sábado, 27 de junho de 2009

Cap. 13 - Henry Slade e o Dr. Monck

É impossível relacionar todos os médiuns das várias gradações de força e, ocasionalmente, de honestidade, que têm demonstrado os efeitos que inteligências estranhas podem produzir quando as condições materiais são tais que permitem a sua manifestação neste plano. Há alguns, entretanto, que foram tão preeminentes e tão envolvidos em polêmicas públicas que nenhuma história do movimento poderá esquecê-los, mesmo quando sua carreira não estivesse, sob todos os pontos, isenta de suspeitas. Trataremos neste capítulo da história de Slade e de Monck, os quais representaram em sua época um papel destacado.
Henry Slade, célebre médium da escrita nas lousas, foi exibido publicamente na América durante quinze anos, antes que chegasse a Londres a 13 de julho de 1876. O Coronel H. S. Olcott, antigo presidente da Sociedade Teosófica, declara que, com a Senhora Blavatsky era responsável pela visita de Slade à Inglaterra. Parece que, como o Grão-Duque Constantino da Rússia desejasse fazer uma investigação científica do Espiritismo, uma comissão de professores da Universidade de São Petersburgo pediu ao Coronel Olcott e à Senhora Blavatsky que escolhessem entre os melhores médiuns americanos um que pudesse ser recomendado para ensaios. Eles escolheram Slade, depois de o submeter a testes durante várias semanas, perante uma comissão de cépticos, que em seu relatório certificavam que “eram escritas mensagens nas faces inteiras de duas lousas, por vezes amarradas e seladas juntas, quando postas sobre uma mesa, à vista de todos; acima das cabeças de membros da comissão; presas à parte inferior do tampo da mesa; ou, ainda, nas mãos de um membro da comissão, sem que o médium as tocasse”. Foi se dirigindo para a Rússia que Slade veio à Inglaterra.
Um representante do jornal World, de Londres, que esteve numa sessão de Slade logo após à sua chegada, assim o descreve: “Muito bem conformado, temperamento nervoso, rosto místico e sonhador, gestos regulares, olhos expressivos e luminosos, um sorriso antes triste e uma certa graça melancólica de maneiras, eram as impressões despertadas por esse homem alto e flexível, que me foi apresentado como sendo o Doutor Slade. É o tipo de homem que a gente marcaria numa assembléia como um entusiasta.” Diz o relatório da Comissão Seibert que “tinha cerca de 1 metro e 83 centímetros de altura, com um rosto de inusitada simetria” e que “sua face chamava a atenção em qualquer parte por sua beleza incomum” e acrescenta que é “um homem digno de nota sob todos os aspectos”.
Logo depois de sua chegada a Londres, Slade começou a fazer sessões em seus aposentos, 8 User Bedford Place, Russel Square, com um sucesso imediato e pronunciado.
Não só a escrita era obtida de modo evidente, sob fiscalização e com lousas dos próprios assistentes, mas a levitação de objetos e a materialização de mãos foi observada sob intensa luz do dia. O redator de The Spiritual Magazine, o mais sereno e elevado periódico dos espíritas da época, escreveu:
“Não hesitamos em dizer que o Doutor Slade é o mais notável médium dos tempos modernos”.
Mr. J. Enmore Jones, conhecido pesquisador do psiquismo daqueles dias e, posteriormente, redator de The Spiritual Magazine, disse que Slade estava ocupando o lugar deixado por D. D. Home. A descrição que faz de sua primeira sessão indica o severo método de exame: “No caso de Mr. Home, recusou receber um salário e, via de regra, as sessões eram feitas ao anoitecer, no calmo ambiente familiar. Mas no caso do Doutor Slade elas se realizavam a qualquer hora, durante o dia, nos aposentos que ele ocupava numa pensão.
Cobra vinte shillings e prefere que apenas uma pessoa fique na sala que ocupa. Não perde tempo: assim que o visitante se senta, começam os incidentes, continuam e terminam em cerca de quinze minutos”. Stainton Moses, que depois foi o primeiro presidente da Aliança Espírita de Londres, externou a mesma idéia a respeito de Slade. Escreveu: “Em sua presença os fenômenos ocorrem com uma regularidade e precisão, com uma ausência de preocupação com as “condições” e com uma facilidade para observação que satisfaz inteiramente os meus desejos. É impossível imaginar circunstâncias mais favoráveis para a minuciosa investigação do que aquelas sob as quais testemunhei os fenômenos que ocorrem em sua presença com tão surpreendente rapidez. Não havia hesitação nem tentativas. Tudo era rápido, agudo, decisivo. Os operadores invisíveis sabiam exatamente o que iam fazer, e o faziam com presteza e precisão”.
A primeira sessão de Slade na Inglaterra foi realizada a 15 de julho de 1876, para Mr. Charles Blackburn, eminente espiritista, e Mr. W. II. Harrison, redator de The Spiritualist.
Em plena luz do dia o médium e os dois assistentes ocuparam os três lados de uma mesa comum de cerca de três pés de lado. Slade pôs um pedacinho de lápis, mais ou menos do tamanho de um grão de trigo, sobre uma ardósia e segurou esta por um canto, com uma mão, encostando-a no tampo por baixo da mesa. Ouvia-se a escrita na lousa e, examinada, verificou-se que uma curta mensagem fora escrita. Enquanto isso acontecia, as quatro mãos dos assistentes e a mão livre de Slade eram agarradas no centro da mesa. A cadeira de Mr. Blackburn foi arrastada umas quatro ou cinco polegadas, estando ele sentado, e ninguém senão ele a tocava. A cadeira vazia no quarto lado da mesa uma vez pulou no ar, batendo o assento na borda inferior da mesa. Duas vezes uma mão com a aparência de vida passou em frente a Mr. Blackburn, enquanto ambas as mãos de Slade eram observadas. O médium segurou um acordeom debaixo da mesa e, enquanto se via claramente a outra mão sobre a mesa, foi tocada a “Home, Sweet Home”. Então Mr. Blackburn segurou o acordeom da mesma maneira, quando o instrumento foi empurrado violentamente e tocada uma nota. Enquanto isto ocorria, as mãos de Slade estavam sobre a mesa. Finalmente os três presentes levantaram as mãos cerca de trinta centímetros acima da mesa e esta ergueu-se até tocar as suas mãos. Em outra sessão no mesmo dia uma cadeira ergueu-se cerca de um metro e vinte, quando ninguém a tocava e, quando Slade tinha uma mão no espaldar da cadeira de Mr. Blackburn, a cadeira elevou-se cerca de meio metro acima do solo.
Assim descreve Mr. Stainton Moses uma das primeiras sessões com Slade:
“Um sol de meio-dia, bastante quente para torrar a gente, derramava-se na sala; a mesa estava descoberta; o médium estava sentado e visto inteiramente; nenhum ser humano se achava presente, além de nós dois. Que melhores condições poderia haver? As batidas foram instantâneas e fortes, como se dadas por um homem forte. A escrita na lousa ocorreu conforme a sugestão feita, sobre uma lousa sustentada por mim e pelo Doutor Slade; sobre outra sustentada por mim e que eu mesmo trouxera; e sobre uma terceira sustentada apenas por mim, no canto da mesa mais distanciado do médium. A última escrita demorou algum tempo e o ruído característico do lápis ao formar as palavras era ouvido distintamente. Uma cadeira em minha frente foi levantada cerca de meio metro do solo; a lousa foi arrancada de minha mão e levada para o outro lado da mesa, onde nem eu nem o Doutor Slade poderíamos alcançá-la; o acordeom, tocava em redor de mim, enquanto o doutor o segurava pela parte inferior e, finalmente, tendo ele tocado no encosto de minha cadeira, fomos levitados com cadeira e tudo, algumas polegadas”.
O próprio Mr. Stainton Moses era um médium poderoso e sem dúvida esse fato auxiliou as condições. Acrescenta ele:
“Tenho visto todos esses fenômenos e muitos outros várias vezes antes desta, mas nunca tão rapidamente, tão consecutivamente em plena luz do dia. Toda a sessão não durou mais que meia hora e, do começo ao fim, não houve interrupção dos fenômenos.”
Tudo foi bem durante seis semanas, e Londres estava cheia de curiosidade pelos dons de Slade, quando se deu, infelizmente, uma interrupção.
No começo de setembro de 1876 o Professor Ray Lankester, com o Doutor Donkin, tiveram duas sessões com Slade e, na segunda, tomando uma lousa, encontraram-na escrita, quando se pensava que nada tivesse sido produzido. Ele era absolutamente inexperiente em pesquisas psíquicas, do contrário saberia que é impossível dizer o momento exato em que se dá a escrita nessas sessões. Ocasionalmente uma folha inteira parecia precipitada num instante, enquanto de outras vezes o autor ouvia claramente o ruído do lápis, linha por linha. Para Ray Lankester, entretanto, pareceu um caso típico de fraude e ele escreveu uma carta ao The Times, denunciando Slade e o perseguiu por tomar dinheiro de modo fraudulento. Foram publicadas cartas em resposta a Lankester pelo Doutor Alfred Russel Wallace, pelo Professor Barrett e outros, O Doutor Wallace chamou a atenção para o fato de que o relato do Doutor Lankester daquilo que acontecera era extremamente diferente do que lhe ocorreu durante a sua visita ao médium, bem como o registro das experiências de Serjeant Cox, do Doutor Carter Blake e muitos outros, de modo que o podia considerar como um notável exemplo da teoria do Doutor Carpenter, sobre as idéias preconcebidas. Diz ele: “O Professor Lankester foi com a firme convicção de que tudo o que ia assistir era impostura e, assim, pensa que viu imposturas”. O Professor Lankester demonstrou o seu erro quando, referindo-se à comunicação lida na Associação Britânica a 12 de setembro pelo Professor Barrett, no qual trata dos fenômenos espíritas, disse na sua carta a The Times: “As discussões na Associação Britânica foram degradadas pela introdução do Espiritismo”.
O Professor Barrett escreveu que Slade tinha uma resposta pronta, baseada no fato de ignorar quando a escrita era produzida. Descreve uma sessão muito probante, que ele realizou, na qual a lousa ficou sobre a mesa e debaixo de seu cotovelo. Uma das mãos de Slade era sustentada por ele, enquanto os dedos da outra mão tocavam de leve na lousa. O Professor Barrett fala, depois, de um eminente cientista seu amigo, que obteve a escrita numa lousa limpa, que ele próprio segurava, quando ambas as mãos do médium se achavam sobre a mesa. Por certo tais exemplos devem ser absolutamente convincentes para o leitor desprevenido; e é claro que, se fica bem estabelecido o que é positivo, as ocasionais alegações negativas não têm cabida na conclusão geral.
O julgamento de Slade se deu na Corte de Polícia de Bow Street, a 1º de outubro de 1876, perante o Juiz Flowers. A acusação esteve a cargo de Mr. George Lewis e a defesa foi feita por Mr. Munton. As provas sobre a autenticidade da mediunidade de Slade foram dadas pelo Doutor Alfred Russel Wallace, por Serjeant Cox, pelo Doutor George Wyld e outros, mas só quatro testemunhas foram permitidas. O magistrado classificou a prova testemunhal como “esmagadora” dada a evidência dos fenômenos, mas no julgamento excluiu tudo, exceto a acusação de Lankester e de seu amigo Doutor Donkin, dizendo que era obrigado a basear a sua decisão em “inferências deduzidas dos conhecidos fatos naturais.” Uma declaração feita pelo conhecido mágico Maskelyne, de que a mesa usada por Slade era preparada para truques, foi desmascarada pelo testemunho do carpinteiro que a tinha feito. Essa mesa atualmente pode ser vista nos escritórios da Aliança Espírita de Londres e a gente fica estupefato pelo fato de uma testemunha ter sido capaz de comprometer a liberdade de um homem por um depoimento tão falso que alterou profundamente o curso do processo. Na verdade, ante as declarações de Ray Lankester, de Donkin e de Maskelyne é difícil ver como Mr. Flowers podia deixar de condenar, pois diria, com razão, “O que se apresenta à Corte não é o que aconteceu em outras ocasiões – por mais convincentes que sejam esses testemunhos – mas o que ocorreu nessa ocasião particular, e aqui temos duas testemunhas de um lado e apenas um prisioneiro do outro.” A mesa-truque certamente arranjou as coisas.
Slade foi condenado nos termos da lei contra a vagabundagem a três meses de prisão com trabalhos forçados. Houve apelo e ele foi solto sob fiança. Quando o apelo foi julgado a condenação foi anulada sob fundamento de ordem técnica. É de notar-se que, embora se livrasse sob um fundamento de ordem técnica, isto é, de que as palavras “pela leitura da mão ou por outro meio”, que aparecem na lei haviam sido omitidas, não se deve pensar que, se o fundamento técnico tivesse falhado, ele não teria escapado pelos méritos de seu caso. Slade, cuja saúde ficou seriamente afetada com a prisão, deixou a Inglaterra pelo continente um ou dois dias depois. Depois de um repouso de alguns meses em Haya, Slade escreveu ao Professor Lankester oferecendo-se para voltar à Inglaterra e lhe dar exaustivas demonstrações particulares, com a condição de que não fosse molestado. Não obteve resposta a essa sugestão, que seguramente não seria feita por um criminoso.
Em 1877 os espíritas de Londres mandaram a Slade o seguinte manifesto:
“À vista da deplorável maneira por que terminou a visita de Henry Slade a este país, os abaixo-assinados desejam exprimir o alto conceito de sua mediunidade e a reprovação ao tratamento que lhe foi dispensado.
“Consideramos Henry Slade um dos mais valiosos médiuns para experiências atualmente. Os fenômenos que ocorrem em sua presença se desenvolvem com uma rapidez e uma regularidade raramente igualadas...
“Ele partiu, não só inatingido na sua reputação pelo procedimento de nossa Corte de Justiça, como também com volumoso testemunho em seu favor que provavelmente não teria sido obtido de outra maneira.”
Este é assinado por Mr. Alexander Calder, Presidente da Associação Nacional dos Espíritas Britânicos e grande número de espíritas de representação. Infelizmente, entretanto, são os “contras” e não os “pros” que a imprensa ouve e, ainda agora, cinquenta anos mais tarde, seria difícil encontrar um jornal bastante esclarecido para fazer justiça.
Entretanto os espiritistas mostraram muita energia na defesa de Slade. Em face do processo foi criado um Fundo de Defesa e os espíritas da América mandaram um memorial ao Ministro Americano em Londres. Entre a sentença de Bow Street condenando-o e a apelação, um memorial foi mandado ao Ministro do Interior, protestando contra a ação do Governo ao prosseguir na perseguição depois da apelação. Cópias desse protesto foram mandadas a todos os membros da Câmara dos Comuns, a todos os magistrados do Middlesex, a diversos membros da Sociedade Real e a outros organismos públicos. Miss Kislingbury, secretária da Associação Nacional dos Espiritistas, enviou uma cópia à rainha.
Depois de sessões de êxito em Haya, Slade foi a Berlim, em novembro de 1877, onde despertou o mais vivo interesse. Dizia-se que ele não sabia alemão, mas apareceram mensagens nessa língua sobre as lousas e escritas em caracteres do século quinze. O Bertiner Fremdenblatt de 10 de novembro de 1877, publicou o seguinte: “Desde a chegada de Mr. Slade ao Hotel Kronprinz uma grande parte do mundo culto de Berlim vem sofrendo de uma epidemia que podemos chamar de febre espírita”. Descrevendo suas experiências em Berlim, disse Slade que havia começado por converter o proprietário do hotel, usando as suas próprias lousas e mesas. O dono convidou o Chefe de Polícia e muitas pessoas eminentes de Berlim para testemunharem as manifestações, e estas se declararam satisfeitas. Escreve Slade: ”Samuel Bellachini, prestidigitador da Corte do Kaiser, fez uma semana de experiências gratuitas comigo. Dei-lhe de duas a três sessões diárias e uma em sua própria casa. Depois de sua mais completa investigação ele foi a um tabelião e fez um juramento de que os fenômenos eram autênticos e não havia fraudes”. A declaração jurada de Bellachini, que foi publicada, confirma essa informação. Diz ele que, depois de minuciosa investigação, considera “absolutamente impossível” qualquer explicação de prestidigitação. A conduta dos prestidigitadores parece ter sido determinada, em geral, por uma espécie de inveja sindicalizada, como se os resultados do médium constituíssem uma espécie de violação de um monopólio. Mas esse alemão esclarecido, juntamente com Houdin, Kellar e outros mais, mostraram uma mente mais aberta.
Seguiu-se uma visita à Dinamarca e em dezembro começaram as históricas sessões com o Professor Zöllner, em Leipzig. Um relato completo encontra-se na obra de Zöllner, “Física Transcendental”, que foi traduzida por Mr. C. C. Massey. Zöllner era Professor de Física e de Astronomia na Universidade de Leipzig e em sua companhia, nas experiências com Slade, estavam outros homens de ciência, inclusive William Edward Weber, Professor de Física; o Professor Scheibner, ilustre matemático; Gustave Theodore Fechner, Professor de Física e eminente filósofo naturalista, todos na expressão do Professor Zöllner, “perfeitamente convencidos da realidade dos fatos observados, inclusive de que não havia impostura ou prestidigitação.” Entre os fenômenos contavam-se os nós dados numa corda sem fim, o rompimento das cortinas do leito do Professor Zöllner, o desaparecimento e imediato aparecimento de uma pequena mesa, descendo do teto em plena luz, numa casa particular e debaixo de observação, notando-se principalmente a aparente imobilidade do Doutor Slade durante essas ocorrências.
Certos críticos tentaram apontar aquilo a que chamavam de precauções insuficientes nessas experiências. O Doutor J. Maxwell, arguto crítico francês, deu uma excelente resposta a essas objeções. Argumenta ele que, desde que investigadores de psiquismo, habilidosos e conscientes, deixaram de indicar explicitamente, nos seus relatórios, que todas as hipóteses de fraude foram estudadas e postas de lado, na suposição de que “sua afirmação implícita da realidade do fenômeno lhes parece suficiente”, e para evitar que seus relatórios se tornassem de difícil manuseio, críticos capciosos não hesitaram em os condenar e sugerir possíveis fraudes, quase inadmissíveis nas condições que foram observadas.
Zöllner deu uma resposta digna à suposição de que havia sido ludibriado na experiência de nós na corda: “Se, não obstante o fundamento do fato, por mim deduzido na pressuposição de uma concepção mais larga de espaço, pudesse ser negado, só uma outra espécie de explicação restaria, surgindo de um código moral de consideração que, presentemente, é bem verdade, é muito habitual. Essa explicação consistiria na presunção de que eu próprio e os honrados cidadãos de Leipzig, em cuja presença muitas dessas cordas foram lacradas, ou eram vulgares impostores, ou não tinham senso suficiente para perceber que o próprio Mr. Slade tinha feito aqueles nós, antes que as cordas fossem lacradas. A discussão, entretanto, de uma tal hipótese, já não pertence ao domínio da ciência: cai na categoria da decência social”.
Como uma amostra dessas impetuosas declarações dos oponentes do Espiritismo, deve mencionar-se que Mr. Joseph Mc Cabe, que é ultrapassado apenas pelo americano Houdini pelas grosseiras imprecisões, fala de Zöllner como “um professor decrépito e míope”, quando na verdade ele faleceu em 1882 aos quarenta e oito anos de idade e suas experiências com Slade haviam sido feitas entre 1877 e 1878, quando esse cientista se achava no vigor de sua vida intelectual.
Os oponentes levaram tão adiante a sua inimizade que chegaram a declarar que Zöllner estava desequilibrado e que a sua morte, poucos anos depois, foi acompanhada de fraqueza cerebral. Um inquérito feito pelo Doutor Funk os remeteu ao silêncio, embora e infelizmente seja fácil encontrar libelos como esse em circulação, mas seja difícil encontrar as contraditas.
Eis o documento:
“Sua carta dirigida ao Reitor da Universidade, em data de 20 de outubro de 1903 foi recebida. O Reitor desta Universidade estava instalado aqui depois da morte de Zöllner e não tinha relações pessoais com ele; mas as informações recebidas dos colegas de Zöllner comprovam que durante todos os seus estudos aqui na Universidade até a sua morte era uma mente sólida; além disso, tinha a melhor saúde. A causa de sua morte foi uma hemorragia cerebral, na manhã de 25 de abril de 1882, quando almoçava com sua mãe, do que veio a falecer pouco depois. É verdade que o Professor Zöllner era um adepto ardente do Espiritismo e, como tal, tinha íntimas ligações com Slade”.
Doutor Karl Bucher,
Professor de Estatística e Economia Nacional na Universidade.
A tremenda força que, ocasionalmente, se manifesta quando favoráveis as condições, mostrou-se uma vez em presença de Zöllner, Weber e Scheibner, os três professores da Universidade. Havia um forte bastidor de madeira a um lado da sala:
“De repente ouviu-se um estalo violento como numa descarga de uma grande bateria de Leyden. Voltando-se alarmado para aquele lado, o mencionado bastidor caiu desfeito em dois pedaços. Os fortes parafusos de madeira de meia polegada de grossura tinham-se partido de cima abaixo, sem qualquer contacto visível de Slade com o bastidor. As partes quebradas achavam-se pelo menos a um metro e meio de Slade, que estava de costas; mas, ainda que tivesse tentado quebrá-lo com um hábil movimento lateral, teria sido necessário prendê-lo do lado oposto. Como se achava, o bastidor estava quase solto e as fibras da madeira, sendo paralelas ao eixo dos suportes cilíndricos de madeira, a fratura só se podia dar por uma força que atuasse longitudinalmente à parte em questão. Estávamos todos admirados dessa manifestação violenta e imprevista da força mecânica e perguntamos a Slade o que significava aquilo tudo. Mas ele apenas deu de ombros e disse que tais fenômenos por vezes ocorriam em sua presença, embora um tanto raramente. Enquanto falava e se achava de pé, colocou um pedaço de lápis sobre a superfície polida da mesa, pôs em cima uma lousa que eu tinha comprado e acabara de limpar e fez pressão com os cinco dedos abertos da mão direita na superfície da lousa, enquanto a mão esquerda se apoiava no centro da mesa. A escrita começou na face interna da lousa e quando Slade a virou estava escrita a seguinte sentença em inglês: “Não tínhamos a intenção de causar um prejuízo. Perdoai o que aconteceu.” Estávamos mais surpreendidos com a escrita naquelas circunstâncias, principalmente porque estávamos observando que ambas as mãos de Slade ficavam imóveis enquanto a escrita prosseguia.”
Em sua desesperada tentativa para explicar esse incidente Mr. McCabe diz que provavelmente o bastidor já estava quebrado e repregado com um parafuso. Na verdade não há limites para a credulidade dos incrédulos.
Depois de uma série de êxitos nas sessões de São Petersburgo, Slade voltou a Londres por alguns dias, em 1878, e então se dirigiu à Austrália. Um interessante relato de seu trabalho ali é o livro de James Curtis “Rustlings in the Golden City”.
Então voltou à América. Em 1885 compareceu perante a Comissão Seybert, em Filadélfia e em 1887 visitou novamente a Inglaterra sob o nome de “Doutor Wilson”, posto se soubesse muito bem quem era ele. É possível que o disfarce fosse devido ao receio de renovação de velhos processos.
Na maioria de suas sessões Slade demonstrou possuir clarividência e as mãos materializadas eram coisa familiar. Na Austrália, onde as condições psíquicas são boas, obteve materializações. Diz Mr. Curtis que o médium não gostava dessa forma de sessões, porque durante algum tempo sentia-se enfraquecido e porque preferia sessões em plena luz.
Entretanto concordou em experimentar com Mr. Curtis, que assim descreve o que aconteceu em Ballarat, em Victoria:
“Nossa primeira experiência com o aparecimento de Espíritos materializados ocorreu no Lester’s Hotel. Coloquei a mesa a cerca de quatro a cinco pés da parede do lado oeste do quarto. Mr. Slade sentou-se ao lado mais afastado da parede, enquanto me colocava no lado norte. A luz do gás foi reduzida o suficiente para que fossem percebidos os objetos do quarto. Nossas mãos foram colocadas umas sobre as outras, numa pilha única. Sentamo-nos muito quietos durante uns dez minutos, quando observei algo como uma nuvem vaporosa entre mim e a parede. Quando minha atenção foi atraída para o fenômeno, ele tinha a altura e a cor de um cavalheiro com uma cartola acinzentada. Essa como que nuvem cresceu rapidamente e se transformou, de modo que vi à nossa frente uma mulher – uma dama. O ser assim vestido e perfeito, ergueu-se do solo até a altura da mesa, onde me foi possível examiná-la mais distintamente. Os braços e as mãos tinham formas elegantes; o rosto, a boca, o nariz, as faces e os cabelos castanhos se mostravam harmoniosamente, cada parte em concordância com o todo. Só os olhos eram velados, porque não podiam materializar-se completamente. Os pés calçavam sapatos brancos de cetim. Toda a figura era graciosa e a toalete perfeita. O vestido brilhava à luz e era o mais bonito que eu jamais vira, nas suas cores brilhantes, com cambiantes de prata, cinza e branco, O Espírito materializado deslizou e andou um pouco, fazendo a mesa vibrar e mesmo oscilar. Também pude ouvir o frufru do vestido, quando a visitante celeste se movia de um lugar para outro. A forma espiritual, a dois pés de nossas mãos ainda empilhadas, foi se dissolvendo até desaparecer aos nossos olhos”.
As condições dessa bela sessão, na qual as mãos do médium estavam seguras e havia luz suficiente para a visibilidade, parecem satisfatórias, desde que aceitemos a honestidade da testemunha. Como o prefácio contém o valioso testemunho de um membro responsável de um Governo Australiano, que também se refere, de início, ao extremo cepticismo de Mr. Curtis, bem podemos aceitá-lo. Na mesma sessão, a figura reapareceu quinze minutos depois:
“Então a aparição flutuou no ar e pousou sobre a mesa, deslizou rapidamente e três vezes curvou a sua figura em cumprimento gracioso, cada mesura compassada e profunda, trazendo a cabeça até seis polegadas de meu rosto. Ouvia-se o frufru do vestido, a cada movimento como se fora seda. A face estava parcialmente velada, como antes. A visibilidade foi diminuindo e por fim desapareceu, como na primeira materialização”.
São descritas outras sessões como esta.
Diante dos complicados e rigorosos testes a que foi submetido com sucesso, a história do desmascaramento de Slade na América em 1886 não convence, mas nós a referimos por motivos históricos e para mostrar que tais incidentes não se acham excluídos de nosso exame do assunto. O Boston Herald de 2 de fevereiro de 1886 assim abre os títulos de seu relato: “O célebre Doutor Slade pilhado em Weston, West Virgínia; escreve sobre lousas que descansam em seus joelhos debaixo da mesa e move mesas e cadeiras com os artelhos”.
Observadores numa sala anexa, olhando através de fendas embaixo das portas viram esses atos de agilidade sendo executados pelo médium, embora os que com ele se achavam na sala não o percebessem. Parece, entretanto, que houve neste, como em outros casos, ocorrências que tomaram a aparência de fraudes e havia espíritas entre os que o denunciaram. Numa sessão pública, que se seguiu, para Escrita Espírita Direta, no Palácio da Justiça de Weston, Mr. E. S. Barret descreve como um “espírita” viu e explicou de que forma a impostura de Slade havia sido descoberta. Convidado a explicar-se, Slade parecia mudo e apenas pôde dizer, segundo o relato, que se os seus acusadores tinham sido enganados, ele também o tinha, pois se o engano era coisa sua, o tinha praticado inconscientemente.
Mr. J. Simmons, administrador dos negócios de Slade, fez uma declaração franca, que parece indicar a operação de membros ectoplásmicos, como ficou provado, anos mais tarde, ser o caso com a famosa médium italiana Eusápia Palladino. Diz ele: “Não duvido que esses senhores tenham visto aquilo que dizem; mas, ao mesmo tempo, estou convencido de que Slade é inocente daquilo de que é acusado, assim como o senhor (o redator) teria sido em similares circunstâncias. Mas sei que minha explicação não teria valor numa Corte de Justiça. Eu mesmo vi uma mão, que eu juraria ser de Slade, se fosse possível que sua mão ficasse naquela posição. Quando uma de suas mãos estava sobre a mesa e a outra segurava a lousa a um canto da mesa, apareceu uma terceira mão com uma escova de roupa (e que momentos antes me havia escovado do joelho para cima), no meio do lado oposto da mesa, a qual tinha um metro e seis centímetros de comprimento.” Slade e o seu empresário foram presos e soltos mediante fiança, mas nenhuma medida posterior foi tomada contra eles.
Também Fruesdell, em seu livro “Spiritualism, Bottom Facts”, declara que viu Slade efetuar um movimento de objetos com o pé, e pede aos leitores que acreditem que o médium lhe fez uma completa confissão de como eram produzidas as suas manifestações. Se realmente Slade o fez, deve levar-se à conta de manifestação de doentia leviandade, procurando enganar um certo tipo de investigador, dizendo-lhe exatamente aquilo que ele queria que fosse dito. A tais exemplos podemos aplicar o julgamento do Professor Zöllner, no incidente Lankester: “Os fenômenos físicos por nós observados em tão admirável variedade em sua presença negam em toda a linha a suposição de que ele, num caso único, tenha recorrido à voluntária impostura”. E acrescenta – o que certamente ocorreu naquela circunstância especial – que Slade foi vítima dos limitados conhecimentos de seu acusador e de seu juiz.
Ao mesmo tempo, há muitos indícios de que no fim da vida o caráter de Slade degenerou. Sessões promíscuas, com finalidade comercial, esgotamentos consequentes e o estimulo alcoólico, que produz um estímulo passageiro, tudo aquilo agindo sobre uma organização muito sensível, teve um efeito deletério. Esse enfraquecimento do caráter, com a correspondente perda da saúde, deve ter conduzido a uma diminuição de suas forças psíquicas e aumentado a tentação para usar os truques. Concordando com a dificuldade de distinguir o que é fraude daquilo que é de pura origem psíquica, uma impressão desagradável fica em nossa mente pela prova dada pela Comissão Seybert e pelo fato de espíritas locais haverem condenado o seu procedimento. A fragilidade humana, entretanto, é uma coisa e a força psíquica, outra. Os que buscam provas desta última encontra-las-ão abundantes naqueles anos em que o homem e os seus dons estavam no zênite.
Slade morreu em 1905 num sanatório em Michigan, para onde havia sido mandado pelos espíritas Americanos, e a notícia foi acompanhada pela costumeira espécie de comentários na imprensa londrina. O Star, que tem uma triste tradição em matéria de psiquismo, publicou um artigo sensacional, sob o título de “Spook Swindles” fazendo um relato mutilado da perseguição de Lankester em Bow Street. Referindo-se a isso diz Light:
“Aliás tudo isso é um amontoado de ignorância, de malevolência e de preconceitos. Não nos interessa discutir ou contraditar. Seria inútil fazê-lo por amor aos malévolos, aos ignorantes e aos preconcebidos; e é desnecessário aos que o sabem. Basta dizer que o Star só um exemplo mais acrescenta sobre a dificuldade de captar todos os fatos perante o público. Mas os jornais prevenidos têm, eles próprios, de censurar-se por sua ignorância e por sua impressão.
É, novamente, a história dos Irmãos Davenport e de Maskelyne”.
Se é difícil avaliar a carreira de Slade, sendo-se forçado a admitir que houve uma esmagadora preponderância de resultados psíquicos, também houve um resíduo que deixou uma desagradável impressão que o médium suplementava a verdade com a fraude, o mesmo deve ser admitido em relação ao médium Monck, que representou um considerável papel na era dos setenta. De todos os médiuns nenhum é mais difícil de julgar, porque, de um lado muitos de seus resultados estão acima de qualquer discussão, enquanto alguns outros parecem absolutamente desonestos. Em seu caso, como no de Slade, houve causas físicas que puderam responder por uma degeneração das forças morais e psíquicas.
Monck era um clérigo não conformista, discípulo favorito do famoso Spurgeon. De acordo com o seu próprio relato, desde a infância tinha sido sujeito a influências psíquicas, que aumentaram com a idade. Em 1873 anunciou sua adesão ao Espiritismo e fez uma palestra em Cavendish Rooms. Pouco depois começou a fazer demonstrações, aparentemente gratuitas e em plena luz. Em 1875 fez um giro pela Inglaterra e pela Escócia, onde suas demonstrações excitaram muita atenção e debates, e em 1876 visitou a Irlanda, onde seus dons foram aplicados em curas. Assim, ficou geralmente conhecido como o “Doutor Monck”, fato que levantou gerais protestos da classe médica.
O Doutor Alfred Russel Wallace, muito competente e honesto observador, descreveu uma sessão de materialização com Monck, a qual parece uma pedra de toque tanto quanto possível. Nenhuma suspeita ou convicção posterior poderá jamais eliminar tão incontestável exemplo de força psíquica. Deve-se notar quanto os efeitos concordaram com as posteriores demonstrações da expansão ectoplásmica no caso de Eva e de outros médiuns modernos. Os companheiros do Doutor Wallace nessa ocasião eram Mr. Stainton Moses e Mr. Hensleigh Wedgewood. Escreve o Doutor Wallace:
“Era uma brilhante tarde de verão e tudo aconteceu em plena luz do dia. Depois de uma curta conversa, Monck, que estava vestido com o costumeiro hábito clerical negro, pareceu cair em transe; então ficou de pé a alguns passos à nossa frente e, depois de uns instantes, apontou para o lado e disse: “Olhem!”
“Vimos aí uma tênue mancha em seu casaco, ao lado esquerdo. Essa tornou-se mais brilhante; então pareceu ondular e estender-se para cima e para baixo, até que, gradualmente, tomou a forma de uma coluna de névoa, que ia de seu ombro até os pés e junto ao seu corpo.
O Doutor Wallace continua descrevendo como a figura nevoenta por fim tomou a forma de uma mulher envolta em panos grossos que, depois de uns instantes, pareceu absorvida no corpo do médium.
E acrescenta: “Todo o processo de formação de uma figura amortalhada era visto em plena luz do dia.”
Mr. Wedgewood assegurou-lhe que tinha tido outras manifestações dessa espécie ainda mais notáveis com Monck, quando o médium estava em transe profundo e todo à vista.
Depois de tal demonstração é quase impossível duvidar ao mesmo tempo dos dons do médium, O arquidiácono Colley, que tinha visto semelhantes exibições, ofereceu um prêmio de mil libras a Mr. J. N. Maskelyne, o famoso ilusionista, para repetir a façanha. O desafio foi aceito por Maskelyne, mas as provas foram que a imitação nenhuma relação tinha com o original. Ele tentou conquistar uma decisão do tribunal, mas a sentença lhe foi desfavorável.
É interessante comparar o relato feito por Russel Wallace e a experiência posterior de um americano muito conhecido, o Juiz Dailey. Escreveu ele:
“Lançando o olhar para o lado do Doutor Monck, notamos algo semelhante a uma massa opalescente de vapor compacto, emergindo justamente debaixo do coração, ao lado esquerdo. Aumentou de volume, subindo e crescendo para baixo, enquanto a porção superior tomava a forma da cabeça de uma criança, e a face se distinguia como a de um filho que eu havia perdido há cerca de vinte anos. Ficou assim apenas por uns instantes e subitamente desapareceu, parecendo ter sido instantaneamente absorvida pelo lado do doutor. Esse notável fenômeno repetiu-se quatro ou cinco vezes, em cada uma das quais a materialização se tornava mais distinta do que nas anteriores. Isto foi testemunhado por todos na sala, com o gás bastante claro para que todos os objetos fossem bem visíveis.
Era um fenômeno visto raramente e permitiu que todos quantos o viram não só atestassem o notável dom do Doutor Monck, como médium de materializações, mas a maravilhosa maneira por que um Espírito muda de posição quando nossas mãos jamais se moveram enquanto eu não desatei as lousas para verificar o resultado.”
Certamente, depois de um tal testemunho, seria vão negar que o Doutor Monck possuísse uma grande força psíquica. Além das materializações, o Doutor era um notável médium para escrita em lousas. Numa carta ao Spectator diz o Doutor Russel Wallace que com Monck numa casa particular em Richmond, limpou duas lousas e, depois de colocar entre elas um fragmento de lápis, amarrou-as bem com um cordão forte, cruzando-os de maneira a lhes evitar qualquer movimento.
“Então as coloquei sobre a mesa, sem as perder de vista nem por um instante. O Doutor Monck colocou os dedos de ambas as mãos sobre elas, enquanto eu e uma senhora sentada do lado oposto púnhamos as suas mãos sobre os cantos das lousas. Nessa posição nossas mãos não se moveram enquanto eu não desatei as lousas para examinar os resultados.”
Monck pediu a Wallace que dissesse uma palavra para ser escrita na lousa. Ele escolheu a palavra Deus e em resposta a um pedido decidiu que a mesma deveria ser escrita longitudinalmente na lousa. Ouviu-se o ruído da escrita e quando as mãos do médium foram retiradas, Wallace abriu as lousas e achou na inferior a palavra que tinha pedido e escrita da maneira indicada.
Diz o Doutor Wallace:
“As precauções essenciais dessa experiência são que eu mesmo limpei e amarrei as lousas; mantive as mãos sobre elas todo o tempo; elas nem por um instante saíram de minhas vistas; e que eu escolhi a palavra a ser escrita e a maneira de escrevê-la, depois que elas foram amarradas e fixadas por mim.
Mr. Edward T. Benett, secretário-assistente da Sociedade de Pesquisas Psíquicas, acrescenta a esse relato:
“Eu me achava presente nessa ocasião e certifico que o relato de Mr. Walkwe daquilo que ocorreu está correto.”
Outro bom teste é descrito por M. W. Adshead, de Belper, investigador muito conhecido, que diz de uma sessão em Derby, a 18 de setembro de 1876:
“Havia oito pessoas presentes, sendo três senhoras e cinco cavalheiros. Uma senhora a quem o Doutor Monck nunca tinha visto tinha uma lousa que lhe fora entregue por um dos presentes; examinou-a e achou-a limpa. O lápis que se achava sobre a mesa poucos minutos antes que nos sentássemos não foi encontrado. Um investigador sugeriu que seria um bom teste se fosse usado um lápis comum.
Assim, um lápis de grafite foi posto sobre a lousa, e a senhora segurou ambos por baixo da mesa. Instantaneamente ouviu-se o ruído da escrita e em poucos segundos a comunicação tinha sido escrita, enchendo um lado da ardósia. A escrita fora feita com o lápis, era muito miúda e legível e tratava de assunto estritamente particular.
Eis três testes simultâneos:
1. a escrita foi obtida sem que o médium tocasse na lousa, do começo ao fim, e nenhuma outra pessoa, a não ser a senhora;
2. a escrita foi feita com um lápis de grafite, por uma sugestão espontânea de um outro estranho;
3. foi dada como testemunho importante uma comunicação sobre assunto estritamente particular.
O Doutor Monck não fez mais do que tocar na ardósia do começo ao fim.”
Mr. Adshead também fala dos fenômenos físicos que ocorreram com esse médium, quando suas mãos estavam bem presas no aparelho chamado “stocks”, que não permitia o menor movimento em qualquer direção.
Em 1876 Slade estava sendo processado em Londres, como já ficou dito, e os desmascaramentos estavam no ar. Considerando o caso seguinte antes como de perplexidade e certamente suspeito, deve-se lembrar que, quando um homem que se exibe publicamente, que é um ilusionista ou um mesmerista, pode proclamar que desmascarou um médium, ganha enorme publicidade e atrai aquela numerosa parte do público que deseja ver o desmascaramento, Mas é preciso ter isto em mente e guardar uma certa média onde existe apenas um conflito de evidência.
Neste caso o ilusionista e o mesmerista era um Lodge, e a ocasião uma sessão realizada a 3 de novembro de 1876, em Huddersfield. Subitamente Mr. Lodge pediu que o médium fosse examinado. Temendo uma agressão ou uma denúncia de fraude, Monck correu para cima e trancou-se no quarto. Então pulou pela janela e procurou a delegacia de polícia, onde apresentou queixa. A porta de seu quarto foi forçada, as coisas rebuscadas, sendo encontrado um par de luvas de lã. Monck declarou que essas luvas tinham sido feitas para uma conferência na qual havia exposto a diferença entre prestidigitação e mediunidade. Ainda, conforme observa um jornal espírita da época:
“Os fenômenos de sua mediunidade não repousam apenas na sua probidade. Se ele fosse o maior trapaceiro e o mais hábil prestidigitador, simultaneamente, isto não iria explicar as suas manifestações, que têm sido referidas”.
Monck foi condenado a três meses de prisão e diz-se que fez uma confissão a Mr. Lodge.
Depois de solto, Monck realizou um certo número de sessões com Stainton Moses, nas quais ocorreram notáveis fenômenos.
“Aqueles cujos nomes referimos como testemunhas da autenticidade dos fenômenos mediúnicos do Doutor Monck, são velhos conhecidos dos espíritas como argutos experimentadores, escrupulosamente cautelosos e Mr. Hensleigh Wedgwood é um nome de muita responsabilidade, pois é conhecido como um homem de ciência e era cunhado de Charles Darwin.”
Há um elemento de dúvida quanto ao caso de Huddersfield, sobre se o acusador era realmente criatura imparcial; mas Sir William Barrett dá o testemunho de que por vezes Monck descia com sangue frio à trapaça deliberada. Assim escreve Sir William:
Assim comenta Light:
“Apanhei o “Doutor” numa fraude grosseira: um pedaço de musselina branca numa instalação de arame, ligada a um parafuso preto, sendo empregada pelo médium para simular a materialização parcial”.
Tal desmascaramento, vindo de fonte tão segura, produz um sentimento de mal-estar, que nos induz a abandonar toda evidência a respeito dele na cesta de papéis. Contudo, a gente deve ter paciência e ser razoável em tais assuntos. As primeiras sessões de Monck, como ficou claramente demonstrado, foram em plena luz e qualquer mecanismo estava fora de cogitação. Não se deve argumentar que, pelo fato de um homem forjar uma vez, jamais tenha assinado um cheque honesto. Mas devemos admitir claramente que Monck foi capaz de fraudes, que ele seguia o caminho mais fácil, quando as coisas se tornavam difíceis, e que cada uma de suas manifestações deveria ser controlada cuidadosamente.

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