terça-feira, 12 de maio de 2009

Cap. 1 - A história de Swedenborg

É impossível fixar uma data para as primeiras aparições de uma força inteligente exterior, de maior ou menor elevação, influindo nas relações humanas. Os espíritas tomaram oficialmente a data de 31 de março de 1848 como o começo das coisas psíquicas porque o movimento foi iniciado naquela data. Entretanto não há época na história do mundo em que não se encontrem traços de interferências preternaturais e o seu tardio reconhecimento pela humanidade. A única diferença entre esses espisódios e o moderno movimento é que aqueles podem ser apresentados como casos esporádicos de extraviados de uma esfera qualquer, enquanto os últimos tem as características de uma invasão organizada. Como, porém, uma invasão poderia ser precedida por pioneiros em busca da Terra, também o influxo espírita dos últimos anos poderia ser anunciado por certo númeo de incidentes, suscetíveis de verificação desde a Idade Média e até mais para trás. Uma data deve ser fixada para início da narrativa e, talvez, nenhuma melhor que a da história do grande vidente sueco Emmanuel Swedenborg, que possui bons títulos para ser considerado o pai do nosso conhecimento dos fenômenos supranormais.
Quando os primeiros raios do sol nascente do conhecimento espiritual caíram sobre a Terra, iluminaram a maior e a mais alta inteligência humana, antes que a sua luz atingisse homens inferiores. O cume da mentalidade foi o grande reformador e médium clarividente, tão pouco conhecido por seus prosélitos, qual foi o Cristo.
Para compreender completamente um Swedenborg é preciso possuir-se um cérebro de Swedenborg; e isto não se encontra em cada século. E ainda, pela nossa força de comparação e por nossa experiência dos fatos desconhecidos para Swedenborg, poderemos compreender, mais claramente do que ele, certas passagens de sua vida. O objeto do presente estudo não é tratar o homem como um todo, mas procurar situá-lo no esquema geral do desdobramento psíquico aqui abordado, do qual a sua própria Igreja, na sua estreiteza, o impediria.
Swedenborg era, sob certos aspectos, uma viva contradição para as nossas generalizações psíquicas, porque se costuma dizer que as grandes inteligências esbarram no caminho da experiência psíquica pessoal. Uma lousa limpa é, por certo, mais apta para escrever-se uma mensagem. O cérebro de Swedenborg não era uma lousa limpa, mas um emaranhado de conhecimentos exatos de suscetível aquisição naquele tempo. Nunca se viu tamanho amontoado de conhecimentos. Ele era, antes de mais nada, um grande engenheiro de minas e uma autoridade em metalurgia. Foi o engenheiro militar que mudou a sorte de uma das muitas campanhas de Carlos XII, da Suécia. Era uma grande autoridade em Física e em Astronomia, autor de importantes trabalhos sobre as marés e sobre a determinação das latitudes. Era zoologista e anatomista. Financista e político, antecipou-se às conclusões de Adam Smith1. Finalmente, era um profundo estudioso da Bíblia, que se alimentara de teologia com o leite materno e viveu na austera atmosfera evangélica alguns anos de sua vida. Seu desenvolvimento psíquico, ocorrido aos vinte e cinco anos, não influiu sobre a sua atividade mental e muitos de seus trabalhos científicos foram publicados após essa data 2.
Com uma tal mentalidade, é muito natural que fosse chocado pela evidência das forças supranormais, que surgem no caminho de todo pensador, mas o que não é natural é que devesse ele ser o médium para tais forças. Em certo sentido a sua mentalidade lhe foi prejudicial e lhe adulterou os resultados, posto que, de outro lado, lhe tivesse sido de grande utilidade. Para o demonstrar basta considerar os dois apectos sob os quais o seu trabalho pode ser encarado.
O primeiro é o teológico. À maioria das pessoas que não pertecem ao rebanho escolhido afigura-se o lado inútil e perigoso de seu trabalho. Por um lado, aceita a Bíblia como sendo, de modo muito particular, uma obra de Deus; por outro lado, sustenta que a sua verdadeira significação é inteiramente diferente de seu óbvio sentido e que ele – e só ele – ajudado pelos anjos, é capaz de transmitir aquele verdadeiro sentido. Essa pretensão é intolerável. A infalibilidade do Papa3 seria uma insignificância comparada com a infalibilidade de Swedenborg, se tal fosse admitido. Pelo menos o Papa é infalível quando profere um veredito em matéria de doutrina ex-cátedra, acolitado por seus cardeais. Além disso suas explicações nem ao menos se acomodam à razão. Quando, visando apreender o verdadeiro sentido de uma mensagem de Deus, temos que admitir que um cavalo simboliza uma verdade intelectual, que um burro significa uma verdade científica, uma chama quer dizer melhoramento, e assim por diante com uma infinidade de símbolos, parece que nos encontramos no reino da imaginação, que apenas pode ser comparado com as cifras que alguns críticos engenhosos pretendem ter descoberto nas peças de Shakespeare. Não é assim que Deus manda Sua verdade a este mundo. Se tal ponto de vista fosse aceito, o credo de Swedenborg seria apenas a matriz de mil heresias; regrediríamos e iríamos encontrar-nos novamente entre as discussões e os silogismos dos escolásticos medievais4. As coisas grandes e verdadeiras são simples e compreensíveis. A teologia de Swedenborg nem é simples e nem inteligível. E isto representa a sua condenação.
Entretanto, quando entramos na sua fatigante exegese5 das escrituras, onde cada coisa significa algo diferente daquilo que obviamente singnifica, e quando chegamos a alguns dos resultados gerais de seu ensino, eles não se acham em desarmonia com o moderno pensamento liberal, nem com o ensino recebido do Outro Lado, desde que se iniciaram as comunicações. Assim, proposição geral de que este mundo é um laboratório de almas, um campo de experiências, no qual o material refina o espiritual, não sofre contestação. Ele repele a Trindade no seu sentido comum, mas a reconstitui de maneira extraordinária, que também seria impugnada por um Unitário. Admite que cada sistema tem sua finalidade e que a virtude não é privativa do Cristianismo. Concorda com o ensino espírita em procurar o verdadeiro sentido da vida de Jesus Cristo no seu poder como exemplo e repele a expiação e o pecado original. Vê no egoísmo a raíz de todo mal e admite como essencial um egoísmo sadio, na expressão de Hegel. Quanto aos problemas sexuais, suas idéias são liberais até o relaxamento. Considera a Igreja de absoluta necessidade, sem o que ninguém se entenderia com o Criador. Em tamanha confusão de idéias, espalhadas a torto e a direito, em grandes volumes, escritos num latim obscuro, cada intérprete independente seria capaz de encontrar sua nova religião particular. Mas não é aí que reside o mérito de Swedenborg.
Esse mérito realmente seria encontrado em suas forças psíquicas e nas suas informações psíquicas, que teriam sido muito valiosas se jamais de sua pena houvesse brotado uma palavra sobre Teologia. É para essas forças e para essas informações que nos voltamos agora.
Ainda menino, Swedenborg teve as suas visões. Mas esse delicado aspecto de sua natureza foi abafado pela extraordinariamente prática e enérgica idade viril. Entretanto, por vezes veio à tona , em toda sua vida e muitos exemplos foram registrados, para mostrar que possuia poderes geralmente chamados “vidência a distância”, no qual parece que a alma deixa o corpo e vai buscar uma informação a distância, voltando com notícias do que se passa alhures. Não é uma pecualiaridade rara nos médiuns e pode ser comprovada por milhares de exemplos entre os sensitivos espíritas; mas é rara nos intelectuais e também rara quando acompanhada por um estado aparentemente normal do corpo quando ocorre o fenômeno. Assim, no conhecidíssimo caso de Gotenburg6, onde o vidente observou e descreveu um incêndio em Estocolmo, a trezentas milhas de distância, com perfeita exatidão, estava ele num jantar com dezesseis convidados, o que é um valioso testemunho. O caso foi investigado nada menos que pelo filósofo Kant, que era seu contemporâneo.
Não obstante, esses episódios ocasionais eram meros indícios de forças latentes, que desabrocharam subtamente em Londres, em abril de 1744. É de notar-se que, conquanto o vidente fosse de boa família sueca e educado entre a nobreza sueca, foi nada menos que em Londres que os seus melhores livros foram publicados, que a sua iluminação se iniciou e, finalmente, que morreu e foi sepultado. Desde o dia de sua primeira visão até a sua morte, vinte e sete anos depois, esteve ele em contínuo contato com o outro mundo. “Na mesma noite – diz ele – o mundo dos Espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos”.
Em sua primeira visão Swedenborg fala de “uma espécie de vapor que se exala dos poros de meu corpo. Era um vapor aquoso muito visível e caía no chão, sobre o tapete”. É uma perfeita descrição daqueles ectoplasmas que consideramos a base dos fenômenos físicos. A substância foi chamada, também, ideoplasma, porque instantaneamente toma a forma que lhe dá o Espírito. No seu caso, conforme a sua descrição, ela se trasnformava em vermes, o que representava um sinal de que os seus Guias lhe desaprovavam o regime alimentar e era acompanhada por um aviso pela clarividência, de que devia ser mais cuidadoso a esse respeito.
Que é que pode fazer o mundo com essa narativa? Dizer que tal homem era um louco; mas, nos anos que se seguiram, sua vida não deu sinais de fraqueza mental. Ou podiam dizer que ele mentia. Mas este era famoso por sua estrita vivacidade. Seu amigo Cuno, banqueiro em Amsterdam, assim dizia dele: “Quando me olhava, com os sorridentes olhos azuis, era como se eles estivessem falando a própria verdade”. Seria então auto-sugestionado e honestamente enganado? Temos que enfrentar a circunstância de que, em geral, as observações que fazia eram confirmadas desde então por numerosos observadores dos fenômenos psíquicos. A verdade é que foi o primeiro e, sob vários aspectos, o maior médium, de um modo geral; que estava sujeito a erros tanto quanto aos privilégios decorrentes da mediunidade; que só pelo estudo da mediunidade seus poderes serão compreendidos e que, no esforço de o separar do Espiritismo, a sua Nova Igreja mostrou absoluta incompreensão de seus dons e da posição que a ela cabia no esquema geral da Natureza. Como um grande pioneiro do movimento espírita, sua posição tanto é compreensível quanto gloriosa. Como uma figura isolada com poderes incompreensíveis, não há lugar para ele em qualquer esquema do pensamento religioso, por mais largamente compreensivo que seja.
É interessante notar que ele considerava os seus poderes intimamente relacionados com o sistema respiratório. Como o ar e o éter nos envolvem, é possível que alguns respirem mais éter do que ar e, assim, alcancem um estado mais etéreo. Sem a menor dúvida é esta uma maneira elementar e grosseira de considerar as coisas. Mas essa idéia se derrama no trabalho de muitas escolas de psiquismo. Laurence Oliphant7, que aliás não tinha ligação com Swedenborg, escreveu um livro, Sympnaumata, para o provar. O sistema indiano de Ioga, repousa sobre a mesma idéia. Entretanto, quem quer que tenha visto um médium cair em transe, deve ter notado a característica inspiração de ar com que se inicia o processo e as profundas expirações com que termina. Para a ciência do futuro aqui está um promissor campo de estudos. Nisto, como em qualquer outro assunto psíquico, é necessário cautela. O autor conheceu muitos casos em que ocorreram lamentáveis resultados que foram a consequência de um desavisado emprego da respiração profunda nos exercícios psíquicos. Como a força elétrica, os poderes espirituais tem um emprego variado, mas o seu manejo requer conhecimentos e precauções.
Swedenborg resume o assunto dizendo que quando se comunicava com os Espíritos, durante uma hora respirava profundamente, ”tomando apenas a quantidade de ar necessária para alimentar seus pensamentos”. De lado essa peculiaridade, Swedenborg era normal durante suas visões, conquanto preferisse, na ocasião, estar só. Parece que teve o privilégio de examinar várias esferas do outro mundo e, conquanto as suas idéias sobre teologia tivessem marcado suas descrições, por outro lado a sua imensa cultura lhe permitiu excepcional poder de observação e comparação. Vejamos quais os principais fatos que suas jornadas nos trouxeram e até onde eles coincidem com os que, desde então, tem sido obtidos pelos métodos psíquicos.
Verificou que o outro mundo, para onde vamos após a morte, consiste de várias esferas, representando outros tantos graus de luminosidade e de felicidade; cada um de nós irá para aquela a que se adapta a nossa condição espiritual. Somos julgados automaticamente, por uma lei espiritual das similitudes; o resultado é determinado pelo resultado global de nossa vida, de modo que a absolvição ou o arrependimento no leito de morte tem pouco proveito. Nessas esferas verificou que o cenário e as condições deste mundo eram reproduzidas fielmente, do mesmo modo que a estrutura da sociedade. Viu casas onde viviam famílias, templos onde praticavam o culto, auditórios onde se reuniam para fins sociais, palácios onde deviam morar os chefes.
A morte era suave, dada a presença de seres celestiais que ajudavam os recém-chegados na sua nova existência. Esses recém-vindos passavam imediatamente por um período de absoluto repouso. Reconquistavam a consciência em poucos dias, segundo a nossa contagem.
Havia anjos e demônios, mas não eram de ordem diversa da nossa: eram seres humanos, que tinham vivido na Terra e que ou eram almas retardatárias, como demônios, ou altamente desenvolvidas, como anjos.
De modo algum mudamos com a morte. O homem nada perde pela morte: sob todos os pontos de vista é ainda um homem, conquanto mais perfeito do que quando na matéria. Levou consigo não só as suas forças, mas seus hábitos mentais adquiridos, as suas preocupações, os seus preconceitos.
Todas as crianças eram recebidas igualmente, fossem ou não batizadas. Cresciam no outro mundo; jovens lhe serviam de mães, até que chegassem as mães verdadeiras.
Não havia penas eternas. Os que se achavam nos infernos podiam trabalhar para sua saída, desde que sentissem vontade. Os que se achavam no céu não tinham lugar permanente: trabalhavam por uma posição mais elevada.
Havia o casamento sob a forma de união espiritual no mundo próximo, onde um homem e uma mulher constituíam uma unidade completa. É de notar-se que Swedenborg jamais se casou.
Não havia detalhes insignificantes para sua observação no mundo espiritual. Fala de arquitetura, de artesanato, das flores, dos frutos, dos bordados, da arte, da música, da literatura, da ciência, das escolas, dos museus, das academias, das bibliotecas e dos esportes. Tudo isso pode chocar as inteligências convencionais, conquanto se possa perguntar por que toleramos coroas e tronos e negamos outras coisas menos materiais.
Os que saíram deste mundo velhos, decrépitos, doentes, ou deformados, recuperavam a mocidade e, gradativamente, o completo vigor. Os casais continuavam juntos, se os seus sentimentos recíprocos os atraíam. Caso contrário, era desfeita a união. “Dois amantes verdadeiros não são separados pela morte, de vez que o Espírito do morto habita o do sobrevivente, até à morte deste último, quando se encontram e se unem, amando-se mais ternamente do que antes”
Eis algumas amostras tiradas da massa enorme de informações mandadas por Deus através de Swedenborg. Elas tem sido reiteradas pela boca e pela pena dos nossos iluminados espíritas. O mundo as desprezou, taxando-as de concepções insensatas. Contudo, estes novos conhecimentos vão abrindo caminho; quando forem aceitos inteiramente, a verdadeira grandeza da missão de Swedenborg será reconhecida, desde que se ponha de lado a sua exegese bíblica.
A Nova Igreja8, fundada para divulgar os ensinos do mestre sueco, converteu-se em elemento negativo, em vez de ocupar o seu verdadeiro lugar, como fonte e origem do conhecimento psíquico. Quando , em 1848, desabrochou o movimento espírita; quando homens como Andrew Jackson Davis o sustentavam através de escritos filosóficos e de poderes psíquicos, que dificilmente se distinguem dos de Swedenborg, a Nova Igreja teria feito bem em saudar esse desenvolvimento, que coincidia com as indicações de seu chefe. Em vez disso preferiram, por motivos difíceis de compreender, exagerar cada ponto divergente e desconhecer todos os pontos coincidentes, até que os dois corpos fossem impelidos para o franco antagonismo. Na verdade, todos os espíritas deveriam homenagear Sewdenborg, cujo busto era para encontrar-se em cada templo espírita, por ser o primeiro e o maior dos modernos médiuns. Por outro lado, a Nova Igreja deveria afogar pequenas diferenças e integrar-se de coração no novo movimento, contribuindo as suas igrejas e as suas organizações para a causa comum.
Examinando a vida de Swedenborg é difícil descobrir as causas que levaram os seus atuais sectários a encarar com receio as outras organizações psíquicas. Aquele fez então aquilo que estas fazem agora. Falando da morte de Polhem9, diz o vidente: “Ele morreu segunda-feira e falou comigo na quinta-feira. Eu tinha sido convidado para o enterro. Ele viu o coche fúnebre e presenciou quando o féretro baixou à sepultura. Entretanto, conversando comigo, perguntou porque o haviam enterrado, se estava vivo. Quando o sacerdote disse que ele se ergueria no Dia do Juízo, perguntou por que isso, se ele já estava de pé. Admirou-se de uma tal coisa, ao considerar que, mesmo agora, estava vivo”.
Isto está perfeitamente concorde com a experiência de um médium atual. Se Swedenborg estava certo, também os médiuns estão.
De novo: “Brahe foi decaptado às 10 da manhã e falou comigo às 10 da noite. Esteve comigo, quase que ininterruptamente, durante alguns dias”.
Tais exemplos mostram que Swedenborg não tinha mais escrúpulos em conversar com os mortos do que Cristo, quando no monte falou a Moisés e Elias.
Swedenborg havia exposto as suas idéias com muita clareza. Considerando-as, entretanto, há que levar-se em conta a época em que viveu e a sua falta de experiência na direção e nos objetivos da nova revelação. Esse ponto de vista é que Deus, por bons e sábios propósitos, tinha separado o mundo dos Espíritos do nosso, e que a comunicação não era permitida, salvo razões poderosas – entre as quais não se poderia contar a mera curiosidade. Cada estudante zeloso do psiquismo concordará com isto e cada espírita zeloso opõe-se a que a coisa mais séria do mundo seja transformada numa espécie de passatempo. Sob o império de poderosas razões, nossa razão principal é que numa época de materialismo como Swedenborg jamais imaginou, estamos nos esforçando por provar a existência e a supremacia do Espírito de maneira tão objetiva que os materialistas sejam encontrados e batidos no seu próprio terreno. Seria difícil imaginar uma razão mais forte que esta; entretanto temos o direito de proclamar que, se Swedenborg vivesse agora, seria o chefe do nosso moderno movimento psíquico.
Alguns de seus prosélitos, entre os quais o Dr. Garth Wilkinson10, fizeram a seguinte objeção: “O perigo para o homem de falar com os Espíritos é que nós todos estamos ligados aos nossos semelhantes e, estando cheios de maldades, teríamos que enfrentar esses Espíritos semelhantes, e eles apenas confirmariam o nosso ponto de vista.”
A isto respondemos apenas que, conquanto especioso11, está provado pela experiência que é falso. O homem não é naturalmente mau. O homem médio é bom. O simples ato da comunicação espírita, na sua solenidade, desperta o lado religioso. Assim, via de regra, não é a má influência, mas a boa, que é encontrada, como provam os belos e moralizados registros das sessões. O autor pode dar o testemunho de que em cerca de quarenta anos de trabalho psíquico, durante os quais assistiu a inúmeras sessões em muitos lugares, jamais, numa única ocasião, ouviu uma palavra obcena ou qualquer mensagem que pudesse ferir os ouvidos da mais delicada mocinha. Outros veteranos espíritas dão o mesmo testemunho. Assim, enquanto é absolutamente certo que os maus Espíritos sejam atraídos para um ambiente mau, na prática atual é muito raro que alguém seja por eles incomodado. Se tais Espíritos aparecerem, o procedimento correto não é repelí-los; é antes conversar razoavelmente com eles esforçando-se por que compreendam sua própria condição e o que devem fazer por seu melhoramento. Isto ocorreu muitas vezes na experiência pessoal do autor, e com os mais felizes resultados.
Algumas informações pessoais sobre Swedenborg cabem como termo a este ligeiro relato de suas doutrinas. Visa-se, assim, antes de mais nada, indicar a sua posição no esquema geral. Deve ele ter sido muito frugal, prático e trabalhador; um rapaz enérgico e um velho muito amável. Parece que a vida o converteu numa criatura muito bondosa e venerável. Era plácido, sereno e sempre disposto à conversação, que não descambava para o psiquismo senão quando queria o seu interlocutor. O tema dessas conversas era sempre notável, mas ele se afligia com a gagueira que lhe dificultava a pronunciação. Era alto, delgado, de rosto espiritual, olhos azuis, peruca até os ombros, roupas escuras, calções curtos, fivelas nos sapatos e bengala.
Sustentava Swedenborg que uma densa nuvem se havia formado em redor da Terra, devido à grosseria psíquica da humanidade e que de tempos em tempos havia um julgamento e uma limpeza, assim como a trovoada aclara a atmosfera material. Via que o mundo, já em seus dias, entrava numa situação perigosa, devido à sem-razão das Igrejas por um lado, e a reação contra a absoluta falta de religião, causada por isto. As modernas autoridades em psiquismo, especialmente Vale Owen12, falaram dessa nuvem crescente e há uma sensação geral de que o necessário processo de limpeza geral não tardará.
Uma notícia sobre Swedenborg, do ponto de vista espírita, não pode ser melhor conduzida do que por estas palavras, extraídas de seu diário: “Todas as afirmações em matéria de teologia são, como sempre foram, arraigadas no cérebro e dificilmente podem ser removidas; e enquanto aí estiverem, a verdade genuína não encontrará lugar.” Era ele um grande vidente, um grande pioneiro do conhecimento psíquico e sua fraqueza reside naquelas mesmas palavras que escreveu.
A generalidade dos leitores que quiserem ir mais adiante encontrará os mais característicos ensinos de Swedenborg em suas obras: “Céu e Inferno”, A Nova Jerusalém” e “Arcana Cœlestia”. Sua vida foi admiravelmente descrita por Garth Wilkinson, Trobridge13 e Brayley Hodgetts14, atual presidente da Sociedade Inglesa Swedenborg. A despeito de todo o seu simbolismo teológico, seu nome deve viver eternamente como o primeiro de todos os homens modernos que descreveram o processo da morte e o mundo do além, o que não se baseia no vago extático e nas visões impossíveis das velhas Igrejas, mas corresponde atualmente às descrições que nós mesmos obtemos daqueles que se esforçam por nos trazer uma idéia clara de sua nova existência.

Texto extraído do Livro “História do Espiritismo” de Sir Arthur Conan Doyle, Editora Pensamento, 2001.
Autorização solicitada por email à e-ditora. Pendente de confirmação.
Quando no texto aparecem as palavras “atual” ou “atualmente”, considere-se a época em que foi escrito o livro, início do século XX.



(1) Adam Smith (provavelmente Kirkcaldy, Fife, 5 de junho de 1723 — Edimburgo, 17 de Julho de 1790) foi um economista e filósofo escocês. Teve como cenário para a sua vida o atribulado século das Luzes, o século XVIII.
É o pai da economia moderna, e é considerado o mais importante teórico do liberalismo econômico. Autor de "Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações", a sua obra mais conhecida, e que continua sendo como referência para gerações de economistas, na qual procurou demonstrar que a riqueza das nações resultava da atuação de indivíduos que, movidos apenas pelo seu próprio interesse (self-interest), promoviam o crescimento econômico e a inovação tecnológica.
Smith ilustrou bem seu pensamento ao afirmar "não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu"auto-interesse".
Assim acreditava que a iniciativa privada deveria ser deixada agir livremente, com pouca ou nenhuma intervenção governamental. A competição livre entre os diversos fornecedores levaria forçosamente não só à queda do preço das mercadorias, mas também a constantes inovações tecnológicas, no afã de baratear o custo de produção e vencer os competidores.
Ele analisou a divisão do trabalho como um fator evolucionário poderoso a propulsionar a economia. Uma frase de Adam Smith se tornou famosa: "Assim, o mercador ou comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse egoísta (self-interest), é levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez parte do interesse dele: o bem-estar da sociedade." Como resultado da atuação dessa "mão invisível", o preço das mercadorias deveria descer e os salários deveriam subir.
As doutrinas de Adam Smith exerceram uma rápida e intensa influência na burguesia (comerciantes, industriais e financistas), pois queriam acabar com os direitos feudais e com o mercantilismo. (fonte: Wikipédia)
(2) Visitar o website: http://www.swedenborg.com.br/sweden/obras/obras.htm#cient
(3) Sobre a infalibilidade papal, o concílio vaticano primeiro decreta o seguinte:

"O Romano Pontífice, quando fala "ex cathedra", isto é, quando no exercício de seu ofício de pastor e mestre de todos os cristãos, em virtude de sua suprema autoridade apostólica, define uma doutrina de fé ou costumes que deve ser sustentada por toda a Igreja, possui, pela assistência divina que lhe foi prometida no bem-aventurado Pedro, aquela infalibilidade da qual o divino Redentor quis que gozasse a sua Igreja na definição da doutrina de fé e costumes. Por isto, ditas definições do Romano Pontífice são em si mesmas, e não pelo consentimento da Igreja, irreformáveis." (fonte: wikipédia)

(4) O principais escolásticos medievais foram Agostinho de Hipona (Santo Agostinho), século IV, e Tomás de Aquino, século XIII.

(5) Exegese: comentário ou dissertação para esclarecimentoou minuciosa interpretação de um texto ou de uma palavra. Aplica-se de modo especial à Bíblia. (fonte: Dicionário Aurelio)

(6) "A narrativa mais minuciosa do incêndio de Estocolmo está contida numa carta de Immanuel Kant para Charlotte von Knobloch, datada de Konigsberg, aos 10 de outubro de 1759 (ou depois), transcrita a seguir:
"Esta ocorrência parece ser a prova cabal dos poderes paranormais de Swedenborg. Às 4 horas da tarde de um sábado de setembro, do ano de 1759, Swedenborg chegou a Gotemburgo, vindo da Inglaterra e foi convidado à casa do Sr. William Castel, junto com mais quinze pessoas. Por volta das 18 horas, Swedenborg deu uma saída e, momentos depois, retornou à sala, pálido e visivelmente alarmado. E, em voz alta, disse a todos que, naquele exato momento, um grande incêndio irrompera em Estocolmo, no bairro de Sodermalm (Gotemburgo distava 300 milhas inglesas de Estocolmo) e que o fogo se alastrava com muita rapidez. Swedenborg estava agitado e entrava e saía da sala. Disse que a casa de um de seus amigos, cujo nome declinou, estava em cinzas e que sua própria casa estava ameaçada pelo fogo. Às 20 horas, voltou à sala e exclamou exultante: ‘Graças a Deus! O fogo foi extinto a 3 portas da minha casa’. O incidente causou forte impressão nas pessoas que o presenciaram e teve ampla repercussão na cidade. E chegou ao conhecimento do Governador naquela mesma noite. Na manhã do dia seguinte, domingo, o governador convocou Swedenborg ao palácio e quis saber todos os pormenores do sinistro. Swedenborg descreveu-lhe, minuciosamente, todo o incidente; como o incêndio tinha começado; quanto tempo tinha durado e como tinha sido extinto. Naquele mesmo dia o episódio se espalhou pela cidade e, com o endosso do governador, a notícia causou grande consternação. Todos lamentavam a sorte de amigos e parentes que poderiam ter sido atingidos pelo incêndio. Segunda-feira à noite chegou a Gotemburgo um mensageiro enviado pela Câmara de Comércio de Gotemburgo e que havia deixado a cidade durante o incêndio. As cartas trazidas por ele descreviam o sinistro tal qual Swedenborg o descrevera. Na manhã de terça-feira, chegou ao palácio do governador um mensageiro real trazendo o trágico relato do incêndio. Tudo coincidia, exatamente, com a descrição de Swedenborg; o fogo tinha sido, efetivamente, debelado às vinte horas do domingo" (www.swedenborg.com.br).
(7) Laurence Oliphant. Há dois personagens com este nome, pai e filho. Os dois são contemporâneos de Sewdenborg, mas o autor a quem Sir Arthur se refere, deve ser o filho, que escreveu vários livros sobre viagens, religião, etc.
(8) www.novaigreja.com.br, website da igreja de Emmanuel Swedenborg no Brasil.
(9) Christopher Polhem, inventor e engenheiro sueco, amigo de Swedenborg.

(10) J. J. Garth Wilkinson, médico, poeta e místico swedenborguiano.

(11) Especioso: de aparências enganadoras, ilusórios......(fonte: Dic. Aurélio)

(12) Vale Owen, célebre médium inglês desencarnado a 9 de março de 1931.

(13) George L. Trobridge, autor de “Swedenborg, Vida e Ensinamentos”, traduzido para o português por Raimundo Araújo Castro Neto, Sociedade Religiosa “Nova Jerusalém”, Rio de Janeiro, 1998.

(14) Edward Arthur Brayley Hodgetts (1859-1932), escreveu, entre outros, o livro Reasonable Religion or Emanuel Swedenborg: His Message and Teaching.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.