sábado, 8 de agosto de 2009

Grandes Médiuns de 1870 a 1900: Charles H. Foster, Madame d’Esperance, William Eglinton, Stainton Moses

Houve muitos médiuns notáveis e alguns notórios, no período que vai de 1870 a 1900. Destes D. D. Home, Slade e Monck já foram mencionados. Quatro outros, cujos nomes viverão na história do movimento, são o americano C. H. Foster, Madame d’Esperance, Eglinton e o Reverendo W. Stainton Moses. Daremos agora um ligeiro histórico de cada um deles.
Charles H. Foster teve a sorte de ter um biógrafo que o admirava tanto a ponto de o chamar “o maior médium espírita desde Swedenborg”. Há uma tendência da parte dos escritores de exagerar o valor de um dado sensitivo com que se põem em contacto. Nada obstante, Mr. George C. Bartlett, no seu “The Salem Seer” mostra que tinha estreita ligação pessoal com Foster, e que este era realmente um médium muito notável. Sua fama não se limitava à América, pois ele viajou muito e tanto visitou a Austrália quanto a Grã-Bretanha. Neste último país fez amizade com Bulwer Lytton, visitou Knebworth e foi o modelo de Margrave em “A Strange Story”.
Parece que Foster foi um clarividente de grande poder e tinha a faculdade peculiar de dar o nome ou as iniciais do Espírito que descrevia, exibindo nome ou letras sobre a própria pele, geralmente no antebraço. Esse fenômeno era tão frequentemente repetido e tão severamente examinado que o fato não pode ser posto em dúvida, o que seria a causa do fato é uma outra questão. Havia muitos outros pontos na mediunidade de Foster que sugeriam uma projeção da personalidade antes que uma inteligência exterior. Por exemplo, é francamente incrível que Espíritos dos grandes que se foram, como Virgílio, Camões e Cervantes, tivessem estado à espera desse iletrado da Nova Inglaterra, e contudo, para confirmar o fato, temos a autoridade de Bartlett, ilustrada com muitas citações, de que manteve conversas com tais entidades, e que lhe eram capazes de citar passagens e qualquer estrofe escolhida de suas copiosas obras poéticas.
Tais exemplos de familiaridade com a literatura, muito acima da capacidade do médium, têm alguma analogia com testes de livros empregados nos últimos anos, onde uma linha de uma obra numa biblioteca é prontamente localizada. Isto não necessita a sugestão da presença do autor de tal volume; deve antes depender de algum poder indefinido do eu etérico liberto do médium, ou possivelmente de alguma outra entidade da natureza de um guia, que pudesse rapidamente colher a informação de maneira supranormal. Os espíritas extremaram tanto o caso que não é possível emprestar a todos os fenômenos psíquicos o valor que lhes atribuem; e o autor confessa ter observado com frequência que algures, em data anterior, o médium consultou impressos ou escritos que nos são trazidos depois fora das condições normais.
O dom peculiar de Foster, pelo qual as iniciais eram estampadas em sua carne, tinha resultados cômicos. Bartlett conta como um certo Mr. Adams consultou a Foster. “Quando ia saindo, Mr. Foster lhe disse que em toda a sua experiência jamais tinha visto um indivíduo trazer tantos Espíritos... A sala estava literalmente cheia deles, indo e vindo. Às duas da manhã seguinte Mr. Foster me chamou, dizendo: “George, quer fazer o favor de acender o gás? Eu não posso dormir: o quarto está cheio da família Adams e parece que estão escrevendo seus nomes em mim.” E com grande admiração minha, a lista de nome da família de Adams estava gravada em seu corpo. Contei onze nomes diferentes: um estava escrito na testa, outros nas costas. Tais anedotas certamente contribuem para as piadas dos trocistas, mas nós temos aqui uma prova de que o senso de humor, será maior do Outro Lado.
O dom das letras escarlates sobre a pele de Foster parece bem comparável ao conhecido fenômeno dos estigmas que aparecem nas mãos e nos pés das beatas. Num caso, a concentração do pensamento do indivíduo sobre um assunto teve um resultado. No outro, pode ser que a concentração de uma entidade invisível tenha um efeito semelhante. Devemos lembrar-nos que somos todos Espíritos, dentro ou fora do corpo, e temos os mesmos poderes, em graus variáveis.
A opinião de Foster sobre sua própria condição parece ter sido muito contraditória, pois frequentemente declarava, como Margaret Fox-Kane e os Davenport, que não se arriscava a dizer que seus fenômenos eram devidos a seres espirituais, quando, por outro lado, todas as suas sessões eram conduzidas na clara suposição de que o eram. Assim, descrevia ele minuciosamente a aparência do Espírito e dava mensagens em seu nome para os parentes vivos. Como D. D. Home, era excessivamente crítico dos outros médiuns, e não acreditava no poder fotográfico de Mumler, embora tal poder fosse bem atestado em si próprio. Parece que possuía, em grau exagerado, o espírito volátil do médium típico, facilmente influenciável para o bem e para o mal. Seu amigo, que era claramente um observador atento, dele diz:
“Era extravagantemente dúplice. Não era apenas Doutor Jekyll e Mr. Hyde, mas representava meia dúzia de diferentes Jekylls e Hydes. Era estranhamente dotado e, por outro lado, lamentavelmente deficiente. Era um gênio desequilibrado e, por vezes, eu o diria insano. Tinha um coração realmente tão grande que abarcava o mundo: lágrimas pelos aflitos; dinheiro para os pobres; e as fibras de seu coração eram tocadas pelas alheias misérias. Outras vezes seu coração se encolhia como se desaparecesse. Tornava-se desalmado e petulante como uma criança, até abusar dos melhores amigos. Atirou fora muitos amigos, como um bagual indomável. Não havia freios que lhe servissem. Foster não era vicioso, mas era absolutamente incontrolável. Tinha que seguir o seu caminho, muitas vezes um caminho errado. Como uma criança, parecia nada prever. Dava a impressão de viver para o dia, despreocupado com o amanhã. Se fosse possível, fazia exatamente o que queria, sem olhar as consequências. Não ouvia conselhos de ninguém, apenas porque não podia. Parecia impermeável às opiniões alheias e aparentemente cedia aos desejos alheios; mas apesar de tudo não se estragou muito e continuou em perfeita saúde até o fim. Quando se lhe perguntava “Como vai a saúde?” sua resposta favorita era “Excelente. Estou apenas vendendo saúde”. A mesma natureza dúplice mostrou em seu trabalho. Por vezes era capaz de sentar-se a uma mesa o dia inteiro e entrar pela noite, sob um tremendo esforço mental. E o fazia dia após dia, noite após noite. Então vinham dias e semanas em que não fazia absolutamente nada – jogando centenas de dólares e agastando as pessoas sem razão aparente, a não ser que se encontrasse em disposição folgazã.”
Madame d’Esperance, cujo verdadeiro nome era Mrs. Hope, nasceu em 1849 e sua carreira se estendeu por mais de trinta anos, numa atividade que alcançou o continente e a Grã-Bretanha. Apareceu em público graças a T. P. Barkas, cidadão muito conhecido em New Castle. A médium era então uma mocinha de educação da classe média. Entretanto, quando em semitranse, demonstrava em grau notável aquele dom de sabedoria e conhecimento que São Paulo coloca no topo de sua categoria espiritual. Barkas descreve como preparava extensas listas de perguntas que cobriam quase todos os setores da ciência e como as respostas eram escritas rapidamente pela médium, geralmente em inglês, mas por vezes em alemão ou mesmo em latim. Resumindo essas sessões, diz Mr. Barkas:
“Deve ser geralmente admitido que ninguém pode, por um esforço normal, responder com detalhes a perguntas críticas ou obscuras, em muitos setores difíceis da ciência com que se não é familiarizado. Além disso deve admitir-se que ninguém pode ver normalmente e desenhar com minuciosa precisão em completa obscuridade; que ninguém pode, por meios normais da visão ler o conteúdo de uma carta fechada no escuro; que ninguém que ignore a língua alemã possa escrever com rapidez e exatidão longas comunicações em alemão. Entretanto todos esses fenômenos foram verificados com esse médium e são tão acreditados quanto as ocorrências normais da vida diária”.
Deve-se admitir, entretanto, que enquanto não conhecermos os limites a que pode chegar a força produzida pela libertação parcial ou total do corpo etérico, não podemos com segurança atribuir tais manifestações à intervenção dos Espíritos. Eles mostraram uma notável individualidade psíquica muito pessoal e, possivelmente, nada mais que isso.
Mas a fama de Madame d’Esperance como médium depende de muitos dons que eram, sem dúvida, mais espirituais. Temos um relato muito completo desses dons, pela sua própria pena, pois ela escreveu um livro intitulado “Shadow Land”, que se pode alinhar com o “Magic Staji” de A. J. Davis, e com “The Beginnings of Seership”, de Turvey, assim como entre as mais notáveis autobiografias psíquicas de nossa literatura. Não é possível lê-lo sem se impressionar pelos bons sentimentos e pela honestidade da escritora.
Como outros sensitivos o fizeram, ela narra como em sua infância brincava com Espíritos de crianças, que lhe eram tão reais quanto as vivas. Essa força de clarividência permaneceu em toda a sua vida, mas o dom mais raro da materialização lhe foi adicionado. O citado livro contém fotografias de Yolanda, uma bonita moça árabe, que era para essa médium o que Katie King foi para Florence Cook. Não era raro que se materializasse quando Madame d’Esperance estava sentada fora da cabine, sendo vista inteiramente pelos assistentes. Assim, a médium podia ver a sua própria emanação estranha, tão íntima e, contudo, tão distinta. Eis a sua própria descrição:
“Sua roupagem leve permitia que se visse muito bem a bela cor azeitonada de seu pescoço, dos ombros, dos braços e dos tornozelos. Os longos cabelos negros e ondulados desciam pelos seus ombros até abaixo do peito e eram atados por uma espécie de turbante pequenino. Suas feições eram miúdas, corretas e graciosas; os olhos eram negros, grandes e vivos; todos os seus movimentos eram cheios daquelas graças infantis ou como os de uma jovem gazela, quando a vi, entre tímida e decidida, por entre as cortinas.
Descrevendo as suas impressões durante uma sessão, Madame d’Esperance fala da sensação de uma como que teia de aranha, que estivesse em torno de seu rosto e de suas mãos. Quando uma fraca luz penetrou por entre as cortinas da cabine, ela viu uma massa vaporosa esbranquiçada, flutuando em seu redor, como o vapor de uma locomotiva e, além disso, evoluindo para uma forma humana. Uma sensação de vazio começou, assim que aquilo que ela chamou de teia de aranha se apresentou. Então perdeu o controle de seus membros.
O Hon. Alexander Aksakof, de São Petersburgo, conhecido pesquisador do psiquismo e redator do Psychische Studien, descreveu em seu livro “Um Caso de Desmaterialização Parcial”, uma sessão extraordinária, na qual o corpo dessa médium dissolveu-se parcialmente. Comentando o fato, observa ele: “O fato frequentemente notado, da semelhança da forma materializada com a médium, tem aqui a sua explicação natural. Como a forma é apenas um duplo da médium, é natural que lhe tenha todos os aspectos.
E, diz Aksakoff, isto deve ser natural; mas é igualmente natural que provoque o ridículo dos cépticos. Uma experiência mais ampla, entretanto, os convenceria de que o cientista russo está certo. O autor assistiu a sessões de materialização onde viu os duplos do rosto da médium tão claramente à sua frente que estava pronto para denunciar um procedimento fraudulento; mas, com paciência e um acúmulo maior de força, viu mais tarde que outros rostos se formavam e que nenhum esforço mental poderia identificar ao da médium. Em alguns casos pareceu-lhe que forças invisíveis, dessas que produzem os seus efeitos sem se importarem com os equívocos daí resultantes, usaram a atual face física da médium inconsciente e a enfeitaram com apêndices ectoplásmicos, a fim de o transformar. Noutros casos podia-se pensar que o duplo etérico da médium tivesse sido a base para uma nova criação. Assim acontecia algumas vezes com Katie King, que ocasionalmente se parecia com Florence Cook quanto às feições, ainda quando diferisse profundamente na estatura e na coloração. Em outras ocasiões a figura materializada é absolutamente diferente. O autor observou as três fases da construção do Espírito, no caso da médium americana, Miss Ada Besinnet, cuja figura ectoplásmica por vezes tomava a forma de um índio musculoso e bem desenvolvido. A história de Madame d’Esperance corresponde muito exatamente a essas variedades de poder.
Mr. William Oxley, compilador e editor de um notável trabalho em cinco volumes, intitulado “Angelic Revelations”, descreveu vinte e sete rosas produzidas numa sessão por Yolanda, a figura materializada, e a materialização de uma planta rara em flor. Diz Mr. Oxley:
“Eu tinha fotografado a planta – Ixora crocata – na manhã seguinte, depois do que trouxe para casa e a coloquei na minha estufa, aos cuidados do jardineiro. Ela viveu três meses, depois murchou. Tomei as folhas, muitas das quais abandonei, exceto a flor e três brotos que o jardineiro cortou, quando cuidava da planta”.
Na sessão de 28 de julho de 1890, na presença do Senhor Aksakoff e do Professor Butlerof, de São Petersburgo, um lírio dourado, de sete pés de altura, ao que se diz, foi materializado. Foi conservado durante uma semana, durante a qual foram tiradas seis fotografias, depois do que dissolveu-se e desapareceu. Uma dessas fotografias aparece em “Shadow Land”, após a página 328.
Uma forma feminina, um pouco mais alta que a médium, e conhecida pelo nome de Y-Ay-Ali, provocava a maior admiração. Diz Mr. Oxley: “Vi muitas formas de Espíritos materializados; mas a perfeição de simetria no rosto e a beleza da atitude jamais igualava a deste”. A figura lhe deu a planta que havia materializado; então jogou para trás o véu; deu-lhe um beijo na mão e estendeu a sua, que ele beijou.
“Como estava exposta à luz, eu via perfeitamente a sua face e as mãos. O rosto era belo e as mãos macias, quentes e perfeitamente naturais, e, a não ser pelo que se seguiu, eu teria pensado estar segurando a mão de uma senhora permanentemente encarnada, perfeitamente natural, posto que esquisitamente bela e pura.
Prossegue descrevendo como ela se afastou dois pés da médium, na cabine e, à vista de todos, “desmaterializou-se gradativamente, fundindo-se de cima para baixo, até que só a cabeça fosse vista no soalho; então essa diminuiu até que ficou um ponto branco, que desapareceu depois de alguns momentos.
Na mesma sessão materializou-se uma forma de criança e pôs três dedos de sua mãozinha na de Mr. Oxley. Depois este a segurou e beijou-a. Foi em agosto de 1880.
Mr. Oxley registra um fato muito interessante e de grande valor probante. Quando Yolanda, a moça árabe, estava falando com uma senhora na assistência, “a parte superior de seu vestido caiu e mostrou as suas formas. Verifiquei que as formas eram imperfeitas, pois o busto não era desenvolvido e o peito não era acentuado, o que constitui uma prova de que a forma não era uma figura preparada.” Ele poderia ter acrescentado que também não era a da médium.
Escrevendo sobre “Como um médium se sente numa materialização”, Madame d’Esperance lança alguma luz sobre a curiosa simpatia que constantemente se nota entre o médium e a forma espiritual. Descrevendo uma sessão na qual estava sentada fora da cabine diz ela:
“E agora aparece outra pequena forma delicada, com os bracinhos estendidos. Alguém colocado do outro lado do grupo levanta-se, aproximam-se e abraçam-se. Ouço sons inarticulados:
“Anna, oh! Anna, minha filha, querida filhinha!” Então outra pessoa se ergue e cerca o Espírito com os braços; nessa ocasião ouço soluços e exclamações, de mistura com bênçãos.
Sinto meu corpo mover-se de um para outro lado; tudo se torna escuro aos meus olhos. Sinto o braço de alguém em torno aos meus ombros; o coração de alguém bate contra o meu peito. Parece que algo acontece. Ninguém está junto a mim; ninguém me presta a menor atenção. Todos os olhares estão fixados naquela figurinha branca e esguia, nos braços das duas mulheres em pranto.
Deve ser o meu coração que ouço batendo tão distintamente e, certamente, o braço de alguém ainda em meu redor. Jamais senti mais completamente um abraço. Começo a pensar. Quem sou eu? Sou aquela branca aparição, ou sou eu quem permanece sentada na poltrona? Aqueles são os meus braços em torno do pescoço da senhora mais idosa? Ou os meus são os que estão em minha frente, em meu vestido? Sou eu o fantasma? Se sou, como chamarei o ser que jaz na poltrona?
“Certo é que meus lábios são beijados; minhas faces estão orvalhadas de pranto, derramado abundantemente pelas duas senhoras. Mas como pode ser isto? Essa sensação de dúvida relativamente à nossa própria identidade é horrível. Desejo estender uma das mãos que se acham no vestido, mas não posso. Desejo tocar alguém para ter absoluta certeza de que eu sou a mesma ou se isto é apenas um sonho; se Anna sou eu ou se eu estou, de certo modo, nela dissolvida”.
Enquanto a médium se acha nesse estado de dúvida, outro pequenino Espírito de criança, que se havia materializado, vem e põe as mãozinhas nas de Madame d’Esperance.
“Como me sinto feliz ao sentir esse toque, ainda que de uma criancinha! Minhas dúvidas a respeito de quem sou eu e onde me acho se vão. E enquanto experimento tudo isto, a branca forma de Anna desaparece na cabine e as duas senhoras voltam aos seus lugares, chorosas, sacudidas de emoção, mas intensamente felizes.”
Não é para admirar que um assistente das sessões de Madame d’Esperance, segurando a figura materializada, houvesse declarado que era a própria médium. A propósito, o ponto de vista de Aksakoff de um modo geral, é o seguinte:
“Alguém pode agarrar a forma materializada, segurá-la e ter a certeza de que não segura senão o médium, em carne e osso. E isto ainda não é uma prova de fraude da parte do médium. De fato, de acordo com a nossa hipótese, que é o que poderia acontecer se segurássemos o duplo da médium, quando se achasse de tal modo materializado, que não restasse senão o seu simulacro invisível, sentado por detrás da cortina? É óbvio que o simulacro – aquela pequena porção fluida e etérea – seria imediatamente absorvida na forma já completamente materializada, à qual, para ser a médium apenas faltaria aquele resto invisível.”
Na introdução escrita para o livro “Shadow Land”, de Madame d’Esperance, Aksakof rende um alto tributo a ela como mulher e como médium. Diz que tanto quanto ele, ela se achava interessada em achar a verdade. Submetia-se de boa vontade a todos os testes que lhe impusesse.
Um interessante incidente na carreira de Madame d’Esperance foi o seu êxito em reconciliar o Professor Friese, de Breslau, com o Professor Zöllner, de Leipzig. O rompimento desses dois amigos ocorrera por força da profissão de fé espírita de Zöllner. Mas o médium inglês foi capaz de dar tais provas a Friese que ele não mais contestou as conclusões de seu amigo.
Devemos salientar que, no curso das experiências de M. Oxley com Madame d’Esperance, foram feitos moldes de mãos e de pés de figuras materializadas, com punhos e tornozelos, cujas aberturas eram demasiado estreitas para permitir a saída dos membros, salvo por desmaterialização. Em vista do grande interesse tomado pelas moldagens em parafina, feitas em Paris, em 1922, através do médium Kluski, é curioso observar que a mesma experiência tinha sido feita com sucesso, e apenas noticiada pela imprensa psíquica, por esse estudante de Manchester já em 1876.
A última parte da vida de Madame d’Esperance, passada principalmente na Escandinávia, foi amargurada pela doença adquirida no choque que sofreu no chamado “desmascaramento”, quando Yolanda foi agarrada por um pesquisador desavisado de Helsingfors, em 1893. Ninguém mais do que ela demonstrou mais claramente quanto os sensitivos sofrem a ignorância do mundo que os rodeia. No último capítulo de seu notável livro o assunto é abordado. Conclui ela: “Os que vierem depois de mim talvez venham a sofrer quanto eu tenho sofrido pela ignorância das leis de Deus. Quando o mundo for mais sábio do que no passado, é possível que os que tomarem as tarefas na nova geração não tenham que lutar, como lutei, contra o fanatismo estreito e os julgamentos duros dos adversários.”
Cada um dos médiuns focalizados neste capítulo teve um ou mais livros dedicados à sua carreira. No caso de William Eglinton há um notável volume – “Twist Two Worlds” por J. E. Farmer, que encerra quase toda a sua atividade. Quando rapazinho, era muito imaginoso, sonhador e sensitivo mas, como tantos outros grandes médiuns na adolescência, não deu sinais de possuir qualquer dom psíquico. Em 1874, portanto aos dezessete anos de idade, Eglinton entrou no grupo da família em cujo meio seu pai investigava os supostos fenômenos espíritas. Até então o grupo não havia obtido resultados; quando, porém, o rapaz a ele se ligou, a mesa ergueu-se rapidamente do chão a ponto dos assistentes terem que se pôr de pé a fim de manter as mãos sobre ela. Para satisfação dos presentes as perguntas eram respondidas. Na sessão seguinte, logo na noite imediata, o rapaz caiu em transe e foram recebidas comunicações evidentes de sua falecida mãe. Em poucos meses sua mediunidade se havia desenvolvido, e ocorriam manifestações mais fortes. Sua fama de médium espalhou-se e ele recebeu numerosos convites para sessões, mas resistiu a todos os esforços para o transformar em médium profissional. Finalmente cedeu em 1875.
Assim descreve Eglinton as suas sensações antes de entrar pela primeira vez na sala das sessões e a mudança que nele se operou:
“Minhas maneiras, antes de entrar nisto, eram as de um rapaz alegre; mas assim que me vi em presença dos investigadores, uma sensação estranha e misteriosa se apoderou de mim e eu não a podia superar. Sentei-me à mesa, resolvido a impedir qualquer manifestação, caso algo acontecesse. Esse algo aconteceu mas eu não tinha forças para o evitar. A mesa começou a dar sinais de vida e de vigor; subitamente ergueu-se do solo e pairou no ar, tanto que tínhamos de ficar de pé para ter as mãos sobre ela. Isto se deu em plena luz do gás. Depois respondeu inteligentemente às perguntas que lhe eram feitas e deu várias provas às pessoas presentes.
A noite seguinte nos encontrou ansiosos por novas manifestações e com um grupo maior, pois se havia espalhado a notícia de que “tínhamos visto fantasmas e falado com eles”, e outras coisas parecidas.
Depois de havermos lido a prece costumeira, em breve me pareceu que não era deste mundo. Veio-me uma sensação de êxtase e logo passei ao transe. Todos os meus amigos eram novatos no assunto e procuraram vários meios de me despertar, mas sem resultado. No fim de meia hora voltei ao estado consciente, sentindo um forte desejo de voltar àquele estado. Tivemos comunicações que, em minha opinião, provaram conclusivamente que o Espírito de minha mãe realmente tinha voltado ao nosso meio... Então comecei a verificar quanto estivera enganado – quão terrivelmente vazia e material tinha sido a minha vida até então e senti um prazer inacreditável em saber, sem sombra de dúvida, que aqueles que deixaram a Terra poderiam voltar novamente e provar a imortalidade da alma. Na quietude de nosso grupo familiar... gozamos ao máximo a nossa comunicação com os trespassados e muitas foram as horas felizes que assim passei.”
Sob dois aspectos, os seus trabalhos se assemelham aos de D. D. Home. Suas sessões geralmente eram feitas em plena luz e ele sempre se submetia de boa mente aos testes propostos. Posteriormente, um forte ponto de semelhança se estabeleceu: é que os fenômenos eram observados e registrados por muitos homens eminentes e por boas testemunhas críticas.
Como Home, Eglinton viajou muito e sua mediunidade foi observada em muitos lugares.
Em 1878 viajou para a África do Sul. No ano seguinte visitou a Suécia, a Dinamarca e a Alemanha. Em fevereiro de 1880 foi à Universidade de Cambridge e realizou sessões sob os auspícios da Sociedade de Psicologia. Em março viajou para a Holanda, de onde seguiu para Leipzig, onde realizou sessões com o Professor Zöllner e outros ligados à Universidade. Seguiram-se Dresden e Praga, e em Viena, em abril, foram realizadas mais de trinta sessões, assistidas por muitos membros da aristocracia. Em Viena foi hóspede do Barão de Hellenbach, conhecido escritor, que, em sua obra “Preconceitos da Humanidade” descreveu os fenômenos então verificados. Voltando à Inglaterra viajou para os Estados Unidos a 12 de fevereiro de 1881, demorando-se então três meses. Em novembro do mesmo ano foi à Índia e, depois de realizar numerosas sessões em Calcutá, regressou em abril de 1882. Em 1883 visitou novamente Paris, e em 1885 esteve ainda em Viena e em Paris. A seguir foi a Veneza, que descreve como um “verdadeiro viveiro do Espiritismo.”
Em 1885 Eglinton encontrou em Paris M. Tissot, o famoso artista que assistiu às suas sessões e a seguir o visitou na Inglaterra. Uma notável sessão de materialização, em que duas figuras foram vistas completamente, uma das quais, uma senhora, reconhecida como uma parenta, foi imortalizada por Tissot numa tela intitulada “Aparição Medianímica”. Esse belo e artístico trabalho de que há uma cópia na Aliança Espírita de Londres, mostra as duas figuras iluminadas por luzes espirituais, que carregam nas mãos. Tissot também fez uma água-forte do médium, que é reproduzida no frontispício de livro de Farmer, “Entre Dois Mundos”.
Um exemplo típico de sua iniciação mediúnica é dado por Miss Kingsbury e pelo Doutor Carter Blake, Docente de Anatomia no Westminster Hospital, nestes termos:
“As mangas do casaco de Mr. Eglinton tinham sido costuradas às suas costas, perto dos punhos, com um cordão branco de algodão; os encarregados desse trabalho o amarraram depois à cadeira, passando a fita perto do pescoço e o colocaram junto à cortina da cabine e por detrás desta, defrontando a assistência, tendo os joelhos e os pés à vista. Uma mesinha redonda com vários objetos foi posta em frente ao médium, fora da cabine e à vista dos assistentes; um pequeno instrumento de cordas, conhecido como Oxford Chimes, foi posto emborcado sobre as suas pernas, sobre ele um livro e sobre este uma campainha. Em poucos momentos as cordas foram tocadas, sem que mão alguma visível as tocasse; o livro, cuja lombada se voltava para os assistentes foi invertido, aberto e fechado repetidas vezes, de modo que os presentes viram a experiência com toda segurança; e a campainha foi tocada de dentro, isto é, sem serem levantadas as suas bordas. A caixa de música colocada perto da cortina, mas inteiramente à vista, foi parada e depois dada a marcha, enquanto a tampa continuava fechada; de vez em quando dedos e, algumas vezes mãos se introduziam pelas cortinas. Depois que uma destas apareceu, pediram ao Capitão Rolleston que passasse o braço pela cortina e verificasse se a amarração e a costura estavam como de início. Ele verificou que estavam e o mesmo testemunho foi dado por outro cavalheiro, pouco depois.”
Esta foi uma, de uma série de sessões excepcionais, realizadas sob os auspícios da British National Association of Spiritualists, em sua sede em Londres, 38 Great Russel Street. Referindo-se a elas diz The Spiritualist:
“O ensaio de manifestações por Mr. Eglinton tem grande valor, não porque outros médiuns não possam, igualmente, obter resultados conclusivos, mas porque em seu caso tinham sido observadas e controladas por um bom número de testemunhas críticas, cujo depoimento pesará diante do público”.
A princípio as materializações de Eglinton eram obtidas à luz da Lua, enquanto os presentes se sentavam a uma mesa e não havia cabine. Também o médium ficava, em geral, consciente. Foi induzido a fazer sessões no escuro, a fim de obter manifestações, por um amigo que havia assistido a sessões de um médium profissional. Tendo começado assim, sentia-se obrigado a continuar, mas verificou que os resultados alcançados eram menos espirituais. Uma característica dessas sessões de materialização era o fato de sentar-se entre os presentes e de serem as suas mãos seguradas. Nessas condições, materializações completas foram vistas à luz apenas suficiente para o reconhecimento das aparições.
Em janeiro de 1877 Eglinton fez uma série de sessões não profissionais, em casa de Mrs. MacDougall Gregory, viúva do Professor Gregory, de Edimburgo, perto do Park Lane. Foram assistidas por Sir Patrick e Lady Colquhoun, Lord Borthwick, Lady Jenkinson, Reverendo Maurice Davies, D.D., Lady Archibald Camphell, Sir William Fairfax, Lord e Lady Mount-Temple, General Brewster, Sir Garnet e Lady Wolseley, Lord e Lady Avonmore, Professor Blackie e muitos outros. Mr. W. Harrison, redator de The Spiritualist assim descreve uma dessas sessões:
“Na noite de segunda-feira última dez ou doze amigos se reuniram em volta de uma grande mesa circular, com as mãos juntas, em cujas condições o médium Mr. W. Eglinton ficava seguro pelos dois lados. Não havia outras pessoas na sala além das que estavam sentadas à mesa. Um fogo que se apagava dava uma luz fraca, que apenas permitia que se vissem as silhuetas dos objetos. O médium estava na parte da mesa mais próxima do fogo, de modo que suas costas ficavam para a luz. Uma forma, na inteira proporção de um homem, ergueu-se lentamente do chão até ao nível da borda da mesa; estava a cerca de trinta centímetros atrás do cotovelo direito do médium. O assistente mais próximo era Mr. Wiseman, de Orme Square, Bayswater. A forma estava coberta com um pano branco e as feições não eram visíveis. Como se achava próximo ao jogo, podia ser vista distintamente pelos que se achavam mais próximos. Foi observado por todos que assim estavam que o canto da mesa ou os assistentes não tapavam a vista da forma; assim, foi observada por quatro ou cinco pessoas e isto não foi resultado de impressões subjetivas. Depois de erguer-se até o nível da mesa, mergulhou e não mais foi vista, ao que parece tendo esgotado as forças. Mr. Eglinton estava numa casa estranha e vestido a rigor. De um modo geral foi um teste de manifestação que não podia ser produzido por meios artificiais”.
Uma sessão descrita por Mr. Dawson Rogers apresentou características notáveis. Foi a 17 de fevereiro de 1885, em presença de catorze pessoas, em condições de prova. Conquanto um quarto interno tivesse sido usado como cabine, Mr. Eglinton aí não ficou – mas entre os assistentes, cujos assentos tinham sido dispostos em forma de ferradura. Uma forma se materializou e passeou pela sala, dando a mão a cada um dos presentes. Depois aproximou-se de Mr. Eglinton, que em parte estava sendo sustentado por Mr. Rogers, para que não caísse e, tomando o médium pelos ombros, levou-o para a cabine. Diz Mr. Rogers: “A forma era de um homem algumas polegadas mais alto, e mais velho que o médium. Vestia uma túnica flutuante, era cheio de vida e de animação e uma vez ficou a três metros do médium”.
Há um particular interesse ligado a essa fase de sua vida no aspecto de mediunidade psicográfica, ou de escrita em lousas. A esse respeito existe uma esmagadora massa de testemunhas. À vista dos maravilhosos resultados que obtinha, é digno de nota que fez sessões por mais de três anos sem obter a escrita de uma única letra. Foi a partir de 1884 que ele concentrou sua força nessa forma de manifestação, que era considerada a mais adequada aos principiantes, especialmente porque todas as sessões se realizavam às claras. Recusando-se a fazer sessões de materialização para um grupo de investigadores que não tinham, então, qualquer experiência, Eglinton assim justificou a sua atitude: “Sustento que um médium é colocado numa posição de muita responsabilidade, e que tem o dever de satisfazer, tanto quanto lhe seja possível, aqueles que o procuram. Agora, a minha experiência, um tanto variada, leva-me à conclusão de que nenhum céptico, por melhor intencionado e honesto que seja, pode ficar convencido nas condições prevalecentes nas sessões de materialização, e o resultado é um maior cepticismo de sua parte e a condenação do médium. As coisas são diferentes quando há um grupo para testemunhar tais fenômenos, e com os quais sempre terei prazer em fazer sessões. Mas um neófito deve ser preparado por outros métodos. Se o seu amigo se interessa em comparecer a uma sessão de escrita na ardósia eu terei o prazer de arranjar uma hora; do contrário deverei declinar da sessão, pelas razões acima, e que se recomendam por si mesmas a você e a todos os pensadores espíritas”.
No caso de Eglinton, é preciso dizer que eram usadas lousas comuns de escola e que os assistentes tinham a liberdade de trazer as suas próprias lousas e que, depois de lavadas, um fragmento de lápis para ardósia era colocado em cima desta e que esta era colocada debaixo do tampo da mesa, fazendo-se pressão contra o mesmo; que a ardósia era segurada pelo médium, mas de modo que o seu polegar fosse visível na parte superior do tampo. Então o som da escrita era ouvido e, a um sinal consistente de três batidas, a lousa era examinada, verificando-se que continha uma mensagem. Do mesmo modo duas lousas do mesmo tamanho eram usadas, superpostas e amarradas, como também se usavam as lousas-caixas, às quais se ligavam cadeados com chave. Em muitas ocasiões foram obtidas escritas numa única lousa posta em cima da mesa, com um lápis em cima da mesa, mas debaixo da ardósia.
Mr. Gladstone fez uma sessão com Eglinton a 29 de outubro de 1884, e mostrou-se muito interessado pelo que aconteceu. Quando Light publicou um relato dessa sessão, foi transcrito na maioria dos jornais de importância no país e o movimento ganhou consideravelmente com essa publicidade. Consta que ao terminar a sessão Mr. Gladstone teria dito: “Sempre pensei que os homens de ciência correm muito por uma trilha. Fazem um trabalho nobilitante na sua própria linha especial de pesquisa, mas, muito frequentemente, se sentem sem disposição para um pouco de atenção a assuntos que aparentemente estão em conflito com a sua maneira de pensar. Na verdade não é raro que tentem negar coisas que jamais investigaram, pois não meditam bastante que possa haver forças de cuja natureza eles nada sabem”. Pouco depois, Mr. Gladstone, posto que jamais se tivesse confessado espírita, mostrou um firme interesse no assunto, ao se associar à Society for Psychical Research.
Eglinton não se subtraiu aos ataques costumeiros. Em junho de 1886 Mrs. Sidgwick, esposa do Professor Sidgwick, de Cambridge, sócia fundadora da Society for Psychical Research, publicou um artigo no Jornal dessa sociedade, sob o título de “Mr. Eglinton”, no qual, depois de transcrever descrições feitas por outros, relativas a mais de quarenta sessões para escrita na ardósia com esse médium, diz: “Para mim, agora não hesito em atribuir tais realizações a truques hábeis”.
Ela não tinha qualquer experiência pessoal com Eglinton, mas baseou a sua opinião na impossibilidade de manter uma observação contínua durante as manifestações. Pelas colunas de Light Eglinton convidou testemunhas que estavam convictas da legitimidade de sua mediunidade e, posteriormente, num suplemento especial, o mesmo jornal deu a resposta de muitos, dos quais um bom número, composto de membros ou sócios da Society for Psychical Research. O Doutor George Herschell, provecto mago amador, com uma experiência de catorze anos, deu uma das mais convincentes respostas a Mrs. Sidgwick.
Também a Society for Psychical Research publicou relatos minuciosos dos resultados obtidos por Mr. J. S. Davey, que declarava conseguir tais resultados pela fraude e resultados ainda mais maravilhosos do que os de Eglinton quanto à escrita na ardósia.
Mr. C. C. Massey, advogado, observador muito competente e experimentado, sócio da Society for Psychical Research, subscreveu o ponto de vista de muita gente, quando escreveu a Eglinton, com referência ao artigo de Mrs. Sidgwick:
“Estou de acordo com você, quando diz que ela “não aduz a menor prova” em apoio a esse injurioso julgamento que opõe a um grande número de excelentes testemunhos. A estes só se opõem presunções que, segundo me parece, são contrárias ao bom senso e a toda experiência.”
De um modo geral, o rude ataque de Mrs. Sidgwick contra aquele médium teve um bom resultado, porque determinou o aparecimento de um volume de testemunhos mais ou menos valiosos em favor da autenticidade das manifestações que com ele ocorriam.
Como muitos outros médiuns de manifestações físicas, Eglinton teve os seus “desmascaramentos”. Um destes foi em Munique, onde tinha sido convidado a fazer uma série de doze sessões. Dez delas tinham tido um grande sucesso, mas na décima primeira foi descoberto um sapo mecânico na sala e, conquanto as mãos do médium estivessem presas, foi acusado de fraude porque o instrumento de música tinha sido escurecido secretamente e pó preto foi encontrado nele. Três meses depois um assistente confessou que tinha trazido o brinquedo mecânico para a sala. Nenhuma explicação para o pó preto foi dada, mas o fato de estarem seguras as mãos do médium constituíram refutação suficiente.
Um conhecimento mais completo desde então tem mostrado que os fenômenos físicos dependem do ectoplasma e que esse ectoplasma é absorvido no corpo do médium, lavando e colorindo a matéria. Assim, no caso de Miss Goligher, depois de uma experiência com carmim, o Doutor Crawford encontrou manchas de carmim em várias partes de sua pele.
Assim, tanto no caso do sapo mecânico, quanto no do pó preto, como tantas vezes acontece, os desmascaradores é que estavam errados, e não o infeliz médium.
Uma acusação mais séria contra ele foi feita pelo Arquidiácono Colley, que declarou que em casa de Mr. Owen Harries, onde Eglinton fazia uma sessão, havia descoberto no sobretudo do médium pedaços de musselina e uma barba, que correspondiam a pedaços e cabelos cortados de supostas formas materializadas. Mrs. Sidgwick em seu artigo no Society for Psychical Research Journal, reproduziu as acusações do Arquidiácono Colley, e Eglinton, em sua resposta geral a ela, se limita a uma negação simples, fazendo notar que ela se achava ausente na África do Sul, quando as acusações foram publicadas e que não as viu senão anos depois.
Discutindo o incidente, diz Light num artigo de fundo, que as acusações em questão foram minuciosamente investigadas pelo Conselho da British National Association of Spiritualists e abandonadas, sob o fundamento de que o Conselho não podia de modo algum obter provas diretas dos acusadores. E assim continua:
“Mrs. Sidgwick suprimiu muitos fatos em sua citação publicada no Jornal. Em primeiro lugar as alegadas circunstâncias ocorreram dois anos antes da carta em que fez a acusação; durante esse tempo ele não fez nenhum movimento público na matéria e só o fez em consequência da atitude pessoal contra o Conselho da BNAS. Em segundo lugar as partes da carta suprimida por Mrs. Sidgwick lançam-lhe em rosto a marca de desvalia. Afirmamos que ninguém acostumado a examinar e avaliar as provas de maneira científica teria concedido à correspondência a mais ligeira atenção sem o mais claro testemunho corroborante.
Não obstante admitir-se que um espírita de coração como o arquidiácono Colley fizesse uma acusação tão concreta, temos uma questão muito grave que não pode ser levianamente posta de lado. Há sempre a possibilidade de um grande médium, ao verificar que perde os seus dons – como por vezes acontece – recorrer à fraude para dissimular a deficiência, até que os dons retornem. Home descreveu como de súbito perdia as forças durante um ano, para depois voltarem em toda a plenitude. Se um médium viver da sua mediunidade, tal hiato pode ser uma coisa séria e uma tentação à fraude. Como quer que tenha sido nesse caso especial, o que é certo é que, como foi mostrado nestas páginas, há uma massa de provas em favor da realidade dos dons de Eglinton, que não podem ser abaladas. Entre outras testemunhas de sua força está Kellar, o famoso ilusionista, que admitia, bem como muitos outros ilusionistas, que os fenômenos físicos ultrapassam as possibilidades dos prestidigitadores.
Não há escritor que tivesse deixado tão fortemente a sua marca sobre o lado religioso do Espiritismo quanto o Reverendo W. Stainton Moses. Seus escritos confirmam o que já era aceito e definem muito do que era nebuloso. Ele é geralmente considerado pelos espíritas como o mais alto expoente de seus pontos de vista. Entretanto não o julgam o último e infalível; em comunicações póstumas, que têm forte indício de autenticidade, ele declarou que sua experiência se ampliara, modificando o seu ponto de vista sobre certos assuntos. Isto é o inevitável resultado da nova vida para cada um de nós. Esses pontos de vista religiosos serão abordados em capítulo à parte, que trata da religião dos espíritas.
Além de ser um inspirado pregador religioso, Stainton Moses era um poderoso médium, de modo que foi um dos poucos homens que puderam seguir o preceito apostólico e o demonstrar por palavras e, também, pelo poder. Neste ligeiro relato é o aspecto físico que deve ser destacado.
Stainton Moses nasceu em Lincolnshire, a 5 de novembro de 1839, e foi educado em Bedford Grammar School e no Exeter College de Oxford. Voltou-se para o ministério religioso e, depois de alguns anos de trabalho como cura na Ilha de Mau e alhures, tornou-se professor na University College School. É notável o fato que, durante o seu ano de viagem, tenha visitado o mosteiro do Monte Athos, e aí tenha passado seis meses – rara experiência para um protestante inglês. Mais tarde teve a certeza de que isso fora o início de sua carreira psíquica.
Enquanto curava, teve oportunidade de mostrar a sua coragem e o senso de dever. Uma grande epidemia de varíola espalhou-se na sua paróquia, que não dispunha de médico. Diz o seu biógrafo:
“Dia e noite estava ele à cabeceira de doentes pobres; por vezes, depois de haver assistido a um moribundo, se via obrigado a unir as tarefas de sacerdote às de coveiro, e ele próprio transportar os cadáveres”. Não é de admirar que ao se retirar tenha recebido uma grande manifestação de reconhecimento dos habitantes, que pode ser resumida nestas palavras: “Quanto mais o conhecemos e quanto mais vimos o seu trabalho, tanto maior é a nossa saudade do senhor”.
Em 1872 é que sua atenção se voltou para o Espiritismo, por meio de sessões com Williams e Miss Lottie Fowler. Muito antes havia ele verificado que possuía o dom da mediunidade de maneira invulgar. Ao mesmo tempo se havia prontificado a fazer um estudo completo do assunto, pondo sua poderosa inteligência a esse serviço. Seus escritos, com o pseudônimo de M. A. Oxon, são clássicos no Espiritismo. Incluem os “Ensinos Espiritualistas”, elevados aspectos do Espiritismo, e outros trabalhos. Finalmente tornou-se redator de Light e durante muitos anos sustentou as suas altas tradições. Sua mediunidade progrediu rapidamente até que abarcou quase todos os fenômenos físicos conhecidos.
Esses resultados não foram conseguidos antes que ele passasse por um período de preparação. Diz ele:
“Durante muito tempo falhou-me a prova desejada. E, se tivesse feito como a maioria dos investigadores, teria desesperado e abandonado a investigação. Meu estado mental era muito positivo e eu era obrigado a algum sofrimento pessoal antes de conseguir o que desejava. Pouco a pouco, um pedacinho aqui, outro ali, veio a prova, quando minha mente se abriu para a receber. Cerca de seis meses haviam sido aplicados em persistentes esforços para que me fosse dada a prova da eterna existência de Espíritos humanos e de seu poder de comunicação.”
Em presença de Stainton Moses erguiam-se no ar mesas pesadas, livros e cartas eram trazidos de uma sala para outra em plena luz. Há testemunhos independentes dessas manifestações, por pessoas fidedignas. Em seu lIvro “What am I?”, o finado Serjeant Cox registra o seguinte incidente, ocorrido com Stainton Moses:
“Terça-feira, 2 de junho de 1873, um amigo pessoal, cavalheiro de alta posição social, formado em Oxford, veio à minha residência em Russel Square, vestir-se para um jantar a que tínhamos sido convidados. Ele havia demonstrado antes notável força psíquica. Como tínhamos meia hora de espera, fomos à sala de jantar. Eram exatamente seis horas e, aliás, estava claro. Eu abria cartas e ele lia The Times. Minha mesa de jantar é de mogno, muito pesada, antiga, e tem um metro e oitenta por dois e setenta. Está sobre um tapete turco, o que aumenta a dificuldade de a mover. Uma tentativa mais tarde mostrou que os esforços combinados de dois homens fortes apenas a moviam uma polegada. Estava sem toalha e a luz caía em cheio sobre ela. Ninguém se achava na sala, exceto eu e meu amigo. Subitamente, enquanto estávamos sentados, ocorreram batidas altas e frequentes sobre a mesa. Meu amigo estava sentado e segurava o jornal com ambas as mãos, tendo um braço apoiado na mesa e o outro no espaldar da cadeira; sentava-se de lado, de modo que as pernas e os pés não se achavam debaixo da mesa, mas de lado. Então a mesa estremeceu, como se estivesse com sezões; depois oscilou para um lado e para o outro tão violentamente, quase deslocando as pesadas colunas, em número de oito, que lhe serviam de pernas. Em seguida, moveu-se para frente cerca de três polegadas. Olhei para baixo dela, para me assegurar de que não era tocada; mas ainda se moveu e continuaram as batidas no seu tampo.
Esse súbito acesso de tal força, àquela hora e naquele lugar, sem ninguém mais, além de mim e de meu amigo, e sem qualquer idéia de a invocar, causou-nos a maior admiração. Meu amigo disse que jamais lhe acontecera algo no gênero. Então sugeri que talvez fosse uma rara oportunidade, com tamanha força em ação, para fazer uma tentativa de movimento sem contacto, quando a presença de apenas duas pessoas, a luz do dia, o lugar, o tamanho e o peso da mesa tornavam a experiência de suma importância. Em consequência ficamos de pé, ele de um lado da mesa, eu, do outro. Estávamos afastados dela cerca de sessenta centímetros e mantínhamos as mãos cerca de vinte centímetros acima dela. Em um minuto ela se abalou violentamente; depois moveu-se sobre o tapete a uma distância de uns dezoito centímetros. Depois levantou-se cerca de sete centímetros, do lado em que se achava o meu amigo; a seguir ergueu-se igualmente do meu lado. Finalmente, meu amigo baixou a mão até dez centímetros acima da ponta da mesa, e pediu que ela se erguesse e tocasse em sua mão. Assim se fez. E então, conforme o pedido, ela se ergueu até a minha mão, que do outro lado se achava à mesma altura e da mesma maneira.
Em Douglas, na Ilha de Man, num domingo de agosto de 1872, foi feita notável exibição de força de um Espírito. Os fatos descritos por Stainton Moses são confirmados pelo Doutor Speer e sua senhora, em cuja residência ocorreram os fenômenos, que duraram desde o almoço até às dez da noite. Batidas acompanhavam o médium para onde quer que ele fosse, até mesmo na igreja, e o Doutor Speer e a senhora as ouviam quando sentados em seus lugares. Ao regressar da igreja, Stainton Moses verificou em seu quarto que os objetos tinham sido tirados da penteadeira para a cama, onde tinham sido dispostos em forma de cruz. Foi avisar o Doutor Speer, para que testemunhasse o que tinha acontecido e ao voltar ao quarto verificou que o seu cabeção, que tinha tirado poucos instantes antes, havia sido colocado, na sua ausência, em redor do topo da cruz. Ele e o Doutor Speer trancaram a porta do quarto e desceram para o lanche, mas durante a refeição batidas fortes se produziram e a pesada mesa de jantar foi movida três ou quatro vezes. Num exame posterior no quarto acharam que dois outros objetos tirados das gavetas tinham sido adicionados à cruz. O quarto foi trancado novamente e em três visitas subsequentes novos objetos tinham ampliado a cruz. Disseram-nos que, na primeira ocasião, em casa não estava ninguém que fosse capaz de fazer tais brincadeiras e que depois precauções adequadas haviam sido tomadas para evitar essas coisas.
Assim Mrs. Speer descreveu a série de acontecimentos:
“Enquanto estávamos na igreja foram ouvidas pancadas por todos os membros do grupo, em diversas partes do banco onde estávamos sentados. De volta Mr. S. M. encontrou em sua cama três coisas tiradas de sua penteadeira e colocadas sobre a sua cama em forma de cruz. Chamou o Doutor S. ao seu quarto, para que visse o que havia acontecido em sua ausência. O Doutor S. ouviu batidas fortes no pé da cama. Então trancou a porta, meteu a chave no bolso e deixou o quarto vazio por algum tempo. Fomos jantar e, durante a refeição, a grande mesa de jantar, cheia de cristais, porcelanas, etc., moveu-se várias vezes, trepidou e deu batidas. Parecia cheia de vida e movimento.
Batidas acompanharam o hino que nossa filhinha estava cantando, e batidas inteligentes acompanhavam a nossa conversa. Várias visitas foram feitas ao quarto fechado e de cada vez verificávamos que algo tinha sido adicionado à cruz. O Doutor S. tomou a chave, abriu a porta e saiu por último. Finalmente tudo cessou. A cruz foi colocada abaixo do centro da cama; todos os objetos de uso tinham sido tirados da valise do nosso amigo. Cada vez que íamos ao quarto ouviam-se as batidas. Em nossa última visita foi lembrado deixar uma folha de papel e um lápis na cama e, quando voltamos novamente, encontramos as iniciais de três amigos de Mr. S. M., todos mortos e desconhecidos de quem quer que fosse na casa, exceto ele próprio. A cruz era perfeitamente simétrica e tinha sido feita num quarto fechado, onde ninguém poderia ter entrado e era, realmente, uma notável manifestação da força do Espírito”.
Um desenho mostrando os vários objetos de toucador e sua disposição é dado à página 72 do livro de Arthur Lillie “Modern Mystics and Modern Magic”.
Outros exemplos são citados no apêndice.
Em suas sessões com o Doutor Speer e senhora, muitas comunicações foram recebidas, dando provas de identidade de Espíritos, sob a forma de nomes, datas e lugares, desconhecidos dos presentes e verificados posteriormente.
Diz-se que um grupo de Espíritos estava ligado à sua mediunidade. Por seu intermédio um corpo de doutrina foi comunicado por meio da escrita automática, começando a 30 de março de 1873 e continuando até o ano de 1880. Uma seleção destes escritos constitui os “Ensinos Espiritistas”. Na sua Introdução diz Stainton Moses:
“O tema central foi sempre de caráter puro e elevado, em grande parte de aplicação pessoal, visando minha própria direção e orientação. Posso dizer que através de todas essas comunicações escritas, que vão, ininterruptamente até 1880, não há leviandades, nem brincadeiras, não há vulgaridades nem incongruências, não há falsidades nem enganos, tanto quanto eu saiba ou tenha podido descobrir. Nada incompatível com o objetivo visado, sempre e sempre repetido, de instrução, de esclarecimento e de orientação por Espíritos escolhidos para essa tarefa. Julgados como eu mesmo desejo ser julgado, eles foram o que desejavam ser. Suas palavras eram de sinceridade e de objetivos sóbrios e sérios.
Um relato minucioso das pessoas que se comunicaram, muitas das quais tinham nomes importantes, se acha no livro de Mr. A. W. Trethewy “The Controls of Stainton Moses” (1923):
Stainton Moses contribuiu para a formação da Society for Psychical Research em 1882, mas se demitiu em 1886, desgostoso com a maneira por que foi tratado o médium William Eglinton. Foi o primeiro presidente da London Spiritualist Alliance, formada em 1884, posição que ocupou até à morte.
Além das obras “Spirit Identity” (1879) ; “Higer Aspects of Spiritualism” (1880) ; “Psycography” 2ª ed. (1882) ; e “Spirit Teachings” (1883), contribuiu frequentemente para a imprensa espírita, bem como para o Saturday Review, para o Punch e vários outros jornais de valor.
Um magistral resumo de sua mediunidade foi escrito por Mr. F. W. H. Myers e publicado pela Society for Psychical Research. Na notícia de sua morte disse Mr. Myers: “Eu pessoalmente considero a sua vida como uma das mais notáveis de nossa geração e de poucos homens ouvi, em primeira mão, fatos mais notáveis do que os que dele ouvi.”
Os vários médiuns referidos neste capítulo – pode-se dizer – cobrem diversos tipos de mediunidade, predominantes durante esse período. Mas houve muitos que foram quase tão conhecidos quanto os aqui citados. Assim, Mrs. Marshall trouxe ensinamentos a muitos; Mrs. Gusy mostrou poderes que, em certas direções, jamais haviam sido atingidos; Mrs. Everitt, uma amadora, continuou por toda a sua vida, que foi longa, a ser um centro de energia psíquica; e Mrs. Mellon, tanto na Inglaterra quanto na Austrália, foi extraordinária em materializações e em fenômenos físicos.

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