terça-feira, 28 de julho de 2009

Leitura de férias - Parte 4

Vida após a morte será tema de tese na PUC de São Paulo

Manoel Fernandes Neto

O assunto não tem nada a ver com religião, apesar de falar de vida após a morte. Sonia Rinaldi há mais de 20 anos pesquisa o assunto e prepara-se para um desafio hercúleo: levar para um ambiente totalmente cético algo que comumente é tratado com crença. Ela vai defender, a partir deste ano, uma tese de mestrado na PUC - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, intitulada "Transcomunicação: Interconectividade entre Múltiplas Realidades e a Convergência de Ciências para a Comprovação Científica da Comunicabilidade Interplanos", com a qual pretende comprovar que após a morte do corpo físico a consciência sobrevive.

Essa consciência, segundo Sonia, classificada de vários nomes, mantém sua individualidade, história, aquisições morais e intelectuais, além de ter capacidade de comunicação com o mundo da matéria. Atualmente, como uma das coordenadoras do Instituto de Pesquisas Avançadas em Transcomunicação Instrumental, Sonia passa seus dias conectando aparelhos de gravação de áudio e vídeo, buscando contato com o que convencionamos chamar de "o outro lado da vida".
Para a pesquisadora, o fato deste tipo de abordagem adentrar o mundo acadêmico é uma conquista que só será percebida no futuro, mas que trará benefícios para toda a Humanidade: "É chegada a hora de sair da infância e encarar a realidade da nossa evolução contínua.", diz Sonia.
Acompanhe a entrevista exclusiva concedida por Sonia Rinaldi ao editor da NovaE.
Após 20 anos de pesquisa, como a ciência clássica, baseada em conceitos da matéria, vem encarando o seu trabalho?

A Ciência, de forma ampla, está longe de se interessar. Uns tantos cientistas mundo a fora vêm trabalhando no sentido de documentar a realidade da sobrevivência após a morte. Porém, quer nos parecer que nenhum fenômeno é mais concreto - e, portanto, suscetível de toda sorte de análises e investigação, como requer a Ciência -do que a Transcomunicação Instrumental - ou seja, a comunicação com o Outro Lado da Vida através de gravações em computador e vídeo. Este ano de 2009 traz uma nova rota para nossa pesquisa, pois inicio Mestrado na PUC - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, justamente para levar a Transcomunicação ao meio acadêmico, coisa que jamais ocorreu na História. Veremos, daqui a uns anos, o que teremos conseguido.
Como foi o processo de aprovação de sua tese de mestrado, sobre este assunto tão avesso ao mundo acadêmico?

Chegaram a me chamar na PUC para eu mudar minha tese, mas não aceitei. Tenho premência em conduzir a pesquisa conforme a proposta, pois minha tese não será simples - propus uma mega-tese multidisciplinar, pois já considerei o fato de que eu, sozinha, seria inapta para comprovar qualquer coisa. Propus a participação de engenheiros, físicos e matemáticos - todos com doutorado, para que sejam eles que avaliem, dentro dos parâmetros requeridos pela Ciência, que o fenômeno é real. A minha parte é levantar a ocorrência do fenômeno - a deles será endossar a autenticidade e - dentro das possibilidades -, tentar explicá-lo.
Quem serão os maiores beneficiados com a comprovação científica da sobrevivência após a morte?

A meu ver, a própria Humanidade, que deixará de se enganar. É como se fosse chegada a hora de sair da infância e encarar a realidade da nossa evolução contínua.
Você pode explicar aos nossos leitores, em sua maioria, leiga neste assunto, o que seria a hipótese "sobrevivencialista" em contraposição à hipótese "psi"?

Quem é a favor da sobrevivência após a morte vê a coisa como sendo o ser humano composto de um corpo e uma alma, ou espírito. Na morte do corpo físico, esse espírito ou consciência, prosseguiria na jornada. Esse é o ponto de vista dos espiritualistas. Já uns tantos parapsicólogos acham que os fenômenos paranormais não são resultado de uma intervenção espiritual, mas sim, produto da própria mente de quem produz o fenômeno. No caso da Transcomunicação, exaustivamente essa segunda hipótese fica descartada, por uma série de fatores que não arrolaremos para não nos estendermos. Mas sumarizamos dizendo que as Vozes que gravamos falam de coisas que ninguém sabia, dão nomes de pessoas, cidades de origem, etc., que o transcomunicador nunca ouviu falar. Filhos falecidos mencionam peculiaridades que só a família sabe, etc. Não há a menor possibilidade de ser produto da mente de alguém. Necessariamente, os contatos mostram que estamos em contato com seres que já partiram.
Como são realizadas suas experiências de gravação? Qual é sua rotina de pesquisadora?

Agora, com o Mestrado, tudo girará em função disso, e as gravações serão feitas para que os cientistas que participarão da tese possam ter mais e mais elementos de estudo. Fora disso, vou continuar dando uma aula por mês de como gravar para as pessoas interessadas.
Nos workshops realizados por você, como as pessoas têm reagido ao contato com entes que se foram? Na mesma linha desta questão, a saudade e a necessidade de um contato não podem prejudicar uma análise racional?

Em todos os cursos (workshops) que damos, todos obtêm resultados de seus falecidos e aprendem a gravar. Não há como comprometer a interpretação, porque, ou a resposta está lá ou não está. Nossas gravações há anos são bem claras... não deixam margem de dúvida ou permita dúbia interpretação. Se a gravação/resposta não for clara, será descartada.
Quando se fala em vida após a morte, as pessoas fazem logo uma conexão com religião, que, no sentido clássico, vai na contramão da pesquisa científica. Como você lida com isto?

Religião que se esconde atrás de dogmas e não respeita a lógica deve estar com os dias contados. A globalização e o avanço tecnológico despertaram a racionalidade, e a visão setorizada tende a mudar. Ou algo é "verdade" ou não merece crédito. E tudo que é "verdade" tem que ser passível de análise e investigação. Há de chegar o tempo em que o ser humano dispensará supostas leis divinas, sejam lá quais forem, que não passem pelo crivo da lógica racional.
Considerando a hipótese sobrevivencialista, quais as diferenças deste contato em relação à psicografia, já que as gravações captam pequenas frases, às vezes com uma estrutura gramatical inversa, bem diferente dos livros mediúnicos, que são verdadeiros tratados, romances, com estruturas complexas...

A diferença fica por conta de que tudo que não pode ser matematicamente investigado, fica excluído do interesse da Ciência. Até hoje, centenas de médiuns têm dado importante contribuição no sentido filosófico e social; porém, fica fora da possibilidade da comprovação da realidade disso. Já no caso da Transcomunicação, qualquer "alô!" vem com um peso incontestável diante dos olhos de um cientista. Por isso, penso que a Transcomunicação Instrumental é o veiculo mais poderoso para comprovar que se vive depois da morte, além, claro, de levar consolo a milhares de pessoas que sofrem com a perda de alguém querido.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Leitura de férias - Parte 3

Dr. Artur Lins de Vasconcelos Lopes

Nascido a 27 de março de 1891 na cidade de Teixeira, Estado da Paraíba, e desencarnado em São Paulo,no dia 21 de março de 1952. Seu sepultamento ocorreu na cidade de Curitiba, capital do Estado do Paraná.

O Dr. Artur Lins de Vasconcelos Lopes foi expressiva figura do Espiritismo brasileiro.

Franco e combativo, jovial e sereno, sincero e leal, bom e caridoso, fazia dessas virtudes uma coisa rotineira em sua vida de relação, sem jamais ostentá-la no convívio com seus companheiros de ideal.

Foi presidente da "Coligação Nacional Pró- Estado Leigo", instituição republicana fundada em 17 de maio de 1931, a qual desenvolveu ingente trabalho em favor da separação entre a Igreja e o Estado, principalmente por ocasião dos trabalhos constituintes que culminaram com a promulgação da nova Constituição Brasileira, no ano de 1946, tendo enviado numerosas ações cívicas de grande profundidade nos anos subseqüentes.

O esforço de Lins de Vasconcelos em favor do congraçamento dos espíritas do Brasil foi dos mais salientes, contribuindo de forma decisiva para o advento do Pacto Áureo de unificação dos espíritas do Brasil, no dia 5 de outubro de 1949. A ele se deve apreciável parcela dos trabalhos encetados nos anos de 1947 a 1952, em favor de um maior entrelaçamento entre os espíritas em nosso país.

Do jornal "Mundo Espírita", que se edita em Curitiba, extraímos os seguintes dados biográficos desse grande vulto do Espiritismo brasileiro:

"A batalha travada por Lins de Vasconcelos foi ingente, árdua e heróica.

Nascido numa região áspera, princípio geográfico da caatinga, entre Paraíba e Pernambuco, era natural que Artur Lins trouxesse no Espírito a agressividade do berço agreste. Lutando, todavia, contra o meio, aprimorando qualidades, resistindo aos meios desonestos de ganho, foi abrindo um caminho limpo para a vida. Ainda na adolescência, Lins deixou a Paraíba para residir no Rio de Janeiro. Na antiga Capital Federal a demora foi curta.

Imaturo, com aquela ânsia de aventuras próprias da idade, e também ávido de conhecimento, Lins partiu para o sul do país, fixando- se em Curitiba. Constituiu família; formou- se em agronomia; fez concurso para cartorário. Sua vida seguiu firme. Tornou- se espírita, integrando- se totalmente na doutrina. Em 1926 houve grave incidente entre o governo do Estado e elementos liberais, por questões religiosas. É que o governo estadual, sem autorização da Assembléia, presenteara terrenos e dinheiro do patrimônio público ao clero. Pequeno número de cidadãos protestou contra o ato indébito do governo. Entre eles estava Lins de Vasconcelos. Este defendeu, de forma corajosa, perante o governo, que os princípios tutelares da democracia são inderrogáveis ainda ao arbítrio dos governadores. Aquela posição destemida de Lins na questão dos bispados acarretou- lhe demissão do cargo. Vencera o fanatismo religioso; sobrepunha- se a intolerância ao direito intangível de um democrata. E sobrava razão a Lins: o governo não podia dar ao clero, de mão beijada, terrenos e dinheiro do Estado.

Uma vez demitido, Lins não se deixou abater pela sanha intolerante. Colocou suas energias na indústria. Venceu. Tornou- se milionário. Mas o dinheiro que amealhava facilmente como ele próprio dizia -- era um depósito que lhe fazia Deus para o distribuir aos pobres, através do Espiritismo. Fez- se banqueiro dos desafortunados!

Era simples e sem vaidades. O que mais se admirava em Artur era o triunfo do seu Espírito sobre uma das mais terríveis provas a que uma criatura pode submeter- se: a riqueza! Rico, mais do que rico, opulento, Lins de Vasconcelos venceu galhardamente o fascínio do ouro, esmagou o poderio que a fortuna traz, afogou no nascedouro os gozos efêmeros que o dinheiro carreia. A moeda que lhe vinha dos negócios era destinada às creches, a orfanatos, a albergues, a sanatórios, a escolas, a revistas e a jornais doutrinários.

Há lindos lances, de puro Cristianismo, na vida de Artur Lins de Vasconcelos, mas relatá-los seria, por certo ferir a humildade do nosso querido irmão desencarnado. Basta chamar- lhe: Banqueiro dos Pobres! É um título magnificente que milhões e milhões de desencarnados gostariam de possuir. Arthur Lins de Vasconcelos obteve esse título em vida, abençoado por milhares de bocas!

Lins de Vasconcelos não se empolgou com seus sucessos mundanos. Fez, isso sim, da riqueza material, instrumento para a realização do Bem. Foi bom, vestindo os desnudos, dando de comer aos esfomeados, instrução e educação aos que dessa assistência precisavam.

Tendo desencarnado em S. Paulo, seu corpo foi para Curitiba--cidade que tanto amou -- e em cujo solo desejava que sua matéria repousasse no dia que o Pai o chamasse. Seu pedido foi satisfeito. Assim, no Jardim em frente ao Pavilhão Administrativo do Sanatório Bom Retiro, no bairro do Pilarzinho, em Curitiba, encimado por uma pedra simples, mas que revela bom gosto, na qual há uma placa de bronze com expressiva inscrição, foi inumado o corpo do querido companheiro de ideal espírita, aquele que tantas lutas sustentou ante a incompreensão dos homens, para que a Doutrina dos Espíritos demonstrasse ser capaz de transformar as criaturas desajustadas em seres com capacidade para amar o próximo, assim como Jesus nos amou.

A Federação Espírita do Paraná, que tantos benefícios recebeu de Lins de Vasconcelos, prestou- lhe ultimamente significativa homenagem, dando seu respeitável e inesquecível nome ao educandário que naquele bairro mantém, no momento, funcionando com o curso ginasial, o Instituto "Lins de Vasconcelos".

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Leitura de férias - Parte 2

Alexander N. Aksakof

Nasceu em Repievka (Rússia) em 27/05/1832 e desencarnou em S. Petersburgo (o nome mudou depois para Leningrado), a 04/01/1903. Foi um dos grandes cientistas que notabilizou-se na investigação e análise dos fenômenos espíritas, no século passado. Doutor em Filosofia e conselheiro íntimo de Alexandre III, Tzar de todas as Rússias.

Sua mocidade sempre tendeu à seriedade, preocupou-se com investigações sérias o que o levou a enfrentar prolongados anos de dificuldades espirituais e sociais. Conquistando o pergaminho de doutor, enveredou pelos árduos caminhos que conduzem ao êxito no campo do conhecimento, tornando-se professor da Academia de Leipzig, na Alemanha. Integrando-se resolutamente no campo da investigação psíquica, tornou-se diretor do jornal Psychische Studiem , órgão publicado na Alemanha. Não satisfeito com o seu trabalho na direção deste órgão, lançou em Moscou, em 1891, a revista de estudos psíquicos Rebus , a primeira do gênero na Rússia. Sustentou viva polêmica com o filósofo alemão Dr. Von Hartmann, no decurso da qual refutou, com sobeja superioridade científica e demonstrações irretorquíveis, as explicações do sábio alemão sobre os fenômenos espíritas, aos quais atribuia um fundo biológico.

Aksakof realizou numerosas experiências e observações no campo científico, tendo realizado trabalhos tão profundos, tão interessantes, que até hoje jamais foram esquecidos em matéria de espiritismo experimental. Para a consecução dessa finalidade valeu-se do valioso concurso da célebre médium italiana Eusapia Paladino. Fundamentado nesses trabalhos publicou na Alemanha o seu famoso livro Animismo e Espiritismo , em dois volumes, obra insuperável em todo o
mundo.

Mais tarde com o valioso concurso dos médiuns Elisabeth D´Esperance e Politi, além da já mencionada Eusapia Paladino, o grande criminalista italiano Cesare Lombroso, expõe, de forma definitiva, o resultado das suas experiências realizadas quinze anos depois. Esse trabalho de Lombroso fortaleceu de forma decisiva tudo aquilo que Aksakof havia descrito em sua obra. O livro de Aksakof Animismo e Espiritismo foi uma réplica à brochura que o célebre filosofo alemão Eduardo von Hartmann - continuador de Schopenhauer - fez editar em 1885, abordando aspectos do Espiritismo.

Escreveu ainda Aksakof, em fevereiro de 1890: Interessei-me pelo movimento espírita desde 1855 e, desde então, não deixei de estudá-lo em todas as suas particularidades e através de todas as literaturas. Em 1870 assisti à primeira sessão, em um círculo íntimo que eu tinha organizado. Não fiquei surpreendido de verificar que os fatos eram reais adquiri a convicção profunda de que eles nos ofereciam - como tudo o que existe na Natureza - uma base verdadeiramente sólida, um terreno firme para a fundação de uma ciência nova que seria talvez capaz, em um futuro remoto, de fornecer ao homem a solução do problema da sua existência. Fiz tudo o que estava ao meu alcance para tornar os fatos conhecidos e atrair sobre o seu estudo a atenção dos pensadores isentos de preconceitos .

Baseado no livro Personagens do Espiritismo de Antônio de Souza Lucena e
Paulo Alves Godoy Ed. FEESP - 1ª Ed. - 1982 - SP - BRASIL
http://www.espiritismogi.com.br/biografias/Alexandre_aksakof.htm

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Matéria de férias (1) - boa leitura!

Anália Franco - A mulher do espiritismo

Nascida na cidade de Resende, Estado do Rio de Janeiro, no dia 1o. de fevereiro de 1856, e desencarnada em S. Paulo, no dia 13 de janeiro de 1919.

Seu nome de solteira era Anália Emília Franco. Após consorciar- se em matrimônio com Francisco Antônio Bastos, seu nome passou a ser Anália Franco Bastos, entretanto, é mais conhecida por Anália Franco.

Com 16 anos de idade entrou num Concurso de Câmara dessa cidade e logrou aprovação para exercer o cargo de professora primária. Trabalhou como assistente de sua própria mãe durante algum tempo. Anteriormente a 1875 diplomou- se Normalista, em S. Paulo.

Foi após a Lei do Ventre Livre que sua verdadeira vocação se exteriorizou: a vocação literária. Já era por esse tempo notável como literata, jornalista e poetisa, entretanto, chegou ao seu conhecimento que os nascituros de escravas estavam previamente destinados à "Roda" da Santa Casa de Misericórdia. Já perambulavam, mendicantes, pelas estradas e pelas ruas, os negrinhos expulsos das fazendas por impróprios para o trabalho. Não eram, como até então "negociáveis", com seus pais e os adquirentes de cativos davam preferência às escravas que não tinham filhos no ventre. Anália escreveu, apelando para as mulheres fazendeiras. Trocou seu cargo na Capital de São Paulo por outro no Interior, a fim de socorrer as criancinhas necessitadas. Num bairro duma cidade do norte do Estado de S. Paulo conseguiu uma casa para instalar uma escola primária. Uma fazendeira rica lhe cedeu a casa escolar com uma condição, que foi frontalmente repelida por Anália: não deveria haver promiscuidade de crianças brancas e negras. Diante dessa condição humilhante foi recusada a gratuidade do uso da casa, passando a pagar um aluguel. A fazendeira guardou ressentimento à altivez da professora, porém, naquele local Anália inaugurou a sua primeira e original "Casa Maternal". Começou a receber todas as crianças que lhe batiam à porta, levadas por parentes ou apanhadas nas moitas e desvios dos caminhos. A fazendeira, abusando do prestígio político do marido, vendo que a sua casa, embora alugada, se transformara num albergue de negrinhos, resolveu acabar com aquele "escândalo" em sua fazenda. Promoveu diligências junto ao coronel e este conseguiu facilmente a remoção da professora. Anália foi para a cidade e alugou uma casa velha, pagando de seu bolso o aluguel correspondente à metade do seu ordenado. Como o restante era insuficiente para a alimentação das crianças, não trepidou em ir, pessoalmente, pedir esmolas para a meninada. Partiu de manhã, à pé, levando consigo o grupinho escuro que ela chamava, em seus escritos, de "meus alunos sem mães". Numa folha local anunciou que, ao lado da escola pública, havia um pequeno "abrigo" para as crianças desamparadas. A fama, nem sempre favorável da novel professora, encheu a cidade. A curiosidade popular tomou- se de espanto, num domingo de festa religiosa. Ela apareceu nas ruas com seus "alunos sem mães", em bando precatório. Moça e magra, modesta e altiva, aquela impressionante figura de mulher, que mendigava para filhos de escravas, tornou- se o escândalo do dia. Era uma mulher perigosa, na opinião de muitos. Seu afastamento da cidade principiou a ser objeto de consideração em rodas políticas, nas farmácias. Mas rugiu a seu favor um grupo de abolicionistas e republicanos, contra o grande grupo de católicos, escravocratas e monarquistas.

Com o decorrer do tempo, deixando algumas escolas maternais no Interior, veio para S. Paulo. Aqui entrou brilhantemente para o grupo abolicionista e republicano. Sua missão, porém, não era política. Sua preocupação maior era com as crianças desamparadas, o que a levou a fundar uma revista própria, intitulada "Álbum das Meninas", cujo primeiro número veio a lume a 30 de abril de 1898. O artigo de fundo tinha o título "Às mães e educadoras". Seu prestígio no seio do professorado já era grande quando surgiram a abolição da escravatura e a República. O advento dessa nova era encontrou Anália com dois grandes colégios gratuitos para meninas e meninos. E logo que as leis o permitiram, ela, secundada por vinte senhoras amigas, fundou o instituto educacional que se denominou "Associação Feminina Beneficente e Instrutiva", no dia 17 de novembro de 1901, com sede no Largo do Arouche, em S. Paulo.

Em seguida criou várias "Escolas Maternais" e "Escolas Elementares", instalando, com inauguração solene a 25 de janeiro de 1902, o "Liceu Feminino", que tinha por finalidade instruir e preparar professoras para a direção daquelas escolas, com o curso de dois anos para as professoras de "Escolas Maternais" e de três anos para as "Escolas Elementares".

Anália Franco publicou numerosos folhetos e opúsculos referentes aos cursos ministrados em suas escolas, tratados especiais sobre a infância, nos quais as professoras encontraram meios de desenvolver as faculdades afetivas e morais das crianças, instruindo- as ao mesmo tempo. O seu opúsculo "O Novo Manual Educativo", era dividido em três partes: Infância, Adolescência e Juventude.

Em 1o. de dezembro de 1903, passou a publicar "A Voz Maternal", revista mensal com a apreciável tiragem de 6.000 exemplares, impressos em oficinas próprias.

A Associação Feminina mantinha um Bazar na rua do Rosário n.o. 18, em S. Paulo, para a venda dos artefatos das suas oficinas, e uma sucursal desse estabelecimento na Ladeira do Piques n.o. 23.

Anália Franco mantinha Escolas Reunidas na Capital e Escolas Isoladas no Interior, Escolas Maternais, Creches na Capital e no Interior do Estado, Bibliotecas anexas às escolas, Escolas Profissionais, Arte Tipográfica, Curso de Escrituração Mercantil, Prática de Enfermagem e Arte Dentária, Línguas (francês, italiano, inglês e alemão); Música, Desenho, Pintura, Pedagogia, Costura, Bordados, Flores artificiais e Chapéus, num total de 37 instituições.

Era romancista, escritora, teatróloga e poetisa. Escreveu uma infinidade de livretos para a educação das crianças e para as Escolas, os quais são dignos de serem adotados nas Escolas públicas.

Era espírita fervorosa, revelando sempre inusitado interesse pelas coisas atinentes à Doutrina Espírita.

Produziu a sua vasta cultura três ótimos romances: "A Égide Materna", "A Filha do Artista", e "A Filha Adotiva". Foi autora de numerosas peças teatrais, de diálogos e de várias estrofes, destacando- se "Hino a Deus", "Hino a Ana Nery", "Minha Terra", "Hino a Jesus" e outros.

Em 1911 conseguiu, sem qualquer recurso financeiro, adquirir a "Chácara Paraíso". Eram 75 alqueires de terra, parte em matas e capoeiras e o restante ocupado com benfeitorias diversas, entre as quais um velho solar, ocupado durante longos anos por uma das mais notáveis figuras da História do Brasil: Diogo Antônio Feijó.

Nessa chácara fundou Anália Franco a "Colônia Regeneradora D. Romualdo", aproveitando o casarão, a estrebaria e a antiga senzala, internando ali sob direção feminina, os garotos mais aptos para a Lavoura, a horticultura e outras atividades agropastoris, recolhendo ainda moças desviadas, conseguindo assim regenerar centenas de mulheres.

A vasta sementeira de Anália Franco consistiu em 71 Escolas, 2 albergues, 1 colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças órfãs, 1 Banda Musical Feminina, 1 orquestra, 1 Grupo Dramático, além de oficinas para manufatura de chapéus, flores artificiais, etc., em 24 cidades do Interior e da Capital.

Sua desencarnação ocorreu precisamente quando havia tomado a deliberação de ir ao Rio de Janeiro fundar mais uma instituição, idéia essa concretizada posteriormente pelo seu esposo, que ali fundou o "Asilo Anália Franco".

A obra de Anália Franco foi, incontestavelmente, uma das mais salientes e meritórias da História do Espiritismo.

Férias de julho

O grupo de estudos do CE Emmanuel estará em férias durante o mês de julho.
Vamos descansar e aproveitar as férias de inverno. Voltaremos em agosto, mas o blog não vai ficar "às moscas", vamos colocar algumas matérias interessantes.
Boas férias e aproveitem!