domingo, 11 de outubro de 2009

Cap. 23 - O Espiritismo e a Guerra

Muita gente jamais tinha ouvido falar de Espiritismo antes do período que se iniciou em 1914, quando de súbito o Anjo da Morte penetrou em muitos lares. Os adversários do Espiritismo acharam mais conveniente considerar o cataclismo mundial como a causa principal do crescente interesse na pesquisa psíquica. Esses oponentes inescrupulosos também disseram que a defesa do assunto, feita pelo autor, bem como por seu ilustre amigo, Sir Oliver Lodge, era devida ao fato de cada um ter perdido um filho na guerra, daí deduzindo que o pesar lhes havia reduzido a capacidade de crítica e os levado a pensar em coisas que não aceitariam em períodos normais. O autor já refutou muitas vezes essa grosseira mentira e mostrou o fato de suas investigações datarem de 1886. Por sua vez, assim se exprime Sir Oliver Lodge:

“Não se deve pensar que meu ponto de vista tenha mudado apreciavelmente desde esse acontecimento e com as experiências particulares relatadas nas páginas que se seguem; minha conclusão foi sendo formada gradativamente, durante anos, posto que, sem dúvida, baseada em experiências da mesma espécie. Mas o acontecimento fortaleceu e liberou o meu testemunho. Agora posso ligar-me com minha experiência pessoal, e não com a alheia experiência. Enquanto a gente depende de provas relacionadas, ainda que indiretamente, com a desolação da morte dos outros, tem que ser reticente e cauteloso e, nalguns casos, silenciar. Somente por permissão especial certos fatos poderiam ser mencionados; e essa permissão, nalguns casos importantes, não poderia ser obtida. Então as minhas deduções foram as mesmas de agora. Mas agora os fatos me pertencem.”

Se é verdade que, antes da guerra, os Espíritos se contavam por milhões, não há dúvida que o assunto não era compreendido pelo mundo em geral, nem mesmo reconhecido como um fato. A guerra mudou tudo isto. As mortes ocorreram em quase todas as famílias, assim despertando um súbito interesse concentrado na vida após a morte. A gente não só perguntava: “Se um homem morrer viverá de novo?” Procurava, ansiosa, saber se era possível a comunicação com os entes queridos que haviam perdido. Procurava-se “o toque da mão destruída e o som da voz que emudecera”. Não só milhares de pessoas investigaram diretamente, mas, como no início do movimento, a primeira tentativa era feita pelos que haviam partido. A Imprensa era incapaz de resistir à pressão da opinião pública e muita publicidade foi feita de casos de soldados que voltavam e, em geral, da vida após a morte.

Neste capítulo apenas uma ligeira referência será feita às diferentes maneiras por que o mundo espiritual se manifestou nas várias fases da guerra. O próprio conflito fora predito muitas vezes; soldados mortos se mostravam em casa e davam avisos de perigo aos seus camaradas no campo de batalha; deixavam as suas imagens em chapas fotográficas; figuras solitárias e hóspedes legendários, não deste mundo, eram vistos na área da luta; na verdade, sobre toda a cena pairava, de vez em quando, uma forte atmosfera da presença e da atividade do outro mundo.

Se, por um momento, o autor pode dar uma nota pessoal, dirá que, enquanto a sua própria perda não tivesse tido efeito sobre os seus pontos de vista, o espetáculo de um mundo esmagado pela dor e que ansiosamente pedia auxílio e conhecimento, certamente afetou a sua mente e o levou a compreender que esses estudos psíquicos, que durante tanto tempo ele vinha fazendo, eram de uma enorme importância prática e não mais poderiam ser considerados como mero passatempo intelectual ou fascinante busca a nova pesquisa. A prova da presença de mortos se fez em sua própria casa e o conforto trazido por mensagens póstumas lhe ensinou que grande consolação seria para um mundo torturado se ele pudesse compartilhar do conhecimento que se havia tornado claro para o autor. Foi tal realização que, desde 1916, o levou, e à sua esposa, a se dedicarem largamente ao assunto, a fazer conferências em muitos países, a viajar para a Austrália, Nova Zelândia, e Canadá, em missões de instrução. Na verdade, esta história, pode-se dizer, obedece ao mesmo impulso que, de início, o atirou de corpo e alma na causa. Este assunto se presta para algumas linhas numa história geral, mas se torna parte de um capítulo que trata da guerra, desde que foi a atmosfera da guerra que o engendrou e desenvolveu.

A profecia é um dom espiritual e qualquer prova clara de sua existência indica forças psíquicas fora de nosso conhecimento normal. No caso da guerra, aliás, muitos podiam, por meios normais, como pelo uso da própria razão, predizer que a situação no mundo tinha se tornado tão intolerável por causa do militarismo, que o equilíbrio não podia ser mantido. Mas algumas dessas profecias parecem tão distintas e minuciosas que se colocam acima no poder da mera razão e da previsão.

O fato geral de uma grande catástrofe mundial e a parte nela tomada pela Inglaterra, é assim referida numa comunicação espírita recebida pelo Grupo Oxley, em Manchester, e publicado em 1885:

“Por duas vezes em sete anos – a partir da data que vos foi indicada – as influências que agem contra a Inglaterra serão vitoriosas; e depois daquele tempo, virá uma terrível luta, uma tremenda guerra, um terrível derramamento de sangue – conforme a maneira humana de falar, um destronamento de reis, uma derrubada de Poderes, grandes revoluções e perturbações; e ainda maior comoção entre as massas, produzidas pela riqueza e por sua posse. Usando essas palavras, falo de acordo com a linguagem humana.

“A mais importante questão é: “A Inglaterra ficará perdida para sempre?” Vemos as profecias de muitos e a atitude de muitos representantes no plano externo e vemos mais claramente do que muitos na Terra nos julgam capazes; vemos que entre os últimos indicados há os que mais amam o ouro do que aquele princípio inteiro que aquele ouro representa.

“A não ser que no começo da crise não intervenha o Grande Poder, isto é, que a Grande Força operadora de que vos falei antes, e em calma dignidade passe à frente e destitua o mandado – impondo a Paz – a profecia de alguns, que para sempre a Inglaterra mergulhará nas profundezas, será cumprida. Como os específicos átomos da vida, que compõem o Estado chamado Inglaterra, que deve mergulhar um tempo a fim de que possa vir à tona, assim deve a nação mergulhar e mergulhar profundamente durante uma estação; porque se acha imersa no amor do que é falso e ainda não adquiriu a inteligência que agirá como poderosa alavanca para a erguer para a sua própria dignidade. Irá ela, como o homem afogado que se afunda pela terceira e última vez, mergulhar e perder-se para sempre? Uma vez no grande todo do Todo Poderoso, deverá continuar como parte integrante. Haverá uma mão bondosa que se estenderá para a salvar e a livrar dos vagalhões dos próprios jeitos que ameaçam tragada. Com uma energia inexprimível, diz aquele Poder: Primeiro a Inglaterra! Inglaterra para sempre! Mas a continuação não será no mesmo estado de coisas. Ela deve e mergulhará ainda mais, para mais ainda se erguer. O como, o porquê e a maneira por que fará a sua salvação e a sua serenidade, eu vos direi em outra ocasião; mas, aqui afirmo que, a fim de se salvar, a Inglaterra deve sofrer um derrame do seu melhor sangue.”

Sobre detalhes da famosa profecia de M. Sonrel, em 1868, sobre a guerra de 1870 e sua profecia menos direta sobre a de 1914, deve o leitor consultar o livro do Professor Richet, “Trinta Anos de Pesquisas Psíquicas”, das páginas 387, até 389. A parte essencial desta última é assim concebida:

“Espere agora, espere... passam-se anos. É uma vasta guerra. Que sangria! Meu Deus! que sangria! Oh! França, oh! minha terra, está salva! Estás no Reino!”

A profecia foi dada em 1868, mas só registrada pelo Doutor Tardieu em abril de 1914.

O autor se referia antes à profecia dada em Sydney, Austrália, pela conhecida médium Mrs. Foster Turner, mas ela suporta a repetição. Numa reunião em fevereiro de 1914, no Little Theatre, Castlereagh Street, perante uma assistência de cerca de mil pessoas, numa mensagem de transe, na qual se supunha que a influência fosse de Mr. W. I. Stead, disse ela, conforme notas tomadas na ocasião em que falava:

“Agora, não obstante não haja rumores de uma próxima Guerra Européia, desejo ainda vos prevenir que, antes de terminado este ano de 1914, a Europa será afogada em sangue. A Grã-Bretanha, nossa querida pátria, será arrastada à mais horrorosa guerra que o mundo já conheceu. A Alemanha será a grande antagonista e arrastará outras nações ao seu lado. A Áustria será arrastada para a ruína. Cairão reis e reinos. Milhões de vidas preciosas serão sacrificadas, mas a Inglaterra triunfará por fim e surgirá vitoriosa.”

A data do término da Grande Guerra foi dada com exatidão em “Private Dowding”, pelo Major W. Tudor Pole, que denomina o seu livro “Um Simples Registro de Experiências com o depois da morte de um soldado morto em campo de batalha”. Nesse livro, aparecido em Londres em 1917, encontramos, à página 99, a seguinte comunicação:

“Mensageiro: Na Europa haverá três grandes federações de estados. Estas surgirão naturalmente e sem derramamento de sangue; mas antes dar-se-á a batalha de A Armageddon.

“W. T. Pergunta: Quanto tempo demorará isto?

“Mensageiro: Não sou um ser bastante elevado; a mim não são revelados os detalhes de todos esses maravilhosos acontecimentos. Até onde me é permitido ver, a paz será restabelecida durante 1919 e as federações mundiais surgirão dentro dos sete anos seguintes. Entretanto a luta atual deve terminar em 1918 e muitos anos passarão antes de se estabelecer a tranqüilidade e a paz de maneira permanente.”

Na lista das profecias ocupa um lugar a de Mrs. Piper, famosa médium de transe de Boston, E. U. A., conquanto alguns a considerem um tanto vaga. Foi dada em 1898, numa sessão com o Doutor Richard Hodgson, membro preeminente da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres e de sua congênere americana.

“Jamais, desde os dias de Melchizedek, foi o mundo terreno tão sensível à influência dos Espíritos. No próximo século ela será admiravelmente perceptível à mente humana. Farei uma declaração que com certeza ireis verificar. Ante a clara revelação do Espírito em comunicação, haverá uma terrível guerra em várias partes do mundo. Isto será precedido por comunicações claras. O mundo inteiro deve ser purificado e limpo, antes que o homem mortal possa ver, numa visão espiritual, seus amigos deste lado; e ele tomará exatamente linha de ação para chegar ao estado de perfeição. Amigo, tenha a bondade de pensar nisto.”

Nos “Proceedings” da Sociedade de Pesquisas Psíquicas Mr. J. G. Piddington fala, enfim, das predições de guerra, contidas em várias escritas automáticas, especialmente nas de Mrs. Alfred Lyttelton. Em resumo, diz ele:

“Em termos gerais esses escritos predizem a guerra. Assim foi com muitos. Cerca de meia dúzia, escritos entre 9 e 21 de julho de 1914, prediziam que a guerra estava às portas.”

Assim também uma anterior, foi recebida por Sir Cecil Spring-Ríce. As mensagens predizem que a guerra eventualmente conduzirá a um grande avanço nas relações internacionais e nas condições sociais. Por outro lado, dezenas de milhares de cidadãos comuns em todo o Império Britânico, pensaram e esperaram que a Grande Guerra fosse, como dizia a frase, “uma guerra para acabar com a guerra”.

Mas esse último paralelo entre as predições nas mensagens e as crenças ou aspirações que se declaravam por toda a parte e tão intensamente quando rebentou a guerra, é apenas superficial. Porque, enquanto a onda de idealismo que varreu o Império continuou ou pelo menos se sincronizou, com o começo da guerra, durante muitos anos antes de 1914, as mensagens reiteradamente combinavam as predições de uma Utopia com predições de guerra, e as tinham combinado de tal maneira que uma coisa implicava o surgimento da outra. Não vejo paralelo nisto. Os escritores, soldados, diplomatas e políticos que nos previram a guerra, pregaram os seus perigos e os seus horríveis efeitos, mas não nos disseram que essa horrível tragédia seria a gestação de um mundo melhor. Também os propagandistas de Haya e de outras conferências para o aplainamento de rivalidades internacionais não nos avisaram que a guerra mundial deveria preceder a realização daqueles desejos. Tudo era predição ou temor de um próximo caos. Só as mensagens espíritas, ao que saibamos, falam de uma esperança no após-guerra e saúdam a aproximação do caos, como prelúdio de um novo cosmos.

As predições da Guerra nas mensagens não se podem separar das de uma eventual Utopia. As mensagens não dizem “Haverá guerra”, ponto, e mudando de assunto, “Haverá uma Utopia”. Insinuam claramente que Utopia será consequência da Guerra. Contudo, não será possível dizer-se que os dois elementos componentes da profecia permanecerão ou cairão juntos, porque as predições de Guerra se realizaram; mas realizações ou a morte das predições utópicas eventualmente influenciarão a opinião pública, como fonte de predições de guerra. Se a Utopia prevista nessas mensagens se traduzisse em fato, seria muito difícil atribuir a predição desse fato como resultado da Guerra à presciência humana comum.

Então surgiria um caso, por admitir-se a pretensão das mensagens e por se dar crédito à predição dos seres desencarnados. E se as predições utópicas fossem recebidas como trabalho das mentes desencarnadas, com toda probabilidade as predições da Guerra, que a elas se acham intimamente ligadas, seriam atribuídas à mesma fonte.

Há muitíssimas outras profecias que foram mais ou menos bem sucedidas. Seu exame, entretanto, não deixará de impressionar o estudioso com a convicção de que o sentido de tempo é menos apurado nos detalhes espirituais. Muito frequentemente, onde os fatos são certos, as datas são lamentavelmente erradas.

A mais exata de todas as profecias concernentes à Guerra parece que foi a de Sophia, uma jovem grega que, hipnotizada pelo Doutor Antoniou de Atenas, forneceu em transe oráculos falados. A data foi 6 de junho de 1914. Não só predisse a Grande Guerra, e quem seriam as partes, mas deu uma porção de detalhes, tais como a neutralidade da Itália no começo, sua subsequente aliança com a Entente, a ação da Grécia, o lugar da batalha final de Vardar, etc. É interessante, entretanto, notar que ela cometeu certos erros que tendem a mostrar que a posição do fatalista não é segura e que, pelo menos, há uma larga margem que pode ser afetada pela vontade e pela ação humanas.

Há muitos testemunhos relativos à ocorrência daquilo que pode ser chamado intervenção dos Espíritos durante a guerra.

O Capitão W. E. Newcome contou o seguinte:

“Foi em setembro de 1916 que o 2º Suffolks deixou Loos para ir para o setor Norte de Albert. Acompanhei-os e quando nas trincheiras da linha de frente daquele setor, eu, com outros, testemunhei uma das mais notáveis ocorrências da guerra.

“Entre o fim de outubro e 5 de novembro estávamos guarnecendo aquela parte com muito pouca tropa. A 1º de novembro os alemães fizeram um ataque cerrado, com enorme esforço para romper a linha. Tive ocasião de descer às linhas de reserva e, durante a minha ausência, começou o ataque alemão.

“Apressei-me em voltar para a minha companhia e cheguei a tempo de dar uma mão, fazendo o inimigo recuar para as suas linhas. Ele jamais ganhou um palmo de nossas trincheiras. O assalto foi duro e curto e nós estávamos à espera de um outro assalto.

“Não tivemos que esperar muito, pois logo vimos alemães vindos pela Terra de Ninguém em ondas maciças. Antes, porém, que atingissem as nossas redes de arame farpado, uma figura branca, espiritual, de um soldado ergueu-se de uma cratera ou do chão, mais ou menos a cem jardas à nossa esquerda, bem em frente os nossos fios e entre a primeira linha de alemães e nós. A figura espectral caminhou então lentamente em frente às nossas linhas, cerca de mil jardas. Sua silhueta sugeria à minha mente a de um velho oficial de antes da guerra, pois parecia usar capote da campanha, com capacete de serviço de campo. Primeiro olhou para os alemães que se aproximavam, depois virou a cabeça e começou a andar do lado de fora de nossas redes, ao longo do setor que guarnecíamos.

“Nosso sinal de S.O.S. tinha sido respondido por nossa artilharia e as balas assobiavam através da Terra de Ninguém... mas nenhuma impedia que o espectro progredisse.

“Rapidamente marchou da nossa esquerda até a extrema direita do setor e então virou-se bem de frente para nós. Parecia olhar para cima e para baixo de nossas trincheiras e quando cada “very light” subia, ele ficava ainda mais destacado.

“Depois de um rápido exame sobre nós, voltou-se bruscamente para a direita, e avançou em normal para as trincheiras alemãs. Os alemães retrocederam para não mais aparecer naquela noite.

“Parece que o primeiro pensamento dos homens foram os Anjos de Mons; depois alguns disseram que parecia Lord Kitchner e outros disseram que quando se voltara para nós o rosto parecia o de Lord Roberts. Sei que pessoalmente me causou um grande abalo e que durante algum tempo foi o assunto da companhia.

“Seu aparecimento pôde ser testemunhado por sargentos e homens de minha companhia.”

No mesmo artigo do Pearson’s Magazine é contada a história de Mr. William M. Speight, que tinha perdido um irmão oficial e seu melhor amigo no ângulo saliente de Ypres, em dezembro de 1915. Viu o oficial ir ao seu refúgio na mesma noite. Na manhã seguinte Mr. Speight convidou outro oficial a vir ao refúgio a fim de confirmar, se a visão reaparecesse. O oficial morto voltou mais uma vez e, depois de apontar um lugar no chão do refúgio, desapareceu. Foi feito um buraco no lugar apontado e à profundidade de três pés foi encontrado um pequeno túnel cavado pelos alemães, com tubos de inflamáveis e bombas de tempo, que deveriam explodir treze horas mais tarde. A descoberta das minas poupou muitas vidas.

Mrs. E. A. Cannock, conhecida clarividente londrina, descreve numa reunião espírita como muitos soldados mortos adotaram um método novo e convincente para se identificarem. Os soldados, na visão da clarividente, avançaram em fila indiana pela nave de uma igreja comandados por um tenente. Cada homem tinha uma espécie de placa no peito, na qual estavam escritos o nome e o lugar onde tinham vivido na Terra. Mrs. Cannock foi capaz de ler os nomes e a descrição, e todos foram identificados por vários membros da assistência. Circunstância curiosa era que, quando um era reconhecido, desaparecia para dar lugar ao seguinte na fila.

Como tipo de outras histórias da mesma natureza podemos citar o caso descrito em “Telepathy from the Battle front”.

A 4 de novembro de 1914 Mrs. Fussey, de Wimbledon, cujo filho “Tab” estava servindo na França no 9º de Lanceiros, estava sentada em casa quando sentiu no braço a dor aguda de um ferimento. Pulou da cadeira e exclamou: “Engraçado!” e esfregou o lugar. Seu marido também examinou o seu braço mas nenhum vestígio encontrou. Mrs. Fussey continuou a sentir a dor e exclamou: “Tab está ferido no braço. Bem sei”. Na segunda-feira seguinte veio uma carta do Sub-oficial Fussey, dizendo que tinha recebido um tiro no braço e que se achava num hospital.

O caso coincide com experiências verificadas em muitos sensitivos que, por uma desconhecida lei de simpatia, sofreram choques simultaneamente com acidentes ocorridos em amigos, e até em estranhos, que estavam distantes.

Em muitos casos, soldados mortos têm-se manifestado na fotografia espírita. Um dos mais notáveis exemplos ocorreu em Londres, no Dia do Armistício, a 11 de novembro de 1922, quando a médium, Mrs. Deane, em presença de Miss Estelle Stead, tirou uma fotografia da multidão em Whitehall, nas proximidades do Cenotáfio. Foi durante os dois minutos de silêncio, e na fotografia vê-se um grande círculo de luz, no meio do qual estão duas ou três dúzias de cabeças, muitas das quais foram repetidas nos anos seguintes e, a despeito dos incessantes e maliciosos ataques à médium e ao seu trabalho, os que tiveram a melhor oportunidade de a controlar, não têm dúvidas do caráter supranormal das fotografias.

Devemos contentar-nos com mais um caso típico de centenas de resultados. Mr. R. S. Hipwood, 174, Cleveland Road, Sunderland, escreve:

“Perdemos nosso único filho na França a 27 de agosto de 1918. Sendo um bom fotógrafo amador, tinha curiosidade pelas fotografias tiradas no Crewe Circle. Tomamos nossa própria chapa, meti-a eu mesmo no caixilho e escrevi o meu nome. Fiz duas exposições na máquina e obtivemos uma fotografia bem reconhecível. Até meu neto de nove anos pôde dizer quem era o extra, sem que ninguém lhe houvesse falado. Tendo um conhecimento completo de fotografia, posso garantir a veracidade da fotografia em todos os seus detalhes. Declaro que a fotografia que vos remeto é um retrato comum meu e de Mrs. Hipwood, com um extra de meu filho, R. W. Hipwood, 13º Regimento Welsh, morto na França, no grande avanço de agosto de 1918. Apresento aos nossos amigos em Crewe a nossa ilimitada confiança em seu trabalho.”

Nos inúmeros casos registrados de volta de soldados mortos, o seguinte se destaca porque os detalhes foram recebidos de duas fontes diversas. É contado por M. W. T. Waters, de Tunbridge Wells, que se diz apenas um novato no estudo do Espiritismo.

“Em julho último fiz uma sessão com Mr. J. J. Vango, no curso da qual o guia me disse subitamente que estava de pé, ao meu lado, um jovem soldado ansioso por que eu transmitisse uma mensagem à sua mãe e sua irmã, que moravam na cidade. Respondi que não conhecia nenhum soldado perto de mim e que tivesse morrido. Contudo o camarada não queria sair; e, como meus amigos parece que se afastaram para que ele falasse, prometi satisfazer os seus desejos.

“Procurei cumprir a minha promessa, mas sabendo que a sua gente era do partido da Igreja e, mais provavelmente, não acreditaria, fiquei pensando em como levar o recado, pois sentia que eles iriam pensar que a minha perda tinha afetado o meu cérebro. Arrisquei-me a me aproximar de sua tia, mas o que lhe disse apenas recebeu esta resposta: “Não pode ser.” Então resolvi esperar uma oportunidade de falar diretamente à sua mãe.

“Antes que se apresentasse a esperada oportunidade, uma moça da cidade, que havia perdido a mãe dois anos antes, ouvindo de minha filha que eu investigava esse assunto, visitou-me e eu lhe emprestei livros. Um desses livros é “Rupert Lives”, com o qual ela ficou muito chocada e eventualmente arranjou uma sessão com Miss McCreadie, através de quem recebeu um testemunho convincente, tornando-se uma crente convicta. Durante a sessão, o moço soldado que veio a mim, lá foi ter também. Repetiu a mesma descrição que eu tinha recebido e acrescentou o seu nome – Charlie – e lhe pediu que desse o recado à sua mãe e sua irmã – a mesmíssima mensagem que eu deixara de entregar. Estava tão ansioso pela coisa que, ao terminar a sessão voltou e implorou que ela não lhe faltasse.

“Agora, estes fatos se passaram em datas diferentes – julho e setembro – exatamente a mesma mensagem foi dada através de médiuns diferentes e diferentes pessoas, e ainda há quem diga que isso é um mito e que os médiuns apenas têm os nossos pensamentos.

“Quando a minha amiga me contou a sua experiência imediatamente lhe pedi que fosse comigo à mãe do rapaz e tenho a satisfação de verificar que essa dupla mensagem as convenceu a ambas, mãe e filha, e que a tia do rapaz está quase convencida da verdade, se é que não o está completamente.”

“Sir William Barret registra essa comunicação probante, que foi recebida em Dublin, através da prancheta, com Mrs. Travers Smith, filha do falecido Professor Edward Dowden. Sua amiga, Miss C., que é mencionada, era filha de um médico. Sir William chama a este “O Caso do Alfinete de Pérola”.

“Miss C., assistente, tinha um primo, oficial do nosso exército na França, o qual fora morto numa batalha, um mês antes da sessão. Ela o sabia. Um dia em que o nome de seu primo tinha sido deletreado inesperadamente numa sessão de prancheta e o nome dela dado em resposta à pergunta “Sabe quem sou eu?”, veio a seguinte mensagem.

“Diga a mamãe que dê um alfinete de pérola à moça com quem eu ia casar-me. Penso que ela deve ficar com ele.” Quando perguntaram o nome e o endereço da moça, estes foram dados. O nome deletreado compreendia o seu nome de batismo, o sobrenome, que era muito pouco comum e desconhecido de ambos os assistentes. O endereço dado em Londres era fictício ou captado incorretamente, pois uma carta para lá enviada foi devolvida. Então pensou-se que toda a mensagem fosse fictícia.

“Seis meses depois, entretanto, foi descoberto que o oficial tinha ficado noivo, pouco antes de ir para a frente, exatamente da moça cujo nome fora dado. Entretanto não tinha dito isso a ninguém. Nem sua prima, nem sua família na Irlanda sabiam do fato, nem tinham jamais visto a moça ou ouvido falar em seu nome até que o Ministério da Guerra mandou os objetos do morto. Então verificaram que ele havia posto o nome da moça com seu testamento, como sua parenta mais próxima – e tanto o prenome quanto o nome eram precisamente aqueles dados na sessão; e o que é igualmente notável, é que o alfinete de pérola foi achado entre os seus objetos.

“Ambas as senhoras assinaram um documento que me enviaram, afirmando a exatidão do relato. A mensagem foi gravada na ocasião e não escrita de memória depois de obtida a confirmação. Aqui não poderia haver a explicação da memória subliminal, telepatia ou coincidência e a evidência indica, sem sombra de dúvida, como mensagem telepática do oficial morto.”

Descreve o Reverendo G. Owen a volta de George Leaf, um de seus colegas do Curso de Bíblia, em Oxford, Warrington, que entrou para a R.A.F. e morreu na Grande Guerra:

“Algumas semanas depois sua mãe estava limpando o ladrilho da lareira, na sala de estar. Estava ajoelhada diante da grelha quando sentiu um impulso para se virar e olhar a porta que se abrira na entrada. Voltou-se e viu seu filho, vestido com roupas de trabalho, exatamente como costumava voltar para casa todas as tardes, quando vivo. Tirou o casaco e pendurou-o na porta, como era velho hábito familiar. Então virou-se para ela, moveu a cabeça e sorriu; marchou para a cozinha, onde tinha o hábito de se lavar, antes do jantar.

Tudo era muito natural e vívido. Ela reconheceu que era o seu filho morto, que tinha vindo para lhe mostrar que estava vivo no mundo dos Espíritos e vivendo uma vida natural, bem feliz e contente. Também aquele sorriso de amor lhe disse que seu coração ainda estava com os velhos em casa. Ela é uma criatura sensível e não duvida da história um instante.

Aliás, desde a morte do filho tem sido vista na Igreja de Orford, que ele costumava frequentar e tem sido visto em vários outros lugares.”

Há muitos exemplos de visões de soldados, coincidentes com a sua morte. Nos “Dreams and Visions of the War”, de Rosa Stuart, encontra-se este caso:

“Uma história muito tocante me foi contada por uma senhora de Bournemouth. Seu marido, sargento nos Devons, foi para a França a 25 de julho de 1915. Ela havia recebido cartas suas regularmente, todas muito felizes e amáveis, de modo que ela começou a ficar com a mente calma a seu respeito, sentindo que se qualquer perigo o ameaçasse ele se sairia bem.

“Na noite de 25 de setembro de 1915, cerca de dez horas, achava-se sentada na cama, em seu quarto, conversando com outra moça, que morava com ela. A luz estava acesa e nenhuma delas pensava em ir para a cama, tão absorvidas estavam na conversa sobre os fatos do dia e da guerra.

“Subitamente houve um silêncio. A esposa parou de súbito, no meio de uma frase e sentou-se, olhando fixamente no espaço.

“Diante delas, fardado, estava o seu marido! Durante dois ou três minutos assim ficou, olhando para ele, e ficou chocada pela expressão de tristeza de seus olhos. Levantando-se rapidamente avançou para o lugar onde ele estava, mas lá chegando a visão tinha desaparecido.

“Conquanto naquela manhã tivesse recebido uma carta dizendo que ele se achava são e bom, teve a certeza de que a visão era de mau augúrio. Tinha razão. Pouco depois recebia uma carta do Ministério da Guerra, dizendo que ele tinha sido morto em combate em Laos, a 25 de setembro de 1915, na mesma data em que lhe parecera tê-lo visto ao lado de sua cama.”

Um lado místico mais profundo das visões da Grande Guerra gira em torno dos “Anjos de Mons”. Mr. Arthur Machen, conhecido jornalista londrino, escreveu uma história, dizendo como os arqueiros ingleses do campo de Agincourt tinham interferido durante a terrível retirada de Mons. Mas confessou depois que havia inventado o incidente. Mas aqui, como tantas vezes antes, a verdade provou que a ficção era um fato, ou pelo menos que fatos da mesma ordem eram contados por muitas testemunhas fidedignas. Mr. Harold Begbie publicou um livrinho, “On the Side of the Angels”, dando muitas provas e Mr. Ralph Shirley, editor da Occult Review, de Londres, o seguiu com “The Angel Warriors at Mons”, reforçando o testemunho de Mr. Begbie.

Respondendo a Mr. Machen no jornal Londrino Evening News, de 14 de setembro de 1915, um oficial britânico diz que estava lutando em Le Cateau, a 26 de agosto de 1914, e que sua divisão se retirava e marchava durante a noite de 26 e durante o dia 27. E diz:

“Na noite de 27 eu cavalgava ao lado da coluna, com dois outros oficiais. Tinha estado falando e fazendo o possível para não dormir montado.

“Enquanto marchávamos, tive consciência de um fato: no bosque, de ambos os lados da estrada, por onde marchávamos, eu via um grande corpo de cavaleiros. Esses cavalarianos tinham a aparência de esquadrões de cavalaria e pareciam andar dentro do bosque, na mesma direção que nós e se mantendo em linha conosco.

“A noite não era muito escura e imaginei que via muito distintamente os cavalarianos.

“A princípio não disse uma palavra, mas os observei durante uns vinte minutos. Os outros dois oficiais tinham parado de falar.

“Por fim um deles me perguntou se eu havia visto alguma coisa no bosque. Então lhe disse o que tinha visto. O terceiro oficial também confessou que tinha observado aqueles homens nos últimos vinte minutos.

“Tão convencidos estávamos de que eram realmente cavalarianos que na parada seguinte um dos oficiais tomou uma patrulha de reconhecimento e lá não encontrou ninguém. Então a noite se tornou mais escura e nada mais vi.

“O mesmo fenômeno foi observado por muitos homens da coluna. Aliás, nós estávamos cansadíssimos e sobrecarregados, mas é uma coisa extraordinária que o mesmo fenômeno tivesse sido observado por tanta gente.

“Eu mesmo estou absolutamente convencido que vi esses cavalarianos; tenho certeza de que não existem apenas na minha imaginação. Não tento explicar o mistério – apenas verifico os fatos.”

A prova parece boa e ainda se deve admitir que no esforço e na tensão da grande retirada a mente dos homens não estava nas melhores condições para suportar provas. Por outro lado é nesses momentos de dificuldades que as forças psíquicas do homem geralmente estão mais ativas.

Um profundo aspecto da Guerra Mundial está envolvido na consideração de que a guerra na Terra é apenas um aspecto das batalhas invisíveis em planos mais altos onde se chocam os poderes do Bem e do Mal. O finado A. S. Sinnett, eminente teosofista, aborda essa questão num artigo sob o título de “Super-Physical Aspects of the War”.

Não podemos aqui entrar no assunto, salvo para dizer que há provas de muitas fontes a indicar que Mr. Sinnet fala de coisas que se baseiam em fatos.

Um considerável número de livros e um muito maior de manuscritos registram as supostas experiências dos que morreram na guerra, que, aliás, não diferem de modo algum da dos que morreram em outras ocasiões, mas se tornam mais dramáticas, dada a ocasião histórica. O maior desses livros é “Raymond”. Sir Oliver Lodge é um cientista tão famoso e um pensador tão profundo que a sua corajosa e franca confissão produziu uma grande impressão sobre o público. O livro apareceu ultimamente em forma condensada, e parece que fica por muitos anos como um clássico do assunto. Outros livros da mesma classe, todos corroborativos dos principais detalhes, são “The Case of Lester Coltman”, “Claudés Book”, “Rupert Lives”, “Grenadier Rolf”, “Private Dowding” e outros. Todos pintam a sorte da vida do além, que é descrita no capítulo seguinte.


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