segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Cap. 21 - Espiritismo Francês, Alemão e Italiano

O Espiritismo na França e nas raças latinas concentra-se em torno de Allan Kardec, que prefere o termo Espiritismo, e sua feição predominante é a crença na reencarnação.
O Senhor Hipolyte Leon Denizard Rivail, que adotou o pseudônimo de “Allan Kardec”, nasceu em Lyon em 1804, onde seu pai era juiz. Em 1850, quando as manifestações espíritas americanas chamavam a atenção da Europa, Allan Kardec investigou o assunto através da mediunidade de duas filhas de um amigo.
Nas comunicações obtidas foi informado de que “Espíritos de uma categoria muito mais elevada do que os que habitualmente se comunicavam através dos dois jovens médiuns, tinham vindo especialmente para ele, e queriam continuar a vir, a fim de lhe permitir desempenhar uma importante missão religiosa.
Ele controlou isto escrevendo uma série de perguntas relativas aos problemas humanos e, submetendo-as às supostas inteligências operantes, por meio de batidas e da escrita com a prancheta, recebeu respostas sobre as quais baseava o seu sistema de Espiritismo.
Depois de dois anos de comunicações verificou que suas idéias e convicções tinham mudado completamente. E disse:
“As instruções assim transmitidas constituem uma teoria inteiramente nova da vida humana, do dever e do destino, que se me afigura perfeitamente racional e coerente, admiravelmente lúcida e consoladora e intensamente interessante”. Veio-lhe a idéia de publicar o que havia recebido e, submetendo-a às inteligências comunicantes, foi-lhe dito que os ensinamentos lhe haviam sido dados expressamente para os transmitir ao mundo e que ele tinha uma missão que lhe fora confiada pela Providência. E lhe disseram que denominasse a obra “O Livro dos Espíritos”.
O livro assim produzido em 1856 teve um grande sucesso. Mais de vinte edições foram publicadas e a “Edição Revista” publicada em 1857, tornou-se o livro básico da filosofia espírita na França. Em 1861 publicou, “O Livro dos Médiuns”; em 1864, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, em 1865, “O Céu e o Inferno” e em 1868, “A Gênese”. Além destes, que são as suas obras principais, publicou pequenos tratados, sob os títulos de “O Que é o Espiritismo” e “O Espiritismo reduzido à sua Expressão mais Simples”.
Miss Anna Blackwell, que traduziu as obras de Allan Kardec para o inglês, assim o descreve:
“Pessoalmente Allan Kardec era de estatura média. Compleição forte, com uma cabeça grande, redonda, maciça, feições bem marcadas, olhos pardos, claros, mais se assemelhando a um alemão do que a um francês. Enérgico e perseverante, mas de temperamento calmo, cauteloso e não imaginoso até a frieza, incrédulo por natureza e por educação, pensador seguro e lógico, e eminentemente prático no pensamento e na ação. Era igualmente emancipado do misticismo e do entusiasmo... Grave, lento no falar, modesto nas maneiras, embora não lhe faltasse uma certa calma dignidade, resultante da seriedade e da segurança mental, que eram traços distintos de seu caráter. Nem provocava nem evitava a discussão mas nunca fazia voluntariamente observações sobre o assunto a que havia devotado toda a sua vida, recebia com afabilidade os inúmeros visitantes de toda a parte do mundo que vinham conversar com ele a respeito dos pontos de vista nos quais o reconheciam um expoente, respondendo às perguntas e objeções, explanando as dificuldades, e dando informações a todos os investigadores sérios, com os quais falava com liberdade e animação, de rosto ocasionalmente iluminado por um sorriso genial e agradável, conquanto tal fosse a sua habitual seriedade de conduta que nunca se lhe ouvia uma gargalhada. Entre as milhares de pessoas por quem era visitado, estavam inúmeras pessoas de alta posição social, literária, artística e científica. O Imperador Napoleão 3º, cujo interesse pelos fenômenos espíritas não era mistério para ninguém, procurou-o várias vezes e teve longas palestras com ele nas Tuileries, sobre a doutrina de “O Livro dos Espíritos.”
Fundou a Sociedade de Estudos Psicológicos que se reunia semanalmente em sua casa, para obter comunicações através da psicografia. Também criou a Revue Spirite, jornal mensal que ainda existe e que editou até 1869. Pouco antes traçou um plano de uma organização para continuar o seu trabalho. “A Sociedade para a Continuação dos trabalhos de Allan Kardec”, com poder para compra e venda, recebimento de dádivas e legados e para continuar a publicação da Revue Spirite. Depois de sua morte os planos foram fielmente prosseguidos.
Kardec achava que os vocábulos espiritual e espiritualista, como espiritualismo já possuíam uma significação definida. Assim os substituiu por espiritismo e espírita ou espiritista.
A filosofia espírita se distingue por sua crença em nosso progresso espiritual, que é realizado através de uma série de reencarnações.
“Devendo o Espírito passar por várias encarnações, resulta que todos nós temos tido várias existências e teremos ainda outras, mais ou menos aperfeiçoadas, na Terra ou em outros mundos.
“A encarnação dos Espíritos ocorre sempre na espécie humana. Seria erro pensar que a alma ou Espírito possa reencarnar no corpo de um animal.
“As várias existências corporais do Espírito são sempre progressivas e nunca retrógradas; mas a velocidade de progresso depende dos nossos esforços por atingirmos a perfeição.
“As qualidades da alma são as do Espírito em nós encarnado; assim, o homem de bem é encarnação de um bom Espírito, como o perverso a de um impuro.
“Tinha a alma a sua individualidade antes da encarnação e a conserva depois de separar-se do corpo.
“Voltando ao mundo dos Espíritos, a alma aí reencontra aqueles que conheceu na Terra e todas as suas anteriores existências se avivam em sua memória, com a lembrança de todo o bem e de todo o mal que haja feito.
“Encarnado, o Espírito se acha sob a influência da matéria; o homem que supera essa influência pela elevação e pela depuração de sua alma aproxima-se dos bons Espíritos, com os quais estará um dia. Aquele que se deixa empolgar pelas paixões inferiores e põe todas as alegrias na satisfação dos apetites grosseiros aproxima-se dos Espíritos impuros e dá preponderância à natureza animal.
“Os Espíritos encarnados habitam os vários globos do universo.”.
Kardec conduziu as suas investigações comunicando-se com Inteligências por meio de perguntas e respostas, assim obtendo o material para os seus livros. Muitas informações foram fornecidas a respeito da reencarnação. À pergunta “Para que fim reencarnam os Espíritos?” davam a seguinte resposta:
“É uma necessidade que lhes é imposta por Deus, como meio de atingir a perfeição. Para alguns é uma expiação; para outros, uma missão. A fim de atingir a perfeição, é-lhes necessário suportar todas as vicissitudes da vida corpórea. É a experiência adquirida pela expiação que constitui a sua utilidade. A encarnação tem ainda outra finalidade, qual a de preparar o Espírito para desempenhar a sua tarefa na obra da criação. Para tanto deve ele tomar um corpo físico, em harmonia com o estado do mundo físico para onde é enviado, e por meio do qual é capaz de realizar um trabalho especial, em conexão com aquele mundo, que lhe foi designado pela sabedoria divina. Assim, é ele levado a dar a sua contribuição para o progresso geral, ao mesmo tempo em que trabalha pelo seu adiantamento”.
Os espíritas ingleses não chegaram a uma conclusão no que se refere à reencarnação.
Alguns a aceitam, outros não. A atitude geral é que, como a doutrina não pode ser provada, o melhor seria excluí-la da política ativa do Espiritismo. Explanando essa atitude, Miss Anna Blackwell sugere que, sendo a mente continental mais receptiva de teorias, aceitou Allan Kardec, enquanto a mente inglesa, geralmente declina de considerar qualquer teoria enquanto não se tiver certificado dos fatos admitidos por tal.
Mr. Thomas Brevior (Shorter) um dos redatores de The Spiritual Magazine, resume o ponto de vista prevalecente dos espíritas ingleses de hoje. Escreve ele:
“Quando a Reencarnação assumir um aspecto mais científico, quando puder oferecer um demonstrável conjunto de fatos que admitam verificação como os do Moderno Espiritismo, merecerá ampla e cuidadosa discussão. Por enquanto, que os arquitetos da especulação se divirtam como quiserem, construindo castelos no ar. A vida é muito curta e há muito que fazer neste mundo atarefado, para que deixemos os vagares e as inclinações a fim de nos ocuparmos em demolir essas estruturas aéreas ou apontar os frágeis alicerces em que se assentam. É muito melhor trabalhar naqueles pontos em que concordamos, do que nos engalfinharmos sobre aqueles em que parece que divergimos tão desesperadamente.”
William Howitt, um dos pioneiros do Espiritismo na Inglaterra, é ainda mais enfático em sua condenação à reencarnação. Depois de citar Emma Harding Britten, na sua observação de que milhares do Outro Mundo protestam, através de distintos médiuns, que não têm conhecimento nem provas da reencarnação, diz:
“A coisa abala as raízes de toda a fé nas revelações do Espiritismo. Se formos levados a duvidar das comunicações espíritas sob o mais sério aspecto, sob as mais sérias afirmações, onde está o Espiritismo?
“... Se a reencarnação for uma verdade, lamentável e repelente como é, deve ter havido milhões de Espíritos que, ao entrarem no outro mundo, em vão terão procurado os seus parentes, os filhos, os amigos... Já teria chegado a nós esse sussurro de milhares, de dezenas de milhares de Espíritos comunicantes? Nunca. Podemos, portanto, só nesse campo, considerar falso o dogma da reencarnação como o inferno do qual ele brotou”.
Mr. Howitt, entretanto, em sua veemência, esquece que deve haver um limite antes que se realize a nova reencarnação, e que, também, no ato deve haver um elemento da vontade.
O Hon. Alexander Aksakof, num artigo muito interessante dá os nomes dos médiuns do grupo de Allan Kardec, com uma descrição deles. E também indica que a idéia da reencarnação era fortemente aprovada na França naquele tempo, como se pode ver do trabalho de M. Pezzani – “A Pluralidade das Existências”, bem como de outros. Escreve Aksakof:
“É claro que a propagação desta doutrina por Kardec foi matéria de forte predileção.
“De início a reencarnação não foi apresentada como objeto de estudo, mas como um dogma. Para o sustentar, recorreu com frequência a escritos de médiuns, que, como bem sabemos, facilmente se submetem à influência de idéias preconcebidas. E o Espiritismo as produziu em profusão. Enquanto que através de médiuns de efeitos físicos não só as comunicações são mais objetivas, mas sempre contrárias à doutrina da reencarnação. Kardec seguiu o rumo de sempre desprezar esse tipo de mediunidade, tomando como pretexto a sua inferioridade moral. Assim, o método experimental é, de modo geral, desconhecido no Espiritismo.
“Durante vinte anos ele não fez o menor progresso intrínseco e ficou em completa ignorância do Espiritismo anglo-americano. Os poucos médiuns franceses de fenômenos físicos que desenvolveram seus dons a despeito de Kardec, jamais foram mencionados na “Revue”; ficaram quase que desconhecidos dos Espíritas e apenas porque os seus guias não sustentavam a doutrina da reencarnação.”
Acrescenta Aksakof que as suas observações não afetam a questão da reencarnação no abstrato, mas apenas no que respeita à sua propagação sob os auspícios do Espiritismo.
Comentando o artigo de Aksakof, D. D. Home deu um impulso a uma fase da crença na reencarnação. Diz ele.
“Encontro muita gente que é reencarnacionista e tive o prazer de encontrar pelo menos doze que tinham sido Maria Antonieta, seis ou sete que tinham sido Mary, Rainha da Escócia; um bando, de Luiz e outros reis; cerca de vinte Alexandre, o Grande. Mas ainda não encontrei ninguém que tivesse sido um simples John Smith. E vos peço que, se o encontrardes, guardai-o como uma Curiosidade”
Miss Anna Blackwell resume o conteúdo dos principais livros de Kardec do seguinte modo:
“O Livro dos Espíritos” demonstra a existência e os atributos do Poder Causal, e a natureza das relações entre aquele Poder e o Universo, pondo-nos no caminho da Operação Divina.
“O Livro dos Médiuns” descreve os vários métodos de comunicação entre este mundo e o outro.
“O Céu e o Inferno” reivindica a justiça do Governo Divino, explicando a natureza do Mal, como fruto da ignorância e mostrando o processo pelo qual os homens tornar-se-ão iluminados e purificados.
“O Evangelho Segundo o Espiritismo” é um comentário dos preceitos morais de Cristo, com um exame de sua vida e uma comparação de seus incidentes com as atuais manifestações do poder do Espírito.
“A Gênese” mostra a concordância da Filosofia Espírita com as descobertas da Ciência Moderna e com o ponto de vista geral dos escritos mosaicos, conforme a explicação dos Espíritos.
“Essas obras”, diz ela, “são consideradas pela maioria dos Espíritas do Continente como constituindo a base da filosofia religiosa do futuro – uma filosofia em harmonia com o avanço das descobertas científicas nos vários outros ramos do conhecimento humano; promulgada pela falange de Espíritos iluminados que agiam sob a direção do próprio Cristo”.
De um modo geral, ao autor se afigura que o balanço das provas mostra que a reencarnação é um fato, mas não necessariamente universal. Quanto à ignorância dos nossos amigos espíritas sobre o assunto, concerne ao seu próprio futuro; e se não somos esclarecidos quanto ao nosso, é possível que eles sofram as mesmas limitações. Quando se apresenta a questão: “Onde estávamos nós antes do nosso nascimento?” temos uma resposta definitiva no sistema do lento desenvolvimento pela reencarnação, com longos intervalos de repouso espiritual; enquanto de outra maneira não temos resposta, embora tenhamos que admitir que é inconcebível que tenhamos nascido em tempo para a eternidade. Existência posterior parece postular existência anterior. Quanto à pergunta natural: “Por que, então, não nos recordamos de tais existências?” podemos indicar que tais lembranças poderiam complicar enormemente a vida presente e que tais existências bem podem formar um ciclo que se nos torna muito claro, quando pudermos ver completo o rosário de nossas vidas enfiadas numa personalidade.
A convergência de tantas linhas do pensamento teosófico e oriental para esta conclusão e a explicação que ela oferece na doutrina suplementar do Karma, de uma aparente injustiça de uma vida única, são argumentos em seu favor, como devem sê-lo, talvez, aqueles vagos reconhecimentos e lembranças, ocasionalmente muito definidos para serem explicados como impressões atávicas. Certas experiências de hipnotismo, das quais as mais famosas foram as do investigador francês Coronel De Rochas, parece que constituíram uma evidência segura, pois quando o sensitivo em transe era levado para o passado, em supostas reencarnações, as mais remotas eram mais difíceis de descrever, enquanto as mais próximas eram suspeitas de ser influenciadas pelo conhecimento normal do médium. Pelo menos pode admitir-se que onde uma tarefa especial deve ser concluída, ou onde alguma falta deve ser remediada, a possibilidade de reencarnação pode ser uma coisa bem-vinda para o Espírito a quem isto concerne.
Antes de voltar à história do Espiritismo Francês não se pode deixar de atentar para o esplêndido grupo de escritores que o exornam. Fora de Allan Kardec e do trabalho científico de pesquisas de Geley, Maxwell, Flammarion e Richet, houve puros espíritas, tais como Gabriel Delanne, Henri Regnault e Léon Denis, que deixaram pegadas. Especialmente o último teria sido considerado como um grande prosador francês, fosse qual fosse o seu tema.
Este trabalho, que se limita às grandes correntes da história psíquica, dificilmente comportaria referências a regatos e meandros de cada região do globo. Tais manifestações seriam, invariavelmente, repetições ou variantes daquilo que já foi descrito, e pode rapidamente ser verificado que o culto é católico, numa acepção larga, pois não há país em que ele não ocorra. Desde a Argentina até a Islândia, os mesmos resultados se têm espalhado da mesma maneira e devido às mesmas causas. Essa história exigiria, ela só, um volume. Algumas páginas especiais, entretanto, devem ser dedicadas à Alemanha.
Posto que moroso até seguir um movimento organizado, pois só em 1865 é que apareceu um jornal espírita – Psyche – e se estabeleceu no país, mais do que em qualquer outra parte, teve aí o Espiritismo uma tradição de especulação mística e de experiência mágica, que deveria ser considerada uma preparação para a revelação definitiva. Paracelsus, Cornelius Agripsa, van Helmont e Jacob Boehme se acham entre os pioneiros do Espiritismo, sentindo o seu caminho fora da matéria, embora vago o objetivo, que tivessem atingido. Algo mais definitivo foi alcançado por Mesmer, que realizou seu maior trabalho em Viena, no último quartel do século dezoito. Conquanto enganado quanto a algumas de suas inferências, foi ele quem deu o primeiro impulso para a dissociação entre alma e corpo, antes do atual modo de sentir da humanidade; e um natural de Strasbourg, M. de Puységur, levou seu trabalho um passo mais adiante, abrindo as maravilhas da clarividência. Jung Stilling e o Doutor Justinus Kerner são nomes para sempre ligados ao desenvolvimento do saber humano, através desse caminho nevoento. O atual anúncio das comunicações espíritas foi recebido com um misto de interesse e de cepticismo, e custou para que vozes autorizadas se erguessem em sua defesa. Finalmente o assunto foi trazido magnificamente ao tablado quando Slade fez a sua histórica visita em 1877. Depois de assistir e verificar as suas realizações, obteve em Leipzig o endosso de seis professores, que reconheciam o seu caráter de autenticidade. Foram eles Zöllner, Fechner e Scheibner, de Leipzig; Weber, de Gõttingen; Fichte, de Stuttgard e Ulrici, de Halle. Como esses testemunhos tinham sido reforçados por um depoimento de Bellachini, o maior mágico da Alemanha, de que não havia possibilidade de fraude, produziu-se um efeito considerável sobre a opinião pública, que foi engrossada pela subsequente adesão de dois russos eminentes. Aksakof, homem de Estado e o Professor Butlerof, da Universidade de São Petersburgo. Entretanto, parece que o culto não encontrou um terreno adequado nesse país da burocracia e do militarismo. Excetuado o nome de Carl Du Prel, nenhum outro se encontra associado com as mais altas fases do movimento.
O Barão Carl Du Prel, de Munich, começou a carreira de estudioso do misticismo e, em seu primeiro trabalho, não trata do Espiritismo, mas antes das forças latentes do homem, os fenômenos do sonho, do transe e do sono hipnótico. Em outro tratado, entretanto, “Um Problema para Mágicos”, faz um relato minucioso e raciocinado das etapas que o levaram à completa crença no Espiritismo. Nesse livro, enquanto admite que os filósofos e os homens de ciência não são os mais classificados para descobrir as fraudes, lembra ao leitor que Bosco, Houdini e Bellachini e outros hábeis ilusionistas declararam que os médiuns por eles examinados estavam acima de qualquer suspeita de impostura. Du Prel não estava contente, como muitos outros, de ter provas de segunda mão. Assim, fez um certo número de sessões com Eglinton e, mais tarde, com Eusápia Palladino. Deu especial atenção ao fenômeno da psicografia – escrita nas lousas, e assim se exprime:
“Uma coisa é clara – é que a psicografia deve ser aceita como de origem transcendente. Verificaremos:
Que é inadmissível a hipótese de lousas preparadas.
Que o lugar onde se encontra a escrita é inacessível às mãos do médium. Nalguns casos a dupla lousa é seguramente trancada e deixa internamente um pequeno espaço para um pedacinho de lápis.
Que a escrita é feita no momento.
Que o médium não está escrevendo.
Que a escrita deve ser feita no momento com um pedaço de lousa ou um lápis comum.
A escrita é feita por um ser inteligente, de vez que as respostas são exatamente concordes com as perguntas.
Esse ser pode ler, escrever e entender a linguagem dos seres humanos, frequentemente uma língua desconhecida do médium.
Ele se parece muito com um ser humano, tanto no grau de inteligência quanto nos enganos que comete. Assim, esses seres são, embora invisíveis, de natureza ou espécie humana. É inútil lutar contra essa proposição.
Se se lhes pergunta quem são, respondem que são seres que deixaram este mundo.
Quando essas aparências se tornam visíveis parcialmente – talvez apenas as mãos – estas têm forma humana.
Quando se tornam inteiramente visíveis mostram a forma e a atitude humanas.
... O Espiritismo deve ser investigado como uma ciência. Eu me consideraria um covarde se não exprimisse abertamente as minhas convicções.”
Du Prel chama a atenção para o fato de que as suas convicções não se baseiam em resultados conseguidos com médiuns profissionais. Declara que conhece três médiuns particulares “em cuja presença não só se verifica a escrita direta no lado interno de duas lousas, mas que é feita em lugares inacessíveis.”
“Nessas circunstâncias – diz ele duramente –, a pergunta ‘Médium ou Mágico?’ ao que me parece, levanta mais poeira do que deve”. Isto é uma observação que os pesquisadores psíquicos deviam saber de cor.
É interessante notar que Du Prel proclama a asserção que as mensagens são estúpidas e triviais apenas para serem inteiramente injustificadas pela experiência, quando ao mesmo tempo afirma que não encontrou traços de inteligência sobre-humana, mas, naturalmente, antes de se pronunciar sobre esse ponto fora preciso determinar como uma inteligência sobre-humana poderia ser distinguida e até onde seria compreendida pelo nosso cérebro. Falando das materializações, diz ele:
“Quando essas coisas se tornam inteiramente visíveis na sala escura, caso em que o médium se senta no meio do círculo formado pelos assistentes, mostram a forma e a atitude humanos. Diz-se muito facilmente que neste caso é o próprio médium que se disfarça. Mas quando o médium fala de seu lugar; quando os vizinhos que o ladeiam declaram que seguraram as suas mãos e ao mesmo tempo eu vejo a figura de pé junto a mim, quando essa figura ilumina o seu rosto na lâmpada de vácuo que se acha sobre a mesa e cuja luz não é obstáculo aos fenômenos, de modo que eu posso ver distintamente, então a prova coletiva dos fatos que descrevi me impõe a necessidade da existência de um ser transcendente, ainda quando todas as conclusões a que cheguei durante vinte anos de trabalho e estudo tenham que ser derrubadas. Mas, por outro lado, desde que meus pontos de vista, fixados na minha Filosofia do Misticismo, tomaram um outro rumo, e são justificados por estas experiências, encontro pouca base subjetiva para combater estes fatos objetivos!”
E acrescenta:
“Tenho agora a experiência empírica da existência desses seres transcendentes, da qual estou convencido pela evidência de meus sentidos da vista, do ouvido, do tato, tão bem quanto de suas próprias comunicações inteligentes. Em tais circunstâncias, levado ao mesmo desfecho por dois métodos diversos de investigação, eu devo ser abandonado pelos deuses se não reconhecer o fato da imortalidade – ou, melhor dito, desde que as provas não vão mais longe –, a continuidade da existência após a morte.”
Carl Du Prel faleceu em 1899. Sua contribuição para o assunto é, talvez, a maior oferecida na Alemanha. Por outro lado, lá surgiu um formidável adversário – Eduard Von Hartmann, autor da “Filosofia do Inconsciente, que em 1885 escreveu uma brochura chamada “Espiritismo”. Comentando-a, escreveu C. C. Massey:
“Agora, pela primeira vez, um homem de eminente posição intelectual se nos defronta como adversário. Deu-se ele ao trabalho de considerar os fatos, senão inteiramente, ao menos na medida em que inquestionavelmente ele se qualifica para um exame crítico. E se, declinando formalmente de uma aceitação sem reserva, da evidência dos fatos, chegou à conclusão que a existência no organismo humano de mais forças e capacidade do que a ciência exata investiga, é suficientemente acreditada pelos testemunhos históricos e contemporâneos. Também insiste pela pesquisa feita por comissões nomeadas e pagas pelo Estado. Repudia, com toda a autoridade de um filósofo e como homem de ciência, a suposição de que a priori os fatos são incríveis ou “contrários às leis da natureza”. Expõe a inaceitabilidade das “denúncias” e dá um golpe de misericórdia no estúpido paralelo entre médiuns e mágicos. E se sua aplicação do sonambulismo aos fenômenos, no seu ponto de vista, serve de controle dos Espíritos, por outro lado contém informações para o público que são de grande importância para a proteção dos médiuns.”
Diz ainda Massey que do ponto de vista da filosofia de Hartmann a ação dos Espíritos é inadmissível e a imortalidade pessoal é uma ilusão.
“A saída da filosofia psicológica agora se acha entre a sua escola e a de Du Prel e Hellenbach”.
Alexandre Aksakof respondeu a Von Hartmann na revista mensal Psychische Studien.
Aksakof mostra que Hartmann não tinha nenhuma experiência, que prestou insuficiente atenção aos fenômenos que não se adaptavam ao seu modo de interpretar e que havia muitos fenômenos que lhe eram quase desconhecidos.
Por exemplo, Hartmann não acreditou na objetividade dos fenômenos de materialização.
Com muita habilidade Aksakof cita com muitos detalhes bom número de casos que, decididamente, infirmam as conclusões de Hartmann.
Refere-se Aksakof ao Barão Lazar Hellenbach, que era espírita e foi o primeiro investigador filosófico dos fenômenos na Alemanha e diz: “A afirmação de Zöllner da realidade dos fenômenos mediúnicos produziu enorme sensação na Alemanha”. De vários modos parecia que Von Hartmann tivesse escrito com um imperfeito conhecimento do assunto.
A Alemanha produziu poucos grandes médiuns, a menos que Frau Anna Rothe, seja como tal classificada. É possível que ela tivesse recorrido à fraude, quando lhe faleciam as forças, mas que ela possuía tais forças em alto grau é claramente mostrado pelas provas no processo consequente à sua suposta “fraude” em 1902.
Depois de doze meses e três semanas de prisão antes de ser levada ao tribunal, a médium foi condenada a oito meses de prisão e a uma multa de quinhentos marcos. No processo muita gente de posição depôs em seu favor; entre estas pessoas se achavam Herr Stõcker, antigo Capelão da Corte, e o Juiz Sulzers, presidente da Suprema Corte de Apelação de Zürich. Sob juramento o juiz declarou que Frau Rothe o havia posto em comunicação com os Espíritos de sua esposa e de seu pai que disseram coisas que à médium era impossível ter inventado, porque diziam com assunto desconhecido de qualquer mortal. Também declarou que tinham sido trazidas flores de rara qualidade para um salão inundado de luz. Seu depoimento causou sensação.
É claro que o resultado do processo era uma conclusão prévia. Foi uma repetição da atitude do juiz Howers, no caso Slade. O procurador alemão começou assim o seu discurso:
“A Corte não se permite criticar a teoria espírita, porque deve ser reconhecido que a ciência, com a genialidade dos homens de cultura, declara que são impossíveis as manifestações sobrenaturais.”
Diante disso nenhuma prova teria valor.
Em data recente dois nomes sobressaem em conexão com a matéria em apreço. É um o Doutor Schrenck Notzing, de Munique, cujo esplêndido trabalho de laboratório já foi tratado no capítulo sobre o ectoplasma. O outro é o famoso Doutor Hans Driesch, Professor de Filosofia na Universidade de Leipzig. Recentemente ele declarou que “a atualidade dos fenômenos psíquicos só é posta em dúvida pelo incorrigível dogmatismo”. Fez essa declaração numa conferência na Universidade de Londres, em 1924, a qual foi posteriormente publicada em The Quest.
Prosseguindo disse:
“Esses fenômenos tiveram, entretanto, uma luta árdua a fim de serem reconhecidos. E a principal razão por que tiveram de lutar tão arduamente foi porque foram redondamente negados pela psicologia ortodoxa e pela ciência cultural, tais quais eram estas pelo menos até o fim do século passado.”
Diz o Professor Driesch que a ciência natural e a psicologia sofreram uma radical mudança desde o começo deste século e continua mostrando como os fenômenos psíquicos se ligam com as ciências naturais “normais”. Observa que se estas últimas se recusam a reconhecer a sua relação com aquelas, isto nada afeta os fenômenos psíquicos. Mostra, através de diversas ilustrações biológicas, como a teoria mecanicista foi derrubada. Expõe a sua teoria vitalista “para estabelecer um mais íntimo contacto entre os fenômenos da biologia normal e os fenômenos físicos no domínio da pesquisa psíquica”.
Sob determinados pontos a Itália foi superior a outros países europeus no tratamento do Espiritismo – isto a despeito da constante oposição da Igreja Católica Romana, que sem muita lógica estigmatizou como diabolismo os casos que não receberam a marca especial de santidade. Os Acta Sanctorum constituem uma longa crônica de fenômenos psíquicos com levitações, transportes, profecias, e todos os outros sinais de mediunidade. Entretanto essa Igreja sempre perseguiu o Espiritismo. Poderosa como é, verificará, a seu tempo, que enfrentou algo ainda mais forte que ela.
Dos modernos italianos o grande Mazzini foi um espírita, naqueles dias em que o Espiritismo mal se esboçava e seu companheiro Garibaldi foi presidente de uma sociedade psíquica. Em carta a um amigo em 1849, Mazzini esboça o seu sistema filosófico-religioso, que curiosamente ampara o mais recente ponto de vista espírita. Ele substitui por um purgatório temporário o inferno eterno, que passa a ser uma triagem entre este mundo e o outro, definiu uma hierarquia de seres espirituais, e anteviu um progresso contínuo para a suprema perfeição.
A Itália foi rica em médiuns, mas foi ainda mais afortunada com a posse de homens de ciência bastante sábios para acompanhar os fatos, onde quer que eles conduzissem. Entre estes numerosos investigadores – todos eles convictos da realidade dos fenômenos psíquicos, muito embora não se possa dizer que todos aceitassem o ponto de vista do Espiritismo – encontram-se nomes como Ermacora, Schiaparelli, Lombroso, Bozzano, Morselli, Chiaia, Pictet, Foa, Porro, Brofferio, Bottazzi e muitos outros. Eles tiveram a vantagem de um maravilhoso sensitivo em Eusápia Palladino, como já foi descrito, mas houve uma série de outros médiuns poderosos, entre cujos nomes se podem citar Politi, Caranci, Zuccarini, Lucia Sordi, e especialmente Linda Gazzera. Entretanto, aqui, como em outros campos, o primeiro impulso veio de países de língua inglesa. Foi a visita de D. D. Home a Florença, em 1855 e a subsequente visita de Mrs. Gupsy em 1868 que abriu caminho. O Senhor Damiani foi o primeiro grande investigador e foi ele quem, em 1872, descobriu os dons da Palladino.
O manto de Damiani caiu nos ombros do Doutor G. B. Ermacora, que foi o fundador e co-editor, com o Doutor Finzi, da Rivista di Studi Psichici. Morreu em Rovigo aos quarenta anos de idade, assassinado – uma grande perda para a causa. Sua adesão e o seu entusiasmo provocaram os de outros do mesmo porte. Assim, em seu necrológio, escreve Porro:
“Lombroso encontrou-se em Milão com três jovens físicos, inteiramente libertos de preconceitos – Ermacora, Finzi e Gerosa – com dois pensadores profundos, que havia esgotado o lado filosófico da questão – o alemão Du Prel e o russo Aksakof – e com um outro filósofo de mente penetrante e de vasto saber, Brofferio; e, finalmente, com o grande astrônomo Schiaparelli e com o fisiologista Richet.”
E acrescenta:
“Seria difícil reunir um melhor grupo de homens de ciência, que oferecesse as necessárias garantias de seriedade, de variada competência, de habilidade técnica na experimentação, de sagacidade e prudência no desfecho das conclusões.”
E continua:
“Enquanto Brofferio, com o seu livro de peso “Per lo Spiritismo”, (Milão, 1892) destrói um a um os argumentos dos opositores, coligindo, coordenando, e classificando com incomparável habilidade dialética as provas em favor de sua tese, Ermacora aplicou na sua demonstração todos os recursos de cérebro robusto e treinado no emprego do método experimental; e sentiu tanto prazer nesse estudo fértil e novo, que abandonou inteiramente as pesquisas sobre eletricidade, que já o tinham colocado entre os sucessores de Faraday e de Maxwell.”
O Doutor Ercole Chiaia, que faleceu em 1905, era também um devotado trabalhador e propagandista, a quem muitos homens notáveis da Europa devem seus primeiros conhecimentos sobre fenômenos psíquicos. Entre outros citam-se Lombroso. o Professor Bianchi, da Universidade de Nápoles, Schiaparelli, Fournoy, o Professor Porro, da Universidade de Gênova e o Coronel De Rochas. Dele escreveu Lombroso:
“Tendes razão para venerar profundamente a memória de Ercole Chiaia. Num país onde há tamanho horror ao que é novo, é necessária uma grande coragem e uma nobre alma para se tornar apóstolo de uma teoria que defronta o ridículo; e o fazer com aquela tenacidade, aquela energia que sempre caracterizaram Chiaia. É a ele que muitos devem – inclusive eu – o privilégio de ver um mundo novo, aberto à investigação psíquica – e isto pelo único meio que existe para convencer homens de cultura, isto é, pela observação direta.”
Sardou, Richet e Morselli renderam tributo ao trabalho de Chiaia.
Chiaia fez um importante trabalho orientando Lombroso, o eminente alienista, na investigação do assunto. Depois de suas primeiras experiências com Eusápia Palladino, em março de 1891, escreveu Lombroso:
“Sinto-me bastante envergonhado e pesaroso por me haver oposto com tanta tenacidade à possibilidade dos chamados fatos espíritas.”
Inicialmente apenas aceitava os fatos e se opunha à teoria a eles associada. Mas. já essa aceitação parcial causou sensação na Itália e em todo o mundo. Aksakof escreveu ao Doutor Chiaia:
“Glória a Lombroso por suas nobres palavras! Glória a você, por sua dedicação!”
Lombroso oferece um bom exemplo de conversão de um materialista decidido, depois de longo e cuidadoso exame dos fatos. Em 1900 escreveu ele ao Professor Falcomer:
“Sou como um pequeno seixo na praia. Ainda estou a descoberto; mas sinto que cada maré me arrasta para mais perto do mar.
Como se sabe, ele acabou se tornando um crente completo, um espírita convicto e publicou um livro célebre “Morte... E depois? “.
Ernesto Bozzano, nascido em Gênova em 1862, devotou trinta anos a pesquisas psíquicas, reunindo as suas conclusões em trinta extensas monografias. Será lembrado por sua crítica incisiva as referências inconscientes de Mr. Podmore a Mr. Stainton Moses. Seu título é “Uma Defesa de William Stainton Moses”. Bozzano, em companhia dos Professores Morselli e Porro, fez uma longa série de experiências com Eusápia Palladino. Depois de analisar os fenômenos objetivos e subjetivos, foi conduzido à “necessidade lógica” de aderir completamente à hipótese espírita.
Enrico Morselli, Professor de Psiquiatria em Gênova, foi durante muitos anos, como ele próprio o confessa, um duro céptico em relação à realidade objetiva dos fenômenos psíquicos. De 1901 em diante fez trinta sessões com Eusápia Palladino, e ficou inteiramente convencido dos fatos, senão da teoria espírita. Publicou as suas observações num livro que o Professor Richet descreve como um modelo de erudição” – “Psicologia e Spiritismo”, Turim, 1908. Numa análise muito generosa deste livro, Lombroso se refere ao cepticismo do autor, em relação a certos fenômenos observados.
Diz ele:
“Sim, Morselli comete o mesmo erro de Flournoy e de Miss Smith, torturando a sua própria e enorme ingenuidade para achar que não são verdades, nem críveis, coisas que ele mesmo declara ter visto. Por exemplo, durante os primeiros dias depois da aparição de sua própria mãe, admitia comigo que a tinha visto e tivera um entendimento por gestos com ela, nos quais ela apontava quase que com amargura para os seus óculos e a sua calva parcial e lhe lembrou como o havia deixado ainda um belo rapaz.”
Quando Morselli pediu à sua mãe uma prova de identidade, ela tocou com a mão em sua testa procurando um caroço; mas como tocasse primeiro no lado direito e depois no lado esquerdo, onde realmente estava o lobinho, Morselli não queria aceitar isto como prova da presença de sua mãe. Com mais experiência, Lombroso lhe mostra a dificuldade dos Espíritos em usar a instrumentalidade de um médium pela primeira vez. A verdade é que Morselli tinha, por estranho que pareça, a maior repugnância pelo aparecimento de sua mãe através de uma médium contra a sua vontade. Lombroso não pode compreender este sentimento. E diz:
“Confesso que não só não concordo, mas que, ao contrário, quando novamente vi minha mãe, senti uma das mais agradáveis sensações íntimas de minha vida, um prazer que era quase um espasmo, que despertou uma sensação, não de ressentimento, mas de gratidão à médium que novamente lançou minha mãe em meus braços depois de tantos anos. E esse acontecimento me fez esquecer não uma vez, mas muitas vezes, a humilde postura de Eusápia, que tinha feito para mim, ainda que de maneira puramente automática, aquilo que nenhum gigante em força ou em pensamento jamais teria podido fazer.”
Em muitas coisas a posição de Morselli é a mesma do Professor Richet, no que diz respeito à pesquisa psíquica, mas como este último distinto cientista, tem sido ele o instrumento de influenciação da opinião pública para um maior esclarecimento do assunto.
Morselli fala com veemência do desprezo da ciência. Em 1907 escreve o seguinte:
“A questão do Espiritismo foi discutida por mais de cinquenta anos; e, conquanto atualmente ninguém possa prever quando ela será resolvida, agora todos concordam em lhe conceder grande importância entre os problemas que ficaram como uma herança do século dezenove ao nosso século. Entretanto ninguém pode deixar de reconhecer que o Espiritismo é uma forte corrente ou tendência do pensamento contemporâneo. Se, durante muitos anos, a ciência acadêmica desprezou o conjunto dos fatos que, por bem ou por mal, certo ou errado, o Espiritismo absorveu e assimilou, considerando-os elementos formadores de seu sistema doutrinário, tanto pior para a ciência! E pior ainda para os cientistas que ficaram surdos e mudos diante de todas as afirmações, não de sectários crédulos, mas de sérios e dignos observadores como Crookes, Lodge e Richet. Não me envergonho de dizer que eu mesmo, até onde minhas modestas forças chegavam, contribui para esse obstinado cepticismo, até o dia em que fui capaz de romper as cadeias nas quais as minhas percepções absolutistas tinham acorrentado o meu raciocínio.”
É de notar-se que a maioria dos professores italianos, enquanto aderiam aos fatos psíquicos, declinavam das conclusões daqueles a quem chamavam de espíritas. Di Vesme bem o esclarece quando diz:
“É mais importante salientar que a revivescência do interesse por estas questões, que foi exibido pelo público italiano, não se teria produzido tão facilmente se os homens de ciência que proclamaram a objetividade e a autenticidade desses fenômenos mediúnicos não tivessem tido o cuidado de acrescentar que o reconhecimento dos fatos de modo algum implicava a aceitação da hipótese espírita.”
Houve, entretanto, uma forte minoria que viu o inteiro significado da revelação.

domingo, 23 de agosto de 2009

Cap. 20 - Vozes Mediúnicas e Moldagens

É impossível dedicar capítulos separados a cada forma de força psíquica, pois o resultado exorbitaria dos limites desta obra. Mas os fenômenos de produção de vozes, bem como os de moldagens, são tão claros e evidentes que não será supérfluo um relato mais desenvolvido.

Milhares de pessoas tornam-se eco daquelas palavras de Job: “eu ouvi uma voz”, significando uma voz que não vinha de alguém que vivesse na Terra. E o disse com segura convicção, depois de uma série de testes. A narrativa bíblica é farta em exemplos desse fenômeno e as constatações psíquicas dos tempos modernos mostram que aqui, como em outras manifestações supra-normais, o que aconteceu na aurora do mundo acontece ainda.

Os exemplos históricos de mensagens faladas são os de Sócrates e de Joana D’Arc, embora não seja claro que em ambos os casos as vozes tivessem sido audíveis para os outros.

É à luz do inteiro conhecimento que chegamos a concluir, com alguma probabilidade, que as vozes ouvidas eram do mesmo caráter supranormal daquelas com que hoje estamos familiarizados.

Mr. F. W. H. Myers faz-nos pensar que o Demônio de Sócrates era “um mais profundo extrato do próprio sábio”, a comunicar-se com “o extrato superficial e consciente”. E do mesmo modo explicaria as vozes que vieram a Joana. Falando assim, entretanto, ele nada explica.

Que devemos pensar da história de que as estátuas antigas falavam? O ilustre autor anônimo, – que se supõe tenha sido o Doutor Leornard Marsh, da Universidade de Vermont, – daquele curioso livro “Apocatastasis”, ou “Progresso Regressivo”, cita as seguintes palavras de Nonnus:

“No que respeita a essa estátua (de Apolo), onde se achava, e como ela falava, eu nada disse. Deve-se, entretanto, entender que havia uma estátua em Delfos, que emitia uma voz inarticulada. Porque deveis saber que os Espíritos falam, com vozes inarticuladas, de vez que não possuem órgãos pelos quais possam falar articuladamente”.

Assim o comenta o Doutor Marsh:

“Parece que o autor não estava bem informado relativamente ao poder de falar dos Espíritos, desde que toda a história antiga declara que muitas vezes a sua voz era ouvida no ar, falando articuladamente e repetindo as mesmas palavras em diversos lugares; e essa voz era chamada, e universalmente conhecida, pelo nome de “Vox Divina”.

E prossegue dizendo que com a mencionada estátua o Espírito evidentemente estaria experimentando com o grosseiro material de que era feita – provavelmente de pedra – a ver se poderia produzir sons articulados, mas não o conseguia, pois que a estátua “não possuía laringe ou outros órgãos da voz, como os modernos médiuns”. Em seu livro o Doutor Marsh procura demonstrar que então (1854) os fenômenos espíritas eram crus e imaturos, em comparação com as manifestações espíritas da antigüidade. Os antigos, diz ele, falavam disso como de uma ciência, e declaravam que os conhecimentos obtidos por seu intermédio eram exatos e controláveis “a despeito de todos os demônios fraudulentos”. Garantindo que o sacerdote era um médium de vozes, facilmente se explicam os oráculos falantes.

É digno de nota que a Voz, que foi uma das primeiras formas de mediunidade associada ao moderno Espiritismo, é ainda preeminente, ao passo que outros aspectos da mediunidade inicial se tenham tornado raros.

Mas como há um bom número de investigadores competentes que consideram o fenômeno da voz entre as mais convincentes das manifestações psíquicas, lancemos um olhar sobre o que há a respeito.

Jonathan Koons, fazendeiro em Ohio, parece ter sido o primeiro dos modernos médiuns com quem isto se verificou. Na choupana já mencionada, chamada a sua “Casa do Espírito” teve ele em 1852, e durante muitos anos, uma porção de fenômenos surpreendentes, entre os quais havia vozes de Espíritos, que falavam através de um pequeno megafone ou trombeta. Mr. Charles Partridge, conhecido homem público, que foi um dos investigadores dos primeiros dias, assim descreve como ouviu o Espírito conhecido como John King, falando numa sessão em casa de Koon, em 1855:

“Ao terminar a sessão, como de costume, o Espírito de John King tomou da trombeta e fez uma pequena palestra através dela – falando clara e distintamente – mostrando o benefício que se colheria no tempo e na eternidade, da conversa com os Espíritos, e nos exortando a sermos discretos e firmes no falar, aplicados em nossas investigações, fiéis às responsabilidades que tais privilégios impunham, caridosos para com os que estão no erro e na ignorância, temperando o nosso zelo com a sabedoria, etc.”

O Professor Mapes, conhecido químico americano, disse que em presença dos Davenport havia conversado durante meia hora com John King, cuja voz era alta e distinta. Mr. Robert Cooper, um dos biógrafos dos Irmãos Davenport, ouviu muitas vezes a voz de John King à luz do dia, e à luz da lua, quando passeando pela rua com os Davenport.

Atualmente chegamos a formar uma idéia de como tais vozes se produzem nas sessões.

Aliás esse conhecimento foi corroborado pelas comunicações recebidas dos próprios Espíritos.

Parece que o ectoplasma procedente do médium, mas também, em menor proporção, dos assistentes, é usado pelos Espíritos operadores na moldagem de uma espécie de laringe humana. E a utilizam para a produção da voz.

Na explicação dada aos Koons pelos Espíritos, estes falavam do emprego combinado de elementos do corpo espiritual, e o que corresponde ao nosso atual ectoplasma, “uma aura física que emana do médium”. Compare-se isto com a explicação dada através de Mis. Bassett, a conhecida inglesa médium de vozes, aos setenta anos: “Dizem eles que tomam as emanações do médium e de outros membros da assistência, com o que fazem um aparelho para falar e que o empregam”.

Mrs. Mary Marshall, falecida em 1875, e que foi a primeira dos médiuns públicos ingleses, era canal para vozes vindas de John King e outros. Em 1809, em Londres, Mr. W. Harrisson, redator de The Spiritualist, fez exaustivos ensaios com ela. Como os espíritas eram tidos como gente facilmente impressionável, é interessante notar a sua cuidadosa investigação. Falando de Mrs. Mary Marshall, diz ele:

“Mesas e cadeiras moviam-se à luz do dia e por vezes se erguiam do chão, enquanto que nas sessões às escuras ouviam-se vozes e viam-se manifestações luminosas. Todas estas coisas pareciam vir dos Espíritos. Então resolvi ser um visitante constante das sessões e permanecer no trabalho até verificar se as asserções eram verdadeiras ou descobrir a impostura com bastante precisão e segurança para o denunciar em presença de testemunhas e poder publicar os fatos com desenhos completos dos aparelhos usados.

“A voz de John King é inspirada por uma inteligência, ao que parece, inteiramente diferente da maneira da de Mr. e Mrs. Marshall. Entretanto, admiti que Mr. Marshall produziu a voz e, assistindo a algumas sessões, verifiquei que era comum que Mr. Marshall e John King falassem ao mesmo tempo. Assim, fui obrigado a abandonar a minha teoria.

“Então admiti que era Mrs. Marshall quem falava, até que uma noite fiquei junto a ela; ela estava à minha direita e eu lhe segurava a mão e o braço e John King veio e falou ao meu ouvido esquerdo, quando Mrs. Marshall estava absolutamente imóvel. Assim se foi minha nova teoria.

“Diante disso admiti que um parceiro entre os visitantes do grupo fazia a voz de John King. De modo que fiz uma sessão apenas com Mr. Marshall e sua senhora. John compareceu e falou durante uma hora.

“Por fim estabeleci que um parceiro escondido produzia a voz. Então fiz duas sessões nas quais Mrs. Marshall se achava entre estranhos, numa casa estranha, e novamente John King estava mais vivo do que nunca. Finalmente na noite de quinta-feira, 30 de dezembro de 1869, John King veio e falou a onze pessoas, no grupo de Mrs. C. Berry, na ausência de Mr. Marshall e de sua senhora, sendo médium Mrs. Perzin”.

Enquanto Mr. Harrison se satisfez, desse modo, de que nenhuma criatura humana presente produzia as vozes, não mencionou – o que era o caso – que as vozes freqüentemente davam provas de identidade tais que nem o médium nem um comparsa poderiam ter dado.

O senhor Damiani, conhecido investigador, em sua prova perante a Sociedade Dialética de Londres declarou que as vozes lhe tinham falado em presença de médiuns não estipendiados, depois haviam conversado com ele em sessões particulares com Mrs. Marshall e aí “haviam demonstrado as mesmas peculiaridades quanto ao tom, a expressão, o andamento, o volume, a pronúncia, que nas vezes anteriores”. Essas vozes lhe falavam sobre assuntos de natureza tão particular que ninguém, além dele, podia ter conhecimento. Por vezes também predisseram acontecimentos que se verificaram em tempo certo.

É natural que aqueles que tiveram contacto pela primeira vez com o fenômeno das vozes deveriam suspeitar de ventriloquia, como uma possível explicação. D. D. Home, com quem essas vozes ocorriam tantas vezes, tinha cuidado ao encontrar essa objeção. Descrevendo a sessão quando Home o visitou em Cupar, em Fife, em 1870, assim escreve o General Boldero:

“Então as vozes foram ouvidas, falando simultaneamente na sala duas pessoas diversas, a julgar pela entonação. Não nos foi possível guardar as palavras proferidas, desde que Home persistia em falar conosco todo o tempo. Reclamamos contra a sua conversa, mas ele replicou: “Falo de propósito, para que possa convencer-se de que as vozes não são devidas a qualquer ventriloquia de minha parte, desde que isto é impossível quando alguém está falando com a sua voz natural”. A voz de Home era muito diferente das que se ouviam no ar.

O autor pode corroborar isto com a sua experiência pessoal, pois muitas vezes ouviu vozes falando ao mesmo tempo. Há exemplos no capítulo sobre os grandes médiuns modernos.

O almirante Usborne Moore dá o testemunho de ter ouvido simultaneamente, com Mrs. Wriedt, de Detroit, as vozes de três ou quatro Espíritos. Em seu livro “The Voices”, de 1913, cita o testemunho da conhecida escritora Miss Edith K. Harper, antes secretária particular de Mr. W. T. Stead. Escreve ela:

“Depois de examinar um relato de cerca de duzentas sessões com Mrs. Etta Wriedt, durante as suas três visitas à Inglaterra, cujas notas de sessões gerais bastariam para encher um grosso volume se fossem escritas in extenso, procurarei relatar, resumidamente, algumas das mais notáveis experiências que eu e minha mãe tivemos o privilégio de assistir pela mediunidade de Mrs. Wriedt. Examinando as minhas notas de sua primeira visita em 1911, sobressaem os seguintes detalhes entre os principais aspectos das sessões:

1. Jamais Mrs. Wriedt caia em transe; conversava livremente com os assistentes; nós a ouvíamos falar também, até mesmo argumentando com Espíritos, com cujas opiniões não concordava. Lembro-me de uma vez em que Mr. Stend sacudia-se em gargalhadas, ao ouvir a reprimenda de Mrs. Wriedt ao editor do Progressive Thinker por sua atitude contra os médiuns e da evidente confusão de Mr. Francis que, depois de uma tentativa de explicação, derrubou a trombeta e retirou-se aborrecido.

2. Duas, três e até quatro vozes de Espíritos falando simultaneamente a diversos assistentes.

3. Mensagens dadas em língua estranha – francês, alemão, italiano, espanhol, norueguês, holandês, árabe e outras, com as quais a médium não estava familiarizada. Uma senhora norueguesa, muito conhecida no mundo das letras e da política, foi abordada em norueguês, por uma voz masculina, dizendo-se seu irmão e dando o nome de “P.” Ela conversou com ele e deu mostras de satisfação ante as provas dadas de sua identidade... De outra vez uma voz falou em espanhol fluente, dirigindo-se determinadamente a uma senhora no grupo, que ninguém sabia tivesse ligações com essa língua. Então a senhora estabeleceu uma conversa fluente com o Espírito, em espanhol, com evidente satisfação para este”.

Mrs. Mary Hollis, depois Mrs. Hollis-Billings, era uma notável médium. Esta americana visitou a Inglaterra em 1874 e também em 1880, quando foi apresentada à sociedade de Londres por destacados Espíritas. Um belo relato de sua variada mediunidade é feito pelo Doutor N. B. Wolfe em seu livro “Startling Facts in Modern Spiritualism”.

Mrs. Hollis era uma senhora fina e milhares de pessoas tiveram provas e consolações através de seus dons. Seus dois guias, James Nolan e um índio chamado Ski, falavam livremente em voz direta. Numa de suas sessões, realizada em casa de Mrs. Makdougall Gregory, em Grosvenor Square, a 21 de janeiro de 1880, um clérigo da Igreja da Inglaterra “sustentava o fio de uma conversa com um Espírito, a qual havia sido interrompida há sete anos e se confessou muito satisfeito com a autenticidade da voz, que era muito peculiar e perfeitamente audível para todos os assistentes, de ambos os lados do clérigo a quem o Espírito se dirigia”.

Mr. Edward C. Randall conta de uma outra boa médium americana para vozes diretas, Mrs. Emily S. French, em seu livro “The Dead Have Never Died.

Ela faleceu em sua casa em Rochester, New York, a 24 de junho de 1912. Mr. Randall investigou as suas faculdades durante vinte anos e se convenceu de que a sua mediunidade era de um altíssimo padrão.

Mrs. Mercia M. Swain, que faleceu em 1900, era uma médium de voz direta cuja instrumentalidade foi aproveitada por um grupo da Califórnia, o Rescue Circle, para ajudar os Espíritos atrasados. Um relato dessas extraordinárias sessões, que eram dirigidas por Mr. Leander Ficher, de Buffalo, New York, e que se estenderam de 1875 a 1900, se acha no livro do Almirante Usborne Moore “Glimpses of the Next State”.

Mrs. Everitt, senhora finíssima e médium não profissional, produziu vozes diretas na Inglaterra em 1867 e por muitos anos depois.

Muitos dos grandes médiuns de efeitos físicos, especialmente os de materializações, produziram os fenômenos de vozes diretas. Estas ocorriam, por exemplo, com Eglinton, Spriggs, Husk, Duguid, Herne, Mrs. Gupsy e Florence Cook.

Mrs. Elizabeth Blake, de Ohio, que faleceu em 1920, era um dos mais maravilhosos médiuns de voz direta de que temos notícia e, talvez, o de maior valor probante, porque em sua presença as vozes se produziam com regularidade em plena luz do dia. Era pobre, iletrada, vivendo na pequena aldeia de Bradrick, à margem do rio Ohio, do outro lado da cidade de Huntingdon, em West Virginia. Era médium desde criança. Era muito religiosa e pertencia à Igreja Metodista, da qual, como alguns outros, entretanto, foi expulsa devido à sua mediunidade.

Pouco se tem escrito a seu respeito: um único relato minucioso é a valiosa monografia do Professor Hyslop.

Dizem que foi sucessivamente submetida a testes por “cientistas, médicos e outros” e que o fazia de boa vontade. Entretanto, como esses homens não foram capazes de a pilhar em fraude, não se preocuparam em oferecer ao mundo os resultados obtidos. Hyslop teve a sua atenção atraída para ela por ouvir dizer que um muito conhecido mágico americano, com uma experiência de muitos anos, se havia convencido da autenticidade de seus fenômenos e em 1906 foi a Ohio examinar a sua mediunidade.

O volumoso relatório de Hyslop descreve legítimas comunicações que ocorreram.

Ele faz essa rara confissão de ignorância do processo do ectoplasma na produção dos fenômenos das vozes:

“A altura dos sons, nalguns casos, exclui a suposição de que as vozes sejam conduzidas das cordas vocais à trombeta. Ouvi sons a seis metros de distância e os poderia ter ouvido a doze ou quinze metros e os lábios de Mrs. Blake não se moviam.

“Resta estabelecer uma hipótese possível para explicar este aspecto dos fenômenos.

“Mesmo que chamemos a isto “Espíritos”, a explicação não satisfaz ao homem comum de ciência. Ele quer saber do processo mecânico que o envolve, assim como nós explicamos o falar comum.

“Talvez sejam os Espíritos a causa primeira no caso, mas há degraus no processo que vão desde a iniciativa até o último resultado. É isto que cria a perplexidade muito mais que a suposição de que, de certo modo, estejam Espíritos por detrás de tudo isto... e o homem de ciência não pode ver como os Espíritos podem instituir um fato mecânico sem o emprego de aparelhos mecânicos.”

Também ninguém o pode. Mas neste caso a explicação tem sido dada uma ou outra vez pelo Outro Lado. O desejo do Professor Hyslop de conhecer o elo que existe entre os sons e sua fonte seria menos surpreendente se não fosse um fato que os próprios Espíritos reiteradamente responderam à pergunta que ele faz. Através de muitos médiuns deram eles explicações mais ou menos idênticas.

O Doutor L. V. Guthrie, superintendente do Asilo de West Virginia, em Huntingdon, conselheiro médico de Mrs. Blake, estava convicto de seus dons. Escreve ele:

“Fiz sessões com ela em meu próprio escritório e no alpendre, ao ar livre e, numa ocasião, dentro de uma carruagem numa estrada. Constantemente se me oferecia para fazer sessões e usar uma manga de candeeiro em vez de uma pequena corneta e muitas vezes a vi produzir vozes tendo a mão numa das extremidades da trombeta.”

O Doutor Guthrie relata os dois casos seguintes com Mrs. Blake, nos quais a informação dada era desconhecida dos assistentes e não podia ter sido também da médium.

“Uma de minhas empregadas, uma senhora moça, cujo irmão tinha entrado para o exército e seguido para as Filipinas, estava ansiosa para receber notícias suas e lhe havia escrito cartas sobre cartas, dirigidas aos cuidados da companhia nas Filipinas. Mas não obtinha resposta. Ela visitou Mrs. Blake e soube pelo “Espírito” de sua mãe, morta há vários anos, que deveria mandar uma carta ao irmão para C... a fim de obter resposta. Assim fez: recebeu resposta em dois ou três dias, pois que ele havia regressado das Filipinas, sem que ninguém da família o soubesse.”

O caso seguinte é ainda mais interessante.

“Uma parenta minha, de importante família nesta região do Estado, cujo avô tinha sido encontrado morto ao pé de uma grande ponte, com o crânio esmagado, visitou Mrs. Blake há poucos anos e não estava pensando no avô na ocasião. Ficou muito surpreendida porque o Espírito do avô lhe disse que não havia caído da ponte quando embriagado, como ao tempo haviam pensado. Tinha sido assassinado por dois homens que o haviam encontrado num carrinho e tinham conseguido pegá-lo, despojá-lo de seus valores e atirá-lo de cima da ponte. O Espírito descreveu minuciosamente os dois homens que o haviam assassinado e deu tais informações que foi possível prendê-los e obter a confissão de um ou de ambos”.

Numerosos assistentes notaram que enquanto Mrs. Blake falava ouviam-se as vozes dos Espíritos, e, ainda, que os mesmos Espíritos apresentavam a mesma personalidade, bem como a mesma inflexão de voz durante anos. Hyslop dá detalhes de um caso com essa médium, na qual as vozes comunicantes deram a solução correta para abrir um cadeado de segredo, que era desconhecida do assistente.

Entre os modernos médiuns de voz direta da Inglaterra estão Mr. Roberts Johnson, Mrs. Blanche Cooper, John C. Sloan, William Phoenix, as Misses Dunsmore, Evan Powell, médium Welsh, e Mr. Potter.

Mr. H. Dennis Bradley fez um minucioso relato da mediunidade de voz direta de George Valiantine, o conhecido médium americano. Mr. Bradley conseguiu vozes no seu próprio Grupo Doméstico, sem médiuns profissionais. É impossível exagerar os serviços que o trabalho dedicado e de auto-sacrifício de Mr. Bradley prestou à ciência psíquica. Se todo o nosso conhecimento dependesse das provas dadas nesses dois livros - “Towards the Stars” e “The Wisdom of the Gods” isso seria bastante para qualquer homem razoável.

Algumas páginas devem ser dedicadas a um resumo da prova objetiva e muito convincente das moldagens tomadas de corpos de ectoplasma – por outras palavras, de formas materializadas. Quem primeiro explorou essa linha de pesquisa parece ter sido William Denton, autor de “Naturés Secrets”, um livro de psicometria, publicado em 1863. Em 1875, trabalhando em Boston, U.S.A., com a médium Mary M. Hardy, empregou ele métodos que se assemelham aos usados por Charles Richet e Gustave Geley em suas mais recentes experiências em Paris. Então Denton fez uma demonstração pública no Paine Haul, quando a moldagem do rosto de um Espírito, ao que se diz, foi fundida em parafina. Outros médiuns com os quais estes moldes foram obtidos foram Mrs. Firman, Doutor Monck, Miss Fairlamb (posteriormente Mrs. Mellon) e William Eglinton. O fato de terem sido tais resultados corroborados posteriormente nas sessões de Paris é um forte argumento em favor de sua validade. Mr. William Oxley, de Manchester, descreve como a 5 de fevereiro de 1876 foi obtida uma bela moldagem de uma mão de senhora e como em seguida um molde da mão de Mrs. Firman demonstrou uma grande diferença. Nessa ocasião Mrs. Firmam estava amarrada pela cabeça, o peito, os braços e as mãos. Isto parecia suficiente, no que respeita à fraude por parte da médium, ao mesmo tempo em que se verifica que a cera da moldagem era fervente, o que mostra que não podia ter sido trazida à sala das sessões. É difícil imaginar que outras precauções poderiam ter sido tomadas para garantir os resultados. Numa outra ocasião foram obtidas as moldagens de um pé e de uma mão, nas quais a abertura do pulso e do tornozelo eram tão pequenas que os membros não teriam passagem. Parece que não há outra explicação a não ser que pé e mão se houvessem desmaterializado.

Os resultados do Doutor Monck também parecem suportar a crítica. Em 1878 Oxley fez experiências com ele em Manchester e teve o mesmo sucesso que com Mrs. Firmam. Nessa ocasião diversos moldes foram tirados de duas individualidades diferentes. Diz Oxley dessas experiências: “A importância e o valor dessas moldagens de Espíritos jamais seriam superestimados porque enquanto a relação do fenômeno espírita com outros de atitude duvidosa ou céptica só é válida no campo da crença, esses moldes de mãos e de pés são fatos patentes e permanentes e agora exigem dos homens de ciência, dos artistas, e dos trocistas, uma solução do mistério de sua produção”. Essa exigência permanece. Um famoso mágico, Houdini, e um grande anatomista, Senhor Arthur Keith, tentaram fazer moldes de mãos e os resultados, laboriosamente obtidos, apenas serviriam para acentuar o caráter único daquilo que procuravam copiar.

No caso de Eglinton, foi registrado pelo Doutor Nichols, biógrafo do Davenport, que indiscutíveis moldes de mãos foram obtidos e que uma senhora presente reconheceu uma peculiaridade – uma leve deformidade – característica da mão de sua filhinha, que morrera afogada na África do Sul, com a idade de cinco anos.

Talvez os mais completos e probantes desses moldes sejam os obtidos por Epes Sergeant com a médium Mrs. Hardy, já mencionada em ligação com as experiências de Denton. As conclusões merecem ser citadas por extenso. Diz o escritor:

“Nossas conclusões são as seguintes:

1. O molde de uma mão perfeita, em tamanho natural, foi produzido numa caixa fechada, por uma força desconhecida, exercitando inteligência e atividade manual.

2. As condições da experiência independiam do controle, do caráter e da boa fé da médium, não obstante sua mediunidade ficasse plenamente demonstrada pelo resultado.

3. Essas condições eram tão simples e tão severas que excluem completamente toda oportunidade para fraude e toda possibilidade de ilusão, de modo que as nossas conclusões quanto à experiência são perfeitas.

4. O fato, de há muito conhecido dos investigadores, de que mãos materializadas e evanescentes, guiadas por uma inteligência e projetadas de um organismo invisível, podem tornar-se visíveis e tangíveis, recebe uma confirmação deste duplo teste.

5. A experiência de moldagem, associada com a chamada fotografia espírita, dá provas objetivas da ação de uma força inteligente exterior a qualquer organismo visível e oferece uma boa base à investigação científica.

6. A pergunta: “Como teria sido produzida essa moldagem dentro da caixa?” leva a considerações que devem ser de máxima importância para a filosofia do futuro, do mesmo modo que sobre problemas de psicologia e de fisiologia, e abre novos horizontes às forças latentes e ao alto destino do homem.”

Sete testemunhas respeitáveis assinam o relatório.

Se o leitor não ficar satisfeito com tão variados exemplos da validade dessas experiências de fotografia e moldagens, deverá ler as conclusões a que chegou o grande investigador Geley, ao fim de suas experiências clássicas com Kluski, a que aludimos de passagem.

O Doutor Geley realizou com Kluski algumas notáveis experiências sobre a formação de moldagens em cera, de mãos materializadas. Registrou os resultados de uma série de onze sessões bem sucedidas com tal objetivo. Em luz muito fraca a mão direita do médium foi segurada pelo Professor Charles Richet e a esquerda pelo Conde Pctocki. Uma vasilha com cera, mantida em ponto de fusão por meio de água fervente, foi colocada a sessenta centímetros em frente a Kluski e, para efeito de teste – o que era ignorado pelo médium – a cera estava impregnada de colesterina, a fim de evitar a sua substituição. Diz o Doutor Geley:

“A luz muito fraca não permitia que se assistisse ao fenômeno; éramos advertidos do momento de mergulhar a mão, pelo ruído no liquido. A operação exigira duas ou três imersões. A mão que estava agindo era mergulhada no vaso, retirada coberta de parafina quente, tocava as mãos dos controladores da experiência e então era mergulhada novamente na cera. Depois da operação a luva de parafina, ainda quente mas solidificada, era colocada de novo junto à mão de um dos controladores”.

Desta maneira nove moldes foram tirados. Sete de mãos, um de pé e outro de um queixo com os lábios. Examinada a cera de que eram feitos, deu a reação característica da colesterina. O Doutor Geley mostrou vinte e três fotografias de moldes e de cópias em gesso que deles foram feitas. É preciso dizer que as moldagens mostram as dobras da pele, as unhas e as veias, as quais de modo algum se parecem com as do médium. Os esforços para obter moldagens semelhantes de mãos de criaturas vivas foram apenas parcialmente realizados, e as diferenças entre uns e outros são marcantes. Escultores e reputados modeladores declararam que não conhecem nenhum método de produção de moldagens semelhantes às obtidas nas sessões com Kluski.

Assim resume Geley os resultados:

“Enumeraremos agora as provas que temos dado da autenticidade das moldagens de membros materializados em nossas experiências em Paris e Varsóvia:

Mostramos que, além do controle do médium, cujas mãos mantínhamos sempre seguras, toda fraude era impossível:

1. A teoria da fraude pela luva de borracha é inadmissível, porque essa tentativa dá resultados absurdos e grosseiros que, à primeira vista, se nota que são imitações.

2. Não é possível produzir tais luvas de cera usando um molde rígido pré-fabricado. Uma tentativa neste sentido logo mostra a sua impossibilidade.

3. O emprego de um molde preparado de uma substancia fusível e solúvel, coberto com uma camada de parafina, durante a sessão e então dissolvido num balde d'água, não é possível, com o processo empregado. Não tínhamos balde d'água.

4. A teoria de que uma mão viva era usada, fosse do médium ou de um assistente, é inadmissível. Isto não podia ser feito por várias razões, uma das quais é que a luva assim obtida é grossa e sólida, enquanto que as nossas são finas e delicadas e, ainda, que a posição dos dedos em nossas moldagens torna impossível a sua retirada, sem quebrar a luva. Além disso, as luvas foram comparadas com as mãos do médium e dos assistentes e não se assemelham. Isto também é mostrado pelas mensurações antropológicas.

Finalmente, fui à hipótese de terem sido as luvas trazidas pelo médium. Isto não se ajusta ao fato de havermos em segredo introduzido um produto químico na cera fundida, e que o mesmo foi encontrado nas luvas.

O relatório dos especialistas em modelagem neste ponto é categórico e final.

Nada constitui prova para aqueles que se acham tão cheios de preconceitos que não têm mais lugar para o raciocínio. Mas é inconcebível que um homem normalmente dotado pudesse ler tudo quanto fica dito acima e duvidar da possibilidade de fazer moldagens de figuras ectoplásmicas.

Cap. 19 - Fotografia Espírita

O primeiro relato autêntico da produção daquilo que é chamado fotografia espírita data de 1861. O resultado foi obtido por William H. Mumler, em Boston, nos Estados Unidos. Diz-se que em 1851, na Inglaterra, Richard Boursnell fez uma experiência semelhante, mas nenhuma fotografia dessa natureza foi conservada. O primeiro exemplo na Inglaterra que se pode constatar ocorreu em 1872, com o fotógrafo Hudson.

Como o progresso do moderno Espiritismo, esse novo desenvolvimento foi predito pelo Outro Lado. Em 1856 Mr. Thomas Slater, um óptico residente em Euston Road 136, em Londres, realizava uma sessão com Lord Brougham e Mr. Robert Owen, quando, por batidas, foi dito que chegaria o dia em que Mr. Slater faria fotografias de Espíritos. Mr. Owen observou que se estivesse no mundo dos Espíritos quando chegasse aquele dia, iria aparecer numa chapa. Em 1872, quando Mr. Slater fazia experiências de fotografia espírita, ao que se diz, obteve numa chapa o rosto de Mr. Robert Owen, bem como o de Lord Brougham.

Alfred Russel Wallace viu essas chapas mostradas por Mr. Slater, e escreve:

“O seu primeiro êxito consistiu em dois rostos obtidos ao lado do retrato de sua irmã. Uma dessas cabeças, sem sombra de dúvida, é de Lord Brougham; a outra, muito menos distinta, é reconhecida por Mr. Slater como a de Robert Owen, que ele conhecia intimamente, até o momento de sua morte.”

Depois de descrever outras fotografias de Espíritos, obtidos por Mr. Slater, continua o Doutor Wallace:

“Agora, se essas figuras estão ou não identificadas corretamente não é ponto essencial.

“O fato de que algumas figuras, tão claras e indiscutivelmente humanas como essas, aparecem em chapas batidas no estúdio particular de um óptico experimentado e fotógrafo amador que fabrica os seus próprios aparelhos, e sem ninguém presente a não ser a sua própria família, – constitui verdadeira maravilha. Num caso, um segundo rosto apareceu numa chapa com ele, tomada por Mr. Slater quando se achava absolutamente só, pelo simples processo de ocupar a cadeira de um assistente depois de preparada a máquina...

“O próprio Mr. Slater mostrou-me todas essas fotografias e explicou as condições em que foram obtidas. É certo que não se trata de uma impostura e como primeiras confirmações independentes do que antes havia sido obtido por fotógrafos profissionais, seu valor é inestimável”.

De Mumler, em 1861 a William Hope, em nossos dias, apareceram de vinte a trinta médiuns reconhecidos para fotografia espírita que, ao todo, produziram centenas de resultados supranormais, que chegaram a ser considerados “extras”. O mais conhecido desses sensitivos, além de Hope e de Mrs. Deane, são Hudsou, Parkes, Willie, Buguet, Boursnell e Duguid.

Mumler, que trabalhava como gravador numa das principais joalherias de Boston, não era espírita nem fotógrafo profissional. Em horas de folga, quando tentava tirar fotografias de si mesmo, no atelier de um amigo, obteve numa chapa o contorno de uma outra figura. O método que empregava era focalizar uma cadeira vazia e, depois de descobrir a objetiva, alcançar a cadeira escolhida e aí ficar durante o tempo necessário à exposição. Nas costas da fotografia Mr. Mumler tinha escrito:

“Esta fotografia foi feita por mim mesmo, de mim mesmo, num domingo, quando não havia viva alma na sala – por assim dizer. A forma à minha direita reconheço como minha prima, morta há doze anos. - W. H. MUMLER”

A forma é de uma mocinha, que aparece sentada na cadeira. A cadeira é vista com nitidez através do corpo e dos braços, como também a mesa na qual ela apóia o braço. Abaixo do peito, diz um relato contemporâneo, a forma (que parece usar um vestido decotado e sem mangas) se desagrega num tênue vapor, como simples nuvens na parte inferior do retrato. É interessante notar pormenores, nessa primeira fotografia espírita, que se repetiram muitas vezes nas que foram obtidas posteriormente por outros operadores.

Logo correu a notícia do que havia acontecido a Mumler e ele foi assediado por pedidos de sessões. A princípio recusou-se, mas finalmente concordou e quando, posteriormente, outros “extras” foram obtidos, e sua fama se espalhou, foi então compelido a abandonar o seu negócio e a dedicar-se a esse novo trabalho. Como, de um modo geral, as suas experiências foram como as de todos os fotógrafos psíquicos que o sucederam, podemos considerá-las rapidamente.

Investigadores particulares de boa reputação obtiveram retratos absolutamente reconhecíveis de amigos e parentes e ficaram inteiramente satisfeitos porque os resultados eram genuínos. Então vieram os fotógrafos profissionais, convencidos de que havia truques e que se lhes dessem oportunidade de fazer experiências, sob suas próprias condições, seriam capazes de descobrir como a coisa era feita. Vieram, um após outro, nalguns casos com as suas próprias chapas, máquinas, reveladores e fixadores, mas depois de dirigirem e fiscalizarem todas as operações, foram incapazes de descobrir qualquer truque. Mumler também foi aos seus ateliers e lhes permitiu fazer todo o manejo bem como a revelação das chapas, com os mesmos resultados. Andrew Jackson, que era então redator-chefe do Herald of Progress, em New York, mandou um fotógrafo profissional, Mr. William Guay, fazer uma investigação completa. Este contou que, depois de lhe haver sido permitido o inteiro controle de todo o processo fotográfico, apareceu na chapa o retrato do Espírito. Experimentou com esse médium em várias outras ocasiões e ficou convencido de sua autenticidade.

Outro fotógrafo, Mr. Horace Weston, foi mandado a investigar por Mr. Black, famoso fotógrafo retratista de Boston. Quando voltou, depois de haver obtido uma fotografia de Espírito, disse que não tinha verificado coisa alguma nas operações que fosse diferente dos que se fazia no trabalho ordinário dos fotógrafos. Então Black foi em pessoa e fez todas as manipulações das chapas, bem como a sua revelação. Quando examinava a revelação de uma delas, viu aparecer uma forma além da sua e, finalmente, viu que era um homem que apoiava o braço sobre o seu ombro e exclamou, entusiasmado: “Meu Deus! é possível?”

Mumler teve mais convites para sessões do que lhe era possível atender e os compromissos eram marcados com semanas de antecedência. Vinham de todas as classes: ministros, doutores, advogados, juizes, prefeitos, professores e homens de negócio eram contados entre as pessoas interessadas. Um relatório extenso dos vários resultados positivos obtidos por Mumler se encontra na imprensa da época.

Em 1863 Mumler, como tantos outros médiuns para fotografia espírita desde a sua época, encontrou nas suas chapas “extras” de pessoas vivas. Seus maiores defensores foram incapazes de aceitar esse novo e estranho fenômeno e, conquanto mantivessem a crença em seus dons, ficaram convencidos de que ele recorria aos truques. Numa carta ao Banner of Light, de Boston, de 20 de fevereiro de 1863, referindo-se a esse novo desenvolvimento, escreve o Doutor Gardner:

“Conquanto eu esteja inteiramente convencido de que, através de sua mediunidade, foram tomados retratos de Espíritos, pelo menos em dois casos me foram dadas provas de fraude, o que é perfeitamente conclusivo... Mr. Mumler, ou alguém em contato na sala de Mrs. Stuart, é responsável pela trapaça contra as autênticas fotografias de Espíritos, substituídas pelas de pessoas vivas desta cidade.”

O que tornou o caso ainda mais convincente para os acusadores foi o fato de o mesmo “extra” de uma pessoa viva aparecer em duas chapas. Esta falcatrua ultrapassou as medidas da opinião pública contra ele e em 1868 Mumler partiu para New York. Aí o seu negócio prosperou durante algum tempo, até que foi preso por ordem do prefeito de New York, a pedido do repórter de um jornal, que havia recebido uma fotografia com um “extra” irreconhecível. Depois de um processo moroso foi absolvido, sem mancha no seu caráter. As provas dos fotógrafos profissionais, que não eram espíritas, eram fortemente favoráveis a Mumler.

Assim testemunhou Mr. Jeremiah Gurney:

“Sou fotógrafo há vinte e oito anos; testemunhei os processos de Mumler; e, conquanto tivesse ido preparado para examinar a coisa, nada achei que cheirasse a fraude ou truque... A única coisa fora da nossa rotina foi o fato do operador manter a mão sobre a máquina.”

Mumler, que morreu pobre em 1884, deixou uma narrativa interessante e convincente de sua carreira, em seu livro “Personal Experiences of William H. Muinler in Spirit Photography” de que existe um exemplar no Museu Britânico.

Hudson, que obteve a primeira fotografia espírita na Inglaterra e da qual temos prova objetiva, teria então sessenta e cinco anos de idade (em março de 1372). A experiência era conduzida por Miss Georgiana Houghton, que descreveu minuciosamente o incidente.

Há um testemunho abundante do trabalho de Hudson. Mr. Thomas Slater, já citado, levou sua própria máquina e chapas e, depois de minuciosa observação, relatou que “trapaça ou truque estavam fora de cogitação”. Mr. William Howitt, desconhecido do médium, não foi anunciado; mas recebeu e reconheceu numa fotografia “extras” de seus dois filhos mortos. E disse que as fotografias eram “perfeitas e inconfundíveis”.

O Doutor Alfred Russel Wallace obteve uma boa fotografia de sua mãe. Descrevendo sua visita diz ele:

“Estive em três sessões, em todas escolhendo o meu próprio lugar. De cada vez uma segunda figura apareceu no negativo comigo. A primeira era uma figura masculina, com um punhal; a segunda era um corpo inteiro, aparentemente a alguns pés para o lado e por trás de mim, olhando para baixo para mim e sustentando um ramo de flores. Numa terceira sessão, depois de me colocar e depois que a chapa fora colocada na máquina, pedi que a figura viesse para junto de mim. A terceira chapa mostrou uma figura feminina, de pé, junto e em frente a mim, de modo que o panejamento cobriu a parte inferior de meu corpo. Assisti à revelação de todas as chapas e em cada caso a figura “extra” começou a aparecer no momento em que o revelador era despejado, enquanto o meu retrato só se tornava visível cerca de vinte segundos depois. Não reconheci nenhuma das figuras nos negativos; mas no momento em que tirei as provas, ao primeiro relance a terceira chapa mostrou um inconfundível retrato de minha mãe – como era, na atitude e na expressão; não aquela semelhança de um retrato feito em vida, mas algo pensativa, uma semelhança ideal – ainda assim, para mim, uma semelhança inconfundível”.

Conquanto indistinto, o segundo retrato foi reconhecido pelo Doutor Wallace como sendo de sua mãe. O primeiro “extra” de um homem não foi reconhecido.

Mr. J. Traill Taylor, então redator do British Journal of Photography, testemunhou que tinha obtido resultados supra-normais com esse médium, usando as suas próprias chapas “e que em nenhuma ocasião, durante a preparação, a exposição ou a revelação dos retratos, Mr. Hudson se achava a menos de três metros da máquina ou da câmara escura. Por certo isto deve ser aceito como prova.

Mr. F. M. Parkes, residente em Grove Road, Bow, no East End de Londres, era um médium natural, que tinha visões verídicas desde a infância. Nada sabia de Espiritismo até 1871 e no começo do ano seguinte fez experiências de fotografia com seu amigo, Doutor Reeves, proprietário de um restaurante perto de King’s Cross. Tinha então trinta e nove anos de idade. A princípio apenas marcas irregulares e manchas de luz apareciam nas chapas; mas depois de três meses foi obtido um Espírito, logo reconhecido, estando presentes o Doutor Sexton e o Doutor Clarke, de Edimburgo. O Doutor Sexton convidou Mr. Bowman, de Glasgow, fotógrafo experimentado, o qual fez um minucioso exame da máquina, da câmara escura e do material usado. Feito isso, foi declarada impossível qualquer fraude da parte de Parkes. Durante alguns anos esse médium não recebeu remuneração por seus serviços. Mr. Stainton Moses, que dedicou um capítulo a Mr. Parkes, assim escreve:

“Folheando o álbum de Mr. Parkes, o mais notável ponto é a enorme variedade das figuras; o seguinte é a dessemelhança entre todos eles e a forma convencional dos fantasmas.

“Em cento e dez retratos que tenho diante dos olhos, começados em abril de 1872 e, com ligeiros intervalos, obtidos até agora, não há dois parecidos – raramente dois apresentam alguma semelhança entre si. Cada desenho é peculiar e tem no rosto uma individualidade diferente”.

Afirma que um bom número dessas fotografias foi identificado pelos assistentes.

Mr. Ed. Buguet, fotógrafo de Espíritos, era francês e visitou Londres em junho de 1874; em seu estúdio, situado em Baker Street 33, houve muitas sessões notáveis. Mr. Harrison, redator de The Spiritualist, fala de um teste empregado por esse fotógrafo, que consistia em quebrar um canto da chapa e ajustar o pedaço, depois que aquela era revelada. Mr. Stainton Moses descreve Buguet como um homem magro e alto, de rosto inteligente e feições bem marcadas, com abundante cabeleira negra. Diz-se que durante a exposição da chapa ele ficava em semitranse. Os resultados psíquicos obtidos eram de mais alta qualidade artística e de maior distinção que os obtidos por outros médiuns. Também uma grande percentagem de Espíritos era reconhecida. Um curioso aspecto com Buguet era que ele conseguia numerosos retratos do “duplo” dos assistentes, tanto quanto de pessoas vivas mas não presentes, aparecendo com ele no estúdio. Assim, enquanto se achava em Londres no estado de transe, o retrato de Stainton Moses apareceu em Paris quando Mr. Gledstones fazia uma experiência.

Em abril de 1875 Buguet foi preso e acusado pelo governo francês de produzir fraudulentas fotografias de Espíritos. Para salvar-se confessou que todos os resultados obtidos eram truques. Foi condenado a pagar quinhentos francos de multa e a um ano de prisão. Durante o processo um certo número de conhecidos homens públicos sustentaram a sua opinião quanto à autenticidade dos “extras” que haviam obtido, a despeito de se dizer que Buguet havia usado comparsas para fingirem de Espíritos. A verdade sobre fotografias espíritas não pára aí: os que têm interesse em ler toda a história de sua prisão e seu processo podem assim formar a própria opinião. Escrevendo depois do processo, diz Mr. Stainton Moses: “Não só acredito – mas sei, tão certo como sei outras coisas, que algumas das fotografias de Buguet eram autênticas”.

Entretanto diz Coates que Buguet era um tipo sem valor. Certamente a posição de um homem que apenas pode provar que não é um patife pelo fato de haver feito uma falsa confissão por medo é um tanto fraca. O caso para a fotografia espírita, sem ele, ficaria mais valorizado. Quanto à sua confissão, foi ela arrancada criminosamente pelo Arcebispo da Igreja Católica de Toulouse, numa ação contra a Revue Spirite, quando seu redator, Leymarie, foi acusado e condenado. Disseram a Buguet que a sua salvação estava em confessar.

Assim constrangido, fez o que antes haviam feito tantas vítimas da Inquisição: uma confissão forçada que, entretanto, não o salvou de doze meses de cadeia.

Richard Boursnell (1832-1900) ocupou uma posição preeminente no período médio da história da fotografia espírita. Formava uma parceria com um fotógrafo profissional em Fleet Street e dizem que tinha faculdades psíquicas e que eventualmente mãos e rostos apareciam em suas chapas, já em 1851. Seu companheiro o acusou de não lavar convenientemente as chapas, ao tempo do processo coloidal e, após uma discussão violenta, Boursnell disse que não mais continuaria com esse negócio. Só quarenta anos mais tarde é que novamente apareceram figuras psíquicas e, então, com formas extras, em suas fotografias, para seu desapontamento, porque prejudicaram o seu negócio e ocasionaram a destruição de muitas chapas. Foi com muita dificuldade que Mr. W. F. Stead o persuadiu a realizar algumas sessões. Nas suas próprias condições, Mr. Stead obteve repetidamente aquilo que o velho fotógrafo chamava “retratos de sombras”. A princípio não eram reconhecidas, mas, por fim, foram obtidas algumas bem identificadas. Mr. Stead forneceu detalhes das precauções observadas no preparo das chapas, etc., mas diz que liga pouca importância a estas, considerando que o aparecimento numa chapa de uma semelhança de um parente desconhecido ou de um assistente desconhecido é um teste muito superior às precauções que um mágico hábil ou um fotógrafo de truques pode ludibriar. E diz:

“De vez em quando eu enviava amigos a Mr. Boursnell, sem o informar quem eram eles, nem lhes dizer coisa alguma acerca da identidade de pessoas mortas parentas ou amigas dos recomendados, cujo retrato queriam obter; e, ao revelar as chapas, os retratos apareciam, por vezes atrás, outras vezes em frente ao interessado. Isso acontecia com tanta freqüência que estou convencido de que qualquer fraude era impossível. Uma vez aconteceu que um editor francês descobrisse o retrato de sua falecida esposa num negativo que fora revelado; e ficou tão encantado que insistiu em beijar o velho fotógrafo, com o que o deixou muito embaraçado. De outra feita foi um engenheiro do Lancashire, também fotógrafo, que marcou as chapas e tomou outras precauções. Obteve retratos de dois parentes e um outro de eminente personagem com quem havia mantido estreitas relações. Ainda de outra foi um vizinho próximo que, indo como um desconhecido, obteve o retrato de sua filha morta”.

Em 1903 os espíritas de Londres presentearam esse médium com uma bolsa de ouro e um documento assinado por mais de cem espíritas notáveis. Nessa ocasião as paredes das salas da Sociedade de Psicologia, em George Street, Portman Square, estavam cobertas por trezentas fotografias escolhidas de Espíritos, feitas por Boursnell.

Em relação à opinião de Mr. Stead quanto à “reconhecida semelhança”, declaram os críticos que os assistentes muitas vezes imaginam a semelhança, e que por vezes dois assistentes alegam que o mesmo “extra” é o seu parente. Em resposta a isto deve-se dizer que o Doutor Alfred Russel Wallace, por exemplo, deve ser o melhor juiz se a figura era ou não parecida com sua mãe. O Doutor Cushman, de quem falaremos adiante, submeteu o “extra” de sua filha Agnes a um certo número de parentes e amigos e todos estavam convencidos da semelhança. Mas, fora de qualquer certeza quanto à semelhança, resta a esmagadora prova de que essas fotografias supranormais realmente acontecem e, em milhares de casos, foram identificadas.

Mr. Edward Wyllie, nascido em 1848 e falecido em 1911, tinha genuínos dons mediúnicos, que foram verificados por inúmeros investigadores qualificados. Nascera em Calcuttá, pois o seu pai, Coronel Robert Wyllie, fora secretário militar do Governador da Índia. Wyllie, que servira como capitão na guerra Maori, na Nova Zelândia, depois fez fotografias ali. Em 1886 foi para a Califórnia. Depois de algum tempo começaram a aparecer pontos luminosos em seus negativos e como aumentavam sempre, ameaçavam destruir o seu negócio. Jamais tinha ouvido falar de fotografia de Espíritos, até que uma senhora lhe sugeriu isto como possível explicação. Experimentando com ela apareceram rostos nas chapas nos pontos iluminados. Daí por diante esses rostos apareciam com tanta freqüência com outros assistentes que ele se viu obrigado a deixar o negócio comum e devotar-se à fotografia de Espíritos. Mas então defrontou novas dificuldades. Foi acusado de obter fraudulentamente esses resultados e isso o feriu tanto que tentou ganhar a vida de outra maneira, mas sem resultado. Teve que voltar àquele trabalho como médium-fotógrafo, como era chamado. A 27 de novembro de 1900 uma comissão da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Pasadena fez uma investigação com ele em Los Angeles. Foram respondidas as seguintes perguntas por Wyllie. Aqui as transcrevemos por serem de interesse histórico.

Pergunta: – O Senhor anuncia ou promete fotografar rostos de Espíritos ou alguma coisa parecida e fora do comum aos seus fregueses?

Resposta: – Absolutamente. Não garanto nem prometo coisa alguma. Não tenho controle sobre isto. Apenas cobro o meu tempo e o material, como podem ver pelo quadro que está ali na parede. Cobro um dólar por sessão. E se a primeira não for satisfatória, faço uma segunda tentativa sem mais despesas.

Pergunta: – Por vezes deixa de obter algo de extraordinário?

Resposta: – Oh! sim, muitas vezes. Sábado passado, trabalhando à noite, fiz cinco sessões e nada obtive.

Pergunta: – Em que proporção são essas falhas?

Resposta: – Diria que num dia comum de trabalho a média é de três a quatro falhas – dias mais, dias menos.

Pergunta: – Em que proporção avalia que os rostos “extras” que aparecem são reconhecidos pelos assistentes ou por seus amigos?

Resposta: - Durante alguns meses do ano passado eu fazia um registro desse ponto e achei que em cerca de dois terços um ou mais rostos extras eram reconhecidos. Às vezes havia apenas uma face extra; outras vezes cinco ou seis, ou mesmo oito e eu não podia fazer um registro delas, mas apenas do número total de sessões, como se vê em meu livro de notas.

Pergunta: – Quando uma sessão é feita o senhor conhece, como sensitivo, se há ou não extras na chapa?

Resposta: – Às vezes eu vejo luzes em volta do assistente e então tenho certeza de que haverá algo para ele ou para ela; mas não sei exatamente o que será, assim como os senhores não sabem. Não sei o que é enquanto não o vejo na chapa revelada, fixada e examinada à luz.

Pergunta: – Quando um assistente deseja fortemente que um determinado amigo desencarnado apareça na chapa é mais provável obter resultado?

Resposta: – Não. Um forte estado de tensão mental, ou de desejo, quer seja de ansiedade ou de antagonismo, torna mais difícil para o Espírito o emprego do magnetismo do assistente a fim de produzir a manifestação; de modo que é menos provável que, então, apareça um extra na chapa. Uma condição repousante, passiva e à vontade é mais favorável aos bons resultados.

Pergunta: – Os Espíritas conseguem melhores resultados que os descrentes?

Resposta: – Não. Alguns dos melhores resultados que jamais obtive ocorreram quando a cadeira era ocupada por gente muito céptica.

Com essa comissão não foram obtidos os extras. Antes, em 1899, outra comissão havia submetido o médium a testes rigorosos e quatro chapas em oito “mostraram resultados que a comissão foi incapaz de explicar.” Depois de minucioso relato das precauções tomadas, conclui o relatório:

“Como comissão não temos uma teoria: apenas testemunhamos “aquilo que sabemos”. Individualmente discordamos quanto às causas prováveis, mas sem prevenção concordamos no que respeita aos fatos prováveis... Daremos vinte e cinco dólares a qualquer fotógrafo de Los Angeles que, por meio de truque ou de habilidade, produzir resultados semelhantes, em condições similares.”

(assinado)

Julian McCrae, P. C. Campbell,

I. W. Mackie, W. N. Slocum, John Henley.

David Duguid (nasceu em 1832 e morreu em 1907), conhecido médium de escrita automática e de pintura, foi beneficiado por uma cuidadosa investigação sobre as suas fotografias de Espíritos, por Mr. J. Traiu Taylor, redator do British Journal of Photography, o qual numa conferência lida perante a London and Provincial Photographic Association em 9 de março de 1893, descreveu as recentes pesquisas com esse médium. Diz ele:

“Minhas condições eram muito simples... Admitindo tratar com trapaceiros e para me guardar contra eles, exigi que fosse usada a minha própria máquina e caixas de chapas compradas em casas de confiança, não permitindo que tais chapas saíssem de minhas mãos enquanto não fossem reveladas, caso não resolvesse o contrário. Mas, assim como eu os tinha em suspeita, eles suspeitavam de mim. De modo que todos os atos que eu praticasse deviam sê-lo em presença de duas testemunhas, isto é, que eu devia marcar o tempo na minha própria máquina, obter, por assim dizer, uma duplicata com o mesmo foco – por outras palavras, usar uma binocular estereoscópica e ditar todas as condições da operação.”

Depois de entrar em detalhes quanto ao processo adotado, registra o aparecimento de figuras extras nas chapas e continua:

“Algumas estavam em foco, outras não; umas eram iluminadas pela direita, enquanto o assistente recebia a luz pela esquerda... algumas ocupavam a maior parte da chapa, quase que cobrindo o assistente material; outras eram como retratos em vinhetas horrorosas, ou em ovais como que cortados com um abridor de latas e pregadas por detrás do assistente. Mas aqui é que bate o ponto: nenhuma só dessas figuras que apareciam tão fortemente nos negativos era de qualquer modo visível para mim durante o tempo de exposição da máquina e eu declaro peremptoriamente que ninguém manipulou uma chapa antes que ela fosse posta no caixilho ou antes que fosse revelada. Do ponto de vista fotográfico eram de mau gosto. Mas como apareceram?”

Outros assistentes bem conhecidos descreveram resultados notáveis obtidos com Duguid.

Mr. Stainton Moses, na conclusão de seu valioso trabalho sobre a Fotografia de Espíritos, discute a teoria de que as formas extras fotografadas são moldadas de ectoplasma (ele fala de uma “substância fluídica”) pelos operadores invisíveis e faz importantes comparações entre os resultados obtidos por diferentes médiuns fotógrafos.

As “valiosas e conclusivas experiências” de Mr. John Beattie, segundo a expressão do Doutor Alfred Russel Wallace, só rapidamente serão tratadas. Mr. Beattie, de Clifton, Bristol, fotógrafo aposentado de vinte anos de atividade, teve dúvidas sobre a autenticidade de muitas fotografias de Espíritos que lhe foram mostradas, pelo que resolveu ele próprio examinar o assunto. Sem nenhum médium profissional, mas em presença de um amigo íntimo, que era um sensitivo de transe, ele e o seu amigo Doutor G. S. Thomson, de Edimburgo, realizaram uma série de experiências em 1872 e obtiveram, inicialmente, manchas nas chapas e, depois, completas figuras extras. Verificaram que esses extras e as manchas na chapa apareciam muito antes que o assistente material, durante a revelação – peculiaridade freqüentemente notada por outros experimentadores. A honestidade de Mr. Beattie é absolutamente endossada pelo redator do British Journal of Photography. Mr. Stainton Moses e outros dão detalhes das experiências acima referidas.

Em 1908 o Daily Man, de Londres, nomeou uma comissão para fazer “um inquérito sobre a autenticidade ou não das chamadas fotografias de Espíritos”, que não chegou a qualquer resultado. Era composta de três não espíritas – R. Child Bayley, F. J. Mortimer e E. Sanger-Shepsherd e três defensores da fotografia espírita – A. P. Sinnett, E. R. Serocold Skeels e Robert King.

No relatório destes três últimos contavam que apenas podem relatar que a comissão falhou na obtenção de provas de que é possível a fotografia espírita, não devido à falta de provas abundantes no particular, mas devido à atitude infeliz e nada prática tomada pelos outros membros da comissão, que não possuíam qualquer experiência do assunto”.

Detalhes sobre a Comissão podem ser encontrados em Light.

Nos últimos anos a história das fotografias de Espíritos concentrou-se muito em torno do que é conhecido por Crewe Cirde, agora constituído por Mr. William Hope e Mrs. Buxton, ambos de Crewe. O grupo se constituiu mais ou menos em 1905, mas só atraiu a atenção em 1908. Descrevendo suas primeiras experiências, Mr. Hope diz que, quando trabalhava numa fábrica perto de Manchester, num sábado à tarde fez uma fotografia de um operário, numa pose junto a um muro de tijolos. Quando a chapa foi revelada via-se, além do retrato de seu amigo, a forma de uma mulher ao seu lado, vendo-se o muro por transparência. O homem perguntou a Hope como tinha ele posto ali o outro retrato, no qual reconhecia uma irmã falecida havia alguns anos. Diz Mr. Hope:

“Então eu nada sabia a respeito de Espiritismo. Levamos a fotografia aos trabalhadores na segunda-feira, e um deles, espírita, disse que era o que se chamava uma fotografia de Espírito. Sugeriu que no sábado seguinte, no mesmo lugar e com a mesma máquina, tentássemos novamente. Concordamos. E não só a mesma senhora apareceu na chapa, mas uma criancinha com ela. Achei isto muito estranho, fiquei interessado e continuei as experiências.”

Durante muito tempo Hope destruía todas as chapas de Espíritos, até que o Arquidiácono Colley travou conhecimento com ele e o aconselhou a conservá-las.

O arquidiácono Colley fez a primeira sessão com o Crewe Circle em 16 de março de 1908. Trouxe a sua própria máquina – uma Lancaster de um quarto de chapa, que Mr. Hope ainda usa – seus caixilhos e suas chapas marcadas a diamante e revelou as chapas com seus próprios produtos químicos. A única coisa que Mr. Hope fez foi apertar o botão para a exposição. Numa das chapas apareceram dois Espíritos.

Desde esse dia Mr. Hope e Mrs. Buxton fizeram milhares de fotografias de Espíritos sob todos os testes imagináveis e se orgulham de poderem dizer que jamais ganharam um tostão por seus trabalhos; apenas cobravam o material usado e o seu tempo.

Mr. M. J. Vearncombe, fotógrafo profissional em Bridgewater, Somerset, teve a mesma perturbadora experiência de Wyllie, Boursnell e outros, ao descobrir inúmeras manchas luminosas nas suas chapas e, como aqueles, chegando a fazer fotografias de Espíritos. Em 1920 Mr. Fred Barlow, de Birmingham, conhecido investigador, obteve com esse médium rostos extras e mensagens escritas, em condições de testes, em chapas que não haviam sido expostas na máquina.

Desde essa data Mr. Vearn. Combe obteve muitos resultados probantes.

A mediunidade de Mrs. Deane é de data recente – sua primeira fotografia de Espírito data de junho de 1920. Foram obtidos muitos extras reconhecíveis em condições de testes e seu trabalho por vezes é igual aos melhores dos seus predecessores no gênero. Recentemente conseguiu ela dois magníficos resultados. O Doutor Allerton Cushman, conhecido cientista americano, Diretor dos National Laboratories, em Washington, fez uma visita inesperada ao British College of Psychic Science, em Holland Park, em julho de 1921, e obteve, através de Mrs. Deane, uma bela fotografia extra, reconhecida como de sua filha morta. Detalhes completos dessa sessão se acham com as fotografias, no Jornal da American Society for Psychical Research.

O outro grande resultado foi a 11 de novembro de 1922, por ocasião do Grande Silêncio, no Dia do Armistício, em Whitehall, quando uma fotografia foi tomada da multidão imensa em torno no Cenotáfio e na qual aparecem, visíveis, rostos de Espíritos, alguns dos quais foram reconhecidos. Isto se repetiu durante três anos.

As pesquisas modernas provaram que esses resultados psíquicos não são obtidos, pelo menos em alguns casos, através das lentes da máquina. Em muitas ocasiões, em condições de testes, esses retratos supra-normais têm sido conseguidos em caixas fechadas de placas fotográficas, mantidas nas mãos de um ou mais assistentes. Também quando tentada a experiência com mais de uma máquina, quando o extra aparece numa máquina, não aparece na outra. A teoria sustentada é de que a imagem é precipitada na placa fotográfica ou que uma tela psíquica é aplicada à chapa.

Talvez possa o autor dizer algumas palavras de sua experiência pessoal, que foi principalmente com o Crewe Circle e com Mrs. Deane. Neste último caso sempre houve resultados, mas em nenhum os extras foram reconhecidos. O autor está perfeitamente certo da força psíquica de Mrs. Deane, que foi magnificamente demonstrada durante uma longa série de experiências feitas por Mr. Warrick, sob todas as possíveis condições de teste e que são minuciosamente descritas em Psychic Science.

Entretanto a sua experiência pessoal nunca foi evidente e, atendo-se a ela, não se pode falar com segurança. Ele empregou as próprias chapas de Mrs. Deane e tem uma forte impressão de que os rostos podem ter sido precipitados nas chapas nos dias de preparação, quando ela as levava em pacotes. Ela tem a impressão de que facilitava assim os resultados obtidos; mas talvez se enganasse, pois o caso Cushman foi uma surpresa. Também há a consignar que uma vez ela foi vítima de um truque no Psychic College: seu pacote de chapas foi substituído por outro. Não obstante os extras foram obtidos. Bem que podia ser avisada, pois se abandonasse o método que lhe dá resultados, embora legítimos, seriam eles passíveis de ataque.

Já o caso é diferente com Mr. Hope. Nas várias oportunidades em que o autor experimentou com ele, fê-lo com as suas próprias chapas, previamente marcadas na câmara escura e manejadas e reveladas por ele próprio. Em quase todos os casos um extra foi conseguido; e esse extra – conquanto não tenha sido claramente reconhecido – certamente foi uma produção anormal. Mr. Hope suportou os costumeiros ataques da ignorância e da malícia, a que se acham expostos todos os médiuns, mas sempre deles saiu com a honra inatingida.

Uma referência deve ser feita aos notáveis resultados de Mr. Staveley Bulford, talentoso estudante de psiquismo, que produziu os melhores e mais autênticos retratos psíquicos.

Ninguém poderá olhar o seu livro de recortes e notar o gradual desenvolvimento de seus dons, desde as simples manchas de luz até os rostos perfeitos, sem ficar convencido da realidade do processo.

O assunto é ainda obscuro e toda a experiência pessoal do autor é no sentido de defender o ponto de vista de que num certo número de casos nada de externo foi realizado: o efeito é produzido por uma espécie de raio, que carrega a figura, penetra os sólidos, como a parede do caixilho, e a imprime na placa. A experiência já citada, na qual duas máquinas foram usadas simultaneamente, com o médium entre elas, parece conclusiva, de vez que mostra um resultado numa chapa e não na outra. O autor obteve resultados em chapas que jamais saíram do caixilho e tão bons quanto os das que haviam sido expostas à luz. É provável que se Hope jamais tivesse tirado a tampa da objetiva, por vezes os seus resultados teriam sido os mesmos.

Seja qual for a eventual explicação, a única hipótese que atualmente abarca os fatos é a de uma sábia e invisível Inteligência presidindo a operação e trabalhando à sua maneira, e que mostra diferentes resultados em grupos diferentes. Tão padronizados são os métodos de cada um que o autor é capaz de dizer, à primeira vista, qual o fotógrafo que fez a chapa que lhe apresentarem. Supondo que tal Inteligência tenha os poderes que lhe são atribuídos, podemos então ver imediatamente por que cada lei normal de fotografia é violada, por que sombras e luzes não mais concordam e, por fim, por que uma série de armadilhas são preparadas para a generalidade dos críticos convencionais. Também podemos entender por que, desde que a figura seja simplesmente constituída pela Inteligência e posta na chapa, encontramos resultados que são reproduções de velhos quadros e de fotografias, e porque também é possível que apareça o rosto de uma pessoa viva na chapa do mesmo modo que o de um Espírito desencarnado. Num exemplo, citado pelo Doutor Henslow, a reprodução de um raro escrito grego do Museu Britânico apareceu numa das chapas de Hope, com uma ligeira alteração no grego, o que provava que não era uma cópia.

Aqui, ao que parece, a Inteligência tinha notado a inscrição, tinha-a gravado na chapa, mas tinha feito um ligeiro lapso de memória na transcrição. Esta explicação tem o desconcertante corolário que o mero fato de termos o retrato psíquico de um amigo morto absolutamente não constitui prova de que o mesmo se ache presente. Somente quando o fato é confirmado independentemente numa sessão, antes ou depois, é que temos algo da natureza de prova.

Em suas experiências com Hope, o autor teve a impressão de lobrigar o processo pelo qual as fotografias objetivas são construídas – tanto que pôde ele arranjar uma série de dísticos que mostraram os vários estágios. O primeiro desses dísticos, – tomado com Mr. William Jeffrey, de Glasgow, como assistente, – mostra uma espécie de casulo de veios finos, um material como fita, que poderemos chamar de ectoplasma, desde que os vários plasmas ainda não foram subdivididos. É tão tênue quanto uma bolha de sabão e nada contém: isto poderia parecer o envoltório dentro do qual o processo é transportado, estando aí reunidas as forças, como se na cabine de um médium. No dístico seguinte vê-se que a face se formou dentro do casulo e que o casulo se abre debaixo do centro. São vistos vários estágios dessa abertura. Finalmente, a face aparece por fora, com o casulo festonado, para trás, e formando um arco sobre o rosto e um véu pendurado de ambos os lados. Esse véu é muito característico nas fotografias de Hope e quando falta em uma podemos sustentar que não houve presença objetiva e que é um puro efeito psicográfico. O véu ou mantilha, de várias formas, pode ser encontrado numa longa série de fotografias anteriores, e é especialmente observável numa tomada de um amador na Costa Ocidental Africana, onde o Espírito escuro tem densas dobras sobre a cabeça e no chão. Quando semelhantes resultados são alcançados em Crewe, ou em Lagos, é simples questão de bom senso convir que se trata de uma lei comum.

Apontando a prova do casulo psíquico, espera o autor haver dado uma pequena contribuição para uma melhor compreensão do mecanismo da fotografia psíquica. É um verdadeiro departamento da ciência psíquica, como verá qualquer investigador sério. Contudo não se pode negar que tenha sido transformado em objeto para patifarias, como não podemos garantir que, por serem genuínos alguns resultados conseguidos por médiuns, tenhamos que aceitar de olhos fechados tudo quanto nos mostrem, venha de onde vier.