Cap. 22 - Grandes Médiuns Modernos
Há sempre uma certa monotonia em escrever sobre sinais físicos de inteligência estranha, porque eles tomam formas estereotipadas e de natureza limitada.
São mais que suficientes para a sua finalidade, que é demonstrar a presença de forças invisíveis, desconhecidas da ciência materialista, mas tanto os seus métodos de produção, quanto os resultados, conduzem a infindáveis reiterações. Essa manifestação em si mesma, ocorrendo, como ocorre, em toda a parte, deveria convencer cada um que pensa seriamente sobre o assunto que se acha em presença de leis fixas, e que não é uma esporádica série de milagres, mas uma ciência real que se está desenvolvendo. É em sua ignorante e arrogante guerra a esse fato que têm pecado os adversários. “Não compreendem que haja leis”, escreveu Madame Bisson, depois de alguma tentativa fátua dos doutores da Sorbonne para produzir o ectoplasma sob condições que lhes impossibilitavam a experiência. Como se verá pelo que sucedeu antes, um grande médium de efeitos físicos pode produzir a Voz Direta fora de seus próprios órgãos vocais, bem como a telecinesia ou o movimento de objetos a distância, batidas, ou percussão do ectoplasma, transportes, ou a vinda de objetos distantes, materializações de rostos, de mãos ou de figuras inteiras, a fala e a escrita em transe, escrita em lousas fechadas, fenômenos luminosos, que tomam várias formas. Todas essas manifestações o autor viu muitas vezes e como elas lhe foram mostradas pelos principais médiuns da atualidade, ele se arrisca a alterar a forma desta história, falando dos mais recentes sensitivos que conhece pessoalmente e pôde observar.
Fique entendido que uns cultivam um dom, outros outro, ao passo que os que exibem todas as formas de mediunidade em geral não são tão proficientes em nenhuma, como o homem ou a mulher que se especializou. A gente possui muita força psíquica para exteriorizar, e pode fazê-lo através de um canal profundo ou desperdiçá-la através de muitos canais superficiais. De vez em quando aparece uma criatura maravilhosa, como D. D. Home, que possui todas as mediunidades – mas isto é raro.
A maior médium de transe com a qual o autor já teve contacto foi Mrs. Osbornne Leornad. O grande valor de seu dom é que, em regra, ele é contínuo. Não é interrompido por longas pausas ou por intervalos improdutivos, mas flui exatamente como se a pessoa que se supõe falar estivesse presente. O processo usual é que Mrs. Leonard, uma senhora agradável, gentil, de meia-idade, cai num sono, durante o qual a sua voz muda inteiramente e o que vem através dela, se supõe ser de seu pequeno guia – Feda. O guia fala um inglês entrecortado, alto, com muitas expressões infantis e de intimidade, o que dá a impressão de uma inteligência infantil, suave e meiga. Atua como porta-voz do Espírito que espera, mas ocasionalmente este fala, ocasionando uma súbita mudança de forma de falar, da terceira pessoa do singular para a primeira, como, por exemplo: “Estou aqui, Papai. Ele diz que quer falar. Sinto-me tão bem e tão feliz! Ele acha tão maravilhoso falar convosco...” e assim por diante.
Pelo menos é uma experiência maravilhosa. Uma vez o autor recebeu uma longa série de mensagens referente à sorte futura do mundo, através da mão de sua esposa e de sua voz, no seu próprio grupo doméstico. Ao visitar Mrs. Leonard, nada disse a respeito, nem havia de modo algum dado a conhecer o assunto. Apenas se havia assentado e tomado o bloco onde pretendia tomar notas do que ocorresse, quando seu filho anunciou a sua presença e falou seguidamente durante uma hora. Durante esse longo monólogo mostrou um íntimo conhecimento de tudo quanto tinha acontecido no grupo doméstico e ainda numerosos detalhes da vida da família, absolutamente desconhecidos da médium. Em toda a entrevista não houve qualquer engano em relação aos fatos, posto houvesse referência a muitos deles.
Uma pequena parte dos menos pessoais pode servir de exemplo:
“Há muito progresso falso no campo mecânico material. Isto não é progresso. Se se constrói um carro para andar mil milhas este ano, então se constrói outro para andar o dobro no ano seguinte. Nem por isso é melhor. Desejamos progresso real – a saber, da mente e do Espírito e tornar como uma realidade que há um mundo espiritual.
“Enorme auxílio poderia ser dado do nosso lado, bastando que a gente da Terra se adaptasse para o receber. Mas não podemos forçar o nosso auxílio aos que não estão preparados para ele. Este é o vosso trabalho, preparar gente para nós. Alguns são tão irremediavelmente ignorantes, mas lançam a semente, mesmo quando não a vedes germinar.
“O clero é tão limitado em suas idéias e tão amarrado a um sistema já obsoleto! É como se servissem comida velha de uma semana, em vez de recentemente preparada. Sabemos quanto é maravilhoso o Cristo. Sabemos do seu amor e do seu poder. Ele pode ajudar a nós e a vós. Mas o fará acendendo novos fogos e não ciscando sempre as velhas cinzas.
“Eis o que desejamos – o fogo do entusiasmo nos dois altares da imaginação e do conhecimento. Algumas pessoas afastam a imaginação, que é, muitas vezes, a porta do conhecimento. As Igrejas tiveram o ensino certo, mas não o puseram em ação. O conhecimento espiritual que se possui, deve ser demonstrado de modo prático. O plano em que viveis é um plano prático, no qual aguarda-se que ponhais em prática o vosso conhecimento e a vossa fé. Em nosso plano, conhecimento e fé são ação – a gente pensa uma coisa e imediatamente a põe em prática; mas na Terra muitos há que dizem que uma coisa é certa, mas nunca a fazem. A igreja ensina mas não demonstra o seu ensino. Sabeis que por vezes o quadro negro tem utilidade. É o de que precisais. Deveis ensinar e, depois, demonstrar no quadro negro. Assim, os fenômenos físicos são realmente mais importantes.
“Haverá alguns nesta violenta comoção social. Agora é difícil a nossa manifestação, porque a maior massa do pensamento coletivo está contra nós e não a nosso favor. Mas quando se der aquela comoção social o povo será sacudido de sua atitude de ignorante, de antagonismo de cabeças-de-galinha contra nós, assim se abrindo imediatamente o caminho para uma demonstração mais completa do que a que até agora temos podido dar.
“Agora é como um muro, contra o qual nos batemos e onde perdemos noventa por cento da nossa força de bater e de tentar descobrir um ponto fraco, nesse muro de ignorância, através do qual possamos ligar-nos a vós. Mas muitos de vós estão cavando e martelando do vosso lado para nos dar entrada. Vós não construístes o muro – estais ajudando a nossa penetração. Em pouco tempo tê-lo-eis tão enfraquecido que ele se esboroará e, em vez de penetrá-lo com dificuldade, emergiremos como um grupo glorioso. Este será o clímax, o encontro do Espírito com a Matéria.”
Se a verdade do Espiritismo dependesse apenas da força de Mrs. Leonard, o caso seria esmagado, pois ela atendeu centenas de visitas e raramente deixou de lhes dar completa satisfação. Há, entretanto, muitos clarividentes cujos poderes são um pouco inferiores aos de Mrs. Leonard, e que talvez fossem iguais a ela, se mostrassem a mesma reserva em seu uso.
Não há dinheiro que leve Mrs. Leonard a receber mais que dois clientes por dia, e é talvez por isto que ela mantém a excelência dos resultados.
Entre os clarividentes londrinos que o autor usou, Mr. Vout Peters ocupa lugar de destaque. Uma vez uma grande prova foi dada por seu intermédio, e que foi relatada em “New Revelation”, página 53. Outro excelente em seus dias foi Mrs. Annie Brittain. O autor costumava mandar a essa médium pessoas que tinham perdido parentes durante a guerra e colecionou as cartas nas quais eles narravam a sua experiência. O resultado é notável. Nos primeiros cem casos, oitenta eram de sucesso no estabelecimento de um contacto com o objeto de seus desejos. Nalguns casos o resultado era superiormente evidente e dificilmente será superestimado o conforto oferecido aos consulentes. A transformação do sentimento, quando o que aqui fica tem a prova de que a morte não é silenciosa, mas que resta ainda uma voz, falando com uma entonação feliz, pode reanimar uma criatura. Uma senhora escreveu que estava absolutamente determinada a pôr um ponto na vida, tão chocante e vazia era a sua existência; mas deixou a sala de Mrs. Brittain com a esperança no coração. Quando a gente tem notícia de que uma tal médium foi arrastada a uma delegacia de polícia, interrogada por um policial ignorante e condenada por um magistrado ainda mais ignorante, sente que está vivendo um daqueles escuros períodos da História.
Como Mrs. Leonard, Mrs. Brittain tem o delicado apelido familiar de Belle. Em suas extensas pesquisas o autor fez muitas relações com essas pequenas criaturas em diversas partes do mundo, encontrando o mesmo caráter, a mesma voz e as mesmas maneiras agradáveis em todas. Essa semelhança parece mostrar, quando se medita sobre o caso, que existe a ação de uma lei geral. Feda, Belle, Iris, Harmony e muitas outras sussurram com fina voz e o mundo se torna melhor com a sua presença e a sua pregação.
Miss Mc Creadie é outra notável vidente londrina, pertencente à velha escola e trazendo consigo uma atmosfera de religião que por vezes nos falta. Há muitos outros, mas nenhuma notícia seria completa se se não aludisse aos notáveis e elevados ensinos que vêm de Johannes e de outros guias de Mrs. Hester Dowden, filha do famoso shakespeariano. Também deve ser feita uma referência ao Capitão Bartlett, cujos maravilhosos escritos e desenhos permitiram a Mr. Bligh Bond descobrir as ruínas de duas capelas em Glastonbury que se achavam tão enterradas que só o sentido da clarividência lhes poderia marcar a exata posição. Os leitores de “The Gate of Remembrance” compreenderão todo o valor desse notável episódio.
Os fenômenos da Voz Direta diferem da mera clarividência e da fala em transe, por isso que os sons não parecem vir do médium, mas de fora, às vezes de uma distância de alguns metros e continuar quando a boca está cheia de água e, outras vezes, se fazendo ouvir em duas ou três vozes simultâneas. Nessas ocasiões uma trombeta de alumínio é empregada para aumentar a voz; e também, como supõem alguns, para formar uma pequena câmara escura, na qual as cordas vocais então usadas pelo Espírito, se podem materializar. É um fato interessante e que trouxe muita confusão aos que têm pouca experiência, porque em geral os primeiros sons se assemelham à voz do médium. Isto logo desaparece e a voz ou se torna neutra ou muito parecida com a do morto. É possível que a razão desse fenômeno seja que o ectoplasma com o qual os fenômenos são produzidos seja tirado do médium e, assim, leve algumas peculiaridades dele ou dela, até que o tempo e as forças exteriores tenham o predomínio. Seria bom que o céptico fosse paciente e esperasse o desenvolvimento, pois eu conheci um investigador ignorante e opiniático que jurava que havia fraude apenas porque notava a semelhança das vozes e então estragava toda a sessão com grosserias malucas, quando, se tivesse esperado, teria esclarecido as suas dúvidas.
O autor fez experiências com Mrs. Wriedt ouvindo a Voz Direta, acompanhada de batidas na corneta, em plena luz, estando a médium sentada a poucos metros de distância. Isto por causa da idéia de que no escuro pode o médium mudar de posição. Não é raro ter duas ou três vozes de Espíritos falando ou cantando ao mesmo tempo, o que, por sua vez, é fatal para a teoria da ventriloquia. Também a corneta, que por vezes é pintada com tinta fosforescente, pode ser vista suspensa ao longe, fora do alcance das mãos do médium. Uma vez, em casa de Mr. Dennis Bradley, o autor viu a corneta iluminada girando e batendo no teto, como um vaga-lume. Depois pediram ao médium, Valiantine, que subisse na cadeira e verificaram que com o braço estendido e segurando a corneta não era possível tocar no teto. Isto foi testemunhado por um grupo de oito pessoas.
Mrs. Wriedt nasceu em Detroit, há uns cinqüenta anos, e é talvez mais conhecida na Inglaterra do que qualquer médium americano. A autenticidade de seus poderes pode ser melhor julgada por uma pequena descrição dos resultados. Uma vez, numa visita à casa de campo do autor, ela se sentou com este, sua esposa e seu secretário numa sala bem iluminada.
Foi cantado um hino e antes de terminada a primeira estrofe juntou-se uma quinta voz de excelente qualidade e continuou até o fim. Os três observadores estavam prontos para dizer que a própria Mrs. Wriedt estivesse cantando todo o tempo. Na sessão da noite vieram muitos amigos, com todas as possíveis provas de identidade. Um assistente sentiu a aproximação de seu pai, recentemente falecido, que começou pela tosse seca e forte, que aparecera em sua última doença. Discutiu a questão de um legado, de maneira perfeitamente racional. Um amigo do autor, aliás um irascível anglo-indiano, manifestou-se, tanto quanto é possível manifestar-se pela voz, reproduzindo exatamente a sua maneira de falar, dando o seu nome, e aludindo a fatos de sua vida material. Outro assistente recebeu a visita de alguém que se dizia sua tia-avó! O parentesco foi negado; mas, perguntando em família, verificou que tinha tido uma tia daquele nome, morta na infância. A telepatia tem que ser afastada da explicação de tais fatos.
Ao todo o autor experimentou pelo menos com vinte produtores de Voz Direta e ficou muito chocado pelas diferenças em volume de som com os diversos médiuns. Por vezes é tão fraca que com dificuldade se escuta a mensagem. Há poucas experiências mais tensas e penosas do que aplicar o ouvido para escutar no escuro, perto de nós, vozes sussurrantes, esforçadas, entrecortadas, que poderiam significar muito se as pudéssemos distinguir. Por outro lado, o autor conheceu aquilo que deve ser consideravelmente chocante quando, no quarto de um hotel em Chicago, cheio de gente, rompeu uma voz que só poderia ser comparada ao rugido de um leão. O médium nessa ocasião era um esguio rapaz americano, que não podia ter produzido aquele som com os seus órgãos normais. Entre esses dois extremos podem encontrar-se todas as gradações de volume e de vibração.
George Valiantine, já mencionado, talvez viesse em segundo lugar, se o autor tivesse de fazer uma lista dos grandes médiuns de Voz Direta, com os quais fez experiências. Ele foi examinado pela Comissão do Scientific American e pôs por terra a alegação de que um dispositivo elétrico mostrara que ele tinha saído de sua cadeira quando a voz se fez ouvir. O exemplo já oferecido pelo autor, no qual a corneta circulava fora do alcance do médium, é prova positiva de que os resultados certamente não dependem de sua saída da cadeira e que os efeitos não só dependem de como a voz é produzida, mas, principalmente, do que diz a voz. Aqueles que leram “Rumo às Estrelas”, de Dennis Bradley, e o seu livro subsequente, narrando a longa série de sessões em Kingston Vale, podem fazer uma idéia de que nenhuma outra explicação abarca a mediunidade de Valiantine, a não ser que possui, realmente, excepcionais poderes psíquicos. Estes variam muito com as condições, que em geral permanecem bem altas. Como Mrs. Wriedt, ele não cai em transe mas, mesmo assim, suas condições não podem ser chamadas normais. Há condições de semi-transe que esperam a investigação dos estudiosos no futuro.
Mr. Valiantine é, de profissão, um fabricante numa pequena cidade na Pensilvânia. É calmo, delicado e bondoso e como se acha na flor da idade, uma carreira muito útil se abre à sua frente.
Como médium de materializações, Jonson, de Toledo, que depois residiu em Los Angeles, permanece só, até onde o autor pode observar. Possivelmente o nome de sua esposa poderia ser ligado ao seu, desde que trabalham juntos. A peculiaridade do trabalho de Jonson é que fica inteiramente à vista do grupo, enquanto sua esposa fica de pé junto da câmara e superintende os trabalhos. Quem desejar um relato completo das sessões de Jonson deverá ler do autor a “Our Second American Adventure”, posto sua mediunidade seja também tratada muito minuciosamente pelo Almirante Usborne Moore.
O almirante, que se achava entre os grandes investigadores psíquicos, fez muitas sessões com Jonson e obteve a cooperação de um ex-chefe do Serviço Secreto dos Estados Unidos, que estabeleceu a vigilância e nada encontrou contra o médium. Quando a gente recorda que Toledo era, então, uma cidade limitada, e que às vezes umas vinte personalidades diferentes se manifestavam na mesma sessão, pode-se imaginar que a personificação apresenta insuperáveis dificuldades. Por ocasião de uma sessão em que se achava o autor, ocorreu um longo desfile de figuras, cada uma por sua vez, vindo da pequena cabine. Eram velhos e moços, homens, mulheres e crianças. A luz de uma lâmpada vermelha era bastante para que se vissem as figuras claramente, mas não para distinguir os detalhes das feições.
Algumas das figuras ficaram fora nada menos que vinte minutos e conversaram livremente com o grupo, respondendo às perguntas que lhes eram feitas. Nenhum homem dará a outro um cheque em branco pela honestidade, nem declarará que ele é honesto e o será sempre. O autor apenas dirá que naquela ocasião particular estava perfeitamente convencido da genuína natureza dos fenômenos, e que não tem razões para duvidar disso em qualquer outra ocasião.
Jonson é um homem de compleição forte e, posto esteja agora velho, seus poderes psíquicos ainda não são igualados. É o centro de um grupo em Pasadena, perto de Los Angeles, que se reúne semanalmente, para aproveitar de seus notáveis poderes. O finado Professor Larkin, astrônomo, era frequentador do grupo e garantiu ao autor que acreditava completamente na sua honestidade como médium.
As materializações podem ter sido mais comuns no passado do que no presente. Os que leram livros como o de Brackett, “Materialised Aparitions” ou o “There is No Death”, de Miss Marriat, que o digam. Mas nestes dias as materializações completas são muito raras.
O autor estava presente a uma suposta materialização por um tal Thompson, em New York, mas as coisas não geraram convicção. Pouco depois o homem foi preso por trapaças, em circunstâncias que não deixam dúvida quanto à sua culpabilidade.
Há médiuns que, sem se especializarem de nenhuma forma, podem mostrar uma grande variedade de manifestações super-naturais. De todos que o autor encontrou daria precedência pela variedade e pela consistência a Miss Ada Besinnet, de Toledo, nos Estados Unidos, e a Eva Powell, outrora chamada Merthyr Tydvil, em Gales. Ambas são admiráveis médiuns, e pessoalmente dignas dos maravilhosos dons com que foram dotadas. No caso de Miss Besinnet as manifestações incluem a voz direta, por vezes duas ou três ao mesmo tempo. Um guia masculino, chamado Dan, tem uma notável voz de barítono e quem quer que o tenha ouvido não duvidará de que seja independente do organismo daquela senhora. Ocasionalmente se junta uma voz feminina, para fazer com Dan um dueto afinadíssimo. Notável assovio, no qual parece que não há pausa para respirar, é outra feição de sua mediunidade. Assim também a produção de luzes muito brilhantes. Estas parecem pequenos sólidos luminosos, pois o autor, em certa ocasião, fez a curiosa experiência de ter um em seus bigodes. Tivesse aí pousado um grande vaga-lume e o efeito teria sido o mesmo. As Vozes Diretas de Miss Besinnet, ao tomarem a forma de mensagens, separadas do trabalho dos guias, não são fortes e, muitas vezes, são difíceis de ouvir. O mais notável de todos os seus poderes, entretanto, é o aparecimento de rostos de fantasmas, que surgem numa faixa iluminada, em frente ao assistente. Pareceriam antes máscaras, de vez que não apresentam relevo. Em muitos casos apresentam faces finas, que ocasionalmente se assemelham à do médium, quando a saúde da senhora ou a força do círculo decaem. Quando as condições são boas, são perfeitamente diferentes. Em duas ocasiões o autor viu faces nas quais poderia absolutamente jurar que uma era de sua mãe e outra de seu sobrinho Oscar Hornung, jovem oficial morto na guerra. Por outro lado houve noites em que nenhum reconhecimento claro foi possível obter, embora entre os rostos alguns pudessem ser chamados de angélicos, tal a sua beleza e a sua pureza.
No nível de Miss Besinnet está Mr. Evan Powell, com a mesma variedade, mas nem sempre com o mesmo tipo de poderes. Os fenômenos luminosos de Powell são igualmente bons. Sua produção de voz é melhor. O autor ouviu vozes de Espíritos tão altas quanto as humanas comuns e se recorda de uma ocasião em que três falavam ao mesmo tempo – uma a Lady Cowan, outra a Sir James Marchant e uma terceira a Sir Robert McAlpine. Os movimentos de objetos são comuns nas sessões de Powell e numa ocasião uma estante de 60 libras foi suspensa durante algum tempo, sobre a cabeça do autor. Evan Powell sempre insiste para ser amarrado fortemente durante a sessão, o que é feito, conforme ele reclama, para a sua mesma proteção, de vez que ele não pode ser responsável por seus próprios movimentos, quando se acha em transe. Isto lança um interessante esclarecimento sobre a natureza de algumas mistificações. Há muita evidência, não só de que, inconscientemente, ou sob a influência da sugestão da assistência, pode o médium colocar-se numa posição falsa, mas que forças do mal, sempre perturbadoras ou ativamente opostas ao bom trabalho feito pelos Espíritas, possam atuar sobre o corpo em transe e levá-lo a fazer uma coisa suspeita, visando desacreditar o médium. Algumas notáveis observações a esse respeito, baseadas na experiência pessoal, foram feitas pelo Professor Haraldur Nielson, da Islândia, ao comentar um caso em que um do grupo cometeu uma fraude insensata e, posteriormente, um Espírito disse que ela tinha sido praticada por sua ação e instigação.
De um modo geral, Evan Powell pode ser considerado como o mais largamente dotado de forças mediúnicas de todos os médiuns na Inglaterra. Ele prega as doutrinas espíritas em pessoa e pelo seu guia e ele próprio pode demonstrar quase todas as mediunidades. É pena que o seu negócio como vendedor de carvão no Devonshire não lhe permita uma presença constante em Londres.
A mediunidade da escrita nas lousas é uma manifestação notável. Tem-na em alto grau Mrs. Pruden, de Cincinnati, que recentemente visitou a Grã-Bretanha, exibindo suas maravilhosas faculdades a muita gente. O autor fez várias sessões com ela e explicou os métodos minuciosamente. Como a passagem é curta e pode tornar o assunto claro para os não iniciados, eis a sua transcrição:
“Tivemos a sorte agora de nos pormos em contacto com um médium realmente grande – Mrs. Pruden, de Cincinnati –, que veio a Chicago assistir às minhas conferências. Realizamos uma sessão no Blackstone Hotel, devida à cortesia de seu hóspede, Mr. Holmyard, e os resultados foram esplêndidos. É uma senhora idosa, boa e de maneiras naturais. Seu dom especial é a escrita nas lousas, que jamais eu havia examinado.
“Eu ouvira dizer que havia truques no caso, mas ela estava ansiosa para usar as minhas lousas e permitir que examinasse as suas. Ela prepara uma câmara escura, cobrindo a mesa com um pano e sustenta a lousa debaixo da mesa, enquanto a gente pode segurar a lousa pelo outro lado. Sua outra mão fica livre e à vista. A lousa é dupla, tendo entre as duas um pedacinho de lápis.
“Após uma demora de meia hora começou a escrita. Foi a mais estranha sensação segurar a ardósia e sentir o rumor e a vibração do lápis a riscar dentro delas. Cada um havia escrito uma pergunta num pedaço de papel e o tínhamos posto no chão, cuidadosamente dobrado, debaixo dos panos, para que a força psíquica pudesse ter as adequadas condições para o seu trabalho, que sempre sofre a interferência da luz.
“Então cada um de nós recebeu uma resposta dada na lousa à pergunta que havia feito e teve licença para apanhar os papéis e verificar que não haviam sido abertos. A sala naturalmente estava inundada de luz e a médium não podia abaixar-se sem que a víssemos.
“Nessa manhã eu tinha um negócio, em parte espiritual, em parte material, com o Doutor Gelbert, um inventor francês. Em minha pergunta indaguei se ele era perito. A resposta na ardósia dizia: ‘Acredite no Doutor Gelbert, Kingsley’. Eu não havia mencionado na pergunta o nome do Doutor Gelbert, nem havia dito nada a respeito a Mrs. Pruden. Minha senhora recebeu uma longa mensagem assinada por uma amiga querida. O nome era a sua verdadeira assinatura. Em conjunto era uma demonstração absolutamente convincente. Batidas agudas e claras sobre os móveis acompanharam continuamente a nossa conversa.”
O método geral e o resultado é o mesmo que é usado por Mr. Pierre Keeler, dos Estados Unidos. O autor não conseguiu uma sessão com esse médium; mas um amigo que a obteve conseguiu resultados que põem a verdade dos fenômenos acima de qualquer questão. Em seu caso recebeu resposta a perguntas postas dentro de envelopes, de modo que a explicação favorita de que, de certo modo, o médium vê as tiras de papel, fica eliminada. Quem quer que tenha assistido a Mrs. Pruden saberá, pois, que ela jamais se abaixa e que os pedaços de papel ficam aos pés do assistente.
Uma notável forma de mediunidade é a da bola de cristal, na qual as figuras se tornam visíveis aos olhos do assistente. O autor só encontrou esta uma vez, através da mediunidade de uma senhora do Yorkshire. As figuras eram nítidas, bem definidas e separadas por intervalos de uma névoa. Não pareciam revelar qualquer acontecimento passado ou futuro: consistiam de vistas, pequenos rostos, e outros objetos semelhantes.
Eis algumas das variadas formas das forças do Espírito, que nos foram dadas como um antídoto ao materialismo. As mais altas formas não são as físicas, mas as que se encontram em inspirados escritos de homens como Davis, Stainton Moses ou Dale Owen. Nunca é por demais repetido que o mero fato de que a mensagem nos vem de maneira pré natural seja uma garantia de elevação e de verdade. A criatura ensimesmada e convencida, de raciocínio vulgar, e o mistificador consciente também existem no lado invisível da vida, e todos eles podem transmitir as suas valiosas comunicações através de agentes invigilantes. Tudo deve ser medido e pesado e muita coisa deve ser posta de lado, enquanto o que restar deve ser digno de nossa mais respeitosa atenção. Mas mesmo o melhor não pode ser a última palavra: deve ser muitas vezes emendado, como no caso de Stainton Moses, quando atingiu o Outro Lado. Aquele grande mestre admitiu, através de Mrs. Piper, que havia pontos sobre os quais ele tinha sido mal informado.
Os médiuns mencionados foram escolhidos como tipos de suas várias classes, mas há muitos outros que mereceriam um registro minucioso, se houvesse espaço. O autor fez diversas sessões com Sloan e com Phoenix, de Glasgow, ambos com notáveis poderes, que cobrem quase toda a escala dos dons espirituais e são, ou foram, homens de fora do mundo, com uma santa despreocupação pelas coisas desta vida. Mrs. Falconer, de Edimburgo, é também uma médium de transe de força considerável. Da geração anterior o autor experimentou a mediunidade de Husk e de Craddock, os quais tiveram horas intensas e horas de fraqueza. Mrs. Susanna Harris também deu boas provas no setor físico, bem como Mrs. Wagner, de Los Angeles, enquanto entre os amadores John Ticknor, de New York, e Mr. Nugent, de Belfast, estão nos primeiros vôos do transe mediúnico.
Em conexão com John Ticknor o autor pode citar uma experiência feita e referida nos “Proceedings” da American Society for Psychical Research, um organismo que no passado foi dirigido quase que por opositores, como o seu parente da Inglaterra. Neste exemplo, o autor fez um registro cuidadoso da pulsação, quando Mr. Tickenor estava em estado normal, quando manifestava o Coronel Lee, um de seus guias espirituais, e quando se achava sob a influência de “Black Hawk” um guia pele-vermelha. Os valores eram, respectivamente 82, 100 e 118.
Mrs. Roherts Johnson é outra médium de resultados desiguais, mas que nas melhores condições tem um admirável poder de Voz Direta. O elemento religioso está ausente de suas sessões e a mocidade alegre do Norte que se manifesta cria uma atmosfera que diverte os assistentes, mas que choca aqueles que vêm às sessões com sentimentos solenes. A profunda voz escocesa do guia de Glasgow, David Duguid, que em vida fora um médium famoso, está isenta de imitação pela garganta de uma mulher e as suas observações são cheias de dignidade e de sabedoria. O Reverendo Doutor Lamond assegurou-me que Duguid, numa dessas sessões, lhe havia lembrado um acidente que entre ambos ocorrera em vida – o que é prova suficiente da realidade da individualidade.
Não existe fase mais dramática e curiosa do fenômeno psíquico do que o transporte. É tão surpreendente que é difícil convencer a um céptico quanto à sua possibilidade e mesmo os Espíritas dificilmente acreditam nele até que lhes venham as provas. O primeiro contacto do autor com o conhecimento oculto foi em grande parte devido ao finado General Drayson que, naquele tempo – vai para quarenta anos – recebia, através de um médium, uma grande quantidade de transportes muito curiosos – lâmpadas hindus, amuletos, frutas frescas e outros objetos. Fenômeno tão interessante e tão fácil de simular, era muito para um principiante e retardou o progresso em vez de o acelerar. Contudo, desde então o autor encontrou o editor de conhecido jornal, que usou o mesmo médium, depois da morte do General Drayson e continuou, sob rígidas condições, a receber semelhantes transportes.
Assim, o autor foi forçado a reconsiderar o seu ponto de vista e a acreditar que tinha subestimado a honestidade do médium e a inteligência do assistente.
Mr. Bailey, de Melbourne, parece ser um notável médium de transporte e o autor não acredita na sua suposta mistificação em Grenoble. O próprio relato de Bailey é que foi vítima de uma conspiração religiosa e, à vista da longa série de sucessos, é mais provável isto do que ele tenha, de maneira misteriosa, escondido um pássaro vivo na sala da sessão, na qual ele sabia que iria ser despido e examinado. A explicação dos pesquisadores psíquicos de que o pássaro estava escondido em seu intestino é um supremo exemplo dos absurdos que a incredulidade pode produzir. Uma vez o autor fez uma experiência de transporte com Bailey e que é impossível de explicar de outra maneira. Ela foi assim descrita:
“Então colocamos Bailey a um canto da sala, baixamos as luzes sem as apagar, e esperamos. Quase no mesmo instante ele respirou profundamente, como se em transe, e logo disse algo numa língua estranha, para mim incompreensível. Um de nossos amigos, Mr. Cochrane reconheceu-a como indiana e logo respondeu; algumas sentenças foram dialogadas. Então a voz disse em inglês que era um guia hindu, acostumado a fazer transportes com o médium e que esperava poder trazer um para nós. ‘Ei-lo aqui’, disse momentos depois, e a mão do médium se estendeu com alguma coisa. As luzes foram aumentadas e verificamos que era um perfeito ninho de pássaro, lindamente construído de fibras muito finas, misturadas com musgo. Tinha cerca de duas polegadas de altura e nada indicava que tivesse havido truque. Tinha cerca de três polegadas de largura. Nele estava um pequeno ovo branco, com pequenas pintas castanhas. O médium, ou antes o guia hindu, agindo através do médium, colocou o ovo na palma de sua mão e o quebrou, derramando a clara. Não havia traços de gema. ‘Não nos é permitido interferir com a vida’, disse ele. ‘Se o ovo tivesse sido fertilizado não poderíamos tê-lo trazido.’ Estas palavras foram ditas antes de o quebrar, de modo que ele sabia em que condições estava o ovo, o que certamente é notável.
– “De onde o trouxe? perguntei eu.
– “Da Índia.
– “Que pássaro é este?
– “É chamado lá pardal da floresta.
Fiquei com o ninho e passei uma manhã com Mr. Chubb, do museu local, para verificar se realmente o ninho era de tal pássaro. Parecia muito pequeno para um pardal indiano, entretanto não podíamos classificar nem o ninho nem o ovo entre os tipos australianos.
Outros ninhos e ovos transportados por Mr. Boiley têm sido identificados. Certamente é um bom argumento que, enquanto tais pássaros tenham que ser importados e comprados aqui, na verdade é um insulto à razão admitir que ninhos e ovos frescos também sejam encontrados no mercado. Assim, apenas posso garantir a extensa experiência e os elaborados ensaios do Doutor Mc Carthy de Sydney e afirmar que acredito que na ocasião Mr. Bailey foi um verdadeiro médium, com o notável dom de transporte.
É justo declarar que quando voltei a Londres levei um dos tijolos assírios de Bailey ao Museu Britânico e que aí declararam que era falso. Inquérito posterior mostrou que tais falsificações são feitas por judeus num subúrbio de Bagdad – e, até onde se sabe, somente ali. Assim, a coisa não está muito mais adiantada. Para o trabalho de transporte, pelo menos, é possível que a peça falsificada, impregnada de recente magnetismo humano, é mais fácil de ser manejada do que o original, tirado de um monumento. Bailey produziu pelo menos uma centena desses objetos e nenhum funcionário da Alfândega informou como eles poderiam ter entrado no país. Por outro lado, Bailey me disse claramente que os tabletes tinham passado pelo Museu Britânico, de modo que temo não poder harmonizá-lo com a verdade – e nisto está a maior dificuldade para decidir o caso. Mas a gente deve lembrar sempre que a mediunidade de efeitos físicos não tem conexão, desta ou daquela maneira, com o caráter da pessoa, do mesmo modo que os dotes poéticos”.
Os críticos esquecem, ao citar continuamente a impostura de Bailey, que imediatamente antes da experiência de Grenoble ele havia suportado uma longa série de testes em Milão, no curso dos quais os investigadores tomaram a extrema e injustificável medida de vigiar o médium secretamente, quando no seu próprio quarto de dormir. A comissão composta de nove homens de negócio e de doutores, não achou nenhuma falha em dezessete sessões, mesmo quando o médium foi posto num saco. Essas sessões duraram de fevereiro a abril de 1904, e foram minuciosamente discutidas pelo Professor Marzorati. À vista de seu sucesso, muito mais foi feito na acusação na França. Se a mesma análise e o mesmo cepticismo fossem mostrados contra as mistificações como são mostrados contra os fenômenos, a opinião pública seria dirigida mais justamente.
O fenômeno de transporte parece tão incompreensível às nossas mentes que certa vez o autor perguntou a um Espírito guia se ele podia dizer algo que lançasse luz sobre o assunto. A resposta foi: “Isto envolve alguns fatores que estão acima da ciência humana e que não podem ser esclarecidos. Ao mesmo tempo vocês devem tomar como grosseira analogia o caso da água que se transforma em vapor. Então esse vapor, que é invisível, pode ser conduzido para qualquer lugar, para ser apresentado na forma visível da água”. Isto é, como se vê, antes uma analogia do que uma explicação, mas pelo menos parece apta. Dever-se-ia acrescentar, como foi referido na explicação, que não só Mr. Stanford, de Melbourne, como também o Doutor Mac Carthy, um dos primeiros médicos de Sydney, realizaram uma série de experiências com Bailey e ficaram convencidos da legitimidade de seus poderes.
De modo algum os médiuns citados esgotam a lista daqueles com que o autor teve oportunidade de fazer experiências; e ele não deve deixar o assunto sem aludir ao ectoplasma de Eva, que ele teve entre os dedos, ou às brilhantes luminosidades de Frau Silbert, que ele viu sair como uma coroa cintilante de sua cabeça. Ele espera que já tenha sido dito bastante para mostrar que a série de grandes médiuns não se acaba para quem quer que diligencie a sua procura seriamente e também para assegurar ao leitor que estas páginas são escritas por alguém que não mediu sacrifícios para ganhar o conhecimento prático daquilo que estuda.
Quanto à acusação de credulidade invariavelmente dirigida pelos não receptivos contra quem quer que tenha uma opinião positiva sobre este assunto, o autor pode solenemente confessar que, no curso de sua longa carreira como investigador, não pode recordar um único caso em que tenha sido mostrado claramente que ele se havia enganado sobre qualquer ponto sério, ou tenha dado um atestado de honestidade a uma realização que posteriormente ficasse provado que era desonesta. Um homem crédulo não passa vinte anos lendo e fazendo experiências antes de chegar a conclusões fixas.
Nenhum relato de mediunidade de efeitos físicos seria completo se não aludisse aos notáveis resultados obtidos por “Margery”, nome adotado para efeito público por Mrs. Crandon, a bela e dotada esposa de um dos primeiros cirurgiões de Boston. Esta senhora mostrava poderes psíquicos há alguns anos e o autor teve a oportunidade de chamar para o seu caso a atenção da Comissão do Scientific American. Assim fazendo, sem o querer, os expôs a muitos aborrecimentos, que eram suportados com extraordinária paciência por ela e pelo marido. É difícil dizer o que era mais aborrecido: se Houdini, o mágico, com as suas intempestivas e ignorantes teorias de fraude, ou os tais “cientistas” assistentes, como o Professor McDougall, de Harvard, que, depois de cinquenta sessões e de assinar outras tantas atas, no fim de cada sessão, endossando as maravilhas registradas, ainda se sentia incapaz de fazer um julgamento, contentando-se com vagas deduções. O negócio não foi salvo pela interferência de Mr. E. J. Dingwall, da Society for Psychical Research de Londres, que proclamava a verdade da mediunidade em cartas particulares cheias de entusiasmo, mas negava a sua convicção em reuniões públicas. Esses supostos especialistas saíram da história com pouco crédito; em compensação mais de duzentos assistentes de bom senso tiveram bastante sabedoria e honestidade para exprimir realmente em depoimento aquilo que aos seus olhos se passara. Deve o autor declarar que pessoalmente experimentou com Mrs. Crandon e ficou satisfeito tanto quanto o podia numa sessão, quanto à verdade e a variedade de suas faculdades.
Neste caso o guia se diz Walter, irmão falecido daquela senhora e mostra uma personalidade muito marcada, com um grande senso de humor e considerável domínio de linguagem irônica. A produção da voz é direta, uma voz máscula, que parece atuar a poucas polegadas em frente ao rosto do médium. As forças têm sido progressivas, aumentando continuamente, até que agora alcançaram quase todas as variedades de mediunidade. O toque de campainhas elétricas sem contacto tem sido feito ad nauseam, de tal maneira que se poderia pensar que ninguém, a não ser um surdo como uma pedra ou um especialista, não tivesse mais dúvidas. Movimento de objetos a distância, luzes espirituais, soerguimento de mesas, transportes, e, finalmente, a clara produção de ectoplasma em boa luz vermelha têm ocorrido frequentemente. O paciente trabalho do Doutor Crandon e de sua senhora certamente será recompensado e seus nomes viverão na história da ciência psíquica, bem como, numa categoria diferente os de seus detratores.
De todas as formas de mediunidade, a mais alta e valiosa, quando pode ser controlada, é a da escrita automática, de vez que nesta, quando na forma pura, se nos afigura um método direto de obtenção de ensinos do Além. Infelizmente é um método que se presta muito facilmente para decepções, de vez que é certo que o subconsciente do homem tem muitos poderes com os quais ainda estamos pouco acostumados. É impossível também aceitar qualquer escrita automática com absoluta confiança como uma informação cem por cento de verdade do Além. O vidro opaco ainda côa a luz que o atravessa; e o organismo humano jamais será um cristal transparente. A veracidade de qualquer comunicação particular dessa escrita deve depender não de meras afirmações, mas de detalhes corroborantes, da dessemelhança geral da mente do escritor e de sua semelhança com a do suposto inspirador.
Por exemplo, se no caso do finado Oscar Wilde, obtivemos longas comunicações que não só são características de seu estilo, mas que contêm frequentes alusões a obscuros episódios de sua própria vida e que, finalmente, são escritas com a sua própria caligrafia, deve-se admitir que a evidência é superiormente forte. Há um grande derrame de tais escritos presentemente em todos os países de língua inglesa. São bons, maus, indiferentes, mas os bons contêm muita matéria que encerra os traços da inspiração. O cristão e o judeu bem podem se perguntar por que partes do Velho Testamento, ao que se pensa, assim teriam sido escritas, enquanto os modernos exemplos devam ser tratados com desprezo.
“E foi-lhe trazida uma carta do profeta Elias, em que estava escrito: Eis aqui o que diz o Senhor Deus de David, teu pai”: etc.
Isto é uma das muitas alusões que mostram o antigo uso, neste particular, da comunicação de Espíritos.
De todos os exemplos de data recente nenhum se compara em grandeza e dignidade com os escritos do Reverendo George Vale Owen, cuja grande obra “A Vida Além do Véu” deve ter uma influência tão permanente quanto a de Swedenborg. Um ponto interessante, focalizado pelo Doutor A. J. Wood, é que nos mais sutis e complexos pontos há uma grande semelhança no trabalho destes dois videntes e tanto mais quanto se sabe que Vale Owen é muito familiarizado com os escritos do grande mestre sueco. George Vale Owen é uma figura tão destacada no moderno espiritismo que algumas notas a seu respeito não estariam fora de propósito. Nasceu em Birmingham em 1869 e foi educado no Midland Institute e no Queen’s College, em Birmingham. Depois dos curatos de Seaforth, Fairfield e da baixa Scotland Road, divisão de Liverpool, onde teve uma grande experiência entre os pobres, tornou-se vigário de Orford, perto de Warrington, onde a sua energia conseguiu erguer uma nova igreja.
Aí ficou vinte anos, trabalhando em sua paróquia, que muito apreciava o seu ministério.
Surgiram então algumas manifestações psíquicas e, finalmente, foi ele compelido a exercer as suas próprias forças latentes na escrita inspirada, inicialmente como se viesse de sua própria mãe, depois continuada por alguns Espíritos elevados ou anjos, que tinham vindo em seu cortejo. No todo elas constituem uma descrição da Vida após a morte e um corpo filosófico e de conselhos das fontes invisíveis, que ao autor se afigura possuir todos os sinais íntimos de uma origem elevada. A descrição é digna e amena, feita num inglês ligeiramente arcaico, que lhe dá um sabor muito característico.
Alguns extratos desses escritos apareceram em vários jornais, atraindo mais atenção por serem da pena do Vigário de uma Igreja Estabelecida. Finalmente a Lord Northcliffe chegou notícia do manuscrito; ele ficou muito impressionado com o assunto e com a recusa do autor em receber qualquer remuneração por sua publicação. Esta foi feita semanalmente no jornal de Lord Northcliffe, o Weekly Dispatch, e nenhuma outra coisa contribuiu, mais que esta, para o mais alto ensino espírita diretamente às massas. Incidentalmente foi demonstrado que a política da Imprensa no passado tinha sido não só ignorante e injusta, mas redondamente equivocada do baixo ponto de vista do interesse material, pois a circulação do Dispatch cresceu enormemente durante a publicação daqueles escritos. Tais coisas, entretanto, ofenderam muito a um bispo muito conservador, e Mr. Vale Owen achou-se, como todos os reformadores religiosos, como objeto de desagrado e sofreu uma velada perseguição dos superiores de sua Igreja. Com essa força a impulsioná-lo e com o impulso perante toda a comunidade espírita, ele abandonou a Igreja e entregou-se, com a família, a mercê do que a Providência lhe reservasse; sua corajosa esposa concordou inteiramente com ele num passo que não era fácil para um casal que passara da mocidade. Depois de um giro de conferências na América e um outro na Inglaterra, Mr. Vale Owen está atualmente presidindo uma congregação espírita em Londres, onde o magnetismo de sua presença atrai uma assistência considerável. Num excelente retrato, assim Mr. David Gow pinta Vale Owen:
“A figura alta e fina do ministro, sua face pálida e ascética, iluminada por grandes olhos, luminosos de ternura e de humor, sua atitude modesta, suas palavras calmas carregadas de magnetismo e de simpatia, tudo isto dava a justa medida da espécie de homem que é ele.
“Revelavam uma alma de rara devoção, que se mantinha sã e doce por um bondoso senso de humor e por uma visão prática do mundo. Parecia mais carregado pelo Espírito de Erasmo ou de Melanchton do que pelo áspero Lutero. Talvez hoje a Igreja não precise de Lutero.”
Se o autor incluiu esta pequena notícia ante a sua existência pessoal, é porque foi honrado por uma estreita amizade de Mr. Vale Owen e ficou em condições de poder estudar e garantir a realidade de seus dotes psíquicos.
O autor acrescentaria que teve a sorte de ouvir a Voz Direta numa sessão com sua esposa.
A voz era profunda, máscula, vinda de alguns pés acima de nossas cabeças e murmurando apenas um curto mas bem audível cumprimento. É de esperar que com um ulterior desenvolvimento melhores resultados sejam obtidos. Durante anos o autor, em seu grupo doméstico, tem obtido mensagens inspiradas, através da mão e da voz de sua esposa, as quais têm sido da maior elevação e, muitas vezes, da mais evidente natureza. São, entretanto, muito pessoais e íntimas para serem discutidas num exame geral do assunto.
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