foi a primeira dos médiuns públicos ingleses, era canal para vozes vindas de John King e outros. Em 1809, em Londres, Mr. W. Harrisson, redator de The Spiritualist, fez exaustivos ensaios com ela. Como os espíritas eram tidos como gente facilmente impressionável, é interessante notar a sua cuidadosa investigação. Falando de Mrs. Mary Marshall, diz ele:
“Mesas e cadeiras moviam-se à luz do dia e por vezes se erguiam do chão, enquanto que nas sessões às escuras ouviam-se vozes e viam-se manifestações luminosas. Todas estas coisas pareciam vir dos Espíritos. Então resolvi ser um visitante constante das sessões e permanecer no trabalho até verificar se as asserções eram verdadeiras ou descobrir a impostura com bastante precisão e segurança para o denunciar em presença de testemunhas e poder publicar os fatos com desenhos completos dos aparelhos usados.
“A voz de John King é inspirada por uma inteligência, ao que parece, inteiramente diferente da maneira da de Mr. e Mrs. Marshall. Entretanto, admiti que Mr. Marshall produziu a voz e, assistindo a algumas sessões, verifiquei que era comum que Mr. Marshall e John King falassem ao mesmo tempo. Assim, fui obrigado a abandonar a minha teoria.
“Então admiti que era Mrs. Marshall quem falava, até que uma noite fiquei junto a ela; ela estava à minha direita e eu lhe segurava a mão e o braço e John King veio e falou ao meu ouvido esquerdo, quando Mrs. Marshall estava absolutamente imóvel. Assim se foi minha nova teoria.
“Diante disso admiti que um parceiro entre os visitantes do grupo fazia a voz de John King. De modo que fiz uma sessão apenas com Mr. Marshall e sua senhora. John compareceu e falou durante uma hora.
“Por fim estabeleci que um parceiro escondido produzia a voz. Então fiz duas sessões nas quais Mrs. Marshall se achava entre estranhos, numa casa estranha, e novamente John King estava mais vivo do que nunca. Finalmente na noite de quinta-feira, 30 de dezembro de 1869, John King veio e falou a onze pessoas, no grupo de Mrs. C. Berry, na ausência de Mr. Marshall e de sua senhora, sendo médium Mrs. Perzin”.
Enquanto Mr. Harrison se satisfez, desse modo, de que nenhuma criatura humana presente produzia as vozes, não mencionou – o que era o caso – que as vozes freqüentemente davam provas de identidade tais que nem o médium nem um comparsa poderiam ter dado.
O senhor Damiani, conhecido investigador, em sua prova perante a Sociedade Dialética de Londres declarou que as vozes lhe tinham falado em presença de médiuns não estipendiados, depois haviam conversado com ele em sessões particulares com Mrs. Marshall e aí “haviam demonstrado as mesmas peculiaridades quanto ao tom, a expressão, o andamento, o volume, a pronúncia, que nas vezes anteriores”. Essas vozes lhe falavam sobre assuntos de natureza tão particular que ninguém, além dele, podia ter conhecimento. Por vezes também predisseram acontecimentos que se verificaram em tempo certo.
É natural que aqueles que tiveram contacto pela primeira vez com o fenômeno das vozes deveriam suspeitar de ventriloquia, como uma possível explicação. D. D. Home, com quem essas vozes ocorriam tantas vezes, tinha cuidado ao encontrar essa objeção. Descrevendo a sessão quando Home o visitou em Cupar, em Fife, em 1870, assim escreve o General Boldero:
“Então as vozes foram ouvidas, falando simultaneamente na sala – duas pessoas diversas, a julgar pela entonação. Não nos foi possível guardar as palavras proferidas, desde que Home persistia em falar conosco todo o tempo. Reclamamos contra a sua conversa, mas ele replicou: “Falo de propósito, para que possa convencer-se de que as vozes não são devidas a qualquer ventriloquia de minha parte, desde que isto é impossível quando alguém está falando com a sua voz natural”. A voz de Home era muito diferente das que se ouviam no ar.
O autor pode corroborar isto com a sua experiência pessoal, pois muitas vezes ouviu vozes falando ao mesmo tempo. Há exemplos no capítulo sobre os grandes médiuns modernos.
O almirante Usborne Moore dá o testemunho de ter ouvido simultaneamente, com Mrs. Wriedt, de Detroit, as vozes de três ou quatro Espíritos. Em seu livro “The Voices”, de 1913, cita o testemunho da conhecida escritora Miss Edith K. Harper, antes secretária particular de Mr. W. T. Stead. Escreve ela:
“Depois de examinar um relato de cerca de duzentas sessões com Mrs. Etta Wriedt, durante as suas três visitas à Inglaterra, cujas notas de sessões gerais bastariam para encher um grosso volume se fossem escritas in extenso, procurarei relatar, resumidamente, algumas das mais notáveis experiências que eu e minha mãe tivemos o privilégio de assistir pela mediunidade de Mrs. Wriedt. Examinando as minhas notas de sua primeira visita em 1911, sobressaem os seguintes detalhes entre os principais aspectos das sessões:
1. Jamais Mrs. Wriedt caia em transe; conversava livremente com os assistentes; nós a ouvíamos falar também, até mesmo argumentando com Espíritos, com cujas opiniões não concordava. Lembro-me de uma vez em que Mr. Stend sacudia-se em gargalhadas, ao ouvir a reprimenda de Mrs. Wriedt ao editor do Progressive Thinker por sua atitude contra os médiuns e da evidente confusão de Mr. Francis que, depois de uma tentativa de explicação, derrubou a trombeta e retirou-se aborrecido.
2. Duas, três e até quatro vozes de Espíritos falando simultaneamente a diversos assistentes.
3. Mensagens dadas em língua estranha – francês, alemão, italiano, espanhol, norueguês, holandês, árabe e outras, com as quais a médium não estava familiarizada. Uma senhora norueguesa, muito conhecida no mundo das letras e da política, foi abordada em norueguês, por uma voz masculina, dizendo-se seu irmão e dando o nome de “P.” Ela conversou com ele e deu mostras de satisfação ante as provas dadas de sua identidade... De outra vez uma voz falou em espanhol fluente, dirigindo-se determinadamente a uma senhora no grupo, que ninguém sabia tivesse ligações com essa língua. Então a senhora estabeleceu uma conversa fluente com o Espírito, em espanhol, com evidente satisfação para este”.
Mrs. Mary Hollis, depois Mrs. Hollis-Billings, era uma notável médium. Esta americana visitou a Inglaterra em 1874 e também em 1880, quando foi apresentada à sociedade de Londres por destacados Espíritas. Um belo relato de sua variada mediunidade é feito pelo Doutor N. B. Wolfe em seu livro “Startling Facts in Modern Spiritualism”.
Mrs. Hollis era uma senhora fina e milhares de pessoas tiveram provas e consolações através de seus dons. Seus dois guias, James Nolan e um índio chamado Ski, falavam livremente em voz direta. Numa de suas sessões, realizada em casa de Mrs. Makdougall Gregory, em Grosvenor Square, a 21 de janeiro de 1880, um clérigo da Igreja da Inglaterra “sustentava o fio de uma conversa com um Espírito, a qual havia sido interrompida há sete anos e se confessou muito satisfeito com a autenticidade da voz, que era muito peculiar e perfeitamente audível para todos os assistentes, de ambos os lados do clérigo a quem o Espírito se dirigia”.
Mr. Edward C. Randall conta de uma outra boa médium americana para vozes diretas, Mrs. Emily S. French, em seu livro “The Dead Have Never Died.
Ela faleceu em sua casa em Rochester, New York, a 24 de junho de 1912. Mr. Randall investigou as suas faculdades durante vinte anos e se convenceu de que a sua mediunidade era de um altíssimo padrão.
Mrs. Mercia M. Swain, que faleceu em 1900, era uma médium de voz direta cuja instrumentalidade foi aproveitada por um grupo da Califórnia, o Rescue Circle, para ajudar os Espíritos atrasados. Um relato dessas extraordinárias sessões, que eram dirigidas por Mr. Leander Ficher, de Buffalo, New York, e que se estenderam de 1875 a 1900, se acha no livro do Almirante Usborne Moore “Glimpses of the Next State”.
Mrs. Everitt, senhora finíssima e médium não profissional, produziu vozes diretas na Inglaterra em 1867 e por muitos anos depois.
Muitos dos grandes médiuns de efeitos físicos, especialmente os de materializações, produziram os fenômenos de vozes diretas. Estas ocorriam, por exemplo, com Eglinton, Spriggs, Husk, Duguid, Herne, Mrs. Gupsy e Florence Cook.
Mrs. Elizabeth Blake, de Ohio, que faleceu em 1920, era um dos mais maravilhosos médiuns de voz direta de que temos notícia e, talvez, o de maior valor probante, porque em sua presença as vozes se produziam com regularidade em plena luz do dia. Era pobre, iletrada, vivendo na pequena aldeia de Bradrick, à margem do rio Ohio, do outro lado da cidade de Huntingdon, em West Virginia. Era médium desde criança. Era muito religiosa e pertencia à Igreja Metodista, da qual, como alguns outros, entretanto, foi expulsa devido à sua mediunidade.
Pouco se tem escrito a seu respeito: um único relato minucioso é a valiosa monografia do Professor Hyslop.
Dizem que foi sucessivamente submetida a testes por “cientistas, médicos e outros” e que o fazia de boa vontade. Entretanto, como esses homens não foram capazes de a pilhar em fraude, não se preocuparam em oferecer ao mundo os resultados obtidos. Hyslop teve a sua atenção atraída para ela por ouvir dizer que um muito conhecido mágico americano, com uma experiência de muitos anos, se havia convencido da autenticidade de seus fenômenos e em 1906 foi a Ohio examinar a sua mediunidade.
O volumoso relatório de Hyslop descreve legítimas comunicações que ocorreram.
Ele faz essa rara confissão de ignorância do processo do ectoplasma na produção dos fenômenos das vozes:
“A altura dos sons, nalguns casos, exclui a suposição de que as vozes sejam conduzidas das cordas vocais à trombeta. Ouvi sons a seis metros de distância e os poderia ter ouvido a doze ou quinze metros – e os lábios de Mrs. Blake não se moviam.
“Resta estabelecer uma hipótese possível para explicar este aspecto dos fenômenos.
“Mesmo que chamemos a isto “Espíritos”, a explicação não satisfaz ao homem comum de ciência. Ele quer saber do processo mecânico que o envolve, assim como nós explicamos o falar comum.
“Talvez sejam os Espíritos a causa primeira no caso, mas há degraus no processo que vão desde a iniciativa até o último resultado. É isto que cria a perplexidade muito mais que a suposição de que, de certo modo, estejam Espíritos por detrás de tudo isto... e o homem de ciência não pode ver como os Espíritos podem instituir um fato mecânico sem o emprego de aparelhos mecânicos.”
Também ninguém o pode. Mas neste caso a explicação tem sido dada uma ou outra vez pelo Outro Lado. O desejo do Professor Hyslop de conhecer o elo que existe entre os sons e sua fonte seria menos surpreendente se não fosse um fato que os próprios Espíritos reiteradamente responderam à pergunta que ele faz. Através de muitos médiuns deram eles explicações mais ou menos idênticas.
O Doutor L. V. Guthrie, superintendente do Asilo de West Virginia, em Huntingdon, conselheiro médico de Mrs. Blake, estava convicto de seus dons. Escreve ele:
“Fiz sessões com ela em meu próprio escritório e no alpendre, ao ar livre e, numa ocasião, dentro de uma carruagem numa estrada. Constantemente se me oferecia para fazer sessões e usar uma manga de candeeiro em vez de uma pequena corneta e muitas vezes a vi produzir vozes tendo a mão numa das extremidades da trombeta.”
O Doutor Guthrie relata os dois casos seguintes com Mrs. Blake, nos quais a informação dada era desconhecida dos assistentes e não podia ter sido também da médium.
“Uma de minhas empregadas, uma senhora moça, cujo irmão tinha entrado para o exército e seguido para as Filipinas, estava ansiosa para receber notícias suas e lhe havia escrito cartas sobre cartas, dirigidas aos cuidados da companhia nas Filipinas. Mas não obtinha resposta. Ela visitou Mrs. Blake e soube pelo “Espírito” de sua mãe, morta há vários anos, que deveria mandar uma carta ao irmão para C... a fim de obter resposta. Assim fez: recebeu resposta em dois ou três dias, pois que ele havia regressado das Filipinas, sem que ninguém da família o soubesse.”
O caso seguinte é ainda mais interessante.
“Uma parenta minha, de importante família nesta região do Estado, cujo avô tinha sido encontrado morto ao pé de uma grande ponte, com o crânio esmagado, visitou Mrs. Blake há poucos anos e não estava pensando no avô na ocasião. Ficou muito surpreendida porque o Espírito do avô lhe disse que não havia caído da ponte quando embriagado, como ao tempo haviam pensado. Tinha sido assassinado por dois homens que o haviam encontrado num carrinho e tinham conseguido pegá-lo, despojá-lo de seus valores e atirá-lo de cima da ponte. O Espírito descreveu minuciosamente os dois homens que o haviam assassinado e deu tais informações que foi possível prendê-los e obter a confissão de um ou de ambos”.
Numerosos assistentes notaram que enquanto Mrs. Blake falava ouviam-se as vozes dos Espíritos, e, ainda, que os mesmos Espíritos apresentavam a mesma personalidade, bem como a mesma inflexão de voz durante anos. Hyslop dá detalhes de um caso com essa médium, na qual as vozes comunicantes deram a solução correta para abrir um cadeado de segredo, que era desconhecida do assistente.
Entre os modernos médiuns de voz direta da Inglaterra estão Mr. Roberts Johnson, Mrs. Blanche Cooper, John C. Sloan, William Phoenix, as Misses Dunsmore, Evan Powell, médium Welsh, e Mr. Potter.
Mr. H. Dennis Bradley fez um minucioso relato da mediunidade de voz direta de George Valiantine, o conhecido médium americano. Mr. Bradley conseguiu vozes no seu próprio Grupo Doméstico, sem médiuns profissionais. É impossível exagerar os serviços que o trabalho dedicado e de auto-sacrifício de Mr. Bradley prestou à ciência psíquica. Se todo o nosso conhecimento dependesse das provas dadas nesses dois livros - “Towards the Stars” e “The Wisdom of the Gods” isso seria bastante para qualquer homem razoável.
Algumas páginas devem ser dedicadas a um resumo da prova objetiva e muito convincente das moldagens tomadas de corpos de ectoplasma – por outras palavras, de formas materializadas. Quem primeiro explorou essa linha de pesquisa parece ter sido William Denton, autor de “Naturés Secrets”, um livro de psicometria, publicado em 1863. Em 1875, trabalhando em Boston, U.S.A., com a médium Mary M. Hardy, empregou ele métodos que se assemelham aos usados por Charles Richet e Gustave Geley em suas mais recentes experiências em Paris. Então Denton fez uma demonstração pública no Paine Haul, quando a moldagem do rosto de um Espírito, ao que se diz, foi fundida em parafina. Outros médiuns com os quais estes moldes foram obtidos foram Mrs. Firman, Doutor Monck, Miss Fairlamb (posteriormente Mrs. Mellon) e William Eglinton. O fato de terem sido tais resultados corroborados posteriormente nas sessões de Paris é um forte argumento em favor de sua validade. Mr. William Oxley, de Manchester, descreve como a 5 de fevereiro de 1876 foi obtida uma bela moldagem de uma mão de senhora e como em seguida um molde da mão de Mrs. Firman demonstrou uma grande diferença. Nessa ocasião Mrs. Firmam estava amarrada pela cabeça, o peito, os braços e as mãos. Isto parecia suficiente, no que respeita à fraude por parte da médium, ao mesmo tempo em que se verifica que a cera da moldagem era fervente, o que mostra que não podia ter sido trazida à sala das sessões. É difícil imaginar que outras precauções poderiam ter sido tomadas para garantir os resultados. Numa outra ocasião foram obtidas as moldagens de um pé e de uma mão, nas quais a abertura do pulso e do tornozelo eram tão pequenas que os membros não teriam passagem. Parece que não há outra explicação a não ser que pé e mão se houvessem desmaterializado.
Os resultados do Doutor Monck também parecem suportar a crítica. Em 1878 Oxley fez experiências com ele em Manchester e teve o mesmo sucesso que com Mrs. Firmam. Nessa ocasião diversos moldes foram tirados de duas individualidades diferentes. Diz Oxley dessas experiências: “A importância e o valor dessas moldagens de Espíritos jamais seriam superestimados porque enquanto a relação do fenômeno espírita com outros de atitude duvidosa ou céptica só é válida no campo da crença, esses moldes de mãos e de pés são fatos patentes e permanentes e agora exigem dos homens de ciência, dos artistas, e dos trocistas, uma solução do mistério de sua produção”. Essa exigência permanece. Um famoso mágico, Houdini, e um grande anatomista, Senhor Arthur Keith, tentaram fazer moldes de mãos e os resultados, laboriosamente obtidos, apenas serviriam para acentuar o caráter único daquilo que procuravam copiar.
No caso de Eglinton, foi registrado pelo Doutor Nichols, biógrafo do Davenport, que indiscutíveis moldes de mãos foram obtidos e que uma senhora presente reconheceu uma peculiaridade – uma leve deformidade – característica da mão de sua filhinha, que morrera afogada na África do Sul, com a idade de cinco anos.
Talvez os mais completos e probantes desses moldes sejam os obtidos por Epes Sergeant com a médium Mrs. Hardy, já mencionada em ligação com as experiências de Denton. As conclusões merecem ser citadas por extenso. Diz o escritor:
“Nossas conclusões são as seguintes:
1. O molde de uma mão perfeita, em tamanho natural, foi produzido numa caixa fechada, por uma força desconhecida, exercitando inteligência e atividade manual.
2. As condições da experiência independiam do controle, do caráter e da boa fé da médium, não obstante sua mediunidade ficasse plenamente demonstrada pelo resultado.
3. Essas condições eram tão simples e tão severas que excluem completamente toda oportunidade para fraude e toda possibilidade de ilusão, de modo que as nossas conclusões quanto à experiência são perfeitas.
4. O fato, de há muito conhecido dos investigadores, de que mãos materializadas e evanescentes, guiadas por uma inteligência e projetadas de um organismo invisível, podem tornar-se visíveis e tangíveis, recebe uma confirmação deste duplo teste.
5. A experiência de moldagem, associada com a chamada fotografia espírita, dá provas objetivas da ação de uma força inteligente exterior a qualquer organismo visível e oferece uma boa base à investigação científica.
6. A pergunta: “Como teria sido produzida essa moldagem dentro da caixa?” leva a considerações que devem ser de máxima importância para a filosofia do futuro, do mesmo modo que sobre problemas de psicologia e de fisiologia, e abre novos horizontes às forças latentes e ao alto destino do homem.”
Sete testemunhas respeitáveis assinam o relatório.
Se o leitor não ficar satisfeito com tão variados exemplos da validade dessas experiências de fotografia e moldagens, deverá ler as conclusões a que chegou o grande investigador Geley, ao fim de suas experiências clássicas com Kluski, a que aludimos de passagem.
O Doutor Geley realizou com Kluski algumas notáveis experiências sobre a formação de moldagens em cera, de mãos materializadas. Registrou os resultados de uma série de onze sessões bem sucedidas com tal objetivo. Em luz muito fraca a mão direita do médium foi segurada pelo Professor Charles Richet e a esquerda pelo Conde Pctocki. Uma vasilha com cera, mantida em ponto de fusão por meio de água fervente, foi colocada a sessenta centímetros em frente a Kluski e, para efeito de teste – o que era ignorado pelo médium – a cera estava impregnada de colesterina, a fim de evitar a sua substituição. Diz o Doutor Geley:
“A luz muito fraca não permitia que se assistisse ao fenômeno; éramos advertidos do momento de mergulhar a mão, pelo ruído no liquido. A operação exigira duas ou três imersões. A mão que estava agindo era mergulhada no vaso, retirada coberta de parafina quente, tocava as mãos dos controladores da experiência e então era mergulhada novamente na cera. Depois da operação a luva de parafina, ainda quente mas solidificada, era colocada de novo junto à mão de um dos controladores”.
Desta maneira nove moldes foram tirados. Sete de mãos, um de pé e outro de um queixo com os lábios. Examinada a cera de que eram feitos, deu a reação característica da colesterina. O Doutor Geley mostrou vinte e três fotografias de moldes e de cópias em gesso que deles foram feitas. É preciso dizer que as moldagens mostram as dobras da pele, as unhas e as veias, as quais de modo algum se parecem com as do médium. Os esforços para obter moldagens semelhantes de mãos de criaturas vivas foram apenas parcialmente realizados, e as diferenças entre uns e outros são marcantes. Escultores e reputados modeladores declararam que não conhecem nenhum método de produção de moldagens semelhantes às obtidas nas sessões com Kluski.
Assim resume Geley os resultados:
“Enumeraremos agora as provas que temos dado da autenticidade das moldagens de membros materializados em nossas experiências em Paris e Varsóvia:
Mostramos que, além do controle do médium, cujas mãos mantínhamos sempre seguras, toda fraude era impossível:
1. A teoria da fraude pela luva de borracha é inadmissível, porque essa tentativa dá resultados absurdos e grosseiros que, à primeira vista, se nota que são imitações.
2. Não é possível produzir tais luvas de cera usando um molde rígido pré-fabricado. Uma tentativa neste sentido logo mostra a sua impossibilidade.
3. O emprego de um molde preparado de uma substancia fusível e solúvel, coberto com uma camada de parafina, durante a sessão e então dissolvido num balde d'água, não é possível, com o processo empregado. Não tínhamos balde d'água.
4. A teoria de que uma mão viva era usada, fosse do médium ou de um assistente, é inadmissível. Isto não podia ser feito por várias razões, uma das quais é que a luva assim obtida é grossa e sólida, enquanto que as nossas são finas e delicadas e, ainda, que a posição dos dedos em nossas moldagens torna impossível a sua retirada, sem quebrar a luva. Além disso, as luvas foram comparadas com as mãos do médium e dos assistentes e não se assemelham. Isto também é mostrado pelas mensurações antropológicas.
Finalmente, fui à hipótese de terem sido as luvas trazidas pelo médium. Isto não se ajusta ao fato de havermos em segredo introduzido um produto químico na cera fundida, e que o mesmo foi encontrado nas luvas.
O relatório dos especialistas em modelagem neste ponto é categórico e final.
Nada constitui prova para aqueles que se acham tão cheios de preconceitos que não têm mais lugar para o raciocínio. Mas é inconcebível que um homem normalmente dotado pudesse ler tudo quanto fica dito acima e duvidar da possibilidade de fazer moldagens de figuras ectoplásmicas.
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