segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Cap. 21 - Espiritismo Francês, Alemão e Italiano
domingo, 23 de agosto de 2009
Cap. 20 - Vozes Mediúnicas e Moldagens
É impossível dedicar capítulos separados a cada forma de força psíquica, pois o resultado exorbitaria dos limites desta obra. Mas os fenômenos de produção de vozes, bem como os de moldagens, são tão claros e evidentes que não será supérfluo um relato mais desenvolvido.
Milhares de pessoas tornam-se eco daquelas palavras de Job: “eu ouvi uma voz”, significando uma voz que não vinha de alguém que vivesse na Terra. E o disse com segura convicção, depois de uma série de testes. A narrativa bíblica é farta em exemplos desse fenômeno e as constatações psíquicas dos tempos modernos mostram que aqui, como em outras manifestações supra-normais, o que aconteceu na aurora do mundo acontece ainda.
Os exemplos históricos de mensagens faladas são os de Sócrates e de Joana D’Arc, embora não seja claro que em ambos os casos as vozes tivessem sido audíveis para os outros.
É à luz do inteiro conhecimento que chegamos a concluir, com alguma probabilidade, que as vozes ouvidas eram do mesmo caráter supranormal daquelas com que hoje estamos familiarizados.
Mr. F. W. H. Myers faz-nos pensar que o Demônio de Sócrates era “um mais profundo extrato do próprio sábio”, a comunicar-se com “o extrato superficial e consciente”. E do mesmo modo explicaria as vozes que vieram a Joana. Falando assim, entretanto, ele nada explica.
Que devemos pensar da história de que as estátuas antigas falavam? O ilustre autor anônimo, – que se supõe tenha sido o Doutor Leornard Marsh, da Universidade de Vermont, – daquele curioso livro “Apocatastasis”, ou “Progresso Regressivo”, cita as seguintes palavras de Nonnus:
“No que respeita a essa estátua (de Apolo), onde se achava, e como ela falava, eu nada disse. Deve-se, entretanto, entender que havia uma estátua em Delfos, que emitia uma voz inarticulada. Porque deveis saber que os Espíritos falam, com vozes inarticuladas, de vez que não possuem órgãos pelos quais possam falar articuladamente”.
Assim o comenta o Doutor Marsh:
“Parece que o autor não estava bem informado relativamente ao poder de falar dos Espíritos, desde que toda a história antiga declara que muitas vezes a sua voz era ouvida no ar, falando articuladamente e repetindo as mesmas palavras em diversos lugares; e essa voz era chamada, e universalmente conhecida, pelo nome de “Vox Divina”.
E prossegue dizendo que com a mencionada estátua o Espírito evidentemente estaria experimentando com o grosseiro material de que era feita – provavelmente de pedra – a ver se poderia produzir sons articulados, mas não o conseguia, pois que a estátua “não possuía laringe ou outros órgãos da voz, como os modernos médiuns”. Em seu livro o Doutor Marsh procura demonstrar que então (1854) os fenômenos espíritas eram crus e imaturos, em comparação com as manifestações espíritas da antigüidade. Os antigos, diz ele, falavam disso como de uma ciência, e declaravam que os conhecimentos obtidos por seu intermédio eram exatos e controláveis “a despeito de todos os demônios fraudulentos”. Garantindo que o sacerdote era um médium de vozes, facilmente se explicam os oráculos falantes.
É digno de nota que a Voz, que foi uma das primeiras formas de mediunidade associada ao moderno Espiritismo, é ainda preeminente, ao passo que outros aspectos da mediunidade inicial se tenham tornado raros.
Mas como há um bom número de investigadores competentes que consideram o fenômeno da voz entre as mais convincentes das manifestações psíquicas, lancemos um olhar sobre o que há a respeito.
Jonathan Koons, fazendeiro em Ohio, parece ter sido o primeiro dos modernos médiuns com quem isto se verificou. Na choupana já mencionada, chamada a sua “Casa do Espírito” teve ele em 1852, e durante muitos anos, uma porção de fenômenos surpreendentes, entre os quais havia vozes de Espíritos, que falavam através de um pequeno megafone ou trombeta. Mr. Charles Partridge, conhecido homem público, que foi um dos investigadores dos primeiros dias, assim descreve como ouviu o Espírito conhecido como John King, falando numa sessão em casa de Koon, em 1855:
“Ao terminar a sessão, como de costume, o Espírito de John King tomou da trombeta e fez uma pequena palestra através dela – falando clara e distintamente – mostrando o benefício que se colheria no tempo e na eternidade, da conversa com os Espíritos, e nos exortando a sermos discretos e firmes no falar, aplicados em nossas investigações, fiéis às responsabilidades que tais privilégios impunham, caridosos para com os que estão no erro e na ignorância, temperando o nosso zelo com a sabedoria, etc.”
O Professor Mapes, conhecido químico americano, disse que em presença dos Davenport havia conversado durante meia hora com John King, cuja voz era alta e distinta. Mr. Robert Cooper, um dos biógrafos dos Irmãos Davenport, ouviu muitas vezes a voz de John King à luz do dia, e à luz da lua, quando passeando pela rua com os Davenport.
Atualmente chegamos a formar uma idéia de como tais vozes se produzem nas sessões.
Aliás esse conhecimento foi corroborado pelas comunicações recebidas dos próprios Espíritos.
Parece que o ectoplasma procedente do médium, mas também, em menor proporção, dos assistentes, é usado pelos Espíritos operadores na moldagem de uma espécie de laringe humana. E a utilizam para a produção da voz.
Na explicação dada aos Koons pelos Espíritos, estes falavam do emprego combinado de elementos do corpo espiritual, e o que corresponde ao nosso atual ectoplasma, “uma aura física que emana do médium”. Compare-se isto com a explicação dada através de Mis. Bassett, a conhecida inglesa médium de vozes, aos setenta anos: “Dizem eles que tomam as emanações do médium e de outros membros da assistência, com o que fazem um aparelho para falar e que o empregam”.
Mrs. Mary Marshall, falecida em 1875, e que foi a primeira dos médiuns públicos ingleses, era canal para vozes vindas de John King e outros. Em 1809, em Londres, Mr. W. Harrisson, redator de The Spiritualist, fez exaustivos ensaios com ela. Como os espíritas eram tidos como gente facilmente impressionável, é interessante notar a sua cuidadosa investigação. Falando de Mrs. Mary Marshall, diz ele:
“Mesas e cadeiras moviam-se à luz do dia e por vezes se erguiam do chão, enquanto que nas sessões às escuras ouviam-se vozes e viam-se manifestações luminosas. Todas estas coisas pareciam vir dos Espíritos. Então resolvi ser um visitante constante das sessões e permanecer no trabalho até verificar se as asserções eram verdadeiras ou descobrir a impostura com bastante precisão e segurança para o denunciar em presença de testemunhas e poder publicar os fatos com desenhos completos dos aparelhos usados.
“A voz de John King é inspirada por uma inteligência, ao que parece, inteiramente diferente da maneira da de Mr. e Mrs. Marshall. Entretanto, admiti que Mr. Marshall produziu a voz e, assistindo a algumas sessões, verifiquei que era comum que Mr. Marshall e John King falassem ao mesmo tempo. Assim, fui obrigado a abandonar a minha teoria.
“Então admiti que era Mrs. Marshall quem falava, até que uma noite fiquei junto a ela; ela estava à minha direita e eu lhe segurava a mão e o braço e John King veio e falou ao meu ouvido esquerdo, quando Mrs. Marshall estava absolutamente imóvel. Assim se foi minha nova teoria.
“Diante disso admiti que um parceiro entre os visitantes do grupo fazia a voz de John King. De modo que fiz uma sessão apenas com Mr. Marshall e sua senhora. John compareceu e falou durante uma hora.
“Por fim estabeleci que um parceiro escondido produzia a voz. Então fiz duas sessões nas quais Mrs. Marshall se achava entre estranhos, numa casa estranha, e novamente John King estava mais vivo do que nunca. Finalmente na noite de quinta-feira, 30 de dezembro de 1869, John King veio e falou a onze pessoas, no grupo de Mrs. C. Berry, na ausência de Mr. Marshall e de sua senhora, sendo médium Mrs. Perzin”.
Enquanto Mr. Harrison se satisfez, desse modo, de que nenhuma criatura humana presente produzia as vozes, não mencionou – o que era o caso – que as vozes freqüentemente davam provas de identidade tais que nem o médium nem um comparsa poderiam ter dado.
O senhor Damiani, conhecido investigador, em sua prova perante a Sociedade Dialética de Londres declarou que as vozes lhe tinham falado em presença de médiuns não estipendiados, depois haviam conversado com ele em sessões particulares com Mrs. Marshall e aí “haviam demonstrado as mesmas peculiaridades quanto ao tom, a expressão, o andamento, o volume, a pronúncia, que nas vezes anteriores”. Essas vozes lhe falavam sobre assuntos de natureza tão particular que ninguém, além dele, podia ter conhecimento. Por vezes também predisseram acontecimentos que se verificaram em tempo certo.
É natural que aqueles que tiveram contacto pela primeira vez com o fenômeno das vozes deveriam suspeitar de ventriloquia, como uma possível explicação. D. D. Home, com quem essas vozes ocorriam tantas vezes, tinha cuidado ao encontrar essa objeção. Descrevendo a sessão quando Home o visitou em Cupar, em Fife, em 1870, assim escreve o General Boldero:
“Então as vozes foram ouvidas, falando simultaneamente na sala – duas pessoas diversas, a julgar pela entonação. Não nos foi possível guardar as palavras proferidas, desde que Home persistia em falar conosco todo o tempo. Reclamamos contra a sua conversa, mas ele replicou: “Falo de propósito, para que possa convencer-se de que as vozes não são devidas a qualquer ventriloquia de minha parte, desde que isto é impossível quando alguém está falando com a sua voz natural”. A voz de Home era muito diferente das que se ouviam no ar.
O autor pode corroborar isto com a sua experiência pessoal, pois muitas vezes ouviu vozes falando ao mesmo tempo. Há exemplos no capítulo sobre os grandes médiuns modernos.
O almirante Usborne Moore dá o testemunho de ter ouvido simultaneamente, com Mrs. Wriedt, de Detroit, as vozes de três ou quatro Espíritos. Em seu livro “The Voices”, de 1913, cita o testemunho da conhecida escritora Miss Edith K. Harper, antes secretária particular de Mr. W. T. Stead. Escreve ela:
“Depois de examinar um relato de cerca de duzentas sessões com Mrs. Etta Wriedt, durante as suas três visitas à Inglaterra, cujas notas de sessões gerais bastariam para encher um grosso volume se fossem escritas in extenso, procurarei relatar, resumidamente, algumas das mais notáveis experiências que eu e minha mãe tivemos o privilégio de assistir pela mediunidade de Mrs. Wriedt. Examinando as minhas notas de sua primeira visita em 1911, sobressaem os seguintes detalhes entre os principais aspectos das sessões:
1. Jamais Mrs. Wriedt caia em transe; conversava livremente com os assistentes; nós a ouvíamos falar também, até mesmo argumentando com Espíritos, com cujas opiniões não concordava. Lembro-me de uma vez em que Mr. Stend sacudia-se em gargalhadas, ao ouvir a reprimenda de Mrs. Wriedt ao editor do Progressive Thinker por sua atitude contra os médiuns e da evidente confusão de Mr. Francis que, depois de uma tentativa de explicação, derrubou a trombeta e retirou-se aborrecido.
2. Duas, três e até quatro vozes de Espíritos falando simultaneamente a diversos assistentes.
3. Mensagens dadas em língua estranha – francês, alemão, italiano, espanhol, norueguês, holandês, árabe e outras, com as quais a médium não estava familiarizada. Uma senhora norueguesa, muito conhecida no mundo das letras e da política, foi abordada em norueguês, por uma voz masculina, dizendo-se seu irmão e dando o nome de “P.” Ela conversou com ele e deu mostras de satisfação ante as provas dadas de sua identidade... De outra vez uma voz falou em espanhol fluente, dirigindo-se determinadamente a uma senhora no grupo, que ninguém sabia tivesse ligações com essa língua. Então a senhora estabeleceu uma conversa fluente com o Espírito, em espanhol, com evidente satisfação para este”.
Mrs. Mary Hollis, depois Mrs. Hollis-Billings, era uma notável médium. Esta americana visitou a Inglaterra em 1874 e também em 1880, quando foi apresentada à sociedade de Londres por destacados Espíritas. Um belo relato de sua variada mediunidade é feito pelo Doutor N. B. Wolfe em seu livro “Startling Facts in Modern Spiritualism”.
Mrs. Hollis era uma senhora fina e milhares de pessoas tiveram provas e consolações através de seus dons. Seus dois guias, James Nolan e um índio chamado Ski, falavam livremente em voz direta. Numa de suas sessões, realizada em casa de Mrs. Makdougall Gregory, em Grosvenor Square, a 21 de janeiro de 1880, um clérigo da Igreja da Inglaterra “sustentava o fio de uma conversa com um Espírito, a qual havia sido interrompida há sete anos e se confessou muito satisfeito com a autenticidade da voz, que era muito peculiar e perfeitamente audível para todos os assistentes, de ambos os lados do clérigo a quem o Espírito se dirigia”.
Mr. Edward C. Randall conta de uma outra boa médium americana para vozes diretas, Mrs. Emily S. French, em seu livro “The Dead Have Never Died.
Ela faleceu em sua casa em Rochester, New York, a 24 de junho de 1912. Mr. Randall investigou as suas faculdades durante vinte anos e se convenceu de que a sua mediunidade era de um altíssimo padrão.
Mrs. Mercia M. Swain, que faleceu em 1900, era uma médium de voz direta cuja instrumentalidade foi aproveitada por um grupo da Califórnia, o Rescue Circle, para ajudar os Espíritos atrasados. Um relato dessas extraordinárias sessões, que eram dirigidas por Mr. Leander Ficher, de Buffalo, New York, e que se estenderam de 1875 a 1900, se acha no livro do Almirante Usborne Moore “Glimpses of the Next State”.
Mrs. Everitt, senhora finíssima e médium não profissional, produziu vozes diretas na Inglaterra em 1867 e por muitos anos depois.
Muitos dos grandes médiuns de efeitos físicos, especialmente os de materializações, produziram os fenômenos de vozes diretas. Estas ocorriam, por exemplo, com Eglinton, Spriggs, Husk, Duguid, Herne, Mrs. Gupsy e Florence Cook.
Mrs. Elizabeth Blake, de Ohio, que faleceu em 1920, era um dos mais maravilhosos médiuns de voz direta de que temos notícia e, talvez, o de maior valor probante, porque em sua presença as vozes se produziam com regularidade em plena luz do dia. Era pobre, iletrada, vivendo na pequena aldeia de Bradrick, à margem do rio Ohio, do outro lado da cidade de Huntingdon, em West Virginia. Era médium desde criança. Era muito religiosa e pertencia à Igreja Metodista, da qual, como alguns outros, entretanto, foi expulsa devido à sua mediunidade.
Pouco se tem escrito a seu respeito: um único relato minucioso é a valiosa monografia do Professor Hyslop.
Dizem que foi sucessivamente submetida a testes por “cientistas, médicos e outros” e que o fazia de boa vontade. Entretanto, como esses homens não foram capazes de a pilhar em fraude, não se preocuparam em oferecer ao mundo os resultados obtidos. Hyslop teve a sua atenção atraída para ela por ouvir dizer que um muito conhecido mágico americano, com uma experiência de muitos anos, se havia convencido da autenticidade de seus fenômenos e em 1906 foi a Ohio examinar a sua mediunidade.
O volumoso relatório de Hyslop descreve legítimas comunicações que ocorreram.
Ele faz essa rara confissão de ignorância do processo do ectoplasma na produção dos fenômenos das vozes:
“A altura dos sons, nalguns casos, exclui a suposição de que as vozes sejam conduzidas das cordas vocais à trombeta. Ouvi sons a seis metros de distância e os poderia ter ouvido a doze ou quinze metros – e os lábios de Mrs. Blake não se moviam.
“Resta estabelecer uma hipótese possível para explicar este aspecto dos fenômenos.
“Mesmo que chamemos a isto “Espíritos”, a explicação não satisfaz ao homem comum de ciência. Ele quer saber do processo mecânico que o envolve, assim como nós explicamos o falar comum.
“Talvez sejam os Espíritos a causa primeira no caso, mas há degraus no processo que vão desde a iniciativa até o último resultado. É isto que cria a perplexidade muito mais que a suposição de que, de certo modo, estejam Espíritos por detrás de tudo isto... e o homem de ciência não pode ver como os Espíritos podem instituir um fato mecânico sem o emprego de aparelhos mecânicos.”
Também ninguém o pode. Mas neste caso a explicação tem sido dada uma ou outra vez pelo Outro Lado. O desejo do Professor Hyslop de conhecer o elo que existe entre os sons e sua fonte seria menos surpreendente se não fosse um fato que os próprios Espíritos reiteradamente responderam à pergunta que ele faz. Através de muitos médiuns deram eles explicações mais ou menos idênticas.
O Doutor L. V. Guthrie, superintendente do Asilo de West Virginia, em Huntingdon, conselheiro médico de Mrs. Blake, estava convicto de seus dons. Escreve ele:
“Fiz sessões com ela em meu próprio escritório e no alpendre, ao ar livre e, numa ocasião, dentro de uma carruagem numa estrada. Constantemente se me oferecia para fazer sessões e usar uma manga de candeeiro em vez de uma pequena corneta e muitas vezes a vi produzir vozes tendo a mão numa das extremidades da trombeta.”
O Doutor Guthrie relata os dois casos seguintes com Mrs. Blake, nos quais a informação dada era desconhecida dos assistentes e não podia ter sido também da médium.
“Uma de minhas empregadas, uma senhora moça, cujo irmão tinha entrado para o exército e seguido para as Filipinas, estava ansiosa para receber notícias suas e lhe havia escrito cartas sobre cartas, dirigidas aos cuidados da companhia nas Filipinas. Mas não obtinha resposta. Ela visitou Mrs. Blake e soube pelo “Espírito” de sua mãe, morta há vários anos, que deveria mandar uma carta ao irmão para C... a fim de obter resposta. Assim fez: recebeu resposta em dois ou três dias, pois que ele havia regressado das Filipinas, sem que ninguém da família o soubesse.”
O caso seguinte é ainda mais interessante.
“Uma parenta minha, de importante família nesta região do Estado, cujo avô tinha sido encontrado morto ao pé de uma grande ponte, com o crânio esmagado, visitou Mrs. Blake há poucos anos e não estava pensando no avô na ocasião. Ficou muito surpreendida porque o Espírito do avô lhe disse que não havia caído da ponte quando embriagado, como ao tempo haviam pensado. Tinha sido assassinado por dois homens que o haviam encontrado num carrinho e tinham conseguido pegá-lo, despojá-lo de seus valores e atirá-lo de cima da ponte. O Espírito descreveu minuciosamente os dois homens que o haviam assassinado e deu tais informações que foi possível prendê-los e obter a confissão de um ou de ambos”.
Numerosos assistentes notaram que enquanto Mrs. Blake falava ouviam-se as vozes dos Espíritos, e, ainda, que os mesmos Espíritos apresentavam a mesma personalidade, bem como a mesma inflexão de voz durante anos. Hyslop dá detalhes de um caso com essa médium, na qual as vozes comunicantes deram a solução correta para abrir um cadeado de segredo, que era desconhecida do assistente.
Entre os modernos médiuns de voz direta da Inglaterra estão Mr. Roberts Johnson, Mrs. Blanche Cooper, John C. Sloan, William Phoenix, as Misses Dunsmore, Evan Powell, médium Welsh, e Mr. Potter.
Mr. H. Dennis Bradley fez um minucioso relato da mediunidade de voz direta de George Valiantine, o conhecido médium americano. Mr. Bradley conseguiu vozes no seu próprio Grupo Doméstico, sem médiuns profissionais. É impossível exagerar os serviços que o trabalho dedicado e de auto-sacrifício de Mr. Bradley prestou à ciência psíquica. Se todo o nosso conhecimento dependesse das provas dadas nesses dois livros - “Towards the Stars” e “The Wisdom of the Gods” isso seria bastante para qualquer homem razoável.
Algumas páginas devem ser dedicadas a um resumo da prova objetiva e muito convincente das moldagens tomadas de corpos de ectoplasma – por outras palavras, de formas materializadas. Quem primeiro explorou essa linha de pesquisa parece ter sido William Denton, autor de “Naturés Secrets”, um livro de psicometria, publicado em 1863. Em 1875, trabalhando em Boston, U.S.A., com a médium Mary M. Hardy, empregou ele métodos que se assemelham aos usados por Charles Richet e Gustave Geley em suas mais recentes experiências em Paris. Então Denton fez uma demonstração pública no Paine Haul, quando a moldagem do rosto de um Espírito, ao que se diz, foi fundida em parafina. Outros médiuns com os quais estes moldes foram obtidos foram Mrs. Firman, Doutor Monck, Miss Fairlamb (posteriormente Mrs. Mellon) e William Eglinton. O fato de terem sido tais resultados corroborados posteriormente nas sessões de Paris é um forte argumento em favor de sua validade. Mr. William Oxley, de Manchester, descreve como a 5 de fevereiro de 1876 foi obtida uma bela moldagem de uma mão de senhora e como em seguida um molde da mão de Mrs. Firman demonstrou uma grande diferença. Nessa ocasião Mrs. Firmam estava amarrada pela cabeça, o peito, os braços e as mãos. Isto parecia suficiente, no que respeita à fraude por parte da médium, ao mesmo tempo em que se verifica que a cera da moldagem era fervente, o que mostra que não podia ter sido trazida à sala das sessões. É difícil imaginar que outras precauções poderiam ter sido tomadas para garantir os resultados. Numa outra ocasião foram obtidas as moldagens de um pé e de uma mão, nas quais a abertura do pulso e do tornozelo eram tão pequenas que os membros não teriam passagem. Parece que não há outra explicação a não ser que pé e mão se houvessem desmaterializado.
Os resultados do Doutor Monck também parecem suportar a crítica. Em 1878 Oxley fez experiências com ele em Manchester e teve o mesmo sucesso que com Mrs. Firmam. Nessa ocasião diversos moldes foram tirados de duas individualidades diferentes. Diz Oxley dessas experiências: “A importância e o valor dessas moldagens de Espíritos jamais seriam superestimados porque enquanto a relação do fenômeno espírita com outros de atitude duvidosa ou céptica só é válida no campo da crença, esses moldes de mãos e de pés são fatos patentes e permanentes e agora exigem dos homens de ciência, dos artistas, e dos trocistas, uma solução do mistério de sua produção”. Essa exigência permanece. Um famoso mágico, Houdini, e um grande anatomista, Senhor Arthur Keith, tentaram fazer moldes de mãos e os resultados, laboriosamente obtidos, apenas serviriam para acentuar o caráter único daquilo que procuravam copiar.
No caso de Eglinton, foi registrado pelo Doutor Nichols, biógrafo do Davenport, que indiscutíveis moldes de mãos foram obtidos e que uma senhora presente reconheceu uma peculiaridade – uma leve deformidade – característica da mão de sua filhinha, que morrera afogada na África do Sul, com a idade de cinco anos.
Talvez os mais completos e probantes desses moldes sejam os obtidos por Epes Sergeant com a médium Mrs. Hardy, já mencionada em ligação com as experiências de Denton. As conclusões merecem ser citadas por extenso. Diz o escritor:
“Nossas conclusões são as seguintes:
1. O molde de uma mão perfeita, em tamanho natural, foi produzido numa caixa fechada, por uma força desconhecida, exercitando inteligência e atividade manual.
2. As condições da experiência independiam do controle, do caráter e da boa fé da médium, não obstante sua mediunidade ficasse plenamente demonstrada pelo resultado.
3. Essas condições eram tão simples e tão severas que excluem completamente toda oportunidade para fraude e toda possibilidade de ilusão, de modo que as nossas conclusões quanto à experiência são perfeitas.
4. O fato, de há muito conhecido dos investigadores, de que mãos materializadas e evanescentes, guiadas por uma inteligência e projetadas de um organismo invisível, podem tornar-se visíveis e tangíveis, recebe uma confirmação deste duplo teste.
5. A experiência de moldagem, associada com a chamada fotografia espírita, dá provas objetivas da ação de uma força inteligente exterior a qualquer organismo visível e oferece uma boa base à investigação científica.
6. A pergunta: “Como teria sido produzida essa moldagem dentro da caixa?” leva a considerações que devem ser de máxima importância para a filosofia do futuro, do mesmo modo que sobre problemas de psicologia e de fisiologia, e abre novos horizontes às forças latentes e ao alto destino do homem.”
Sete testemunhas respeitáveis assinam o relatório.
Se o leitor não ficar satisfeito com tão variados exemplos da validade dessas experiências de fotografia e moldagens, deverá ler as conclusões a que chegou o grande investigador Geley, ao fim de suas experiências clássicas com Kluski, a que aludimos de passagem.
O Doutor Geley realizou com Kluski algumas notáveis experiências sobre a formação de moldagens em cera, de mãos materializadas. Registrou os resultados de uma série de onze sessões bem sucedidas com tal objetivo. Em luz muito fraca a mão direita do médium foi segurada pelo Professor Charles Richet e a esquerda pelo Conde Pctocki. Uma vasilha com cera, mantida em ponto de fusão por meio de água fervente, foi colocada a sessenta centímetros em frente a Kluski e, para efeito de teste – o que era ignorado pelo médium – a cera estava impregnada de colesterina, a fim de evitar a sua substituição. Diz o Doutor Geley:
“A luz muito fraca não permitia que se assistisse ao fenômeno; éramos advertidos do momento de mergulhar a mão, pelo ruído no liquido. A operação exigira duas ou três imersões. A mão que estava agindo era mergulhada no vaso, retirada coberta de parafina quente, tocava as mãos dos controladores da experiência e então era mergulhada novamente na cera. Depois da operação a luva de parafina, ainda quente mas solidificada, era colocada de novo junto à mão de um dos controladores”.
Desta maneira nove moldes foram tirados. Sete de mãos, um de pé e outro de um queixo com os lábios. Examinada a cera de que eram feitos, deu a reação característica da colesterina. O Doutor Geley mostrou vinte e três fotografias de moldes e de cópias em gesso que deles foram feitas. É preciso dizer que as moldagens mostram as dobras da pele, as unhas e as veias, as quais de modo algum se parecem com as do médium. Os esforços para obter moldagens semelhantes de mãos de criaturas vivas foram apenas parcialmente realizados, e as diferenças entre uns e outros são marcantes. Escultores e reputados modeladores declararam que não conhecem nenhum método de produção de moldagens semelhantes às obtidas nas sessões com Kluski.
Assim resume Geley os resultados:
“Enumeraremos agora as provas que temos dado da autenticidade das moldagens de membros materializados em nossas experiências em Paris e Varsóvia:
Mostramos que, além do controle do médium, cujas mãos mantínhamos sempre seguras, toda fraude era impossível:
1. A teoria da fraude pela luva de borracha é inadmissível, porque essa tentativa dá resultados absurdos e grosseiros que, à primeira vista, se nota que são imitações.
2. Não é possível produzir tais luvas de cera usando um molde rígido pré-fabricado. Uma tentativa neste sentido logo mostra a sua impossibilidade.
3. O emprego de um molde preparado de uma substancia fusível e solúvel, coberto com uma camada de parafina, durante a sessão e então dissolvido num balde d'água, não é possível, com o processo empregado. Não tínhamos balde d'água.
4. A teoria de que uma mão viva era usada, fosse do médium ou de um assistente, é inadmissível. Isto não podia ser feito por várias razões, uma das quais é que a luva assim obtida é grossa e sólida, enquanto que as nossas são finas e delicadas e, ainda, que a posição dos dedos em nossas moldagens torna impossível a sua retirada, sem quebrar a luva. Além disso, as luvas foram comparadas com as mãos do médium e dos assistentes e não se assemelham. Isto também é mostrado pelas mensurações antropológicas.
Finalmente, fui à hipótese de terem sido as luvas trazidas pelo médium. Isto não se ajusta ao fato de havermos em segredo introduzido um produto químico na cera fundida, e que o mesmo foi encontrado nas luvas.
O relatório dos especialistas em modelagem neste ponto é categórico e final.
Nada constitui prova para aqueles que se acham tão cheios de preconceitos que não têm mais lugar para o raciocínio. Mas é inconcebível que um homem normalmente dotado pudesse ler tudo quanto fica dito acima e duvidar da possibilidade de fazer moldagens de figuras ectoplásmicas.
Cap. 19 - Fotografia Espírita
O primeiro relato autêntico da produção daquilo que é chamado fotografia espírita data de 1861. O resultado foi obtido por William H. Mumler, em Boston, nos Estados Unidos. Diz-se que em 1851, na Inglaterra, Richard Boursnell fez uma experiência semelhante, mas nenhuma fotografia dessa natureza foi conservada. O primeiro exemplo na Inglaterra que se pode constatar ocorreu em 1872, com o fotógrafo Hudson.
Como o progresso do moderno Espiritismo, esse novo desenvolvimento foi predito pelo Outro Lado. Em 1856 Mr. Thomas Slater, um óptico residente em Euston Road 136, em Londres, realizava uma sessão com Lord Brougham e Mr. Robert Owen, quando, por batidas, foi dito que chegaria o dia em que Mr. Slater faria fotografias de Espíritos. Mr. Owen observou que se estivesse no mundo dos Espíritos quando chegasse aquele dia, iria aparecer numa chapa. Em 1872, quando Mr. Slater fazia experiências de fotografia espírita, ao que se diz, obteve numa chapa o rosto de Mr. Robert Owen, bem como o de Lord Brougham.
Alfred Russel Wallace viu essas chapas mostradas por Mr. Slater, e escreve:
“O seu primeiro êxito consistiu em dois rostos obtidos ao lado do retrato de sua irmã. Uma dessas cabeças, sem sombra de dúvida, é de Lord Brougham; a outra, muito menos distinta, é reconhecida por Mr. Slater como a de Robert Owen, que ele conhecia intimamente, até o momento de sua morte.”
Depois de descrever outras fotografias de Espíritos, obtidos por Mr. Slater, continua o Doutor Wallace:
“Agora, se essas figuras estão ou não identificadas corretamente não é ponto essencial.
“O fato de que algumas figuras, tão claras e indiscutivelmente humanas como essas, aparecem em chapas batidas no estúdio particular de um óptico experimentado e fotógrafo amador que fabrica os seus próprios aparelhos, e sem ninguém presente a não ser a sua própria família, – constitui verdadeira maravilha. Num caso, um segundo rosto apareceu numa chapa com ele, tomada por Mr. Slater quando se achava absolutamente só, pelo simples processo de ocupar a cadeira de um assistente depois de preparada a máquina...
“O próprio Mr. Slater mostrou-me todas essas fotografias e explicou as condições em que foram obtidas. É certo que não se trata de uma impostura e como primeiras confirmações independentes do que antes havia sido obtido por fotógrafos profissionais, seu valor é inestimável”.
De Mumler, em 1861 a William Hope, em nossos dias, apareceram de vinte a trinta médiuns reconhecidos para fotografia espírita que, ao todo, produziram centenas de resultados supranormais, que chegaram a ser considerados “extras”. O mais conhecido desses sensitivos, além de Hope e de Mrs. Deane, são Hudsou, Parkes, Willie, Buguet, Boursnell e Duguid.
Mumler, que trabalhava como gravador numa das principais joalherias de Boston, não era espírita nem fotógrafo profissional. Em horas de folga, quando tentava tirar fotografias de si mesmo, no atelier de um amigo, obteve numa chapa o contorno de uma outra figura. O método que empregava era focalizar uma cadeira vazia e, depois de descobrir a objetiva, alcançar a cadeira escolhida e aí ficar durante o tempo necessário à exposição. Nas costas da fotografia Mr. Mumler tinha escrito:
“Esta fotografia foi feita por mim mesmo, de mim mesmo, num domingo, quando não havia viva alma na sala – por assim dizer. A forma à minha direita reconheço como minha prima, morta há doze anos. - W. H. MUMLER”
A forma é de uma mocinha, que aparece sentada na cadeira. A cadeira é vista com nitidez através do corpo e dos braços, como também a mesa na qual ela apóia o braço. Abaixo do peito, diz um relato contemporâneo, a forma (que parece usar um vestido decotado e sem mangas) se desagrega num tênue vapor, como simples nuvens na parte inferior do retrato. É interessante notar pormenores, nessa primeira fotografia espírita, que se repetiram muitas vezes nas que foram obtidas posteriormente por outros operadores.
Logo correu a notícia do que havia acontecido a Mumler e ele foi assediado por pedidos de sessões. A princípio recusou-se, mas finalmente concordou e quando, posteriormente, outros “extras” foram obtidos, e sua fama se espalhou, foi então compelido a abandonar o seu negócio e a dedicar-se a esse novo trabalho. Como, de um modo geral, as suas experiências foram como as de todos os fotógrafos psíquicos que o sucederam, podemos considerá-las rapidamente.
Investigadores particulares de boa reputação obtiveram retratos absolutamente reconhecíveis de amigos e parentes e ficaram inteiramente satisfeitos porque os resultados eram genuínos. Então vieram os fotógrafos profissionais, convencidos de que havia truques e que se lhes dessem oportunidade de fazer experiências, sob suas próprias condições, seriam capazes de descobrir como a coisa era feita. Vieram, um após outro, nalguns casos com as suas próprias chapas, máquinas, reveladores e fixadores, mas depois de dirigirem e fiscalizarem todas as operações, foram incapazes de descobrir qualquer truque. Mumler também foi aos seus ateliers e lhes permitiu fazer todo o manejo bem como a revelação das chapas, com os mesmos resultados. Andrew Jackson, que era então redator-chefe do Herald of Progress, em New York, mandou um fotógrafo profissional, Mr. William Guay, fazer uma investigação completa. Este contou que, depois de lhe haver sido permitido o inteiro controle de todo o processo fotográfico, apareceu na chapa o retrato do Espírito. Experimentou com esse médium em várias outras ocasiões e ficou convencido de sua autenticidade.
Outro fotógrafo, Mr. Horace Weston, foi mandado a investigar por Mr. Black, famoso fotógrafo retratista de Boston. Quando voltou, depois de haver obtido uma fotografia de Espírito, disse que não tinha verificado coisa alguma nas operações que fosse diferente dos que se fazia no trabalho ordinário dos fotógrafos. Então Black foi em pessoa e fez todas as manipulações das chapas, bem como a sua revelação. Quando examinava a revelação de uma delas, viu aparecer uma forma além da sua e, finalmente, viu que era um homem que apoiava o braço sobre o seu ombro e exclamou, entusiasmado: “Meu Deus! é possível?”
Mumler teve mais convites para sessões do que lhe era possível atender e os compromissos eram marcados com semanas de antecedência. Vinham de todas as classes: ministros, doutores, advogados, juizes, prefeitos, professores e homens de negócio eram contados entre as pessoas interessadas. Um relatório extenso dos vários resultados positivos obtidos por Mumler se encontra na imprensa da época.
Em 1863 Mumler, como tantos outros médiuns para fotografia espírita desde a sua época, encontrou nas suas chapas “extras” de pessoas vivas. Seus maiores defensores foram incapazes de aceitar esse novo e estranho fenômeno e, conquanto mantivessem a crença em seus dons, ficaram convencidos de que ele recorria aos truques. Numa carta ao Banner of Light, de Boston, de 20 de fevereiro de 1863, referindo-se a esse novo desenvolvimento, escreve o Doutor Gardner:
“Conquanto eu esteja inteiramente convencido de que, através de sua mediunidade, foram tomados retratos de Espíritos, pelo menos em dois casos me foram dadas provas de fraude, o que é perfeitamente conclusivo... Mr. Mumler, ou alguém em contato na sala de Mrs. Stuart, é responsável pela trapaça contra as autênticas fotografias de Espíritos, substituídas pelas de pessoas vivas desta cidade.”
O que tornou o caso ainda mais convincente para os acusadores foi o fato de o mesmo “extra” de uma pessoa viva aparecer em duas chapas. Esta falcatrua ultrapassou as medidas da opinião pública contra ele e em 1868 Mumler partiu para New York. Aí o seu negócio prosperou durante algum tempo, até que foi preso por ordem do prefeito de New York, a pedido do repórter de um jornal, que havia recebido uma fotografia com um “extra” irreconhecível. Depois de um processo moroso foi absolvido, sem mancha no seu caráter. As provas dos fotógrafos profissionais, que não eram espíritas, eram fortemente favoráveis a Mumler.
Assim testemunhou Mr. Jeremiah Gurney:
“Sou fotógrafo há vinte e oito anos; testemunhei os processos de Mumler; e, conquanto tivesse ido preparado para examinar a coisa, nada achei que cheirasse a fraude ou truque... A única coisa fora da nossa rotina foi o fato do operador manter a mão sobre a máquina.”
Mumler, que morreu pobre em 1884, deixou uma narrativa interessante e convincente de sua carreira, em seu livro “Personal Experiences of William H. Muinler in Spirit Photography” de que existe um exemplar no Museu Britânico.
Hudson, que obteve a primeira fotografia espírita na Inglaterra e da qual temos prova objetiva, teria então sessenta e cinco anos de idade (em março de 1372). A experiência era conduzida por Miss Georgiana Houghton, que descreveu minuciosamente o incidente.
Há um testemunho abundante do trabalho de Hudson. Mr. Thomas Slater, já citado, levou sua própria máquina e chapas e, depois de minuciosa observação, relatou que “trapaça ou truque estavam fora de cogitação”. Mr. William Howitt, desconhecido do médium, não foi anunciado; mas recebeu e reconheceu numa fotografia “extras” de seus dois filhos mortos. E disse que as fotografias eram “perfeitas e inconfundíveis”.
O Doutor Alfred Russel Wallace obteve uma boa fotografia de sua mãe. Descrevendo sua visita diz ele:
“Estive em três sessões, em todas escolhendo o meu próprio lugar. De cada vez uma segunda figura apareceu no negativo comigo. A primeira era uma figura masculina, com um punhal; a segunda era um corpo inteiro, aparentemente a alguns pés para o lado e por trás de mim, olhando para baixo para mim e sustentando um ramo de flores. Numa terceira sessão, depois de me colocar e depois que a chapa fora colocada na máquina, pedi que a figura viesse para junto de mim. A terceira chapa mostrou uma figura feminina, de pé, junto e em frente a mim, de modo que o panejamento cobriu a parte inferior de meu corpo. Assisti à revelação de todas as chapas e em cada caso a figura “extra” começou a aparecer no momento em que o revelador era despejado, enquanto o meu retrato só se tornava visível cerca de vinte segundos depois. Não reconheci nenhuma das figuras nos negativos; mas no momento em que tirei as provas, ao primeiro relance a terceira chapa mostrou um inconfundível retrato de minha mãe – como era, na atitude e na expressão; não aquela semelhança de um retrato feito em vida, mas algo pensativa, uma semelhança ideal – ainda assim, para mim, uma semelhança inconfundível”.
Conquanto indistinto, o segundo retrato foi reconhecido pelo Doutor Wallace como sendo de sua mãe. O primeiro “extra” de um homem não foi reconhecido.
Mr. J. Traill Taylor, então redator do British Journal of Photography, testemunhou que tinha obtido resultados supra-normais com esse médium, usando as suas próprias chapas “e que em nenhuma ocasião, durante a preparação, a exposição ou a revelação dos retratos, Mr. Hudson se achava a menos de três metros da máquina ou da câmara escura. Por certo isto deve ser aceito como prova.
Mr. F. M. Parkes, residente em Grove Road, Bow, no East End de Londres, era um médium natural, que tinha visões verídicas desde a infância. Nada sabia de Espiritismo até 1871 e no começo do ano seguinte fez experiências de fotografia com seu amigo, Doutor Reeves, proprietário de um restaurante perto de King’s Cross. Tinha então trinta e nove anos de idade. A princípio apenas marcas irregulares e manchas de luz apareciam nas chapas; mas depois de três meses foi obtido um Espírito, logo reconhecido, estando presentes o Doutor Sexton e o Doutor Clarke, de Edimburgo. O Doutor Sexton convidou Mr. Bowman, de Glasgow, fotógrafo experimentado, o qual fez um minucioso exame da máquina, da câmara escura e do material usado. Feito isso, foi declarada impossível qualquer fraude da parte de Parkes. Durante alguns anos esse médium não recebeu remuneração por seus serviços. Mr. Stainton Moses, que dedicou um capítulo a Mr. Parkes, assim escreve:
“Folheando o álbum de Mr. Parkes, o mais notável ponto é a enorme variedade das figuras; o seguinte é a dessemelhança entre todos eles e a forma convencional dos fantasmas.
“Em cento e dez retratos que tenho diante dos olhos, começados em abril de 1872 e, com ligeiros intervalos, obtidos até agora, não há dois parecidos – raramente dois apresentam alguma semelhança entre si. Cada desenho é peculiar e tem no rosto uma individualidade diferente”.
Afirma que um bom número dessas fotografias foi identificado pelos assistentes.
Mr. Ed. Buguet, fotógrafo de Espíritos, era francês e visitou Londres em junho de 1874; em seu estúdio, situado em Baker Street 33, houve muitas sessões notáveis. Mr. Harrison, redator de The Spiritualist, fala de um teste empregado por esse fotógrafo, que consistia em quebrar um canto da chapa e ajustar o pedaço, depois que aquela era revelada. Mr. Stainton Moses descreve Buguet como um homem magro e alto, de rosto inteligente e feições bem marcadas, com abundante cabeleira negra. Diz-se que durante a exposição da chapa ele ficava em semitranse. Os resultados psíquicos obtidos eram de mais alta qualidade artística e de maior distinção que os obtidos por outros médiuns. Também uma grande percentagem de Espíritos era reconhecida. Um curioso aspecto com Buguet era que ele conseguia numerosos retratos do “duplo” dos assistentes, tanto quanto de pessoas vivas mas não presentes, aparecendo com ele no estúdio. Assim, enquanto se achava em Londres no estado de transe, o retrato de Stainton Moses apareceu em Paris quando Mr. Gledstones fazia uma experiência.
Em abril de 1875 Buguet foi preso e acusado pelo governo francês de produzir fraudulentas fotografias de Espíritos. Para salvar-se confessou que todos os resultados obtidos eram truques. Foi condenado a pagar quinhentos francos de multa e a um ano de prisão. Durante o processo um certo número de conhecidos homens públicos sustentaram a sua opinião quanto à autenticidade dos “extras” que haviam obtido, a despeito de se dizer que Buguet havia usado comparsas para fingirem de Espíritos. A verdade sobre fotografias espíritas não pára aí: os que têm interesse em ler toda a história de sua prisão e seu processo podem assim formar a própria opinião. Escrevendo depois do processo, diz Mr. Stainton Moses: “Não só acredito – mas sei, tão certo como sei outras coisas, que algumas das fotografias de Buguet eram autênticas”.
Entretanto diz Coates que Buguet era um tipo sem valor. Certamente a posição de um homem que apenas pode provar que não é um patife pelo fato de haver feito uma falsa confissão por medo é um tanto fraca. O caso para a fotografia espírita, sem ele, ficaria mais valorizado. Quanto à sua confissão, foi ela arrancada criminosamente pelo Arcebispo da Igreja Católica de Toulouse, numa ação contra a Revue Spirite, quando seu redator, Leymarie, foi acusado e condenado. Disseram a Buguet que a sua salvação estava em confessar.
Assim constrangido, fez o que antes haviam feito tantas vítimas da Inquisição: uma confissão forçada que, entretanto, não o salvou de doze meses de cadeia.
Richard Boursnell (1832-1900) ocupou uma posição preeminente no período médio da história da fotografia espírita. Formava uma parceria com um fotógrafo profissional em Fleet Street e dizem que tinha faculdades psíquicas e que eventualmente mãos e rostos apareciam em suas chapas, já em 1851. Seu companheiro o acusou de não lavar convenientemente as chapas, ao tempo do processo coloidal e, após uma discussão violenta, Boursnell disse que não mais continuaria com esse negócio. Só quarenta anos mais tarde é que novamente apareceram figuras psíquicas e, então, com formas extras, em suas fotografias, para seu desapontamento, porque prejudicaram o seu negócio e ocasionaram a destruição de muitas chapas. Foi com muita dificuldade que Mr. W. F. Stead o persuadiu a realizar algumas sessões. Nas suas próprias condições, Mr. Stead obteve repetidamente aquilo que o velho fotógrafo chamava “retratos de sombras”. A princípio não eram reconhecidas, mas, por fim, foram obtidas algumas bem identificadas. Mr. Stead forneceu detalhes das precauções observadas no preparo das chapas, etc., mas diz que liga pouca importância a estas, considerando que o aparecimento numa chapa de uma semelhança de um parente desconhecido ou de um assistente desconhecido é um teste muito superior às precauções que um mágico hábil ou um fotógrafo de truques pode ludibriar. E diz:
“De vez em quando eu enviava amigos a Mr. Boursnell, sem o informar quem eram eles, nem lhes dizer coisa alguma acerca da identidade de pessoas mortas parentas ou amigas dos recomendados, cujo retrato queriam obter; e, ao revelar as chapas, os retratos apareciam, por vezes atrás, outras vezes em frente ao interessado. Isso acontecia com tanta freqüência que estou convencido de que qualquer fraude era impossível. Uma vez aconteceu que um editor francês descobrisse o retrato de sua falecida esposa num negativo que fora revelado; e ficou tão encantado que insistiu em beijar o velho fotógrafo, com o que o deixou muito embaraçado. De outra feita foi um engenheiro do Lancashire, também fotógrafo, que marcou as chapas e tomou outras precauções. Obteve retratos de dois parentes e um outro de eminente personagem com quem havia mantido estreitas relações. Ainda de outra foi um vizinho próximo que, indo como um desconhecido, obteve o retrato de sua filha morta”.
Em 1903 os espíritas de Londres presentearam esse médium com uma bolsa de ouro e um documento assinado por mais de cem espíritas notáveis. Nessa ocasião as paredes das salas da Sociedade de Psicologia, em George Street, Portman Square, estavam cobertas por trezentas fotografias escolhidas de Espíritos, feitas por Boursnell.
Em relação à opinião de Mr. Stead quanto à “reconhecida semelhança”, declaram os críticos que os assistentes muitas vezes imaginam a semelhança, e que por vezes dois assistentes alegam que o mesmo “extra” é o seu parente. Em resposta a isto deve-se dizer que o Doutor Alfred Russel Wallace, por exemplo, deve ser o melhor juiz se a figura era ou não parecida com sua mãe. O Doutor Cushman, de quem falaremos adiante, submeteu o “extra” de sua filha Agnes a um certo número de parentes e amigos e todos estavam convencidos da semelhança. Mas, fora de qualquer certeza quanto à semelhança, resta a esmagadora prova de que essas fotografias supranormais realmente acontecem e, em milhares de casos, foram identificadas.
Mr. Edward Wyllie, nascido em 1848 e falecido em 1911, tinha genuínos dons mediúnicos, que foram verificados por inúmeros investigadores qualificados. Nascera em Calcuttá, pois o seu pai, Coronel Robert Wyllie, fora secretário militar do Governador da Índia. Wyllie, que servira como capitão na guerra Maori, na Nova Zelândia, depois fez fotografias ali. Em 1886 foi para a Califórnia. Depois de algum tempo começaram a aparecer pontos luminosos em seus negativos e como aumentavam sempre, ameaçavam destruir o seu negócio. Jamais tinha ouvido falar de fotografia de Espíritos, até que uma senhora lhe sugeriu isto como possível explicação. Experimentando com ela apareceram rostos nas chapas nos pontos iluminados. Daí por diante esses rostos apareciam com tanta freqüência com outros assistentes que ele se viu obrigado a deixar o negócio comum e devotar-se à fotografia de Espíritos. Mas então defrontou novas dificuldades. Foi acusado de obter fraudulentamente esses resultados e isso o feriu tanto que tentou ganhar a vida de outra maneira, mas sem resultado. Teve que voltar àquele trabalho como médium-fotógrafo, como era chamado. A 27 de novembro de 1900 uma comissão da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Pasadena fez uma investigação com ele em Los Angeles. Foram respondidas as seguintes perguntas por Wyllie. Aqui as transcrevemos por serem de interesse histórico.
Pergunta: – O Senhor anuncia ou promete fotografar rostos de Espíritos ou alguma coisa parecida e fora do comum aos seus fregueses?
Resposta: – Absolutamente. Não garanto nem prometo coisa alguma. Não tenho controle sobre isto. Apenas cobro o meu tempo e o material, como podem ver pelo quadro que está ali na parede. Cobro um dólar por sessão. E se a primeira não for satisfatória, faço uma segunda tentativa sem mais despesas.
Pergunta: – Por vezes deixa de obter algo de extraordinário?
Resposta: – Oh! sim, muitas vezes. Sábado passado, trabalhando à noite, fiz cinco sessões e nada obtive.
Pergunta: – Em que proporção são essas falhas?
Resposta: – Diria que num dia comum de trabalho a média é de três a quatro falhas – dias mais, dias menos.
Pergunta: – Em que proporção avalia que os rostos “extras” que aparecem são reconhecidos pelos assistentes ou por seus amigos?
Resposta: - Durante alguns meses do ano passado eu fazia um registro desse ponto e achei que em cerca de dois terços um ou mais rostos extras eram reconhecidos. Às vezes havia apenas uma face extra; outras vezes cinco ou seis, ou mesmo oito e eu não podia fazer um registro delas, mas apenas do número total de sessões, como se vê em meu livro de notas.
Pergunta: – Quando uma sessão é feita o senhor conhece, como sensitivo, se há ou não extras na chapa?
Resposta: – Às vezes eu vejo luzes em volta do assistente e então tenho certeza de que haverá algo para ele ou para ela; mas não sei exatamente o que será, assim como os senhores não sabem. Não sei o que é enquanto não o vejo na chapa revelada, fixada e examinada à luz.
Pergunta: – Quando um assistente deseja fortemente que um determinado amigo desencarnado apareça na chapa é mais provável obter resultado?
Resposta: – Não. Um forte estado de tensão mental, ou de desejo, quer seja de ansiedade ou de antagonismo, torna mais difícil para o Espírito o emprego do magnetismo do assistente a fim de produzir a manifestação; de modo que é menos provável que, então, apareça um extra na chapa. Uma condição repousante, passiva e à vontade é mais favorável aos bons resultados.
Pergunta: – Os Espíritas conseguem melhores resultados que os descrentes?
Resposta: – Não. Alguns dos melhores resultados que jamais obtive ocorreram quando a cadeira era ocupada por gente muito céptica.
Com essa comissão não foram obtidos os extras. Antes, em 1899, outra comissão havia submetido o médium a testes rigorosos e quatro chapas em oito “mostraram resultados que a comissão foi incapaz de explicar.” Depois de minucioso relato das precauções tomadas, conclui o relatório:
“Como comissão não temos uma teoria: apenas testemunhamos “aquilo que sabemos”. Individualmente discordamos quanto às causas prováveis, mas sem prevenção concordamos no que respeita aos fatos prováveis... Daremos vinte e cinco dólares a qualquer fotógrafo de Los Angeles que, por meio de truque ou de habilidade, produzir resultados semelhantes, em condições similares.”
(assinado)
Julian McCrae, P. C. Campbell,
I. W. Mackie, W. N. Slocum, John Henley.
David Duguid (nasceu em 1832 e morreu em 1907), conhecido médium de escrita automática e de pintura, foi beneficiado por uma cuidadosa investigação sobre as suas fotografias de Espíritos, por Mr. J. Traiu Taylor, redator do British Journal of Photography, o qual numa conferência lida perante a London and Provincial Photographic Association em 9 de março de 1893, descreveu as recentes pesquisas com esse médium. Diz ele:
“Minhas condições eram muito simples... Admitindo tratar com trapaceiros e para me guardar contra eles, exigi que fosse usada a minha própria máquina e caixas de chapas compradas em casas de confiança, não permitindo que tais chapas saíssem de minhas mãos enquanto não fossem reveladas, caso não resolvesse o contrário. Mas, assim como eu os tinha em suspeita, eles suspeitavam de mim. De modo que todos os atos que eu praticasse deviam sê-lo em presença de duas testemunhas, isto é, que eu devia marcar o tempo na minha própria máquina, obter, por assim dizer, uma duplicata com o mesmo foco – por outras palavras, usar uma binocular estereoscópica e ditar todas as condições da operação.”
Depois de entrar em detalhes quanto ao processo adotado, registra o aparecimento de figuras extras nas chapas e continua:
“Algumas estavam em foco, outras não; umas eram iluminadas pela direita, enquanto o assistente recebia a luz pela esquerda... algumas ocupavam a maior parte da chapa, quase que cobrindo o assistente material; outras eram como retratos em vinhetas horrorosas, ou em ovais como que cortados com um abridor de latas e pregadas por detrás do assistente. Mas aqui é que bate o ponto: nenhuma só dessas figuras que apareciam tão fortemente nos negativos era de qualquer modo visível para mim durante o tempo de exposição da máquina e eu declaro peremptoriamente que ninguém manipulou uma chapa antes que ela fosse posta no caixilho ou antes que fosse revelada. Do ponto de vista fotográfico eram de mau gosto. Mas como apareceram?”
Outros assistentes bem conhecidos descreveram resultados notáveis obtidos com Duguid.
Mr. Stainton Moses, na conclusão de seu valioso trabalho sobre a Fotografia de Espíritos, discute a teoria de que as formas extras fotografadas são moldadas de ectoplasma (ele fala de uma “substância fluídica”) pelos operadores invisíveis e faz importantes comparações entre os resultados obtidos por diferentes médiuns fotógrafos.
As “valiosas e conclusivas experiências” de Mr. John Beattie, segundo a expressão do Doutor Alfred Russel Wallace, só rapidamente serão tratadas. Mr. Beattie, de Clifton, Bristol, fotógrafo aposentado de vinte anos de atividade, teve dúvidas sobre a autenticidade de muitas fotografias de Espíritos que lhe foram mostradas, pelo que resolveu ele próprio examinar o assunto. Sem nenhum médium profissional, mas em presença de um amigo íntimo, que era um sensitivo de transe, ele e o seu amigo Doutor G. S. Thomson, de Edimburgo, realizaram uma série de experiências em 1872 e obtiveram, inicialmente, manchas nas chapas e, depois, completas figuras extras. Verificaram que esses extras e as manchas na chapa apareciam muito antes que o assistente material, durante a revelação – peculiaridade freqüentemente notada por outros experimentadores. A honestidade de Mr. Beattie é absolutamente endossada pelo redator do British Journal of Photography. Mr. Stainton Moses e outros dão detalhes das experiências acima referidas.
Em 1908 o Daily Man, de Londres, nomeou uma comissão para fazer “um inquérito sobre a autenticidade ou não das chamadas fotografias de Espíritos”, que não chegou a qualquer resultado. Era composta de três não espíritas – R. Child Bayley, F. J. Mortimer e E. Sanger-Shepsherd e três defensores da fotografia espírita – A. P. Sinnett, E. R. Serocold Skeels e Robert King.
No relatório destes três últimos contavam que apenas podem relatar que a comissão falhou na obtenção de provas de que é possível a fotografia espírita, não devido à falta de provas abundantes no particular, mas devido à atitude infeliz e nada prática tomada pelos outros membros da comissão, que não possuíam qualquer experiência do assunto”.
Detalhes sobre a Comissão podem ser encontrados em Light.
Nos últimos anos a história das fotografias de Espíritos concentrou-se muito em torno do que é conhecido por Crewe Cirde, agora constituído por Mr. William Hope e Mrs. Buxton, ambos de Crewe. O grupo se constituiu mais ou menos em 1905, mas só atraiu a atenção em 1908. Descrevendo suas primeiras experiências, Mr. Hope diz que, quando trabalhava numa fábrica perto de Manchester, num sábado à tarde fez uma fotografia de um operário, numa pose junto a um muro de tijolos. Quando a chapa foi revelada via-se, além do retrato de seu amigo, a forma de uma mulher ao seu lado, vendo-se o muro por transparência. O homem perguntou a Hope como tinha ele posto ali o outro retrato, no qual reconhecia uma irmã falecida havia alguns anos. Diz Mr. Hope:
“Então eu nada sabia a respeito de Espiritismo. Levamos a fotografia aos trabalhadores na segunda-feira, e um deles, espírita, disse que era o que se chamava uma fotografia de Espírito. Sugeriu que no sábado seguinte, no mesmo lugar e com a mesma máquina, tentássemos novamente. Concordamos. E não só a mesma senhora apareceu na chapa, mas uma criancinha com ela. Achei isto muito estranho, fiquei interessado e continuei as experiências.”
Durante muito tempo Hope destruía todas as chapas de Espíritos, até que o Arquidiácono Colley travou conhecimento com ele e o aconselhou a conservá-las.
O arquidiácono Colley fez a primeira sessão com o Crewe Circle em 16 de março de 1908. Trouxe a sua própria máquina – uma Lancaster de um quarto de chapa, que Mr. Hope ainda usa – seus caixilhos e suas chapas marcadas a diamante e revelou as chapas com seus próprios produtos químicos. A única coisa que Mr. Hope fez foi apertar o botão para a exposição. Numa das chapas apareceram dois Espíritos.
Desde esse dia Mr. Hope e Mrs. Buxton fizeram milhares de fotografias de Espíritos sob todos os testes imagináveis e se orgulham de poderem dizer que jamais ganharam um tostão por seus trabalhos; apenas cobravam o material usado e o seu tempo.
Mr. M. J. Vearncombe, fotógrafo profissional em Bridgewater, Somerset, teve a mesma perturbadora experiência de Wyllie, Boursnell e outros, ao descobrir inúmeras manchas luminosas nas suas chapas e, como aqueles, chegando a fazer fotografias de Espíritos. Em 1920 Mr. Fred Barlow, de Birmingham, conhecido investigador, obteve com esse médium rostos extras e mensagens escritas, em condições de testes, em chapas que não haviam sido expostas na máquina.
Desde essa data Mr. Vearn. Combe obteve muitos resultados probantes.
A mediunidade de Mrs. Deane é de data recente – sua primeira fotografia de Espírito data de junho de 1920. Foram obtidos muitos extras reconhecíveis em condições de testes e seu trabalho por vezes é igual aos melhores dos seus predecessores no gênero. Recentemente conseguiu ela dois magníficos resultados. O Doutor Allerton Cushman, conhecido cientista americano, Diretor dos National Laboratories, em Washington, fez uma visita inesperada ao British College of Psychic Science, em Holland Park, em julho de 1921, e obteve, através de Mrs. Deane, uma bela fotografia extra, reconhecida como de sua filha morta. Detalhes completos dessa sessão se acham com as fotografias, no Jornal da American Society for Psychical Research.
O outro grande resultado foi a 11 de novembro de 1922, por ocasião do Grande Silêncio, no Dia do Armistício, em Whitehall, quando uma fotografia foi tomada da multidão imensa em torno no Cenotáfio e na qual aparecem, visíveis, rostos de Espíritos, alguns dos quais foram reconhecidos. Isto se repetiu durante três anos.
As pesquisas modernas provaram que esses resultados psíquicos não são obtidos, pelo menos em alguns casos, através das lentes da máquina. Em muitas ocasiões, em condições de testes, esses retratos supra-normais têm sido conseguidos em caixas fechadas de placas fotográficas, mantidas nas mãos de um ou mais assistentes. Também quando tentada a experiência com mais de uma máquina, quando o extra aparece numa máquina, não aparece na outra. A teoria sustentada é de que a imagem é precipitada na placa fotográfica ou que uma tela psíquica é aplicada à chapa.
Talvez possa o autor dizer algumas palavras de sua experiência pessoal, que foi principalmente com o Crewe Circle e com Mrs. Deane. Neste último caso sempre houve resultados, mas em nenhum os extras foram reconhecidos. O autor está perfeitamente certo da força psíquica de Mrs. Deane, que foi magnificamente demonstrada durante uma longa série de experiências feitas por Mr. Warrick, sob todas as possíveis condições de teste e que são minuciosamente descritas em Psychic Science.
Entretanto a sua experiência pessoal nunca foi evidente e, atendo-se a ela, não se pode falar com segurança. Ele empregou as próprias chapas de Mrs. Deane e tem uma forte impressão de que os rostos podem ter sido precipitados nas chapas nos dias de preparação, quando ela as levava em pacotes. Ela tem a impressão de que facilitava assim os resultados obtidos; mas talvez se enganasse, pois o caso Cushman foi uma surpresa. Também há a consignar que uma vez ela foi vítima de um truque no Psychic College: seu pacote de chapas foi substituído por outro. Não obstante os extras foram obtidos. Bem que podia ser avisada, pois se abandonasse o método que lhe dá resultados, embora legítimos, seriam eles passíveis de ataque.
Já o caso é diferente com Mr. Hope. Nas várias oportunidades em que o autor experimentou com ele, fê-lo com as suas próprias chapas, previamente marcadas na câmara escura e manejadas e reveladas por ele próprio. Em quase todos os casos um extra foi conseguido; e esse extra – conquanto não tenha sido claramente reconhecido – certamente foi uma produção anormal. Mr. Hope suportou os costumeiros ataques da ignorância e da malícia, a que se acham expostos todos os médiuns, mas sempre deles saiu com a honra inatingida.
Uma referência deve ser feita aos notáveis resultados de Mr. Staveley Bulford, talentoso estudante de psiquismo, que produziu os melhores e mais autênticos retratos psíquicos.
Ninguém poderá olhar o seu livro de recortes e notar o gradual desenvolvimento de seus dons, desde as simples manchas de luz até os rostos perfeitos, sem ficar convencido da realidade do processo.
O assunto é ainda obscuro e toda a experiência pessoal do autor é no sentido de defender o ponto de vista de que num certo número de casos nada de externo foi realizado: o efeito é produzido por uma espécie de raio, que carrega a figura, penetra os sólidos, como a parede do caixilho, e a imprime na placa. A experiência já citada, na qual duas máquinas foram usadas simultaneamente, com o médium entre elas, parece conclusiva, de vez que mostra um resultado numa chapa e não na outra. O autor obteve resultados em chapas que jamais saíram do caixilho e tão bons quanto os das que haviam sido expostas à luz. É provável que se Hope jamais tivesse tirado a tampa da objetiva, por vezes os seus resultados teriam sido os mesmos.
Seja qual for a eventual explicação, a única hipótese que atualmente abarca os fatos é a de uma sábia e invisível Inteligência presidindo a operação e trabalhando à sua maneira, e que mostra diferentes resultados em grupos diferentes. Tão padronizados são os métodos de cada um que o autor é capaz de dizer, à primeira vista, qual o fotógrafo que fez a chapa que lhe apresentarem. Supondo que tal Inteligência tenha os poderes que lhe são atribuídos, podemos então ver imediatamente por que cada lei normal de fotografia é violada, por que sombras e luzes não mais concordam e, por fim, por que uma série de armadilhas são preparadas para a generalidade dos críticos convencionais. Também podemos entender por que, desde que a figura seja simplesmente constituída pela Inteligência e posta na chapa, encontramos resultados que são reproduções de velhos quadros e de fotografias, e porque também é possível que apareça o rosto de uma pessoa viva na chapa do mesmo modo que o de um Espírito desencarnado. Num exemplo, citado pelo Doutor Henslow, a reprodução de um raro escrito grego do Museu Britânico apareceu numa das chapas de Hope, com uma ligeira alteração no grego, o que provava que não era uma cópia.
Aqui, ao que parece, a Inteligência tinha notado a inscrição, tinha-a gravado na chapa, mas tinha feito um ligeiro lapso de memória na transcrição. Esta explicação tem o desconcertante corolário que o mero fato de termos o retrato psíquico de um amigo morto absolutamente não constitui prova de que o mesmo se ache presente. Somente quando o fato é confirmado independentemente numa sessão, antes ou depois, é que temos algo da natureza de prova.
Em suas experiências com Hope, o autor teve a impressão de lobrigar o processo pelo qual as fotografias objetivas são construídas – tanto que pôde ele arranjar uma série de dísticos que mostraram os vários estágios. O primeiro desses dísticos, – tomado com Mr. William Jeffrey, de Glasgow, como assistente, – mostra uma espécie de casulo de veios finos, um material como fita, que poderemos chamar de ectoplasma, desde que os vários plasmas ainda não foram subdivididos. É tão tênue quanto uma bolha de sabão e nada contém: isto poderia parecer o envoltório dentro do qual o processo é transportado, estando aí reunidas as forças, como se na cabine de um médium. No dístico seguinte vê-se que a face se formou dentro do casulo e que o casulo se abre debaixo do centro. São vistos vários estágios dessa abertura. Finalmente, a face aparece por fora, com o casulo festonado, para trás, e formando um arco sobre o rosto e um véu pendurado de ambos os lados. Esse véu é muito característico nas fotografias de Hope e quando falta em uma podemos sustentar que não houve presença objetiva e que é um puro efeito psicográfico. O véu ou mantilha, de várias formas, pode ser encontrado numa longa série de fotografias anteriores, e é especialmente observável numa tomada de um amador na Costa Ocidental Africana, onde o Espírito escuro tem densas dobras sobre a cabeça e no chão. Quando semelhantes resultados são alcançados em Crewe, ou em Lagos, é simples questão de bom senso convir que se trata de uma lei comum.
Apontando a prova do casulo psíquico, espera o autor haver dado uma pequena contribuição para uma melhor compreensão do mecanismo da fotografia psíquica. É um verdadeiro departamento da ciência psíquica, como verá qualquer investigador sério. Contudo não se pode negar que tenha sido transformado em objeto para patifarias, como não podemos garantir que, por serem genuínos alguns resultados conseguidos por médiuns, tenhamos que aceitar de olhos fechados tudo quanto nos mostrem, venha de onde vier.